Sábado, 19 de Abril de 2003
Antero
Título: Antero de Quental - Dicionário de Citações
Autor: Antero de Quental e Ana Maria Almeida Martins (selecção e apresentação)
Editor: Presença
116 págs.,
A Europa? Um "rebanho de porcos, guardados por algumas raposas tinhosas" (calma, leitores, que isto era assim em 1888). A Lei? "É a opinião armada, nada mais" (calma, leitores, que isto era assim em 1871, numa carta ao marquês de Ávila, então presidente do Conselho de Ministros). Colecção de citações extraídas de ensaios, de artigos e sobretudo das cartas de Antero de Quental (e recorde-se que Ana Maria Almeida Martins organizou em 1989 a correspondência de Antero para a edição das suas "Obras Completas" feita pela Universidade dos Açores e pela Editorial Comunicação). Pode lisonjear a preguiça dos preguiçosos, mas também pode servir como "convite à leitura" de um autor cuja obra em prosa "continua sendo muito pouco conhecida". Só mais uma, que é sobre certa "imbecilidade ilustrada" e muito portuguesa: "Nação de bacharéis que há-de fazer senão bacharelar?" (calma, leitores...).
Título: História de um Assassino Vulgar e Outras Peças
Autor: Rui Sousa
Editor: Angelus Novus
80 págs., ? 10,50
Estreia em livro de Rui Sousa (n. 1979), com quatro brevíssimos textos, o menor dos quais ("Fragmento Salazar") ocupa apenas duas páginas. As "outras peças" intitulam-se "Guerra de Tróia" e "As Máscaras". O autor, actualmente a fazer uma licenciatura em Estudos Teatrais na Universidade de Évora, assume influências de Heiner Müller e Thomas Bernhard e, quanto aos contemporâneos portugueses, cita Jorge Silva Melo como "um dos mais interessantes" (e também Carlos Alberto Machado).
Autor: Pedro Barbosa
Editor: Afrontamento
60 págs., ? 5
Vamos citar o subtítulo: "Libreto de ópera sobre texto electrónico sintetizado em computador (para actores, músicos e outros animais)". Mais informamos que esta obra foi vista e ouvida em 2001 no Teatro Helena Sá e Costa no âmbito da "programação independente" da Porto 2001-Capital Europeia da Cultura. Mais informamos que Pedro Barbosa, doutorado em Semiótica pela Universidade Nova de Lisboa, se dedica há muito à "literatura cibernética" (título de um dos seus primeiros livros, em 1977), tendo desenvolvido com Abraham Moles uma investigação sobre "arte gerada por computador" na Universidade de Estrasburgo. Actualmente é professor na Escola Superior de Música e das Artes do Espectáculo do Porto, cidade onde dirige também o Centro de Estudos de Texto Informático e Ciberliteratura da Universidade Fernando Pessoa.
Título: 9 Poetas Para o Século XXI
Autor: José Ricardo Nunes
Editor: Angelus Novus
124 págs., ? 11,80
Carlos Luís Bessa, Daniel Faria, João Luís Barreto Guimarães, Jorge Gomes Miranda, José Tolentino Mendonça, Luís Quintais, Paulo José Miranda, Pedro Mexia e Rui Pires Cabral são os nove poetas estreados em livro nos finais do século passado cujas obras José Ricardo Nunes (n. 1964) - ele próprio poeta com estreia datada de 1998 - analisa neste livro. Uma escolha que o autor declara não ter "qualquer carácter antológico" nem significar "qualquer tentativa de estabelecimento de um cânone", justificando-a apenas pela "própria 'química' da poesia", essa "teia de cumplicidades que a torna viva". Apesar disso, o autor afirma que "a mais recente poesia portuguesa mantém a tradição de diversidade e singularidade que a marca desde os finais dos anos 60". E, claro, não se pode deixar de ler no título uma intenção profética. À atenção dos vindouros.
Autor: António José Avelãs Nunes
Editor: Caminho
136 págs.,
Ora aqui está um livrinho "historicamente incorrecto", no qual António José Avelãs Nunes - catedrático de Direito em Coimbra, de cuja universidade é actualmente vice-reitor - ousa citar Samuelson quando este, no Congresso Mundial de Economistas de 1980, "chamava a atenção para o carácter liberticida do mercado, lembrando os perigos do 'fascismo de mercado'"; e ousa invocar Amartya San para dizer que "o facto de haver pessoas que passam fome - e que morrem de fome -, apesar da abundância de bens (ou pelo menos da existência de bens em quantidade suficiente), só pode explicar-se pela 'falta de direitos' e não pela escassez de bens"; e ousa lembrar John Locke (!). Com fontes tão subversivas é provável que o autor esteja já na lista do "eixo do mal".
Autor: Georges Minois
Tradutor: Augusto Joaquim
Editor: Terramar
184 págs.,
Este breve e angelical livro do historiador Georges Minois (de quem a Teorema publicara já "Uma História do Inferno"), termina desta maneira promissora: "Ninguém ignora que o século XXI será o século do virtual, ou seja, do não-existente, do não-ser que, como muito bem viu St.º Agostinho, é o verdadeiro nome do Diabo". Para trás fica uma estimulante "biografia" histórica e mítica do mais famoso e brilhante comparsa de Deus, desde a Babilónia (mas não se trata de Saddam...) e o "Antigo Testamento", passando pela Idade Média, até ao pobre Diabo "superstar" literária e cinematográfica do século XX. Refira-se que, proximamente, a Terramar publicará "Uma História do Diabo (séculos XII-XX), de Robert Muchembled.
Título: Sombras à Volta de um Centro
Autor: Lourdes Castro, João Fernandes, Manuel Zimbro e João Lima Pinharanda
Editor: Assírio & Alvim
144 págs.,
Trata-se de um livro que reproduz os desenhos sobre papel que integram a exposição de Lourdes Castro que pode ainda ser vista no Museu de Arte Contemporânea de Serralves, no Porto, até ao próximo dia 27. Convivem aqui os desenhos com textos de João Fernandes, Manuel Zimbro e João Lima Pinharanda, que escreve: "Toda a noção de centro implica a noção de território em redor, a noção de corpo. E todo o território-corpo supõe a noção de fronteira, de periferia, de contorno. Como gerir estas inevitabilidades lógicas retirando ao centro a evidência autoritária do seu lugar, [...] sugerindo a permeabilidade física e semântica de todas as fronteiras e contornos? É à construção desse paradoxo poético - o único capaz de nos fazer felizes - que nos conduzem os desenhos de Lourdes Castro".
Título: Onde Observar Aves no Sul de Portugal
Autor: Helder Costa
Editor: Assírio & Alvim
272 págs.,
Imagine-se o leitor a passear, por exemplo, nos jardins da Fundação Calouste Gulbenkian, em Lisboa. Saberá distinguir uma galinha-d'água de um pato-real, uma andorinha-das chaminés de uma andorinha-dos-beirais, um melro de uma carriça? Se não sabe mas quer saber (ou sabe, mas quer saber ainda melhor), este utilíssimo livro é para si. Resultado de 15 anos de atentas e apaixonadas observações do ornitólogo Helder Costa, eis um guia pormenorizadíssimo, que não só nos diz onde (e quando) é que podemos observar aves (e quais) na metade sul de Portugal, como também como é que podemos lá chegar. No final do volume, os desenhos de Marcos Oliveira são uma ajuda preciosa para os leigos poderem vir a identificar algumas das espécies repertoriadas. Um verdadeiro regalo.
Título: Revista de História das Ideias
Director: Luís Reis Torgal
Editor: Instituto de História e Teoria das Ideias da Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra
652 págs.,
Coordenado por Rui Cunha Martins, o número 23 desta publicação anual reúne um denso conjunto de ensaios em torno do tema "História e verdade(s)". Abre com uma entrevista ao filósofo Fernando Gil, que diz que "a verdade não tem pedra de toque. [...] a sua única pedra de toque é a convicção não apressada". Seguem-se ensaios de, entre outros, José A. Bragança de Miranda, Yves Charles Zarka, João Arriscado Nunes, Luís Quintais e António Guerreiro. Fecha o dossier um texto sobre as "Verdades" de Salazar e Afonso Costa, da autoria de Luís Reis Torgal que, ao fim de 20 anos como director da revista, entrega o testemunho a Fernando Catroga, a partir do próximo número. Que será sobre "Os intelectuais e os poderes".
Director: Florence Lévi
Editor: Association Gris-France
254 págs., ? 15,25
Já não é segredo para ninguém que esta "revista transdisciplinar luso-francesa sobre o segredo" é uma magnífica publicação semestral do "Groupe de Recherches Interdisciplinaires sur le Secret". Publica-se em Paris, mas acolhe textos em francês e português. "Tonalidades secretas" é o subtema do seu número mais recente, o 11º, que discorre sobre música e pintura, nomeadamente com um texto sobre Vieira da Silva e outro sobre "reminiscências" da cultura árabe no fado. Também se escreve sobre Goya, Klee, Picasso, a última ópera de Richard Strauss, o cinema "em voz baixa". Citemos ainda textos de Jean Starobinski e de Affonso Romano de Sant'Anna ("O enigma e o vazio na arte contemporânea").
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Sábado, 19 de Abril de 2003
Antero
Título: Antero de Quental - Dicionário de Citações
Autor: Antero de Quental e Ana Maria Almeida Martins (selecção e apresentação)
Editor: Presença
116 págs.,
A Europa? Um "rebanho de porcos, guardados por algumas raposas tinhosas" (calma, leitores, que isto era assim em 1888). A Lei? "É a opinião armada, nada mais" (calma, leitores, que isto era assim em 1871, numa carta ao marquês de Ávila, então presidente do Conselho de Ministros). Colecção de citações extraídas de ensaios, de artigos e sobretudo das cartas de Antero de Quental (e recorde-se que Ana Maria Almeida Martins organizou em 1989 a correspondência de Antero para a edição das suas "Obras Completas" feita pela Universidade dos Açores e pela Editorial Comunicação). Pode lisonjear a preguiça dos preguiçosos, mas também pode servir como "convite à leitura" de um autor cuja obra em prosa "continua sendo muito pouco conhecida". Só mais uma, que é sobre certa "imbecilidade ilustrada" e muito portuguesa: "Nação de bacharéis que há-de fazer senão bacharelar?" (calma, leitores...).
Título: História de um Assassino Vulgar e Outras Peças
Autor: Rui Sousa
Editor: Angelus Novus
80 págs., ? 10,50
Estreia em livro de Rui Sousa (n. 1979), com quatro brevíssimos textos, o menor dos quais ("Fragmento Salazar") ocupa apenas duas páginas. As "outras peças" intitulam-se "Guerra de Tróia" e "As Máscaras". O autor, actualmente a fazer uma licenciatura em Estudos Teatrais na Universidade de Évora, assume influências de Heiner Müller e Thomas Bernhard e, quanto aos contemporâneos portugueses, cita Jorge Silva Melo como "um dos mais interessantes" (e também Carlos Alberto Machado).
Autor: Pedro Barbosa
Editor: Afrontamento
60 págs., ? 5
Vamos citar o subtítulo: "Libreto de ópera sobre texto electrónico sintetizado em computador (para actores, músicos e outros animais)". Mais informamos que esta obra foi vista e ouvida em 2001 no Teatro Helena Sá e Costa no âmbito da "programação independente" da Porto 2001-Capital Europeia da Cultura. Mais informamos que Pedro Barbosa, doutorado em Semiótica pela Universidade Nova de Lisboa, se dedica há muito à "literatura cibernética" (título de um dos seus primeiros livros, em 1977), tendo desenvolvido com Abraham Moles uma investigação sobre "arte gerada por computador" na Universidade de Estrasburgo. Actualmente é professor na Escola Superior de Música e das Artes do Espectáculo do Porto, cidade onde dirige também o Centro de Estudos de Texto Informático e Ciberliteratura da Universidade Fernando Pessoa.
Título: 9 Poetas Para o Século XXI
Autor: José Ricardo Nunes
Editor: Angelus Novus
124 págs., ? 11,80
Carlos Luís Bessa, Daniel Faria, João Luís Barreto Guimarães, Jorge Gomes Miranda, José Tolentino Mendonça, Luís Quintais, Paulo José Miranda, Pedro Mexia e Rui Pires Cabral são os nove poetas estreados em livro nos finais do século passado cujas obras José Ricardo Nunes (n. 1964) - ele próprio poeta com estreia datada de 1998 - analisa neste livro. Uma escolha que o autor declara não ter "qualquer carácter antológico" nem significar "qualquer tentativa de estabelecimento de um cânone", justificando-a apenas pela "própria 'química' da poesia", essa "teia de cumplicidades que a torna viva". Apesar disso, o autor afirma que "a mais recente poesia portuguesa mantém a tradição de diversidade e singularidade que a marca desde os finais dos anos 60". E, claro, não se pode deixar de ler no título uma intenção profética. À atenção dos vindouros.
Autor: António José Avelãs Nunes
Editor: Caminho
136 págs.,
Ora aqui está um livrinho "historicamente incorrecto", no qual António José Avelãs Nunes - catedrático de Direito em Coimbra, de cuja universidade é actualmente vice-reitor - ousa citar Samuelson quando este, no Congresso Mundial de Economistas de 1980, "chamava a atenção para o carácter liberticida do mercado, lembrando os perigos do 'fascismo de mercado'"; e ousa invocar Amartya San para dizer que "o facto de haver pessoas que passam fome - e que morrem de fome -, apesar da abundância de bens (ou pelo menos da existência de bens em quantidade suficiente), só pode explicar-se pela 'falta de direitos' e não pela escassez de bens"; e ousa lembrar John Locke (!). Com fontes tão subversivas é provável que o autor esteja já na lista do "eixo do mal".
Autor: Georges Minois
Tradutor: Augusto Joaquim
Editor: Terramar
184 págs.,
Este breve e angelical livro do historiador Georges Minois (de quem a Teorema publicara já "Uma História do Inferno"), termina desta maneira promissora: "Ninguém ignora que o século XXI será o século do virtual, ou seja, do não-existente, do não-ser que, como muito bem viu St.º Agostinho, é o verdadeiro nome do Diabo". Para trás fica uma estimulante "biografia" histórica e mítica do mais famoso e brilhante comparsa de Deus, desde a Babilónia (mas não se trata de Saddam...) e o "Antigo Testamento", passando pela Idade Média, até ao pobre Diabo "superstar" literária e cinematográfica do século XX. Refira-se que, proximamente, a Terramar publicará "Uma História do Diabo (séculos XII-XX), de Robert Muchembled.
Título: Sombras à Volta de um Centro
Autor: Lourdes Castro, João Fernandes, Manuel Zimbro e João Lima Pinharanda
Editor: Assírio & Alvim
144 págs.,
Trata-se de um livro que reproduz os desenhos sobre papel que integram a exposição de Lourdes Castro que pode ainda ser vista no Museu de Arte Contemporânea de Serralves, no Porto, até ao próximo dia 27. Convivem aqui os desenhos com textos de João Fernandes, Manuel Zimbro e João Lima Pinharanda, que escreve: "Toda a noção de centro implica a noção de território em redor, a noção de corpo. E todo o território-corpo supõe a noção de fronteira, de periferia, de contorno. Como gerir estas inevitabilidades lógicas retirando ao centro a evidência autoritária do seu lugar, [...] sugerindo a permeabilidade física e semântica de todas as fronteiras e contornos? É à construção desse paradoxo poético - o único capaz de nos fazer felizes - que nos conduzem os desenhos de Lourdes Castro".
Título: Onde Observar Aves no Sul de Portugal
Autor: Helder Costa
Editor: Assírio & Alvim
272 págs.,
Imagine-se o leitor a passear, por exemplo, nos jardins da Fundação Calouste Gulbenkian, em Lisboa. Saberá distinguir uma galinha-d'água de um pato-real, uma andorinha-das chaminés de uma andorinha-dos-beirais, um melro de uma carriça? Se não sabe mas quer saber (ou sabe, mas quer saber ainda melhor), este utilíssimo livro é para si. Resultado de 15 anos de atentas e apaixonadas observações do ornitólogo Helder Costa, eis um guia pormenorizadíssimo, que não só nos diz onde (e quando) é que podemos observar aves (e quais) na metade sul de Portugal, como também como é que podemos lá chegar. No final do volume, os desenhos de Marcos Oliveira são uma ajuda preciosa para os leigos poderem vir a identificar algumas das espécies repertoriadas. Um verdadeiro regalo.
Título: Revista de História das Ideias
Director: Luís Reis Torgal
Editor: Instituto de História e Teoria das Ideias da Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra
652 págs.,
Coordenado por Rui Cunha Martins, o número 23 desta publicação anual reúne um denso conjunto de ensaios em torno do tema "História e verdade(s)". Abre com uma entrevista ao filósofo Fernando Gil, que diz que "a verdade não tem pedra de toque. [...] a sua única pedra de toque é a convicção não apressada". Seguem-se ensaios de, entre outros, José A. Bragança de Miranda, Yves Charles Zarka, João Arriscado Nunes, Luís Quintais e António Guerreiro. Fecha o dossier um texto sobre as "Verdades" de Salazar e Afonso Costa, da autoria de Luís Reis Torgal que, ao fim de 20 anos como director da revista, entrega o testemunho a Fernando Catroga, a partir do próximo número. Que será sobre "Os intelectuais e os poderes".
Director: Florence Lévi
Editor: Association Gris-France
254 págs., ? 15,25
Já não é segredo para ninguém que esta "revista transdisciplinar luso-francesa sobre o segredo" é uma magnífica publicação semestral do "Groupe de Recherches Interdisciplinaires sur le Secret". Publica-se em Paris, mas acolhe textos em francês e português. "Tonalidades secretas" é o subtema do seu número mais recente, o 11º, que discorre sobre música e pintura, nomeadamente com um texto sobre Vieira da Silva e outro sobre "reminiscências" da cultura árabe no fado. Também se escreve sobre Goya, Klee, Picasso, a última ópera de Richard Strauss, o cinema "em voz baixa". Citemos ainda textos de Jean Starobinski e de Affonso Romano de Sant'Anna ("O enigma e o vazio na arte contemporânea").