EXPRESSO: País

02-05-2002
marcar artigo

«Há muita coisa escondida que PSD e PS não divulgam para não ser penalizados»

«Há muita coisa escondida que PSD e PS não divulgam para não ser penalizados» Carlos Carvalhas, na Baixa da Banheira «Já é tempo de a gente deixar de se desculpar com a Comunicação Social»

Jerónimo de Sousa, em Santiago do Cacém «O país não precisa de uma mão de ferro, precisa de uma mão amiga»

Carlos Carvalhas, no Barreiro «A mudança que ele (Durão Barroso) quer é o regresso ao cavaquismo»

idem, na «Voz do Operário»

Carvalhas antecipa pesadelos O secretário-geral do PCP apelou à mobilização contra o voto útil e meteu Ferro Rodrigues e Durão Barroso no mesmo saco Alberto Frias Carvalhas com António Rodrigues e Jerónimo de Sousa (em primeiro plano): a aposta da CDU recaiu sobre Lisboa e Setúbal APOSTADO em segurar o eleitorado do PCP, seduzido pelo voto útil e o ódio a Durão Barroso, Carlos Carvalhas enveredou pela estratégia do medo. A ideia é fazer passar a mensagem de que o empobrecimento das populações está em marcha, seja qual for o resultado das eleições, restando aos assalariados uma única esperança: confiar na capacidade de resposta do PCP para o contra-ataque que a situação irá exigir. APOSTADO em segurar o eleitorado do PCP, seduzido pelo voto útil e o ódio a Durão Barroso, Carlos Carvalhas enveredou pela estratégia do medo. A ideia é fazer passar a mensagem de que o empobrecimento das populações está em marcha, seja qual for o resultado das eleições, restando aos assalariados uma única esperança: confiar na capacidade de resposta do PCP para o contra-ataque que a situação irá exigir. Munido de informações ditas seguras, o líder do PCP denunciou na Amadora um plano para acabar com os passes intermodais, privatizar linhas ferroviárias e subir o preço dos transportes; disse no Barreiro que os dois candidatos se preparam para impor um congelamento de salários, que provocará forte redução do poder de compra; e alertou em Évora para a decisão de entregar ao capital privado do IPE e das Águas de Portugal, um negócio milionário que fará inevitavelmente subir o preço da água e do saneamento. Não à «mão de ferro» Ao «levantar o véu sobre o que querem fazer os partidos do Bloco Central de interesses», o líder comunista apela aos apoiantes para não se deixarem levar pela «guerra de tarecos e bóbis» inventada por PS e PSD para desviar as atenções. O cartaz socialista «Vote num governo com a mão de ferro» serviu de mote a várias ataques ao PS, que não sendo o inimigo principal é o adversário «mais perigoso» do PCP. Tirando partido na leitura mais perversa do «slogan», Carvalhas ironizou, com os operários do Barreiro, que a mão de ferro de que os socialistas falam é de ferro importado. já que Guterres «liquidou» a Siderurgia. Apesar de ter dito na «Voz do Operário», que «não mete no mesmo saco» PS e PSD, reconhecendo haver «diferenças», o líder comunista nunca poupou Ferro Rodrigues. Advogando que o país não precisa de uma mão de ferro mas de «uma mão amiga», Carvalhas lembrou que «sempre que a oligarquia levantou a voz, o PS encolheu-se». Um apelo a Sampaio A denúncia da privatização da água e saneamento, e consequente aumento de preço, foi acompanhado de um apelo a Sampaio. «Alertamos o Presidente da República para a negociata que está em curso», enfatizou Carvalhas, acusando Sócrates de «má-fé» e incitando Guterres a pô-lo «na ordem». O «esquecido» primeiro-ministro foi ainda convocado para outra actuação: a demissão imediata do comandante da GNR, acusado de perseguir dirigentes da associação pró-sindical. A descoberta de uma jovem jornalista de que o PCP era «diferente», porque os militantes até pagavam o jantar, serviu a Carvalhas para abrir a comício n'Os Penicheiros, a colectividade mais vermelha do Barreiro. Jerónimo de Sousa já admitira horas antes que os comunistas passam a vida a desculpar-se com a Comunicação Social e Carvalhas quis pegar na deixa. Mas o relato da conversa privada foi, afinal, mais uma gafe da campanha. Capital de militância Com 17 deputados - seis por Lisboa, cinco por Setúbal, dois pelo Porto e um por Beja, Évora, Braga e Santarém - a CDU está muito receosa. Um desaire abaixo do pessimismo poderá fazer cair Carvalhas, posicionando-se já Jerónimo de Sousa, o número dois de toda a campanha, para uma eventual sucessão. Neste cenário, não é de estranhar que as grandes apostas da CDU sejam Lisboa e Setúbal, que somam 64,7% dos deputados actuais. A campanha reflectiu isso mesmo, atenta ainda à frente alentejana e ao Porto. «Os outros têm grandes meios e nós poucos, mas nós temos um meio que eles não têm: a militância», repetiu Carvalhas. Mas a mobilização não augura nada de bom. O jantar cosmopolita da «Voz do Operário» - sopa parisiense, paelha à espanhola e vinhos portugueses - que reuniu 600 pessoas, foi a maior manifestação de apoio da campanha. Toda a semana foi pouco famosa: o curto passeio pela Baixa da Banheira, outrora um dos grandes bastiões comunistas, não foi além de trinta pessoas; a «arruada à chuva» no Porto só juntou uma centena; e a saltada ao Algarve passou praticamente despercebida. O resto foram comícios e jantares, em espaços com reduzida lotação - Santiago do Cacém, Amadora, Barreiro, Famalicão - que nunca ultrapassou as 200 pessoas. No final do comício de Évora, na Praça do Giraldo, que não encheu nem um terço, o «speaker» denunciou a presença de excursionistas, desejando aos camaradas «boa viagem de regresso» perante o sorriso amarelo de Carvalhas.

Orlando Raimundo

Positivo Ao defender a GNR no Alentejo, perante velhos comunistas marcados pela repressão, Carvalhas revelou-se um homem de coragem. O gesto é ainda mais ousado por ter ocorrido em Santiago do Cacém, terra de Manuel da Fonseca, que ali escreveu «Seara de Vento», o «best-seller» que conta a saga de Palma, o camponês assassinado pela guarda

Negativo O PCP nunca mais aprende a relacionar-se com os jornalistas, passando da desconfiança sistemática às tentativas 'naïves' de instrumentalização. Nem a circunstância de o presidente do Sindicato dos Jornalistas ser candidato pelo Porto parece contribuir para fazer perceber a Carvalhas o que é a informação numa sociedade democrática

O novo rosto no Porto ALGUÉM menos atento pensaria estar a ver a mais inesperada das manifestações: centenas de superdragões em visita de cortesia aos comerciantes da baixa portuense. As capas azuis de plástico, iguais às dos adeptos nas Antas em dias de jogos molhados, podiam induzir nesse erro, mas o encontro era outro. ALGUÉM menos atento pensaria estar a ver a mais inesperada das manifestações: centenas de superdragões em visita de cortesia aos comerciantes da baixa portuense. As capas azuis de plástico, iguais às dos adeptos nas Antas em dias de jogos molhados, podiam induzir nesse erro, mas o encontro era outro. Quarta-feira,13, um azar de chuva copiosa: ao lado de Carlos Carvalhas, Honório Novo, o substituto do «saneado» João Amaral como cabeça-de-lista da CDU pelo Porto, percorre a baixa da cidade. O PCP não costuma falhar e ofereceu capas azuis aos acompanhantes. Tambores e uma gaita de foles abrem caminho por entre ruas esventradas e lamacentas. Honório Novo não tem a pujança mediática do seu antecessor, mas é um rosto afável do PCP na cidade. Carvalhas acena e recolhe atenções e cumprimentos ao longo do percurso, sobretudo das mulheres, em maioria nas casas comerciais. «Mais, mais CDU», gritam os simpatizantes, de punho erguido, hoje quase uma reminiscência de lutas passadas. Aliás, dos 43 candidatos, entre efectivos e suplentes, a deputados apresentados por esta força política no distrito, apenas três são declaradamente operários. Como cantava Bob Dylan «the times they are a'changing», mas, se mudam os tempos, não mudam as vontades. «Se não concorda nem aceita o compadrio, a submissão aos poderosos, o pântano de interesses criado pelo PS e pelo PSD (...) vote e reforce a CDU», escreve Honório Novo, 51 anos, licenciado em engenharia electrotécnica, no folheto profusamente distribuído na arruada. Não há sinais de hostilidade e os apoiantes da CDU vão ao baú da política e inventam uma palavra de ordem: «Chuva fascista não mata comunista!». Numa semana em que o futebol e o Euro-2004 passaram para segundo plano na campanha eleitoral, Honório Novo, vereador da Câmara de Matosinhos, repartiu-se por debates, visitas a empresas, uma sessão de esclarecimento como nos bons velhos tempos e uma saltada à bola, a convite de Pinto da Costa. Nas ruas, as bandeirolas da CDU são em azul e branco, cores que casam bem com a cidade, mas Honório adverte: «Há coisas mais importantes que o futebol». Importante é a luta contra a abstenção, que esteve em voga na direita e pegou moda na esquerda. «Um dos objectivos é colocar a direita em minoria no Parlamento. O passado mostra, porém, que isso não é suficiente», diz Honório Novo. Defende, qual cassete da Direcção, ser precisa uma CDU mais forte para mudar o jogo da esquerda, mas o Porto «unitário» manterá os dois deputados na equipa do Parlamento.

Jorge Massada

Brito e a campanha INSTADO pelo EXPRESSO a fazer uma apreciação da campanha eleitoral, Carlos Brito acedeu a responder: «Cinjo-me às campanhas dos líderes dos dois principais partidos, mas as outras também contam para o esclarecimento público e têm grande influência nos resultados. Pessoalmente, sinto-me identificado com a generalidade das propostas políticas, especialmente no campo social, adiantadas pelo PCP. Ferro Rodrigues jogou à defesa e foi prejudicado ao decidir carregar o fardo dos desaires dos últimos anos do Governo socialista. Raramente conseguiu demonstrar como colmatar os erros. Podia ter sido muito mais ousado na área das políticas sociais, onde está à vontade e tem credibilidade. Não se percebe por que não insistiu na descentralização e regionalização e não abriu o 'dossier' das questões europeias de que o PSD fugiu. Contudo, honestidade e competência pautaram as intervenções, e a impressão nos eleitores pode ser mais forte do que ditam as sondagens. Durão Barroso foi favorecido pelo descontentamento com a governação PS, porém revelou desde muito cedo a profunda contradição entre o presidente do PSD e a substância do seu programa político. Em público, a máscara das promessas sociais e tiradas demagógicas, do género 'enquanto houver uma criança com fome, não haverá ponte para o Barreiro nem aeroporto da Ota'. As orientações programáticas são outras: radicais receitas neo-liberais para as políticas fiscal, de saúde, de segurança social, de justiça, salarial e para a legislação laboral. Nesta contradição reside a falta de sinceridade e o artificialismo das suas intervenções. Apesar disto, não deixou de impressionar o eleitorado: a uns pelo programa; a outros pela máscara».

ENVIAR COMENTÁRIO

«Há muita coisa escondida que PSD e PS não divulgam para não ser penalizados»

«Há muita coisa escondida que PSD e PS não divulgam para não ser penalizados» Carlos Carvalhas, na Baixa da Banheira «Já é tempo de a gente deixar de se desculpar com a Comunicação Social»

Jerónimo de Sousa, em Santiago do Cacém «O país não precisa de uma mão de ferro, precisa de uma mão amiga»

Carlos Carvalhas, no Barreiro «A mudança que ele (Durão Barroso) quer é o regresso ao cavaquismo»

idem, na «Voz do Operário»

Carvalhas antecipa pesadelos O secretário-geral do PCP apelou à mobilização contra o voto útil e meteu Ferro Rodrigues e Durão Barroso no mesmo saco Alberto Frias Carvalhas com António Rodrigues e Jerónimo de Sousa (em primeiro plano): a aposta da CDU recaiu sobre Lisboa e Setúbal APOSTADO em segurar o eleitorado do PCP, seduzido pelo voto útil e o ódio a Durão Barroso, Carlos Carvalhas enveredou pela estratégia do medo. A ideia é fazer passar a mensagem de que o empobrecimento das populações está em marcha, seja qual for o resultado das eleições, restando aos assalariados uma única esperança: confiar na capacidade de resposta do PCP para o contra-ataque que a situação irá exigir. APOSTADO em segurar o eleitorado do PCP, seduzido pelo voto útil e o ódio a Durão Barroso, Carlos Carvalhas enveredou pela estratégia do medo. A ideia é fazer passar a mensagem de que o empobrecimento das populações está em marcha, seja qual for o resultado das eleições, restando aos assalariados uma única esperança: confiar na capacidade de resposta do PCP para o contra-ataque que a situação irá exigir. Munido de informações ditas seguras, o líder do PCP denunciou na Amadora um plano para acabar com os passes intermodais, privatizar linhas ferroviárias e subir o preço dos transportes; disse no Barreiro que os dois candidatos se preparam para impor um congelamento de salários, que provocará forte redução do poder de compra; e alertou em Évora para a decisão de entregar ao capital privado do IPE e das Águas de Portugal, um negócio milionário que fará inevitavelmente subir o preço da água e do saneamento. Não à «mão de ferro» Ao «levantar o véu sobre o que querem fazer os partidos do Bloco Central de interesses», o líder comunista apela aos apoiantes para não se deixarem levar pela «guerra de tarecos e bóbis» inventada por PS e PSD para desviar as atenções. O cartaz socialista «Vote num governo com a mão de ferro» serviu de mote a várias ataques ao PS, que não sendo o inimigo principal é o adversário «mais perigoso» do PCP. Tirando partido na leitura mais perversa do «slogan», Carvalhas ironizou, com os operários do Barreiro, que a mão de ferro de que os socialistas falam é de ferro importado. já que Guterres «liquidou» a Siderurgia. Apesar de ter dito na «Voz do Operário», que «não mete no mesmo saco» PS e PSD, reconhecendo haver «diferenças», o líder comunista nunca poupou Ferro Rodrigues. Advogando que o país não precisa de uma mão de ferro mas de «uma mão amiga», Carvalhas lembrou que «sempre que a oligarquia levantou a voz, o PS encolheu-se». Um apelo a Sampaio A denúncia da privatização da água e saneamento, e consequente aumento de preço, foi acompanhado de um apelo a Sampaio. «Alertamos o Presidente da República para a negociata que está em curso», enfatizou Carvalhas, acusando Sócrates de «má-fé» e incitando Guterres a pô-lo «na ordem». O «esquecido» primeiro-ministro foi ainda convocado para outra actuação: a demissão imediata do comandante da GNR, acusado de perseguir dirigentes da associação pró-sindical. A descoberta de uma jovem jornalista de que o PCP era «diferente», porque os militantes até pagavam o jantar, serviu a Carvalhas para abrir a comício n'Os Penicheiros, a colectividade mais vermelha do Barreiro. Jerónimo de Sousa já admitira horas antes que os comunistas passam a vida a desculpar-se com a Comunicação Social e Carvalhas quis pegar na deixa. Mas o relato da conversa privada foi, afinal, mais uma gafe da campanha. Capital de militância Com 17 deputados - seis por Lisboa, cinco por Setúbal, dois pelo Porto e um por Beja, Évora, Braga e Santarém - a CDU está muito receosa. Um desaire abaixo do pessimismo poderá fazer cair Carvalhas, posicionando-se já Jerónimo de Sousa, o número dois de toda a campanha, para uma eventual sucessão. Neste cenário, não é de estranhar que as grandes apostas da CDU sejam Lisboa e Setúbal, que somam 64,7% dos deputados actuais. A campanha reflectiu isso mesmo, atenta ainda à frente alentejana e ao Porto. «Os outros têm grandes meios e nós poucos, mas nós temos um meio que eles não têm: a militância», repetiu Carvalhas. Mas a mobilização não augura nada de bom. O jantar cosmopolita da «Voz do Operário» - sopa parisiense, paelha à espanhola e vinhos portugueses - que reuniu 600 pessoas, foi a maior manifestação de apoio da campanha. Toda a semana foi pouco famosa: o curto passeio pela Baixa da Banheira, outrora um dos grandes bastiões comunistas, não foi além de trinta pessoas; a «arruada à chuva» no Porto só juntou uma centena; e a saltada ao Algarve passou praticamente despercebida. O resto foram comícios e jantares, em espaços com reduzida lotação - Santiago do Cacém, Amadora, Barreiro, Famalicão - que nunca ultrapassou as 200 pessoas. No final do comício de Évora, na Praça do Giraldo, que não encheu nem um terço, o «speaker» denunciou a presença de excursionistas, desejando aos camaradas «boa viagem de regresso» perante o sorriso amarelo de Carvalhas.

Orlando Raimundo

Positivo Ao defender a GNR no Alentejo, perante velhos comunistas marcados pela repressão, Carvalhas revelou-se um homem de coragem. O gesto é ainda mais ousado por ter ocorrido em Santiago do Cacém, terra de Manuel da Fonseca, que ali escreveu «Seara de Vento», o «best-seller» que conta a saga de Palma, o camponês assassinado pela guarda

Negativo O PCP nunca mais aprende a relacionar-se com os jornalistas, passando da desconfiança sistemática às tentativas 'naïves' de instrumentalização. Nem a circunstância de o presidente do Sindicato dos Jornalistas ser candidato pelo Porto parece contribuir para fazer perceber a Carvalhas o que é a informação numa sociedade democrática

O novo rosto no Porto ALGUÉM menos atento pensaria estar a ver a mais inesperada das manifestações: centenas de superdragões em visita de cortesia aos comerciantes da baixa portuense. As capas azuis de plástico, iguais às dos adeptos nas Antas em dias de jogos molhados, podiam induzir nesse erro, mas o encontro era outro. ALGUÉM menos atento pensaria estar a ver a mais inesperada das manifestações: centenas de superdragões em visita de cortesia aos comerciantes da baixa portuense. As capas azuis de plástico, iguais às dos adeptos nas Antas em dias de jogos molhados, podiam induzir nesse erro, mas o encontro era outro. Quarta-feira,13, um azar de chuva copiosa: ao lado de Carlos Carvalhas, Honório Novo, o substituto do «saneado» João Amaral como cabeça-de-lista da CDU pelo Porto, percorre a baixa da cidade. O PCP não costuma falhar e ofereceu capas azuis aos acompanhantes. Tambores e uma gaita de foles abrem caminho por entre ruas esventradas e lamacentas. Honório Novo não tem a pujança mediática do seu antecessor, mas é um rosto afável do PCP na cidade. Carvalhas acena e recolhe atenções e cumprimentos ao longo do percurso, sobretudo das mulheres, em maioria nas casas comerciais. «Mais, mais CDU», gritam os simpatizantes, de punho erguido, hoje quase uma reminiscência de lutas passadas. Aliás, dos 43 candidatos, entre efectivos e suplentes, a deputados apresentados por esta força política no distrito, apenas três são declaradamente operários. Como cantava Bob Dylan «the times they are a'changing», mas, se mudam os tempos, não mudam as vontades. «Se não concorda nem aceita o compadrio, a submissão aos poderosos, o pântano de interesses criado pelo PS e pelo PSD (...) vote e reforce a CDU», escreve Honório Novo, 51 anos, licenciado em engenharia electrotécnica, no folheto profusamente distribuído na arruada. Não há sinais de hostilidade e os apoiantes da CDU vão ao baú da política e inventam uma palavra de ordem: «Chuva fascista não mata comunista!». Numa semana em que o futebol e o Euro-2004 passaram para segundo plano na campanha eleitoral, Honório Novo, vereador da Câmara de Matosinhos, repartiu-se por debates, visitas a empresas, uma sessão de esclarecimento como nos bons velhos tempos e uma saltada à bola, a convite de Pinto da Costa. Nas ruas, as bandeirolas da CDU são em azul e branco, cores que casam bem com a cidade, mas Honório adverte: «Há coisas mais importantes que o futebol». Importante é a luta contra a abstenção, que esteve em voga na direita e pegou moda na esquerda. «Um dos objectivos é colocar a direita em minoria no Parlamento. O passado mostra, porém, que isso não é suficiente», diz Honório Novo. Defende, qual cassete da Direcção, ser precisa uma CDU mais forte para mudar o jogo da esquerda, mas o Porto «unitário» manterá os dois deputados na equipa do Parlamento.

Jorge Massada

Brito e a campanha INSTADO pelo EXPRESSO a fazer uma apreciação da campanha eleitoral, Carlos Brito acedeu a responder: «Cinjo-me às campanhas dos líderes dos dois principais partidos, mas as outras também contam para o esclarecimento público e têm grande influência nos resultados. Pessoalmente, sinto-me identificado com a generalidade das propostas políticas, especialmente no campo social, adiantadas pelo PCP. Ferro Rodrigues jogou à defesa e foi prejudicado ao decidir carregar o fardo dos desaires dos últimos anos do Governo socialista. Raramente conseguiu demonstrar como colmatar os erros. Podia ter sido muito mais ousado na área das políticas sociais, onde está à vontade e tem credibilidade. Não se percebe por que não insistiu na descentralização e regionalização e não abriu o 'dossier' das questões europeias de que o PSD fugiu. Contudo, honestidade e competência pautaram as intervenções, e a impressão nos eleitores pode ser mais forte do que ditam as sondagens. Durão Barroso foi favorecido pelo descontentamento com a governação PS, porém revelou desde muito cedo a profunda contradição entre o presidente do PSD e a substância do seu programa político. Em público, a máscara das promessas sociais e tiradas demagógicas, do género 'enquanto houver uma criança com fome, não haverá ponte para o Barreiro nem aeroporto da Ota'. As orientações programáticas são outras: radicais receitas neo-liberais para as políticas fiscal, de saúde, de segurança social, de justiça, salarial e para a legislação laboral. Nesta contradição reside a falta de sinceridade e o artificialismo das suas intervenções. Apesar disto, não deixou de impressionar o eleitorado: a uns pelo programa; a outros pela máscara».

ENVIAR COMENTÁRIO

marcar artigo