Assim se vê a força do PC

30-04-2002
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Assim Se Vê a Força do PC

Por JOÃO PEDRO HENRIQUES

Sexta-feira, 26 de Abril de 2002

FERRO E CARVALHAS LADO A LADO EM LISBOA

Na sua viragem à esquerda, o PS regressou aos desfiles do 25 de Abril na Avenida da Liberdade. Um desfile que é, no essencial, mobilizado pelo PCP

A novidade do desfile de ontem na Avenida da Liberdade foi a presença ao mais alto nível da direcção do PS. O secretário-geral dos socialistas, Ferro Rodrigues, desceu a avenida acompanhado do líder parlamentar António Costa e do porta-voz do partido, Paulo Pedroso. E cá em baixo, no rejuvenescido Rossio, ouviram os discurso da praxe lado-a-lado com, entre outras, a delegação do PCP, liderada, como não podia deixar de ser, pelo secretário-geral Carlos Carvalhas.

No tempo de Guterres não era assim - e ontem o guterrismo puro e duro (Coelho, Sócrates, Seguro) voltou a primar pela ausência. A direcção do PS ou não mandava delegação ou era uma delegação de segunda linha - e o próprio Guterres nem pensar. Quem aparecia era a ala esquerda do partido, encabeçada por figuras como Manuel Alegre (ontem ausente) ou António Reis (presente).

Já o PCP divertia-se, nesse tempo, a enganar os socialistas fazendo com que assinassem "apelos" contendo mensagens absolutamente radicais e completamente desenquadradas tanto com o discurso oficial do PS como, sobretudo, com a sua prática governativa.

Agora o tempo mudou, no PS. Regressou aos desfiles, oficialmente. O que não mudou - pelo contrário, confirma-se cada vez mais - é o facto de se estar, no capítulo da mobilização, perante uma organização do PCP. Se dúvidas houvesse, elas desapareceram quando ontem foi chamado o representante do partido (no caso o líder parlamentar, Bernardino Soares). Nesse momento percebeu-se, pela gritaria ("Assim se vê a força do PC" ou "JCP, juventude do PC"), que grande parte dos manifestantes eram do partido de Carvalhas. E não eram poucos. A mobilização, como sempre, foi bastante razoável. O comunista Cândido Mota e a sua inconfundível voz radiofónica fez de "speaker" no comício que encerrou o desfile.

Note-se, ainda quanto ao PCP, que os ortodoxos quase não se mostraram (a bem dizer, só Odete Santos), o que contratou bastante com a delegação peso-pesada dos "renovadores" (João Amaral, Carlos Brito, Edgar Correia e Rui Godinho). Entre uns e outros, o antigo líder parlamentar Octávio Teixeira, que no final deixou a manifestação acompanhando Carlos Carvalhas. Entre os "renovadores" e Carvalhas não se registou convívio.

Talvez por causa do domínio comunista, o Bloco de Esquerda decidiu-se por uma presença muito discreta. Os mediáticos Miguel Portas, Francisco Louçã ou Luís Fazenda "esconderam-se" na causa do desfile. Para o palco foi enviado Carlos Marques, o dirigente da UDP que em tempos protagonizou pelo seu partido uma candidatura presidencial.

Pelo lado dos capitães de Abril discursou Sanches Osório. Como é da tradição, o discurso foi o de um desiludido. Depois de recordar, embora sem nomear ninguém, o episódio da última campanha eleitoral em que Belmiro de Azevedo pediu para saber antes das eleições quem eram os ministros das Finanças pensados por Ferro e Durão, Sanches Osório concluiu: "Não foi para isto que fizémos o 25 de Abril."

Assim Se Vê a Força do PC

Por JOÃO PEDRO HENRIQUES

Sexta-feira, 26 de Abril de 2002

FERRO E CARVALHAS LADO A LADO EM LISBOA

Na sua viragem à esquerda, o PS regressou aos desfiles do 25 de Abril na Avenida da Liberdade. Um desfile que é, no essencial, mobilizado pelo PCP

A novidade do desfile de ontem na Avenida da Liberdade foi a presença ao mais alto nível da direcção do PS. O secretário-geral dos socialistas, Ferro Rodrigues, desceu a avenida acompanhado do líder parlamentar António Costa e do porta-voz do partido, Paulo Pedroso. E cá em baixo, no rejuvenescido Rossio, ouviram os discurso da praxe lado-a-lado com, entre outras, a delegação do PCP, liderada, como não podia deixar de ser, pelo secretário-geral Carlos Carvalhas.

No tempo de Guterres não era assim - e ontem o guterrismo puro e duro (Coelho, Sócrates, Seguro) voltou a primar pela ausência. A direcção do PS ou não mandava delegação ou era uma delegação de segunda linha - e o próprio Guterres nem pensar. Quem aparecia era a ala esquerda do partido, encabeçada por figuras como Manuel Alegre (ontem ausente) ou António Reis (presente).

Já o PCP divertia-se, nesse tempo, a enganar os socialistas fazendo com que assinassem "apelos" contendo mensagens absolutamente radicais e completamente desenquadradas tanto com o discurso oficial do PS como, sobretudo, com a sua prática governativa.

Agora o tempo mudou, no PS. Regressou aos desfiles, oficialmente. O que não mudou - pelo contrário, confirma-se cada vez mais - é o facto de se estar, no capítulo da mobilização, perante uma organização do PCP. Se dúvidas houvesse, elas desapareceram quando ontem foi chamado o representante do partido (no caso o líder parlamentar, Bernardino Soares). Nesse momento percebeu-se, pela gritaria ("Assim se vê a força do PC" ou "JCP, juventude do PC"), que grande parte dos manifestantes eram do partido de Carvalhas. E não eram poucos. A mobilização, como sempre, foi bastante razoável. O comunista Cândido Mota e a sua inconfundível voz radiofónica fez de "speaker" no comício que encerrou o desfile.

Note-se, ainda quanto ao PCP, que os ortodoxos quase não se mostraram (a bem dizer, só Odete Santos), o que contratou bastante com a delegação peso-pesada dos "renovadores" (João Amaral, Carlos Brito, Edgar Correia e Rui Godinho). Entre uns e outros, o antigo líder parlamentar Octávio Teixeira, que no final deixou a manifestação acompanhando Carlos Carvalhas. Entre os "renovadores" e Carvalhas não se registou convívio.

Talvez por causa do domínio comunista, o Bloco de Esquerda decidiu-se por uma presença muito discreta. Os mediáticos Miguel Portas, Francisco Louçã ou Luís Fazenda "esconderam-se" na causa do desfile. Para o palco foi enviado Carlos Marques, o dirigente da UDP que em tempos protagonizou pelo seu partido uma candidatura presidencial.

Pelo lado dos capitães de Abril discursou Sanches Osório. Como é da tradição, o discurso foi o de um desiludido. Depois de recordar, embora sem nomear ninguém, o episódio da última campanha eleitoral em que Belmiro de Azevedo pediu para saber antes das eleições quem eram os ministros das Finanças pensados por Ferro e Durão, Sanches Osório concluiu: "Não foi para isto que fizémos o 25 de Abril."

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