Diário Económico

23-04-2003
marcar artigo

Vitor Machado/DE Vitor Machado/DE

Banca BIG considera essencial aquisição de rede distribuição física

Por Paula Alexandra Cordeiro

O banco afirma ter liquidez para avançar para uma aquisição com os fundos próprios a atingirem 85 milhões de euros.

Carlos Rodrigues, presidente do Banco de Investimento Global (BIG) reafirma, em entrevista ao Diário Económico, o interesse da sua instituição em crescer pela via das parcerias ou aquisição de uma rede de distribuição física.

Deixando alguns recados, como o facto de não ser política do banco anunciar os seus negócios pelos jornais, vai dizendo que «nos próximos 10 anos, os hábitos e a importância de uma rede de distribuição física é absolutamente critica para se crescer a um ritmo muito maior».

O banco tem liquidez para avançar para uma aquisição, pois terminou o exercício de 2002 com fundos próprios de 85 milhões de euros. O rácio de solvabilidade é de 42,6%, mas o presidente do banco considera como equilibrado um valor de 15% no futuro.

O presidente do BIG reconhece que a capacidade de gerir o banco depende fundamentalmente da quantidade e qualidade de clientes e gostava de crescer a um ritmo 10 vezes superior ao do passado, em número de clientes. «Temos sistemas para isso e temos capacidade de gestão», acrescenta.

Questionado sobre o possível interesse do BIG no Central Banco de Investimento (CBI), Carlos Rodrigues disse «nunca estivemos interessados, não estamos interessados e não fizemos nenhuma proposta para adquirir o CBI».

Interrogado se poderia vir a entrar no CBI para utilizar a rede da Caixa Central (principal accionista do CBI), disse «a rede da Caixa Central é a rede da Caixa Central. Eu gosto de sempre de falar nas caras das pessoas. Porque havia então de comprar o CBI, falava directamente com a Caixa Central».

O presidente do conselho de administração da Caixa Central de Crédito Agrícola Mútuo, Jorge Nunes, afirmou ao DE que «tal como foi apresentada, neste momento, a proposta do BIG não tem hipóteses».

Durante a entrevista, Carlos Rodrigues lembra várias vezes que o BIG continua muito interessado no acesso, em parcerias ou eventuais compras de redes de distribuição. «Felizmente temos capital, temos dinheiro», afirma.

«Acreditamos que vai ser muito importante (rede de distribuição), muito embora não seja fundamental. Temos muito interesse na parte da distribuição, mas não tomámos nenhuma iniciativa».

O 'timing' para este «assalto» não está definido, porque tudo depende das oportunidades que surjam.

«Só o faremos quando acharmos que são as condições certas, pois sabemos que o acesso a essas redes pode implicar um preço». Para chegar a um acordo neste âmbito, o BIG está consciente que podem vir áreas associadas que não têm o mesmo interesse, mas é necessário que «o conjunto seja razoável».

Carlos Rodrigues fez, no entanto, questão de salientar que «o BIG tem a plataforma de distribuição que considera fundamental para o seu futuro, ou seja a distribuição 'on-line'. É aquela em que acredita, é aquela que acha que vai ter mais sucesso no futuro».

É da opinião que é um bom momento para investir, depois da desvalorização dos mais diversos activos.

O banco estima distribuir dividendos aos seus accionistas já este ano. Em relação ao 'pay-out' , Carlos Rodrigues disse que «será um adaptado ao nível das taxas de juro», ou seja um 'dividend-yield' mais baixo dos que as taxas de juro do momento (actualmente estão a 2,5%). O capital social do banco é de 75 milhões de euros. O BIG terminou o exercício de 2002 com um lucro líquido de 505,3 mil euros, mais 12,4% do que no ano anterior.

No que diz respeito à dispersão do capital do BIG em Bolsa, o presidente da instituição considera importante, mas o momento não é ainda oportuno. «Se acreditamos (o BIG) no mercado de capitais como o mais eficiente desintermediador entre poupanças e dinheiro para investimento é óbvio que é melhor que o capital esteja cotado, num mercado organizado e regulado, para assegurar liquidez aos accionistas existentes e aos futuros».

O banco é detido por um conjunto alargado de cerca de 140 accionistas, particulares e institucionais, nenhum com mais de 12% do capital.

Segundo lugar na intermediação 'on-line'

Ao nível da intermediação financeira, o BIG registou um crescimento de 30% dos volumes transaccionados 'online' , enquanto os níveis das comissões registaram um aumento de 3,1%.

Ocupando o segundo lugar na intermediação financeira via internet, 57% das receitas totais são provenientes dos negócios feitos nesta plataforma e 82% via bolsas internacionais.

Na gestão de activos, os valores sob custódia aumentaram, no ano passado, 197% para 1,134 mil milhões de euros, enquanto os activos sob gestão desceram 22,6% para 64,6 milhões de euros, mas os depósitos de clientes subiram 41,9% para 62,199 M¬ . Assim, os recursos de clientes fixaram-se, em 2002, nos 1,261 mil milhões de euros, contra 509 milhões de euros um ano antes.

Ao nível do mercado de capitais, os ganhos em obrigações e cambial levaram a que os proveitos de 'trading' descessem 5,7% para 4,2 milhões de euros. O BIG elaborou 237 operações de produtos estruturados com clientes, envolvendo 28,6 milhões de euros (sem 'warrants').

No 'corporate finance', o banco obteve mais 20 mandatos, contra 14 em 2001, o que perfaz um total de 84 desde o arranque da actividade da instituição financeira em Março de 1999. Nesta área, as comissões do banco aumentaram 5,4% atingindo os 1,7 milhões de euros.

Na sequência do aviso de 2002 do Banco de Portugal em relação ao provisionamento mínimo de menos-valias latentes, o BIG optou por realizar, em 2002, as provisões integrais dessas perdas contra reservas, no valor de 3,76 milhões de euros.

Banco aposta na Portucel e na Caima

A estratégia do banco com a aquisição de mais de 10% do capital da Celulose do Caima está claramente relacionada com um movimento de preparação para a privatização da Portucel, o qual prevê a troca de activos no sector. Carlos Rodrigues voltou a dizer que é uma participação financeira, mas adianta que consideram que a Caima tem a melhor qualidade de floresta em Portugal, que não é disputada pelas outras concorrentes. «Temos esperança que possa ser uma boa aposta», acrescentou.

O BIG investiu cerca de 8,4 milhões de euros na aquisição dos 10,17%, ou 11,3% do direitos de voto, da Caima à Cofina.

Por outro lado, o BIG tem cerca de 1% da Portucel e alguns milhões de acções da EDP-Electricidade de Portugal, estas últimas num investimento entre cinco a seis milhões de euros. «As acções da EDP estão abaixo do valor fundamental da empresa, abaixo do ' book-value' ». Revelou que o banco que lidera tem interesse em sectores da Bolsa pouco especulativos, como as 'utilities' .

Neste âmbito, e questionado sobre o recente anúncio de reestruturação do sector energético, Carlos Rodrigues diz que o novo modelo faz mais sentido. «Conceptualmente está melhor, do ponto de vista estruturante acho que é um passo bastante positivo».

Na sua opinião, o Estado deveria acelerar as privatizações. Quanto às participações que este detém em algumas empresas, afirma que em relação à Caixa Geral de Depósitos não vê problemas de ser do Estado, mas, por outro lado, não entende a 'golden-share' de apenas 500 acções na Portugal Telecom.

pacordeiro@economica.iol.pt

Imprimir artigo Enviar artigo

Vitor Machado/DE Vitor Machado/DE

Banca BIG considera essencial aquisição de rede distribuição física

Por Paula Alexandra Cordeiro

O banco afirma ter liquidez para avançar para uma aquisição com os fundos próprios a atingirem 85 milhões de euros.

Carlos Rodrigues, presidente do Banco de Investimento Global (BIG) reafirma, em entrevista ao Diário Económico, o interesse da sua instituição em crescer pela via das parcerias ou aquisição de uma rede de distribuição física.

Deixando alguns recados, como o facto de não ser política do banco anunciar os seus negócios pelos jornais, vai dizendo que «nos próximos 10 anos, os hábitos e a importância de uma rede de distribuição física é absolutamente critica para se crescer a um ritmo muito maior».

O banco tem liquidez para avançar para uma aquisição, pois terminou o exercício de 2002 com fundos próprios de 85 milhões de euros. O rácio de solvabilidade é de 42,6%, mas o presidente do banco considera como equilibrado um valor de 15% no futuro.

O presidente do BIG reconhece que a capacidade de gerir o banco depende fundamentalmente da quantidade e qualidade de clientes e gostava de crescer a um ritmo 10 vezes superior ao do passado, em número de clientes. «Temos sistemas para isso e temos capacidade de gestão», acrescenta.

Questionado sobre o possível interesse do BIG no Central Banco de Investimento (CBI), Carlos Rodrigues disse «nunca estivemos interessados, não estamos interessados e não fizemos nenhuma proposta para adquirir o CBI».

Interrogado se poderia vir a entrar no CBI para utilizar a rede da Caixa Central (principal accionista do CBI), disse «a rede da Caixa Central é a rede da Caixa Central. Eu gosto de sempre de falar nas caras das pessoas. Porque havia então de comprar o CBI, falava directamente com a Caixa Central».

O presidente do conselho de administração da Caixa Central de Crédito Agrícola Mútuo, Jorge Nunes, afirmou ao DE que «tal como foi apresentada, neste momento, a proposta do BIG não tem hipóteses».

Durante a entrevista, Carlos Rodrigues lembra várias vezes que o BIG continua muito interessado no acesso, em parcerias ou eventuais compras de redes de distribuição. «Felizmente temos capital, temos dinheiro», afirma.

«Acreditamos que vai ser muito importante (rede de distribuição), muito embora não seja fundamental. Temos muito interesse na parte da distribuição, mas não tomámos nenhuma iniciativa».

O 'timing' para este «assalto» não está definido, porque tudo depende das oportunidades que surjam.

«Só o faremos quando acharmos que são as condições certas, pois sabemos que o acesso a essas redes pode implicar um preço». Para chegar a um acordo neste âmbito, o BIG está consciente que podem vir áreas associadas que não têm o mesmo interesse, mas é necessário que «o conjunto seja razoável».

Carlos Rodrigues fez, no entanto, questão de salientar que «o BIG tem a plataforma de distribuição que considera fundamental para o seu futuro, ou seja a distribuição 'on-line'. É aquela em que acredita, é aquela que acha que vai ter mais sucesso no futuro».

É da opinião que é um bom momento para investir, depois da desvalorização dos mais diversos activos.

O banco estima distribuir dividendos aos seus accionistas já este ano. Em relação ao 'pay-out' , Carlos Rodrigues disse que «será um adaptado ao nível das taxas de juro», ou seja um 'dividend-yield' mais baixo dos que as taxas de juro do momento (actualmente estão a 2,5%). O capital social do banco é de 75 milhões de euros. O BIG terminou o exercício de 2002 com um lucro líquido de 505,3 mil euros, mais 12,4% do que no ano anterior.

No que diz respeito à dispersão do capital do BIG em Bolsa, o presidente da instituição considera importante, mas o momento não é ainda oportuno. «Se acreditamos (o BIG) no mercado de capitais como o mais eficiente desintermediador entre poupanças e dinheiro para investimento é óbvio que é melhor que o capital esteja cotado, num mercado organizado e regulado, para assegurar liquidez aos accionistas existentes e aos futuros».

O banco é detido por um conjunto alargado de cerca de 140 accionistas, particulares e institucionais, nenhum com mais de 12% do capital.

Segundo lugar na intermediação 'on-line'

Ao nível da intermediação financeira, o BIG registou um crescimento de 30% dos volumes transaccionados 'online' , enquanto os níveis das comissões registaram um aumento de 3,1%.

Ocupando o segundo lugar na intermediação financeira via internet, 57% das receitas totais são provenientes dos negócios feitos nesta plataforma e 82% via bolsas internacionais.

Na gestão de activos, os valores sob custódia aumentaram, no ano passado, 197% para 1,134 mil milhões de euros, enquanto os activos sob gestão desceram 22,6% para 64,6 milhões de euros, mas os depósitos de clientes subiram 41,9% para 62,199 M¬ . Assim, os recursos de clientes fixaram-se, em 2002, nos 1,261 mil milhões de euros, contra 509 milhões de euros um ano antes.

Ao nível do mercado de capitais, os ganhos em obrigações e cambial levaram a que os proveitos de 'trading' descessem 5,7% para 4,2 milhões de euros. O BIG elaborou 237 operações de produtos estruturados com clientes, envolvendo 28,6 milhões de euros (sem 'warrants').

No 'corporate finance', o banco obteve mais 20 mandatos, contra 14 em 2001, o que perfaz um total de 84 desde o arranque da actividade da instituição financeira em Março de 1999. Nesta área, as comissões do banco aumentaram 5,4% atingindo os 1,7 milhões de euros.

Na sequência do aviso de 2002 do Banco de Portugal em relação ao provisionamento mínimo de menos-valias latentes, o BIG optou por realizar, em 2002, as provisões integrais dessas perdas contra reservas, no valor de 3,76 milhões de euros.

Banco aposta na Portucel e na Caima

A estratégia do banco com a aquisição de mais de 10% do capital da Celulose do Caima está claramente relacionada com um movimento de preparação para a privatização da Portucel, o qual prevê a troca de activos no sector. Carlos Rodrigues voltou a dizer que é uma participação financeira, mas adianta que consideram que a Caima tem a melhor qualidade de floresta em Portugal, que não é disputada pelas outras concorrentes. «Temos esperança que possa ser uma boa aposta», acrescentou.

O BIG investiu cerca de 8,4 milhões de euros na aquisição dos 10,17%, ou 11,3% do direitos de voto, da Caima à Cofina.

Por outro lado, o BIG tem cerca de 1% da Portucel e alguns milhões de acções da EDP-Electricidade de Portugal, estas últimas num investimento entre cinco a seis milhões de euros. «As acções da EDP estão abaixo do valor fundamental da empresa, abaixo do ' book-value' ». Revelou que o banco que lidera tem interesse em sectores da Bolsa pouco especulativos, como as 'utilities' .

Neste âmbito, e questionado sobre o recente anúncio de reestruturação do sector energético, Carlos Rodrigues diz que o novo modelo faz mais sentido. «Conceptualmente está melhor, do ponto de vista estruturante acho que é um passo bastante positivo».

Na sua opinião, o Estado deveria acelerar as privatizações. Quanto às participações que este detém em algumas empresas, afirma que em relação à Caixa Geral de Depósitos não vê problemas de ser do Estado, mas, por outro lado, não entende a 'golden-share' de apenas 500 acções na Portugal Telecom.

pacordeiro@economica.iol.pt

Imprimir artigo Enviar artigo

marcar artigo