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05-05-2002
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Antigo bastião socialista

Figueira da Foz com a sombra de Santana Lopes

Por Graça Barbosa Ribeiro / PÚBLICO

Sábado, 24 de Novembro de 2001 Só no dia 16 de Dezembro se saberá, com certeza, qual a herança deixada por Santana Lopes ao PSD na Figueira da Foz, um concelho que até há quatro anos era considerado um bastião socialista. O PS, que recuperou a maioria dos votos nas últimas legislativas e presidenciais, não enfrenta apenas o candidato do PSD, Duarte Silva, mas também a sombra de Santana Lopes, que, apesar de se candidatar em Lisboa, promete continuar a acompanhar o trabalho da próxima equipa camarária... No palco do pavilhão de uma escola da Figueira da Foz, o presidente da Federação Distrital de Coimbra do PS, Luís Parreirão, lança um apelo pungente: "Que cada um de vós convença outro a votar! Que nenhum voto se perca!...". Pouco depois, Jorge Coelho toma-lhe o lugar, dramático: "Em política, só perde quem desiste de lutar!", grita, ao microfone, para um pavilhão que está pela metade. A cena seria inimaginável há cinco anos: num concelho que até 1997 era considerado um bastião socialista, os militantes, por mais que se espalhem, não conseguem disfarçar as enormes clareiras existentes na sala onde decorre o comício, e ainda menos a falta de entusiasmo com que vivem a pré-campanha. "É do frio", diz Jorge Coelho, que ergue a voz, para anunciar a era "do trabalho", por oposição à do "espectáculo". Quer lembrar, sem o dizer, que Santana Lopes, que suspendeu o mandato de presidente da câmara e está a fazer campanha em Lisboa, já não mora ali. Será?

Jorge Coelho chegou atrasado, por causa de um jantar que, em Mira, um sítio onde seguramente fazia tanto frio como na Figueira, juntou cerca de 3000 apoiantes da candidatura socialista. Enquanto espera pelo cabeça de cartaz do comício, o candidato do PS à câmara figueirense, Vítor Jorge, deambula pelo pavilhão, sozinho, sem ser interpelado por qualquer uma das duas ou três centenas de apoiantes que o "speaker" tenta, em vão, animar. Ainda assim, em conversa com os jornalistas, diz que a pré-campanha "está a correr demasiado bem em relação às expectativas iniciais". "Demasiado?...". "Está a correr muito bem", corrige. "Hoje em dia, o programa não interessa nada, o que interessa é a credibilidade dos candidatos", mas conclui que, nesse aspecto, não há diferença entre os representantes do PS e do PSD: "Somos ambos credíveis", diz. Faz mesmo uma analogia para acentuar as semelhanças: "Há quatro anos, com o Santana Lopes, foi uma espécie de Naval-Barcelona. Agora é..." - hesita - "é... um... Benfica-Sporting".

Depois de uma fase de expectativa de mais umas eleições mediáticas (chegou-se a falar de um embate entre Santana Lopes e Helena Roseta), PSD e PS decidiram não apostar demasiado nas personalidades dos respectivos candidatos. Não se sabe se isso foi causa ou efeito da modéstia de ambos: Vítor Jorge apresentou-se confessando que não era o candidato de si próprio; o cabeça de lista do PSD, Duarte Silva, falando da dificuldade de suceder a Santana, admitiu: "Puseram a fasquia um bocadito alta...". Depois disto, ambos os partidos se embrenharam na análise dos números, que exploram segundo as conveniências de cada um. Às voltas com os números Até fazerem os primeiros estudos de opinião, os socialistas confiavam em que, sem Santana Lopes, voltariam a ser imbatíveis. E apoiavam-se, para isso, nos resultados das últimas eleições presidenciais e legislativas (estas com o autarca como cabeça de lista pelo círculo de Coimbra), e que o PS venceu sem dificuldades, na Figueira da Foz. A confiança era tanta que se deram ao luxo de travar lutas internas em público antes de assentarem na escolha do candidato, um economista, dirigente da EDP Internacional, que a meio do mandato abandonou o seu lugar de deputado na assembleia municipal. Quando foi anunciado, era um ilustre desconhecido e ainda hoje o discurso dos socialistas assenta, essencialmente, nas vantagens que poderão advir, para o concelho, do diálogo - de "carradas de diálogo", reforçam - entre uma câmara e um governo da mesma cor.

Já os sociais-democratas olham para outros números: os relativos aos resultados alcançados por Santana Lopes há quatro anos (59,9 por cento contra 30,5 do PS). A partir deles, confiam na capacidade dos figueirenses para distinguir as eleições locais das nacionais e, simultaneamente, esforçam-se por os confundir no que respeita a quem será o próximo presidente da câmara. Santana Lopes está nos cartazes, ao lado do candidato do PSD, o ex-ministro da Agricultura e Pescas, Duarte Silva. A obra de Santana Lopes está no discurso de Duarte Silva, que desfia pormenorizadamente todos os feitos, fazendo questão de lembrar que, por ser presidente da assembleia municipal, fazia parte da equipa; Duarte Silva está ao lado de Santana Lopes nas inaugurações de fim de mandato; e, apesar da lista do PSD não ter nada a ver com o grupo que agora cessa funções e de Lisboa ficar a uma distância considerável, Santana Lopes até promete, numa carta aberta: "Vou continuar a estar presente, a acompanhar o trabalho desta grande equipa que foi liderada por mim e que agora será liderada por Duarte Silva"...

E é assim, a campanha: o PS diz que é hora de trabalho e que o espectáculo acabou; Duarte Silva promete trabalho e esforça-se para dar espectáculo, passeando-se de moto com "side-car" e organizando comícios "à Santana Lopes". O PS insiste na sua influência junto do Governo; Duarte Silva arrasta para a Figueira figuras como Cavaco Silva, Durão Barroso, Marçal Grilo, Rebelo de Sousa, Daniel Bessa, João de Deus Pinheiro, António Borges... E nenhum dos dois consegue entusiasmar a população, pelo que oferecem, ambos, aos adversários, um espaço que Rui Moura, da CDU, e José Manuel Marques, do PP, se esforçam por aproveitar. O primeiro teve direito, ontem, ao apoio de Carvalhas, que só foi aos concelhos do distrito onde o PCP tem perspectivas de eleger um vereador. Já José Manuel Marques se tem queixado publicamente da falta de apoio de Paulo Portas. Mas sem dramatismos: "As pessoas estão fartas de políticos...", garante o empresário.

Antigo bastião socialista

Figueira da Foz com a sombra de Santana Lopes

Por Graça Barbosa Ribeiro / PÚBLICO

Sábado, 24 de Novembro de 2001 Só no dia 16 de Dezembro se saberá, com certeza, qual a herança deixada por Santana Lopes ao PSD na Figueira da Foz, um concelho que até há quatro anos era considerado um bastião socialista. O PS, que recuperou a maioria dos votos nas últimas legislativas e presidenciais, não enfrenta apenas o candidato do PSD, Duarte Silva, mas também a sombra de Santana Lopes, que, apesar de se candidatar em Lisboa, promete continuar a acompanhar o trabalho da próxima equipa camarária... No palco do pavilhão de uma escola da Figueira da Foz, o presidente da Federação Distrital de Coimbra do PS, Luís Parreirão, lança um apelo pungente: "Que cada um de vós convença outro a votar! Que nenhum voto se perca!...". Pouco depois, Jorge Coelho toma-lhe o lugar, dramático: "Em política, só perde quem desiste de lutar!", grita, ao microfone, para um pavilhão que está pela metade. A cena seria inimaginável há cinco anos: num concelho que até 1997 era considerado um bastião socialista, os militantes, por mais que se espalhem, não conseguem disfarçar as enormes clareiras existentes na sala onde decorre o comício, e ainda menos a falta de entusiasmo com que vivem a pré-campanha. "É do frio", diz Jorge Coelho, que ergue a voz, para anunciar a era "do trabalho", por oposição à do "espectáculo". Quer lembrar, sem o dizer, que Santana Lopes, que suspendeu o mandato de presidente da câmara e está a fazer campanha em Lisboa, já não mora ali. Será?

Jorge Coelho chegou atrasado, por causa de um jantar que, em Mira, um sítio onde seguramente fazia tanto frio como na Figueira, juntou cerca de 3000 apoiantes da candidatura socialista. Enquanto espera pelo cabeça de cartaz do comício, o candidato do PS à câmara figueirense, Vítor Jorge, deambula pelo pavilhão, sozinho, sem ser interpelado por qualquer uma das duas ou três centenas de apoiantes que o "speaker" tenta, em vão, animar. Ainda assim, em conversa com os jornalistas, diz que a pré-campanha "está a correr demasiado bem em relação às expectativas iniciais". "Demasiado?...". "Está a correr muito bem", corrige. "Hoje em dia, o programa não interessa nada, o que interessa é a credibilidade dos candidatos", mas conclui que, nesse aspecto, não há diferença entre os representantes do PS e do PSD: "Somos ambos credíveis", diz. Faz mesmo uma analogia para acentuar as semelhanças: "Há quatro anos, com o Santana Lopes, foi uma espécie de Naval-Barcelona. Agora é..." - hesita - "é... um... Benfica-Sporting".

Depois de uma fase de expectativa de mais umas eleições mediáticas (chegou-se a falar de um embate entre Santana Lopes e Helena Roseta), PSD e PS decidiram não apostar demasiado nas personalidades dos respectivos candidatos. Não se sabe se isso foi causa ou efeito da modéstia de ambos: Vítor Jorge apresentou-se confessando que não era o candidato de si próprio; o cabeça de lista do PSD, Duarte Silva, falando da dificuldade de suceder a Santana, admitiu: "Puseram a fasquia um bocadito alta...". Depois disto, ambos os partidos se embrenharam na análise dos números, que exploram segundo as conveniências de cada um. Às voltas com os números Até fazerem os primeiros estudos de opinião, os socialistas confiavam em que, sem Santana Lopes, voltariam a ser imbatíveis. E apoiavam-se, para isso, nos resultados das últimas eleições presidenciais e legislativas (estas com o autarca como cabeça de lista pelo círculo de Coimbra), e que o PS venceu sem dificuldades, na Figueira da Foz. A confiança era tanta que se deram ao luxo de travar lutas internas em público antes de assentarem na escolha do candidato, um economista, dirigente da EDP Internacional, que a meio do mandato abandonou o seu lugar de deputado na assembleia municipal. Quando foi anunciado, era um ilustre desconhecido e ainda hoje o discurso dos socialistas assenta, essencialmente, nas vantagens que poderão advir, para o concelho, do diálogo - de "carradas de diálogo", reforçam - entre uma câmara e um governo da mesma cor.

Já os sociais-democratas olham para outros números: os relativos aos resultados alcançados por Santana Lopes há quatro anos (59,9 por cento contra 30,5 do PS). A partir deles, confiam na capacidade dos figueirenses para distinguir as eleições locais das nacionais e, simultaneamente, esforçam-se por os confundir no que respeita a quem será o próximo presidente da câmara. Santana Lopes está nos cartazes, ao lado do candidato do PSD, o ex-ministro da Agricultura e Pescas, Duarte Silva. A obra de Santana Lopes está no discurso de Duarte Silva, que desfia pormenorizadamente todos os feitos, fazendo questão de lembrar que, por ser presidente da assembleia municipal, fazia parte da equipa; Duarte Silva está ao lado de Santana Lopes nas inaugurações de fim de mandato; e, apesar da lista do PSD não ter nada a ver com o grupo que agora cessa funções e de Lisboa ficar a uma distância considerável, Santana Lopes até promete, numa carta aberta: "Vou continuar a estar presente, a acompanhar o trabalho desta grande equipa que foi liderada por mim e que agora será liderada por Duarte Silva"...

E é assim, a campanha: o PS diz que é hora de trabalho e que o espectáculo acabou; Duarte Silva promete trabalho e esforça-se para dar espectáculo, passeando-se de moto com "side-car" e organizando comícios "à Santana Lopes". O PS insiste na sua influência junto do Governo; Duarte Silva arrasta para a Figueira figuras como Cavaco Silva, Durão Barroso, Marçal Grilo, Rebelo de Sousa, Daniel Bessa, João de Deus Pinheiro, António Borges... E nenhum dos dois consegue entusiasmar a população, pelo que oferecem, ambos, aos adversários, um espaço que Rui Moura, da CDU, e José Manuel Marques, do PP, se esforçam por aproveitar. O primeiro teve direito, ontem, ao apoio de Carvalhas, que só foi aos concelhos do distrito onde o PCP tem perspectivas de eleger um vereador. Já José Manuel Marques se tem queixado publicamente da falta de apoio de Paulo Portas. Mas sem dramatismos: "As pessoas estão fartas de políticos...", garante o empresário.

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