Strecht defende que testemunho de prostitutos não fragiliza acusação

27-10-2003
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Strecht Defende Que Testemunho de Prostitutos Não Fragiliza Acusação

Por NUNO SÁ LOURENÇO E GRAÇA BARBOSA RIBEIRO

Sexta-feira, 24 de Outubro de 2003

Pedro Strecht, o pedopsiquiatra que coordena a equipa de médicos que acompanha as vítimas de abuso sexual na Casa Pia contestou ontem, numa entrevista na RTP1, aqueles que afirmam que o processo judicial está enfraquecido por existirem testemunhos de prostitutos.

O médico recusou a ideia de que um testemunho de um prostituto seria menos válido: "Se um rapaz é abusado, com menos de 14 anos, mesmo em situação de prostituição é ou não é um crime de abuso sexual? Qual é a diferença?"

Strecht fez questão de sublinhar ainda que "dos rapazes abusados sexualmente nenhum foi abusado em situação de prostituição, estando numa rua do parque Eduardo VII", ainda que tenha reconhecido a possibilidade "posterioremnete" aos abusos.

Para o médico a credibilidade das crianças não está em causa. Disse por mais de uma vez confiar nos seus testemunhos, tanto sobre abusos como sobre abusadores: "Não tenho a mínima dúvida de que as crianças estão a falar a verdade." Acrescentou não ter encontrado nenhum a mentir - "não temos até ao momento situações de falsas alegações" - e classificou ainda como "invenção de factos" a eventualidade de algum ter prestado declarações a troco de dinheiro: "Ninguém entre estes rapazaes foi pago para produzir falsos testemnuhos."

O recurso ao instrumento jurídico das declarações para memória futura foi ainda considerado como "útil" por Pedro Strecht para proteger o processo de efabulações da parte de acusadores: "Há muitas pessoas que falam de falsas alegações ou distorções de memória, em situações de adultos quando se reportam à infância. Por isso é que era útil haver declarações para memória futura."

Durante a entrevista, o pedopisquiatra elogiou a investigação criminal pela forma como conseguiu criar laços de confiança entre os alunos da Casa Pia envolvidos no processo. "O trabalho da Polícia Judiciária e o trabalho do Ministério Público tem sido verdadeiramente excepecional. Têm ajudado a sair do silêncio, da escuridão, muitos rapazes", disse.

Pedro Strecht confirmou também não ter parado de aumentar o número de crianças que recorreram aos serviços da sua equipa e confirmou estarem "identificadas muitas mais pessoas" como abusadoras.

"Questionar a veracidade do relato das vítimas é um insulto aos técnicos que as acompanham", acusa especialista

A pediatra e especialista em casos de menores vítimas de maus tratos, Jeni Canha, classificou ontem como um "um insulto aos técnicos" questionar a veracidade dos relatos das vítimas de abusos sexuais na Casa Pia. "É extremamente fácil a um técnico competente e experiente desmontar a mentira, principalmente quando se trata de uma criança ou de um adolescente e os acontecimentos são relativamente recentes", afirmou.

Durante a sua intervenção sobre o abuso sexual de crianças, no âmbito do V Congresso de Sexologia, que decorre em Coimbra, Jeni Canha já realçara a importância do relato das vítimas para o apuramento dos factos. Mas só em declarações aos jornalistas, e à margem do congresso, se referiu especificamente ao processo da Casa Pia. "Um técnico não conclui que uma criança foi abusada por que ela o diz. Só depois de estabelecer com ela uma relação de confiança pode avaliar a consistência do relato. E, se desmontar a mentira é relativamente fácil, ter a certeza absoluta de que se está perante um caso de abuso pode demorar dias, semanas ou anos", afirmou, assegurando que só quando tal acontece é que o técnico "faz a participação às autoridades competentes".

Na sua perspectiva, as pessoas que põem em causa veracidade do relato das crianças envolvidas no processo da Casa Pia "estão a fazer uma grande confusão quando falam de memória distorcida. Esse fenómeno verifica-se em adultos e quando os acontecimentos se verificaram há muitos anos. Não no caso de crianças e adolescentes", esclareceu a especialista.

No âmbito do congresso, Jeni Canha justificou a importância do relato das vítimas com base em dados recolhidos no Núcleo de Estudo da Criança Maltratada do Hospital Pediátrico de Coimbra, da qual é coordenadora. - "Em 77 por cento dos 1200 casos seguidos verificou-se atraso na procura de cuidados médicos, o que leva a que, muitas vezes, já não existam sinais físicos da violência", referiu. Também Susana Valente de Carvalho, uma psicóloga que em articulação com o Ministério Público segue crianças na associação "Chão dos Meninos", em Évora, realçou a importância do relato enquanto prova testemunhal. "A veracidade é sempre avaliada com base numa grelha internacional de validação das declarações das crianças, apesar de os estudos mostrarem que normalmente não inventam situações deste tipo", realçou.

Strecht Defende Que Testemunho de Prostitutos Não Fragiliza Acusação

Por NUNO SÁ LOURENÇO E GRAÇA BARBOSA RIBEIRO

Sexta-feira, 24 de Outubro de 2003

Pedro Strecht, o pedopsiquiatra que coordena a equipa de médicos que acompanha as vítimas de abuso sexual na Casa Pia contestou ontem, numa entrevista na RTP1, aqueles que afirmam que o processo judicial está enfraquecido por existirem testemunhos de prostitutos.

O médico recusou a ideia de que um testemunho de um prostituto seria menos válido: "Se um rapaz é abusado, com menos de 14 anos, mesmo em situação de prostituição é ou não é um crime de abuso sexual? Qual é a diferença?"

Strecht fez questão de sublinhar ainda que "dos rapazes abusados sexualmente nenhum foi abusado em situação de prostituição, estando numa rua do parque Eduardo VII", ainda que tenha reconhecido a possibilidade "posterioremnete" aos abusos.

Para o médico a credibilidade das crianças não está em causa. Disse por mais de uma vez confiar nos seus testemunhos, tanto sobre abusos como sobre abusadores: "Não tenho a mínima dúvida de que as crianças estão a falar a verdade." Acrescentou não ter encontrado nenhum a mentir - "não temos até ao momento situações de falsas alegações" - e classificou ainda como "invenção de factos" a eventualidade de algum ter prestado declarações a troco de dinheiro: "Ninguém entre estes rapazaes foi pago para produzir falsos testemnuhos."

O recurso ao instrumento jurídico das declarações para memória futura foi ainda considerado como "útil" por Pedro Strecht para proteger o processo de efabulações da parte de acusadores: "Há muitas pessoas que falam de falsas alegações ou distorções de memória, em situações de adultos quando se reportam à infância. Por isso é que era útil haver declarações para memória futura."

Durante a entrevista, o pedopisquiatra elogiou a investigação criminal pela forma como conseguiu criar laços de confiança entre os alunos da Casa Pia envolvidos no processo. "O trabalho da Polícia Judiciária e o trabalho do Ministério Público tem sido verdadeiramente excepecional. Têm ajudado a sair do silêncio, da escuridão, muitos rapazes", disse.

Pedro Strecht confirmou também não ter parado de aumentar o número de crianças que recorreram aos serviços da sua equipa e confirmou estarem "identificadas muitas mais pessoas" como abusadoras.

"Questionar a veracidade do relato das vítimas é um insulto aos técnicos que as acompanham", acusa especialista

A pediatra e especialista em casos de menores vítimas de maus tratos, Jeni Canha, classificou ontem como um "um insulto aos técnicos" questionar a veracidade dos relatos das vítimas de abusos sexuais na Casa Pia. "É extremamente fácil a um técnico competente e experiente desmontar a mentira, principalmente quando se trata de uma criança ou de um adolescente e os acontecimentos são relativamente recentes", afirmou.

Durante a sua intervenção sobre o abuso sexual de crianças, no âmbito do V Congresso de Sexologia, que decorre em Coimbra, Jeni Canha já realçara a importância do relato das vítimas para o apuramento dos factos. Mas só em declarações aos jornalistas, e à margem do congresso, se referiu especificamente ao processo da Casa Pia. "Um técnico não conclui que uma criança foi abusada por que ela o diz. Só depois de estabelecer com ela uma relação de confiança pode avaliar a consistência do relato. E, se desmontar a mentira é relativamente fácil, ter a certeza absoluta de que se está perante um caso de abuso pode demorar dias, semanas ou anos", afirmou, assegurando que só quando tal acontece é que o técnico "faz a participação às autoridades competentes".

Na sua perspectiva, as pessoas que põem em causa veracidade do relato das crianças envolvidas no processo da Casa Pia "estão a fazer uma grande confusão quando falam de memória distorcida. Esse fenómeno verifica-se em adultos e quando os acontecimentos se verificaram há muitos anos. Não no caso de crianças e adolescentes", esclareceu a especialista.

No âmbito do congresso, Jeni Canha justificou a importância do relato das vítimas com base em dados recolhidos no Núcleo de Estudo da Criança Maltratada do Hospital Pediátrico de Coimbra, da qual é coordenadora. - "Em 77 por cento dos 1200 casos seguidos verificou-se atraso na procura de cuidados médicos, o que leva a que, muitas vezes, já não existam sinais físicos da violência", referiu. Também Susana Valente de Carvalho, uma psicóloga que em articulação com o Ministério Público segue crianças na associação "Chão dos Meninos", em Évora, realçou a importância do relato enquanto prova testemunhal. "A veracidade é sempre avaliada com base numa grelha internacional de validação das declarações das crianças, apesar de os estudos mostrarem que normalmente não inventam situações deste tipo", realçou.

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