Durão dá apoio implícito a intervenção unilateral

04-02-2003
marcar artigo

Durão Dá Apoio Implícito a Intervenção Unilateral

Sábado, 01 de Fevereiro de 2003

O primeiro-ministro foi cristalino: em caso de guerra contra o Iraque ele estará do lado dos aliados de Portugal contra Saddam Hussein. Rejeitou as críticas do PS sobre estar a dividir a Europa ao apoiar os EUA. Mas não respondeu quando colocado perante os interesses geo-estratégicos americanos.

$Por São José Almeida e Helena Pereira

"Em relação a cenários hipotéticos não me pronuncio, porque poderia comprometer o interesse nacional, mas no momento oportuno, que não desejo, tomarei uma posição que não será neutral entre os interesses dos nossos aliados e o regime de Saddam." A declaração foi feita pelo primeiro-ministro, José Manuel Durão Barroso, ontem no Parlamento, no final do debate sobre a situação internacional e o Iraque e foi uma das múltiplas formulações que utilizou ao longo de quase três horas de discussão para assumir de forma implícita, que, em caso de uma eventual intervenção unilateral no Iraque, Portugal apoiará.

O primeiro-ministro fez questão de colocar esta discussão no plano dos princípios e da defesa da democracia e da liberdade contra a tirania e demarcou-se de uma posição de neutralidade ao afirmar: "Eu não quero ver o meu país, como aconteceu no antigo regime, numa posição de pretensa neutralidade entre o nazismo e a democracia."

A assunção de uma posição de intransigente defesa de uma tomada de posição em torno dos valores da democracia levou mesmo Durão Barroso a afirmar: "Discordo de muitas das posições que foram tomadas pelo primeiro-ministro Sharon. (...) [Mas] Há uma diferença fundamental, Israel apesar de todos os seus problemas é uma democracia."

Durão desvalorizou as consequências de uma guerra ao afirmar, lembrando o caso do Afeganistão, que "a guerra faz vítimas e a paz também" e questionar: "Quantas vezes manter a situação como está é permitir silenciosamente que se façam vítimas?"

Usando, assim, o padrão dos valores democráticos como referência, o primeiro-ministro afirmou por várias vezes que não haja dúvidas: se vierem a esgotar-se as possibilidades de uma solução no seio do Conselho de Segurança da ONU - que insistiu que quer ver respeitado (ver texto nesta página) -, tomará posição, até porque, disse: "Há neutralidades bem intencionadas que acabam sempre em cumplicidades muito comprometedoras."

Foi, precisamente, a colocação do plano da discussão parlamentar na defesa dos princípios democráticos que levou Durão Barroso a rejeitar as críticas que lhe foram dirigidas pelo secretário-geral do PCP, Carlos Carvalhas, considerando que o PCP não tinha condições para intervir nesta discussão depois de ter apoiado Milosevic. Durão lembrou mesmo o facto de o deputado comunista António Filipe ter sido observador nas eleições que elegeram Milosevic.

O PCP ficou sem resposta sobre o apoio que deu no passado, quer a Milosevic quer aos regimes comunistas de Leste. Carvalhas marcou, porém, pontos ao questionar Durão sobre se achava que o Presidente da República, o Parlamento Europeu, Jacques Chirac e Gerard Schroeder erraram ao assumir a posição de serem, desde já, contra uma intervenção preventiva unilateral. Sem resposta ficou também a questão de Carvalhas sobre a guerra para satisfazer os interesses económicos e bolsistas.

E se Durão não respondeu a Carvalhas, não respondeu também a Luís Fazenda, do Bloco de Esquerda, quando este deputado o colocou perante a questão de Portugal estar a assumir uma posição de "cinismo e hipocrisia" e de colagem aos interesses geo-estratégicos dos EUA, bem como a "interesses petrolíferos".

Fazenda foi mesmo ao ponto de lembrar que Durão Barroso integrava o Governo de Cavaco Silva sob cujo mandato executivo o Estado português vendeu urânio ao Iraque e Portugal funcionou como plataforma de venda de armas a Saddam. Isto numa época em que os EUA eram aliados do Iraque. "Nessa altura, o regime de Saddam chacinou milhões de pessoas, nessa altura não vimos nenhuma insurreição democrática", disse Fazenda.

A pergunta de Fazenda não só ficou sem resposta como foi visível a atrapalhação que causou no primeiro-ministro. Durão, que se apresentou preparado para conduzir o debate no plano dos valores da democracia, acabou por, se não gaguejar, literalmente desacelerar o tom e a velocidade do seu discurso e apenas disse que achava que "julgar intenções" não contribuía para o debate.

Foi de tal modo visível a perturbação que Fazenda provocou em Durão, que quando Isabel Castro, líder parlamentar de "Os Verdes", o questionou sobre porque razão os EUA não se preocupam com a situação política ditatorial na Arábia Saudita, o primeiro-ministro não só não respondeu como continuou a acusar o toque de Fazenda, lembrando os tempos de Durão-deputado.

Durão Dá Apoio Implícito a Intervenção Unilateral

Sábado, 01 de Fevereiro de 2003

O primeiro-ministro foi cristalino: em caso de guerra contra o Iraque ele estará do lado dos aliados de Portugal contra Saddam Hussein. Rejeitou as críticas do PS sobre estar a dividir a Europa ao apoiar os EUA. Mas não respondeu quando colocado perante os interesses geo-estratégicos americanos.

$Por São José Almeida e Helena Pereira

"Em relação a cenários hipotéticos não me pronuncio, porque poderia comprometer o interesse nacional, mas no momento oportuno, que não desejo, tomarei uma posição que não será neutral entre os interesses dos nossos aliados e o regime de Saddam." A declaração foi feita pelo primeiro-ministro, José Manuel Durão Barroso, ontem no Parlamento, no final do debate sobre a situação internacional e o Iraque e foi uma das múltiplas formulações que utilizou ao longo de quase três horas de discussão para assumir de forma implícita, que, em caso de uma eventual intervenção unilateral no Iraque, Portugal apoiará.

O primeiro-ministro fez questão de colocar esta discussão no plano dos princípios e da defesa da democracia e da liberdade contra a tirania e demarcou-se de uma posição de neutralidade ao afirmar: "Eu não quero ver o meu país, como aconteceu no antigo regime, numa posição de pretensa neutralidade entre o nazismo e a democracia."

A assunção de uma posição de intransigente defesa de uma tomada de posição em torno dos valores da democracia levou mesmo Durão Barroso a afirmar: "Discordo de muitas das posições que foram tomadas pelo primeiro-ministro Sharon. (...) [Mas] Há uma diferença fundamental, Israel apesar de todos os seus problemas é uma democracia."

Durão desvalorizou as consequências de uma guerra ao afirmar, lembrando o caso do Afeganistão, que "a guerra faz vítimas e a paz também" e questionar: "Quantas vezes manter a situação como está é permitir silenciosamente que se façam vítimas?"

Usando, assim, o padrão dos valores democráticos como referência, o primeiro-ministro afirmou por várias vezes que não haja dúvidas: se vierem a esgotar-se as possibilidades de uma solução no seio do Conselho de Segurança da ONU - que insistiu que quer ver respeitado (ver texto nesta página) -, tomará posição, até porque, disse: "Há neutralidades bem intencionadas que acabam sempre em cumplicidades muito comprometedoras."

Foi, precisamente, a colocação do plano da discussão parlamentar na defesa dos princípios democráticos que levou Durão Barroso a rejeitar as críticas que lhe foram dirigidas pelo secretário-geral do PCP, Carlos Carvalhas, considerando que o PCP não tinha condições para intervir nesta discussão depois de ter apoiado Milosevic. Durão lembrou mesmo o facto de o deputado comunista António Filipe ter sido observador nas eleições que elegeram Milosevic.

O PCP ficou sem resposta sobre o apoio que deu no passado, quer a Milosevic quer aos regimes comunistas de Leste. Carvalhas marcou, porém, pontos ao questionar Durão sobre se achava que o Presidente da República, o Parlamento Europeu, Jacques Chirac e Gerard Schroeder erraram ao assumir a posição de serem, desde já, contra uma intervenção preventiva unilateral. Sem resposta ficou também a questão de Carvalhas sobre a guerra para satisfazer os interesses económicos e bolsistas.

E se Durão não respondeu a Carvalhas, não respondeu também a Luís Fazenda, do Bloco de Esquerda, quando este deputado o colocou perante a questão de Portugal estar a assumir uma posição de "cinismo e hipocrisia" e de colagem aos interesses geo-estratégicos dos EUA, bem como a "interesses petrolíferos".

Fazenda foi mesmo ao ponto de lembrar que Durão Barroso integrava o Governo de Cavaco Silva sob cujo mandato executivo o Estado português vendeu urânio ao Iraque e Portugal funcionou como plataforma de venda de armas a Saddam. Isto numa época em que os EUA eram aliados do Iraque. "Nessa altura, o regime de Saddam chacinou milhões de pessoas, nessa altura não vimos nenhuma insurreição democrática", disse Fazenda.

A pergunta de Fazenda não só ficou sem resposta como foi visível a atrapalhação que causou no primeiro-ministro. Durão, que se apresentou preparado para conduzir o debate no plano dos valores da democracia, acabou por, se não gaguejar, literalmente desacelerar o tom e a velocidade do seu discurso e apenas disse que achava que "julgar intenções" não contribuía para o debate.

Foi de tal modo visível a perturbação que Fazenda provocou em Durão, que quando Isabel Castro, líder parlamentar de "Os Verdes", o questionou sobre porque razão os EUA não se preocupam com a situação política ditatorial na Arábia Saudita, o primeiro-ministro não só não respondeu como continuou a acusar o toque de Fazenda, lembrando os tempos de Durão-deputado.

marcar artigo