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22-04-2002
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AD imposta pelo voto

Não houve maioria absoluta, mas também não se caiu na temida confusão de um partido vencedor à direita com uma maioria parlamentar de esquerda. A vontade de mudança que cresceu no eleitorado com os últimos anos de governação de António Guterres e a queda do Executivo socialista traduziu-se, nas legislativas antecipadas de 17 de Março, numa efectiva viragem política. Com um vencedor objectivo, o PSD, e uma maioria clara no Parlamento de deputados de dois partidos, o PSD e o CDS/PP. Os portugueses deram a Durão Barroso a ambicionada vitória, mas negaram-lhe a sonhada maioria absoluta e, por simbólica ironia, impuseram-lhe, como fórmula de governar, a AD que ele tanto havia combatido

Texto de José António Lima

O regresso do PSD ao poder, seis anos e meio depois do fim do ciclo cavaquista de 1985 a 95, foi a vitória de um partido que soube resistir na oposição e de um líder persistente e determinado, Durão Barroso. Que soube sobreviver a todos os contratempos na sua contestada liderança e esperar a degradação da popularidade de Guterres e a queda de um Governo socialista desgastado por múltiplas insuficiências e sucessivos erros. O regresso do PSD ao poder, seis anos e meio depois do fim do ciclo cavaquista de 1985 a 95, foi a vitória de um partido que soube resistir na oposição e de um líder persistente e determinado, Durão Barroso. Que soube sobreviver a todos os contratempos na sua contestada liderança e esperar a degradação da popularidade de Guterres e a queda de um Governo socialista desgastado por múltiplas insuficiências e sucessivos erros. Mas a vitória eleitoral social-democrata do passado domingo deixou, seguramente, um sabor amargo em Durão Barroso e na maioria dos militantes do partido. Porque os 40,1% de votos e os previsíveis 104 deputados eleitos do PSD ficaram bem longe das expectativas que legitimamente alimentaram. De uma concludente maioria absoluta laranja, que garantisse a estabilidade governativa nos próximos anos sem a necessidade de acordos ou alianças com outras forças políticas. Expectativas que decorriam da ainda próxima e expressiva vitória do PSD nas autárquicas de Dezembro, desalojando o PS das principais cidades do país e conquistando uma maioria recorde de 159 executivos camarários e uma vantagem histórica de 45 municípios sobre o PS. Expectativas que se alicerçavam na fragilidade política de um PS em crise e com uma difícil e apressada transição de liderança, após a saída de cena de Guterres. Expectativas que se consolidavam com o péssimo resultado do CDS/PP nas autárquicas, quase desaparecendo do mapa, e com a favorável lógica de bipolarização que se instalara na campanha para as legislativas. Expectativas que, ainda por cima, se reforçavam na generalidade das sondagens divulgadas até à última semana de campanha, onde o avanço do PSD e a tendência de voto apontavam para uma confortável maioria . Expectativas que decorriam da ainda próxima e expressiva vitória do PSD nas autárquicas de Dezembro, desalojando o PS das principais cidades do país e conquistando uma maioria recorde de 159 executivos camarários e uma vantagem histórica de 45 municípios sobre o PS. Expectativas que se alicerçavam na fragilidade política de um PS em crise e com uma difícil e apressada transição de liderança, após a saída de cena de Guterres. Expectativas que se consolidavam com o péssimo resultado do CDS/PP nas autárquicas, quase desaparecendo do mapa, e com a favorável lógica de bipolarização que se instalara na campanha para as legislativas. Expectativas que, ainda por cima, se reforçavam na generalidade das sondagens divulgadas até à última semana de campanha, onde o avanço do PSD e a tendência de voto apontavam para uma confortável maioria . O único e persistente problema continuava a ser a pouco satisfatória imagem do líder nos inquéritos de opinião aos portugueses, mas todos os outros indicadores iam em sentido contrário e auspicioso. A onda de vitória laranja surgida nas autárquicas parecia em crescimento contínuo e imparável. Ora, não foi nada disso que se veio a passar. O PSD ficou longe da maioria absoluta (precisaria de mais 5% e 300 mil votos), a curta distância de 2,1% e 120 mil votos do abalado PS, e a bipolarização quase só teve efeitos à esquerda com o esvaziamento eleitoral do PCP, já que o CDS/PP de Paulo Portas subiu de 8,4% para 8,8% e ganhou 26 mil votantes. Porque não foi o PSD capaz de liderar e fazer reverter claramente (em seu benefício) a onda de vitória e os ventos de mudança que sopravam a seu favor? A resposta é simples: porque Durão Barroso se mostrou incapaz de afirmar uma imagem de credibilidade, de inspirar confiança no eleitorado ao ponto de este lhe conceder a maioria absoluta. Tanto mais que as debilidades do líder do PSD se tornavam ainda mais patentes no decorrer da campanha, em confronto com Ferro Rodrigues ou com Paulo Portas e na incapacidade para sustentar ou explicar as propostas contraditórias que ia lançando. Ora, não foi nada disso que se veio a passar. O PSD ficou longe da maioria absoluta (precisaria de mais 5% e 300 mil votos), a curta distância de 2,1% e 120 mil votos do abalado PS, e a bipolarização quase só teve efeitos à esquerda com o esvaziamento eleitoral do PCP, já que o CDS/PP de Paulo Portas subiu de 8,4% para 8,8% e ganhou 26 mil votantes. Porque não foi o PSD capaz de liderar e fazer reverter claramente (em seu benefício) a onda de vitória e os ventos de mudança que sopravam a seu favor? A resposta é simples: porque Durão Barroso se mostrou incapaz de afirmar uma imagem de credibilidade, de inspirar confiança no eleitorado ao ponto de este lhe conceder a maioria absoluta. Tanto mais que as debilidades do líder do PSD se tornavam ainda mais patentes no decorrer da campanha, em confronto com Ferro Rodrigues ou com Paulo Portas e na incapacidade para sustentar ou explicar as propostas contraditórias que ia lançando. O PSD viu a sua tendência de crescimento travada pela desconfiança de grande parte do eleitorado em relação ao seu líder. E dois factos ilustram este fenómeno político-eleitoral: a evolução das sondagens e dos resultados entre as autárquicas de 16 de Dezembro e as legislativas de 17 de Março. A generalidade das sondagens publicadas na passada semana haviam sido realizadas até dia 12, segunda-feira. E, com uma margem de indecisos ainda entre 10% e 15%, colocavam o PSD com uma média de 36%, o PS com 33%, o CDS/PP com 5,2%, o PCP com 6,1% e o BE com 2,7%. O que significa que, nos últimos dias, de 13 até 17 de Março, com o debate da RTP-1 pelo meios, os indecisos se terão distribuído pelo PSD em 4% , pelo PS em 5% e pelo CDS/PP em 3,5% (quase duplicando a intenção de voto inicial em Paulo Portas). E que o PSD desperdiçou a capacidade que o partido que vai à frente normalmente tem para atrair essa parcela de eleitorado ainda hesitante. A generalidade das sondagens publicadas na passada semana haviam sido realizadas até dia 12, segunda-feira. E, com uma margem de indecisos ainda entre 10% e 15%, colocavam o PSD com uma média de 36%, o PS com 33%, o CDS/PP com 5,2%, o PCP com 6,1% e o BE com 2,7%. O que significa que, nos últimos dias, de 13 até 17 de Março, com o debate da RTP-1 pelo meios, os indecisos se terão distribuído pelo PSD em 4% , pelo PS em 5% e pelo CDS/PP em 3,5% (quase duplicando a intenção de voto inicial em Paulo Portas). E que o PSD desperdiçou a capacidade que o partido que vai à frente normalmente tem para atrair essa parcela de eleitorado ainda hesitante. Por outro lado, o PSD apenas conquistou 140 mil novos eleitores entre as autárquicas de Dezembro e estas legislativas (passou de 2 milhões e 38 mil votantes para 2 milhões e 179 mil), menos do que o PS (que recuperou 150 mil) ou até do que o CDS/PP (que atraiu mais 155 mil), comprovando-se que não soube liderar e ampliar de forma significativa a dinâmica de vitória nascida nas autárquicas e reforçada com a demissão de Guterres e do governo PS. Mesmo desbaratando uma oportunidade única de chamar a si a maioria absoluta do voto dos portugueses, o PSD alcançou o seu melhor resultado em legislativas depois das maiorias de Cavaco Silva em 87 e 91. Subiu 7,8% em relação às eleições de 99, cresceu 446 mil votos (com transferências de cerca de 250 mil do PS, de 160 mil da abstenção e de 20 mil do CDS/PP) e aumentou o seu grupo parlamentar com mais 23 deputados. Foi, como insistentemente repetiram na noite eleitoral José Luís Arnaut e Durão Barroso, o maior resultado do PSD ao sair da oposição (tal como os 43% de Guterres em 95 quando o PS saiu de dez anos de oposição), com os sociais-democratas a ganharem deputados em 14 dos 20 círculos eleitorais do país. E a só não terem qualquer representante eleito no distrito de Beja, onde, ainda assim, ficaram a escassos 464 votos de tirar ao PS o seu segundo deputado. Mesmo desbaratando uma oportunidade única de chamar a si a maioria absoluta do voto dos portugueses, o PSD alcançou o seu melhor resultado em legislativas depois das maiorias de Cavaco Silva em 87 e 91. Subiu 7,8% em relação às eleições de 99, cresceu 446 mil votos (com transferências de cerca de 250 mil do PS, de 160 mil da abstenção e de 20 mil do CDS/PP) e aumentou o seu grupo parlamentar com mais 23 deputados. Foi, como insistentemente repetiram na noite eleitoral José Luís Arnaut e Durão Barroso, o maior resultado do PSD ao sair da oposição (tal como os 43% de Guterres em 95 quando o PS saiu de dez anos de oposição), com os sociais-democratas a ganharem deputados em 14 dos 20 círculos eleitorais do país. E a só não terem qualquer representante eleito no distrito de Beja, onde, ainda assim, ficaram a escassos 464 votos de tirar ao PS o seu segundo deputado. Com um crescimento quase uniforme de votação em todo o país, o PSD apresenta os seus melhores resultados em Viana do Castelo (sobe 10% com a lista liderada por José Eduardo Martins e beneficiando da queda do CDS/PP sem Daniel Campelo), nos Açores (mais 9,5%, com Vítor Cruz a impor uma enorme derrota a Carlos César e ao PS), na Guarda (aumenta 9% com Ana Manso), em Vila Real (subida de 8,5% com Assunção Esteves) e em Aveiro (mais 8% e maioria absoluta de deputados, com Marques Mendes a desalojar o PS e João Cravinho do primeiro lugar e a fazer Paulo Portas descer a votação aveirense do CDS/PP). Os piores números dos sociais-democratas vêm de Castelo Branco (apenas 6% de subida com Maria Elisa face a José Sócrates), de Coimbra (também 6%, com Dias Loureiro frente a Almeida Santos) e de Setúbal (os mesmos 6% de Miguel Frasquilho perante o socialista Paulo Pedroso). Os piores números dos sociais-democratas vêm de Castelo Branco (apenas 6% de subida com Maria Elisa face a José Sócrates), de Coimbra (também 6%, com Dias Loureiro frente a Almeida Santos) e de Setúbal (os mesmos 6% de Miguel Frasquilho perante o socialista Paulo Pedroso). Durão Barroso conquista a liderança para o partido em cinco círculos eleitorais (Aveiro, Braga, Guarda, Viana do Castelo e Açores), fica quase em primeiro em Coimbra e Santarém (neste, apenas a 617 votos do PS) e ultrapassa o PCP em Évora e Setúbal, ficando a uma distância mínima dos comunistas em Beja. Os mapas de variação e de estrutura do partido evidenciam este generalizado reforço de posições e de votações. Já Ferro Rodrigues, com 37,9% e 2 milhões e 56 mil votantes, averba o melhor «score» eleitoral do PS depois das maiorias relativas de Guterres em 95 e 99. Perde 6,1% na percentagem nacional e 300 mil votos (259 mil para o PSD e 109 mil para a abstenção, compensando ligeiramente com 63 mil conquistados ao PCP), ainda que o PS suba 1,5% e 150 mil votos em comparação com as autárquicas de Dezembro. O PS deixa fugir 18 deputados, caindo para 97 eleitos, ainda que continue a ser o único partido que elege representantes em todos os 20 círculos eleitorais de Portugal. Mas cede ao PSD o primeiro lugar em cinco desses círculos de eleição. O PS deixa fugir 18 deputados, caindo para 97 eleitos, ainda que continue a ser o único partido que elege representantes em todos os 20 círculos eleitorais de Portugal. Mas cede ao PSD o primeiro lugar em cinco desses círculos de eleição. Os resultados mais negativos dos socialistas registam-se em Bragança (perdem 10% com a lista encabeçada por Armando Vara), na Guarda (queda de 9% com Pina Moura), em Vila Real (menos 9% com Ascenso Simões) e na Madeira (igual descida de 9% com Maximiano Rodrigues). A derrota mais pesada é, contudo, a dos Açores (menos 12%, menos um deputado e perda do primeiro lugar com a dupla Medeiros Ferreira/Carlos César). As votações mais positivas, onde é nítido o benefício da captação de votos do PCP a atenuar a queda do PS, são as ocorridas em Beja (menos 3%, com Rui Cunha), em Évora (também menos 3%, com Capoulas Santos, e o caso singular de Portel, único concelho do país onde o PS sobe a sua votação), em Setúbal (descida de 4% com Paulo Pedroso), em Lisboa (diminuição de 4% no círculo liderado por Ferro Rodrigues) e Viana do Castelo (menos 5%, com Marques Júnior a beneficiar do efeito Campelo). Neste cenário de perdas, pode dizer-se que Ferro Rodrigues constituiu uma mais-valia para o PS, travando a enorme queda anunciada pelo resultado das autárquicas e o conturbado processo da sucessão de Guterres. Neste cenário de perdas, pode dizer-se que Ferro Rodrigues constituiu uma mais-valia para o PS, travando a enorme queda anunciada pelo resultado das autárquicas e o conturbado processo da sucessão de Guterres. Não restam dúvidas de que a votação de Paulo Portas e do CDS/PP foi a grande surpresa e a mais inesperada vitória destas legislativas. O CDS/PP ultrapassa nacionalmente o PCP e chega ao terceiro lugar, resiste à bipolarização perdendo apenas um deputado(e nas circunstâncias particulares de Ponte de Lima) e subindo 0,4% o seu resultado, e... acima de tudo, coloca-se como parceiro imprescindível do PSD para uma solução estável de Governo. Portas não só consegue a sobrevivência ameaçada do CDS/PP como o leva a regressar à área do poder, depois de 20 anos de afastamento. Sustendo as transferências de eleitores para o PSD (apenas 19 mil terão mudado para o maior partido) e captando mais de 40 mil votos na massa de abstencionistas, entre o eleitorado jovem e em concelhos rurais de populações envelhecidas, para as quais dirigiu grande parte do seu discurso de campanha. Foi na recta final, na última semana de campanha, que o líder do CDS/PP terá convencido uma larga parcela dos eleitores a darem-lhe o seu voto. E assim conseguiu segurar os deputados solitários do partido que estavam em risco de não eleição em Braga, Leiria, Santarém, Setúbal ou Viseu, além de manter 4 em Lisboa, 3 no Porto e 2 em Aveiro (círculo onde concorreu e que fica como uma das poucas derrotas pessoais e eleitorais do CDS/PP nestas legislativas). Foi na recta final, na última semana de campanha, que o líder do CDS/PP terá convencido uma larga parcela dos eleitores a darem-lhe o seu voto. E assim conseguiu segurar os deputados solitários do partido que estavam em risco de não eleição em Braga, Leiria, Santarém, Setúbal ou Viseu, além de manter 4 em Lisboa, 3 no Porto e 2 em Aveiro (círculo onde concorreu e que fica como uma das poucas derrotas pessoais e eleitorais do CDS/PP nestas legislativas). E se o CDS/PP perdeu o seu deputado de Viana do Castelo por 2072 votos (devido ao afastamento de Daniel Campelo, que só no concelho de Ponte de Lima fez a votação do partido perder 3200 votos), em Braga ficou a escassos 696 votos de eleger um segundo deputado (que tirava ao PS) e em Coimbra, Faro e na Madeira perdeu a eleição de representantes apenas por 2 mil ou 3 mil votos. Portas e o CDS/PP entraram, com mérito incontestável, na galeria dos vencedores deste acto eleitoral. Já o PCP não resistiu, uma vez mais, à bipolarização e colecciona nova derrota eleitoral. É o pior resultado dos comunistas em legislativas, com a queda de 9% para 7%, a sangria de 105 mil eleitores (204 mil menos do que nas autárquicas de há três meses...) e a passagem para o quarto lugar, atrás do CDS/PP na tabela partidária. Carlos Carvalhas tem somado sucessivas derrotas em dez anos de liderança do PCP e deixa agora o partido com menos 5 deputados e representantes eleitos apenas em 6 dos 20 círculos eleitorais do país. O PCP é um partido circunscrito e regionalizado eleitoralmente. Carlos Carvalhas tem somado sucessivas derrotas em dez anos de liderança do PCP e deixa agora o partido com menos 5 deputados e representantes eleitos apenas em 6 dos 20 círculos eleitorais do país. O PCP é um partido circunscrito e regionalizado eleitoralmente. Deixa fugir mais de 60 mil votantes para o PS, mais de 30 mil para a abstenção e cerca de 8 mil para o Bloco de Esquerda, que vê a aproximar-se percentualmente e a disputar-lhe o eleitorado de esquerda jovem e urbano. O processo de declínio é, ao que anos e anos de sucessivas derrotas eleitorais indicam, irreversível. E a capacidade de renovação do PCP perdeu-se há muito. As perdas eleitorais são acentuadas na sua zona de maior implantação: Lisboa (menos 4%), Setúbal (menos 4%), Beja (menos 4%) e Évora (menos 3%), vendo-se o PCP ultrapassado mesmo pelo PSD em muitos concelhos do próprio Alentejo. A «udêpização» do PCP torna-se, de eleição para eleição, um fenómeno cada vez mais real. Já um pouco abaixo dos 7%, os comunistas são uma força política em constante perda de atracção e influência. As perdas eleitorais são acentuadas na sua zona de maior implantação: Lisboa (menos 4%), Setúbal (menos 4%), Beja (menos 4%) e Évora (menos 3%), vendo-se o PCP ultrapassado mesmo pelo PSD em muitos concelhos do próprio Alentejo. A «udêpização» do PCP torna-se, de eleição para eleição, um fenómeno cada vez mais real. Já um pouco abaixo dos 7%, os comunistas são uma força política em constante perda de atracção e influência. O Bloco de Esquerda, por seu lado, se cresce e consolida a sua posição eleitoral, com 2,8%, mais 22 mil votos e mais um deputado, acaba por ficar aquém das expectativas dos seus dirigentes. O Bloco falha a eleição do terceiro deputado em Lisboa por larga margem (precisava de juntar mais 13.072 votos aos 26.519 que alcançou) e de Fernando Rosas em Setúbal (por 1292 votos), e acaba por perder votantes nos seus núcleos duros citadinos de Lisboa e Porto. É um partido de zonas mais suburbanas e de cidades intermédias (as suas votações são sempre maiores nas capitais de distrito do que nos distritos), sendo de realçar as subidas na Madeira (mais 1,9%) e no distrito de Setúbal (mais 1,1%). Com o quadro saído destas legislativas, surge como inevitável uma aliança de Governo entre PSD e CDS/PP, dispondo de uma maioria parlamentar de 118 deputados. Fica a incógnita sobre o nível de entendimento, de confiança e de acordo político que Durão Barroso e Paulo Portas conseguirão estabelecer nesta AD imposta pela força do voto. Disso dependerá a estabilidade política e a duração do próximo Governo. Com o quadro saído destas legislativas, surge como inevitável uma aliança de Governo entre PSD e CDS/PP, dispondo de uma maioria parlamentar de 118 deputados. Fica a incógnita sobre o nível de entendimento, de confiança e de acordo político que Durão Barroso e Paulo Portas conseguirão estabelecer nesta AD imposta pela força do voto. Disso dependerá a estabilidade política e a duração do próximo Governo. Se chegar a 2004, esta AD ressuscitada terá que enfrentar os testes de eleições europeias e regionais, do rescaldo do Euro-2004 e do défice zero para cumprir. E terá ultrapassado dois anos de coexistência no poder, vaticínio que poucos se atreverão a formular neste momento. 30

Ficha técnica O cálculo dos indicadores concelhios, sua representação cartográfica e elaboração dos vários mapas de vencedores, de estrutura e variação de voto, bem como o «software» de análise eleitoral foram efectuados por Luís Fraga. O modelo de transferência de voto é o saldo das 308 matrizes de transferência de eleitorado em cada concelho. As escalas dos mapas do Bloco de Esquerda são com valores menores, para tornar mais legível a sua variação e peso eleitoral.

Perdidos & ... Aqui se professa uma leitura enviesada dos resultados eleitorais. Não tanto pelo que foi, mas pelo que há-de ser, onde vencedores são vencidos e perdedores acabam por vencer. Onde - para o cúmulo - um homem consegue essa dupla e rara condição de Pirro, a condição de ganhador vencido. Aqui se confessa que há manifesto exagero e o seu quê de injustiça apesar do respeito sincero. Nas mais esconsas entrelinhas ficam também registadas a imensa ternura e admiração que todos - perdidos e achados - nos merecem, sem excepção. ANTÓNIO GUTERRES De acordo com a sábia teoria segundo a qual a Oposição nunca ganha eleições, sendo sempre o Governo que as perde, tentou-se encontrar um membro do Governo cessante para o dar como perdedor. Excluindo Paulo Pedroso, António Costa, António José Seguro, Mariano Gago, Correia de Campos e vários independentes que apoiaram o quase-vencedor Ferro, resta o quase ex-primeiro-ministro. Perdeu sozinho (o que é normal para quem tinha também ganho sozinho). De acordo com a sábia teoria segundo a qual a Oposição nunca ganha eleições, sendo sempre o Governo que as perde, tentou-se encontrar um membro do Governo cessante para o dar como perdedor. Excluindo Paulo Pedroso, António Costa, António José Seguro, Mariano Gago, Correia de Campos e vários independentes que apoiaram o quase-vencedor Ferro, resta o quase ex-primeiro-ministro. Perdeu sozinho (o que é normal para quem tinha também ganho sozinho). JOSÉ SARAMAGO Nos próximos tempos não mais o veremos em iniciativas oficiais da Pátria. Ele avisou, mas não o ouviram. Quiseram dar o voto a Barroso, mesmo sabendo que o nosso Nobel o desaconselhava. Se o tempo que o escritor poupa, esquivando-se a tanto social, lhe der para fazer um novo romance, talvez tenhamos de agradecer aos portugueses a iniciativa de terem posto a direita em maioria. Com optimismo, poderemos dizer que foi em atenção a Saramago que o PSD ganhou. Nos próximos tempos não mais o veremos em iniciativas oficiais da Pátria. Ele avisou, mas não o ouviram. Quiseram dar o voto a Barroso, mesmo sabendo que o nosso Nobel o desaconselhava. Se o tempo que o escritor poupa, esquivando-se a tanto social, lhe der para fazer um novo romance, talvez tenhamos de agradecer aos portugueses a iniciativa de terem posto a direita em maioria. Com optimismo, poderemos dizer que foi em atenção a Saramago que o PSD ganhou. MANUEL MONTEIRO Este homem enganou-se e enganou-nos! Pensava-se que ele seria o único interlocutor do PP com capacidade para se unir ao PSD e eis que Paulo Portas, mandando às urtigas a táctica do antecessor, consegue, igualmente, tornar-se indispensável. E agora, Manuel? (cita-se Drummond alterado, para não ser sempre O'Neill o sacrificado). Agora, vai mais uma travessia do deserto, enquanto o usurpador Portas pavoneia a sua nova pose de Estado. Enfim, azares... Este homem enganou-se e enganou-nos! Pensava-se que ele seria o único interlocutor do PP com capacidade para se unir ao PSD e eis que Paulo Portas, mandando às urtigas a táctica do antecessor, consegue, igualmente, tornar-se indispensável. E agora, Manuel? (cita-se Drummond alterado, para não ser sempre O'Neill o sacrificado). Agora, vai mais uma travessia do deserto, enquanto o usurpador Portas pavoneia a sua nova pose de Estado. Enfim, azares... FREITAS DO AMARAL É um caso semelhante. O ex-líder do CDS falha o momento de glória do partido que fundou, saindo da noite eleitoral acusado de traidor pelos seus ex-apaniguados. Foi triste e provavelmente injusto. Porém, caso se tivesse mantido um pouco mais discreto, seria hoje uma ponte entre os dois partidos que constituem a maioria no Parlamento. Assim, em vez de fazer parte da solução pode vir a fazer parte do problema... ou até, o que é pior, nem sequer fazer parte de coisa alguma. É um caso semelhante. O ex-líder do CDS falha o momento de glória do partido que fundou, saindo da noite eleitoral acusado de traidor pelos seus ex-apaniguados. Foi triste e provavelmente injusto. Porém, caso se tivesse mantido um pouco mais discreto, seria hoje uma ponte entre os dois partidos que constituem a maioria no Parlamento. Assim, em vez de fazer parte da solução pode vir a fazer parte do problema... ou até, o que é pior, nem sequer fazer parte de coisa alguma. BERNARDINO SOARES Em boa verdade, neste lugar devia estar Carlos Carvalhas. Porém, a ideia de não nos repetirmos levou-nos à consagração deste jovem que foi o líder parlamentar do PCP nos últimos tempos. Apostou-se nele como forma de renovação, como modo de captar jovens, como sinal de abertura. O problema é que em vez do PCP ficar mais aberto, mais novo e mais renovado, foi Bernardino ficando mais velho, mais ortodoxo e mais fechado. Há doenças que se pegam num instante... Em boa verdade, neste lugar devia estar Carlos Carvalhas. Porém, a ideia de não nos repetirmos levou-nos à consagração deste jovem que foi o líder parlamentar do PCP nos últimos tempos. Apostou-se nele como forma de renovação, como modo de captar jovens, como sinal de abertura. O problema é que em vez do PCP ficar mais aberto, mais novo e mais renovado, foi Bernardino ficando mais velho, mais ortodoxo e mais fechado. Há doenças que se pegam num instante... MIGUEL PORTAS Este querido ex-colega tem uma pontaria invulgar para não ser eleito deputado (há quem diga que é o que ele quer). Há dois anos, por escassos votos, não foi eleito pelo círculo do Porto. Mudou este ano para Lisboa, onde poderia ser o terceiro bloquista eleito... Pois bem, o Bloco elegeu um deputado no Porto, mas falhou o terceiro em Lisboa, ficando Miguel, de novo, à porta de São Bento. Será azar, ou saber viver? Eis um mistério a que apenas o próprio poderá responder. Este querido ex-colega tem uma pontaria invulgar para não ser eleito deputado (há quem diga que é o que ele quer). Há dois anos, por escassos votos, não foi eleito pelo círculo do Porto. Mudou este ano para Lisboa, onde poderia ser o terceiro bloquista eleito... Pois bem, o Bloco elegeu um deputado no Porto, mas falhou o terceiro em Lisboa, ficando Miguel, de novo, à porta de São Bento. Será azar, ou saber viver? Eis um mistério a que apenas o próprio poderá responder. SANTANA LOPES Eis um homem para o qual noite eleitoral sem escândalo não é noite verdadeira. Nas autárquicas, foi o caso do roubo dos votos em Marvila; no domingo, foi o caso do telefonema de Ferro para Durão. Santana é fogo! Mesmo quando ganha (e o PSD ganhou no concelho de Lisboa) alimenta-se com lenha, gasolina e explosivos. Sem ele, não haveria sequer uma pequena peixeirada para animar, com as devidas doses de intriga e «suspense», as mais famosas noites políticas de televisão. Eis um homem para o qual noite eleitoral sem escândalo não é noite verdadeira. Nas autárquicas, foi o caso do roubo dos votos em Marvila; no domingo, foi o caso do telefonema de Ferro para Durão. Santana é fogo! Mesmo quando ganha (e o PSD ganhou no concelho de Lisboa) alimenta-se com lenha, gasolina e explosivos. Sem ele, não haveria sequer uma pequena peixeirada para animar, com as devidas doses de intriga e «suspense», as mais famosas noites políticas de televisão. MARIA ELISA Porque perdeu se o PSD aumentou em Castelo Branco o número de votos e a percentagem (embora não o número de deputados)? Porque esse aumento foi curto de mais se se tiver em conta que ela é uma das mais conhecidas vedetas de televisão, que andou a perguntar quem queria ser milionário, a entrevistar famosos e a escrever crónicas em jornais. E porque não conseguiu que o seu - e nosso - colega da Renascença Ribeiro Cristóvão (terceiro da lista) fosse também para São Bento... Porque perdeu se o PSD aumentou em Castelo Branco o número de votos e a percentagem (embora não o número de deputados)? Porque esse aumento foi curto de mais se se tiver em conta que ela é uma das mais conhecidas vedetas de televisão, que andou a perguntar quem queria ser milionário, a entrevistar famosos e a escrever crónicas em jornais. E porque não conseguiu que o seu - e nosso - colega da Renascença Ribeiro Cristóvão (terceiro da lista) fosse também para São Bento... PINTO DA COSTA As coisas podiam ter-lhe corrido pior, mas também não lhe correram nada bem. O PSD ganhou a nível nacional e, mesmo no Porto, embora ficando atrás do PS, não teve a derrocada que lhe desejariam os superdragões. Enfim, o poder de Pinto da Costa é como a tradição - já não é o que era. E, como se não lhe bastasse, ultimamente a equipa de futebol só lhe traz dissabores - ele é o Beira-Mar, o Belenenses, ele é o Alverca... enfim, uma desgraça nunca vem só. As coisas podiam ter-lhe corrido pior, mas também não lhe correram nada bem. O PSD ganhou a nível nacional e, mesmo no Porto, embora ficando atrás do PS, não teve a derrocada que lhe desejariam os superdragões. Enfim, o poder de Pinto da Costa é como a tradição - já não é o que era. E, como se não lhe bastasse, ultimamente a equipa de futebol só lhe traz dissabores - ele é o Beira-Mar, o Belenenses, ele é o Alverca... enfim, uma desgraça nunca vem só. MANUEL VILARINHO Pouca gente houve que ficasse tão afectada com estas eleições como Manuel Vilarinho. Se, institucionalmente venceu, pessoalmente perdeu. Deu o dito por não dito, atrapalhou-se, embrulhou-se. O Vilarinho que ganha é o presidente do Benfica; o Vilarinho que perde é aquele senhor simpático, popular, de ar descontraído e sério que venceu aos pontos Vale e Azevedo. É um caso contraditório, mas é de casos como este que é feito o nosso belo e muito querido país. Pouca gente houve que ficasse tão afectada com estas eleições como Manuel Vilarinho. Se, institucionalmente venceu, pessoalmente perdeu. Deu o dito por não dito, atrapalhou-se, embrulhou-se. O Vilarinho que ganha é o presidente do Benfica; o Vilarinho que perde é aquele senhor simpático, popular, de ar descontraído e sério que venceu aos pontos Vale e Azevedo. É um caso contraditório, mas é de casos como este que é feito o nosso belo e muito querido país.

... achados PAULO PORTAS Ao fim de tantos anos de luta tenaz, o país respondeu-lhe: Sim, Paulo, fazes falta à Nação, ao Estado e ao Governo. Desde que não obrigues o Conselho de Ministros a cantar o Hino Nacional sempre que aprovar um decreto-lei, és bem-vindo ao Executivo, àquela mesa enorme em São Bento onde não chega ter boas ideias - é preciso aplicá-las. Agora que o braço direito está assegurado, convém ter igualmente alguma cabeça. Vamos ter fé, que o momento é de alegria. Ao fim de tantos anos de luta tenaz, o país respondeu-lhe: Sim, Paulo, fazes falta à Nação, ao Estado e ao Governo. Desde que não obrigues o Conselho de Ministros a cantar o Hino Nacional sempre que aprovar um decreto-lei, és bem-vindo ao Executivo, àquela mesa enorme em São Bento onde não chega ter boas ideias - é preciso aplicá-las. Agora que o braço direito está assegurado, convém ter igualmente alguma cabeça. Vamos ter fé, que o momento é de alegria. DURÃO BARROSO A vitória não foi estrondosa, mas a profecia consumou-se. José Manuel sabia que ia ser primeiro-ministro, só não sabia quando. Ficou, domingo, a saber ? é para o mês que vem! Resta, porém, conhecer o como e o quanto: como vai sair-se como líder do Governo (espera-se que bastante melhor do que na campanha) e quanto tempo vai aguentar-se (espera-se que uma legislatura). Com elevada esperança e não menos cunho maoísta, desejemos longa vida ao novo timoneiro! A vitória não foi estrondosa, mas a profecia consumou-se. José Manuel sabia que ia ser primeiro-ministro, só não sabia quando. Ficou, domingo, a saber ? é para o mês que vem! Resta, porém, conhecer o como e o quanto: como vai sair-se como líder do Governo (espera-se que bastante melhor do que na campanha) e quanto tempo vai aguentar-se (espera-se que uma legislatura). Com elevada esperança e não menos cunho maoísta, desejemos longa vida ao novo timoneiro! JOÃO LOBO ANTUNES De hoje em diante, não são necessárias sondagens: quem João Lobo Antunes apoia é eleito pela certa. Mandatário de Sampaio, apoiante de Barroso e um dos raros que com genuína alegria puderam celebrar ambos os actos eleitorais. Acresce que, se algo correr mal entre Presidente e primeiro-ministro, lá está este conhecido neurocirurgião para desbloquear o contencioso. É, digamos, uma autêntica ponte entre os hemisférios esquerdo e direito do cérebro da Pátria. De hoje em diante, não são necessárias sondagens: quem João Lobo Antunes apoia é eleito pela certa. Mandatário de Sampaio, apoiante de Barroso e um dos raros que com genuína alegria puderam celebrar ambos os actos eleitorais. Acresce que, se algo correr mal entre Presidente e primeiro-ministro, lá está este conhecido neurocirurgião para desbloquear o contencioso. É, digamos, uma autêntica ponte entre os hemisférios esquerdo e direito do cérebro da Pátria. JOÃO AMARAL Ele bem pediu um Congresso extraordinário no PCP porque via que a coisa ia por maus caminhos. Não só não o ouviram, como o sanearam da lista do Porto. O resultado está à vista: a CDU perdeu um deputado na Invicta e o PCP perdeu o Norte (inclua-se no pacote o deputado que também perdeu em Braga). Poder-se-ia dizer que o mais charmoso dos comunistas teve razão antes de tempo, não fosse o caso de esta mania de os comunistas perderem votos já durar há mais de 10 anos. Ele bem pediu um Congresso extraordinário no PCP porque via que a coisa ia por maus caminhos. Não só não o ouviram, como o sanearam da lista do Porto. O resultado está à vista: a CDU perdeu um deputado na Invicta e o PCP perdeu o Norte (inclua-se no pacote o deputado que também perdeu em Braga). Poder-se-ia dizer que o mais charmoso dos comunistas teve razão antes de tempo, não fosse o caso de esta mania de os comunistas perderem votos já durar há mais de 10 anos. FERREIRA DO AMARAL Foi candidato do PSD em Leiria com a espinhosa missão de se opor ao que todos os outros partidos reivindicavam: a construção do aeroporto da Ota. Mesmo assim subiu mais de 8% e conquistou mais um deputado. Claro que há a possibilidade de ninguém ter acreditado nele; ou seja, de todos pensarem que o antigo ministro das Obras Públicas, apesar do que disse, estar mortinho por construir o aeroporto. É que Ferreira não parece homem para falhar uma grande obra. Foi candidato do PSD em Leiria com a espinhosa missão de se opor ao que todos os outros partidos reivindicavam: a construção do aeroporto da Ota. Mesmo assim subiu mais de 8% e conquistou mais um deputado. Claro que há a possibilidade de ninguém ter acreditado nele; ou seja, de todos pensarem que o antigo ministro das Obras Públicas, apesar do que disse, estar mortinho por construir o aeroporto. É que Ferreira não parece homem para falhar uma grande obra. FERRO RODRIGUES Esta já é velha: quem perde também pode ganhar. O novo líder do PS conquistou o partido e perdeu honrosamente pelo que, nas contas dos portugueses, ganhou um bocadinho (é como a selecção nacional quando fica em terceiro lugar no Europeu de futebol). Depois de seis anos como ministro, fica-lhe bem passar à Oposição e assistir de São Bento às trapalhadas próprias de um Governo, guardando-se para a sua hora. Também ele há-de ser primeiro-ministro, embora não saiba quando. Esta já é velha: quem perde também pode ganhar. O novo líder do PS conquistou o partido e perdeu honrosamente pelo que, nas contas dos portugueses, ganhou um bocadinho (é como a selecção nacional quando fica em terceiro lugar no Europeu de futebol). Depois de seis anos como ministro, fica-lhe bem passar à Oposição e assistir de São Bento às trapalhadas próprias de um Governo, guardando-se para a sua hora. Também ele há-de ser primeiro-ministro, embora não saiba quando. DANIEL CAMPELO Depois do negócio do queijo, o PP não o quis mais nas listas de deputados. Fez mal! Campelo conseguiu, numa aritmética fantástica, pôr o CDS a perder um deputado mesmo quando o partido subiu largamente de votação. No círculo de Viana, que inclui Ponte de Lima, e ao contrário do resto do país, o eleito era ele, Daniel, e não Paulo Portas. Por isso mesmo, sentia-se livre para fazer o que bem entendesse. E a verdade é que em Viana, sem Campelo não há PP... Depois do negócio do queijo, o PP não o quis mais nas listas de deputados. Fez mal! Campelo conseguiu, numa aritmética fantástica, pôr o CDS a perder um deputado mesmo quando o partido subiu largamente de votação. No círculo de Viana, que inclui Ponte de Lima, e ao contrário do resto do país, o eleito era ele, Daniel, e não Paulo Portas. Por isso mesmo, sentia-se livre para fazer o que bem entendesse. E a verdade é que em Viana, sem Campelo não há PP... JOSÉ SÓCRATES A façanha de ganhar em Castelo Branco nem é grande coisa, apesar da adversária. A façanha é ter ganho em Souselas e em Outão, terras onde se presumia que a co-incineração iria penalizar o PS. Moral da história (embora seja bem conhecida): o mal do Governo socialista não residiu tanto nas decisões que tomou, mas sobretudo nas que não tomou. Sócrates, um dos únicos que decidiu, foi recompensado; Guterres, o indeciso, foi punido. Um conto infantil não acabaria melhor... A façanha de ganhar em Castelo Branco nem é grande coisa, apesar da adversária. A façanha é ter ganho em Souselas e em Outão, terras onde se presumia que a co-incineração iria penalizar o PS. Moral da história (embora seja bem conhecida): o mal do Governo socialista não residiu tanto nas decisões que tomou, mas sobretudo nas que não tomou. Sócrates, um dos únicos que decidiu, foi recompensado; Guterres, o indeciso, foi punido. Um conto infantil não acabaria melhor... JORGE SAMPAIO Sua Excelência o Presidente da República está, como se sabe, acima dos partidos, por isso não ganha nem perde numas legislativas. Pronto! Posta a versão oficial, a verdade é que Sampaio está muito mais à vontade agora. A sua velha vocação para defender os fracos e desprotegidos pode estender-se e alargar-se; o único risco que corre é desagradar ao PSD e... talvez ao CDS. Para quem tinha de usar punhos de renda com os socialistas no poder, isto é uma autêntica libertação. Sua Excelência o Presidente da República está, como se sabe, acima dos partidos, por isso não ganha nem perde numas legislativas. Pronto! Posta a versão oficial, a verdade é que Sampaio está muito mais à vontade agora. A sua velha vocação para defender os fracos e desprotegidos pode estender-se e alargar-se; o único risco que corre é desagradar ao PSD e... talvez ao CDS. Para quem tinha de usar punhos de renda com os socialistas no poder, isto é uma autêntica libertação. MANUEL VILARINHO Como presidente da grande instituição que é o Benfica, há muito que este homem não fazia uma aposta tão certa. Depois de contratar vários lesionados e protolesionados, finalmente conseguiu encontrar o homem certo; Durão Barroso (não foi por acaso que, um dia depois das eleições, já o Benfica ganhava por 5-0). O país espera, agora, que a mágica solução seja encontrada, de forma a não ficar com uma espécie de circo romano (com muito menos charme) ao pé da 2ª Circular. Como presidente da grande instituição que é o Benfica, há muito que este homem não fazia uma aposta tão certa. Depois de contratar vários lesionados e protolesionados, finalmente conseguiu encontrar o homem certo; Durão Barroso (não foi por acaso que, um dia depois das eleições, já o Benfica ganhava por 5-0). O país espera, agora, que a mágica solução seja encontrada, de forma a não ficar com uma espécie de circo romano (com muito menos charme) ao pé da 2ª Circular. Textos de Henrique Monteiro

COMENTÁRIOS AO ARTIGO (3)

AD imposta pelo voto

Não houve maioria absoluta, mas também não se caiu na temida confusão de um partido vencedor à direita com uma maioria parlamentar de esquerda. A vontade de mudança que cresceu no eleitorado com os últimos anos de governação de António Guterres e a queda do Executivo socialista traduziu-se, nas legislativas antecipadas de 17 de Março, numa efectiva viragem política. Com um vencedor objectivo, o PSD, e uma maioria clara no Parlamento de deputados de dois partidos, o PSD e o CDS/PP. Os portugueses deram a Durão Barroso a ambicionada vitória, mas negaram-lhe a sonhada maioria absoluta e, por simbólica ironia, impuseram-lhe, como fórmula de governar, a AD que ele tanto havia combatido

Texto de José António Lima

O regresso do PSD ao poder, seis anos e meio depois do fim do ciclo cavaquista de 1985 a 95, foi a vitória de um partido que soube resistir na oposição e de um líder persistente e determinado, Durão Barroso. Que soube sobreviver a todos os contratempos na sua contestada liderança e esperar a degradação da popularidade de Guterres e a queda de um Governo socialista desgastado por múltiplas insuficiências e sucessivos erros. O regresso do PSD ao poder, seis anos e meio depois do fim do ciclo cavaquista de 1985 a 95, foi a vitória de um partido que soube resistir na oposição e de um líder persistente e determinado, Durão Barroso. Que soube sobreviver a todos os contratempos na sua contestada liderança e esperar a degradação da popularidade de Guterres e a queda de um Governo socialista desgastado por múltiplas insuficiências e sucessivos erros. Mas a vitória eleitoral social-democrata do passado domingo deixou, seguramente, um sabor amargo em Durão Barroso e na maioria dos militantes do partido. Porque os 40,1% de votos e os previsíveis 104 deputados eleitos do PSD ficaram bem longe das expectativas que legitimamente alimentaram. De uma concludente maioria absoluta laranja, que garantisse a estabilidade governativa nos próximos anos sem a necessidade de acordos ou alianças com outras forças políticas. Expectativas que decorriam da ainda próxima e expressiva vitória do PSD nas autárquicas de Dezembro, desalojando o PS das principais cidades do país e conquistando uma maioria recorde de 159 executivos camarários e uma vantagem histórica de 45 municípios sobre o PS. Expectativas que se alicerçavam na fragilidade política de um PS em crise e com uma difícil e apressada transição de liderança, após a saída de cena de Guterres. Expectativas que se consolidavam com o péssimo resultado do CDS/PP nas autárquicas, quase desaparecendo do mapa, e com a favorável lógica de bipolarização que se instalara na campanha para as legislativas. Expectativas que, ainda por cima, se reforçavam na generalidade das sondagens divulgadas até à última semana de campanha, onde o avanço do PSD e a tendência de voto apontavam para uma confortável maioria . Expectativas que decorriam da ainda próxima e expressiva vitória do PSD nas autárquicas de Dezembro, desalojando o PS das principais cidades do país e conquistando uma maioria recorde de 159 executivos camarários e uma vantagem histórica de 45 municípios sobre o PS. Expectativas que se alicerçavam na fragilidade política de um PS em crise e com uma difícil e apressada transição de liderança, após a saída de cena de Guterres. Expectativas que se consolidavam com o péssimo resultado do CDS/PP nas autárquicas, quase desaparecendo do mapa, e com a favorável lógica de bipolarização que se instalara na campanha para as legislativas. Expectativas que, ainda por cima, se reforçavam na generalidade das sondagens divulgadas até à última semana de campanha, onde o avanço do PSD e a tendência de voto apontavam para uma confortável maioria . O único e persistente problema continuava a ser a pouco satisfatória imagem do líder nos inquéritos de opinião aos portugueses, mas todos os outros indicadores iam em sentido contrário e auspicioso. A onda de vitória laranja surgida nas autárquicas parecia em crescimento contínuo e imparável. Ora, não foi nada disso que se veio a passar. O PSD ficou longe da maioria absoluta (precisaria de mais 5% e 300 mil votos), a curta distância de 2,1% e 120 mil votos do abalado PS, e a bipolarização quase só teve efeitos à esquerda com o esvaziamento eleitoral do PCP, já que o CDS/PP de Paulo Portas subiu de 8,4% para 8,8% e ganhou 26 mil votantes. Porque não foi o PSD capaz de liderar e fazer reverter claramente (em seu benefício) a onda de vitória e os ventos de mudança que sopravam a seu favor? A resposta é simples: porque Durão Barroso se mostrou incapaz de afirmar uma imagem de credibilidade, de inspirar confiança no eleitorado ao ponto de este lhe conceder a maioria absoluta. Tanto mais que as debilidades do líder do PSD se tornavam ainda mais patentes no decorrer da campanha, em confronto com Ferro Rodrigues ou com Paulo Portas e na incapacidade para sustentar ou explicar as propostas contraditórias que ia lançando. Ora, não foi nada disso que se veio a passar. O PSD ficou longe da maioria absoluta (precisaria de mais 5% e 300 mil votos), a curta distância de 2,1% e 120 mil votos do abalado PS, e a bipolarização quase só teve efeitos à esquerda com o esvaziamento eleitoral do PCP, já que o CDS/PP de Paulo Portas subiu de 8,4% para 8,8% e ganhou 26 mil votantes. Porque não foi o PSD capaz de liderar e fazer reverter claramente (em seu benefício) a onda de vitória e os ventos de mudança que sopravam a seu favor? A resposta é simples: porque Durão Barroso se mostrou incapaz de afirmar uma imagem de credibilidade, de inspirar confiança no eleitorado ao ponto de este lhe conceder a maioria absoluta. Tanto mais que as debilidades do líder do PSD se tornavam ainda mais patentes no decorrer da campanha, em confronto com Ferro Rodrigues ou com Paulo Portas e na incapacidade para sustentar ou explicar as propostas contraditórias que ia lançando. O PSD viu a sua tendência de crescimento travada pela desconfiança de grande parte do eleitorado em relação ao seu líder. E dois factos ilustram este fenómeno político-eleitoral: a evolução das sondagens e dos resultados entre as autárquicas de 16 de Dezembro e as legislativas de 17 de Março. A generalidade das sondagens publicadas na passada semana haviam sido realizadas até dia 12, segunda-feira. E, com uma margem de indecisos ainda entre 10% e 15%, colocavam o PSD com uma média de 36%, o PS com 33%, o CDS/PP com 5,2%, o PCP com 6,1% e o BE com 2,7%. O que significa que, nos últimos dias, de 13 até 17 de Março, com o debate da RTP-1 pelo meios, os indecisos se terão distribuído pelo PSD em 4% , pelo PS em 5% e pelo CDS/PP em 3,5% (quase duplicando a intenção de voto inicial em Paulo Portas). E que o PSD desperdiçou a capacidade que o partido que vai à frente normalmente tem para atrair essa parcela de eleitorado ainda hesitante. A generalidade das sondagens publicadas na passada semana haviam sido realizadas até dia 12, segunda-feira. E, com uma margem de indecisos ainda entre 10% e 15%, colocavam o PSD com uma média de 36%, o PS com 33%, o CDS/PP com 5,2%, o PCP com 6,1% e o BE com 2,7%. O que significa que, nos últimos dias, de 13 até 17 de Março, com o debate da RTP-1 pelo meios, os indecisos se terão distribuído pelo PSD em 4% , pelo PS em 5% e pelo CDS/PP em 3,5% (quase duplicando a intenção de voto inicial em Paulo Portas). E que o PSD desperdiçou a capacidade que o partido que vai à frente normalmente tem para atrair essa parcela de eleitorado ainda hesitante. Por outro lado, o PSD apenas conquistou 140 mil novos eleitores entre as autárquicas de Dezembro e estas legislativas (passou de 2 milhões e 38 mil votantes para 2 milhões e 179 mil), menos do que o PS (que recuperou 150 mil) ou até do que o CDS/PP (que atraiu mais 155 mil), comprovando-se que não soube liderar e ampliar de forma significativa a dinâmica de vitória nascida nas autárquicas e reforçada com a demissão de Guterres e do governo PS. Mesmo desbaratando uma oportunidade única de chamar a si a maioria absoluta do voto dos portugueses, o PSD alcançou o seu melhor resultado em legislativas depois das maiorias de Cavaco Silva em 87 e 91. Subiu 7,8% em relação às eleições de 99, cresceu 446 mil votos (com transferências de cerca de 250 mil do PS, de 160 mil da abstenção e de 20 mil do CDS/PP) e aumentou o seu grupo parlamentar com mais 23 deputados. Foi, como insistentemente repetiram na noite eleitoral José Luís Arnaut e Durão Barroso, o maior resultado do PSD ao sair da oposição (tal como os 43% de Guterres em 95 quando o PS saiu de dez anos de oposição), com os sociais-democratas a ganharem deputados em 14 dos 20 círculos eleitorais do país. E a só não terem qualquer representante eleito no distrito de Beja, onde, ainda assim, ficaram a escassos 464 votos de tirar ao PS o seu segundo deputado. Mesmo desbaratando uma oportunidade única de chamar a si a maioria absoluta do voto dos portugueses, o PSD alcançou o seu melhor resultado em legislativas depois das maiorias de Cavaco Silva em 87 e 91. Subiu 7,8% em relação às eleições de 99, cresceu 446 mil votos (com transferências de cerca de 250 mil do PS, de 160 mil da abstenção e de 20 mil do CDS/PP) e aumentou o seu grupo parlamentar com mais 23 deputados. Foi, como insistentemente repetiram na noite eleitoral José Luís Arnaut e Durão Barroso, o maior resultado do PSD ao sair da oposição (tal como os 43% de Guterres em 95 quando o PS saiu de dez anos de oposição), com os sociais-democratas a ganharem deputados em 14 dos 20 círculos eleitorais do país. E a só não terem qualquer representante eleito no distrito de Beja, onde, ainda assim, ficaram a escassos 464 votos de tirar ao PS o seu segundo deputado. Com um crescimento quase uniforme de votação em todo o país, o PSD apresenta os seus melhores resultados em Viana do Castelo (sobe 10% com a lista liderada por José Eduardo Martins e beneficiando da queda do CDS/PP sem Daniel Campelo), nos Açores (mais 9,5%, com Vítor Cruz a impor uma enorme derrota a Carlos César e ao PS), na Guarda (aumenta 9% com Ana Manso), em Vila Real (subida de 8,5% com Assunção Esteves) e em Aveiro (mais 8% e maioria absoluta de deputados, com Marques Mendes a desalojar o PS e João Cravinho do primeiro lugar e a fazer Paulo Portas descer a votação aveirense do CDS/PP). Os piores números dos sociais-democratas vêm de Castelo Branco (apenas 6% de subida com Maria Elisa face a José Sócrates), de Coimbra (também 6%, com Dias Loureiro frente a Almeida Santos) e de Setúbal (os mesmos 6% de Miguel Frasquilho perante o socialista Paulo Pedroso). Os piores números dos sociais-democratas vêm de Castelo Branco (apenas 6% de subida com Maria Elisa face a José Sócrates), de Coimbra (também 6%, com Dias Loureiro frente a Almeida Santos) e de Setúbal (os mesmos 6% de Miguel Frasquilho perante o socialista Paulo Pedroso). Durão Barroso conquista a liderança para o partido em cinco círculos eleitorais (Aveiro, Braga, Guarda, Viana do Castelo e Açores), fica quase em primeiro em Coimbra e Santarém (neste, apenas a 617 votos do PS) e ultrapassa o PCP em Évora e Setúbal, ficando a uma distância mínima dos comunistas em Beja. Os mapas de variação e de estrutura do partido evidenciam este generalizado reforço de posições e de votações. Já Ferro Rodrigues, com 37,9% e 2 milhões e 56 mil votantes, averba o melhor «score» eleitoral do PS depois das maiorias relativas de Guterres em 95 e 99. Perde 6,1% na percentagem nacional e 300 mil votos (259 mil para o PSD e 109 mil para a abstenção, compensando ligeiramente com 63 mil conquistados ao PCP), ainda que o PS suba 1,5% e 150 mil votos em comparação com as autárquicas de Dezembro. O PS deixa fugir 18 deputados, caindo para 97 eleitos, ainda que continue a ser o único partido que elege representantes em todos os 20 círculos eleitorais de Portugal. Mas cede ao PSD o primeiro lugar em cinco desses círculos de eleição. O PS deixa fugir 18 deputados, caindo para 97 eleitos, ainda que continue a ser o único partido que elege representantes em todos os 20 círculos eleitorais de Portugal. Mas cede ao PSD o primeiro lugar em cinco desses círculos de eleição. Os resultados mais negativos dos socialistas registam-se em Bragança (perdem 10% com a lista encabeçada por Armando Vara), na Guarda (queda de 9% com Pina Moura), em Vila Real (menos 9% com Ascenso Simões) e na Madeira (igual descida de 9% com Maximiano Rodrigues). A derrota mais pesada é, contudo, a dos Açores (menos 12%, menos um deputado e perda do primeiro lugar com a dupla Medeiros Ferreira/Carlos César). As votações mais positivas, onde é nítido o benefício da captação de votos do PCP a atenuar a queda do PS, são as ocorridas em Beja (menos 3%, com Rui Cunha), em Évora (também menos 3%, com Capoulas Santos, e o caso singular de Portel, único concelho do país onde o PS sobe a sua votação), em Setúbal (descida de 4% com Paulo Pedroso), em Lisboa (diminuição de 4% no círculo liderado por Ferro Rodrigues) e Viana do Castelo (menos 5%, com Marques Júnior a beneficiar do efeito Campelo). Neste cenário de perdas, pode dizer-se que Ferro Rodrigues constituiu uma mais-valia para o PS, travando a enorme queda anunciada pelo resultado das autárquicas e o conturbado processo da sucessão de Guterres. Neste cenário de perdas, pode dizer-se que Ferro Rodrigues constituiu uma mais-valia para o PS, travando a enorme queda anunciada pelo resultado das autárquicas e o conturbado processo da sucessão de Guterres. Não restam dúvidas de que a votação de Paulo Portas e do CDS/PP foi a grande surpresa e a mais inesperada vitória destas legislativas. O CDS/PP ultrapassa nacionalmente o PCP e chega ao terceiro lugar, resiste à bipolarização perdendo apenas um deputado(e nas circunstâncias particulares de Ponte de Lima) e subindo 0,4% o seu resultado, e... acima de tudo, coloca-se como parceiro imprescindível do PSD para uma solução estável de Governo. Portas não só consegue a sobrevivência ameaçada do CDS/PP como o leva a regressar à área do poder, depois de 20 anos de afastamento. Sustendo as transferências de eleitores para o PSD (apenas 19 mil terão mudado para o maior partido) e captando mais de 40 mil votos na massa de abstencionistas, entre o eleitorado jovem e em concelhos rurais de populações envelhecidas, para as quais dirigiu grande parte do seu discurso de campanha. Foi na recta final, na última semana de campanha, que o líder do CDS/PP terá convencido uma larga parcela dos eleitores a darem-lhe o seu voto. E assim conseguiu segurar os deputados solitários do partido que estavam em risco de não eleição em Braga, Leiria, Santarém, Setúbal ou Viseu, além de manter 4 em Lisboa, 3 no Porto e 2 em Aveiro (círculo onde concorreu e que fica como uma das poucas derrotas pessoais e eleitorais do CDS/PP nestas legislativas). Foi na recta final, na última semana de campanha, que o líder do CDS/PP terá convencido uma larga parcela dos eleitores a darem-lhe o seu voto. E assim conseguiu segurar os deputados solitários do partido que estavam em risco de não eleição em Braga, Leiria, Santarém, Setúbal ou Viseu, além de manter 4 em Lisboa, 3 no Porto e 2 em Aveiro (círculo onde concorreu e que fica como uma das poucas derrotas pessoais e eleitorais do CDS/PP nestas legislativas). E se o CDS/PP perdeu o seu deputado de Viana do Castelo por 2072 votos (devido ao afastamento de Daniel Campelo, que só no concelho de Ponte de Lima fez a votação do partido perder 3200 votos), em Braga ficou a escassos 696 votos de eleger um segundo deputado (que tirava ao PS) e em Coimbra, Faro e na Madeira perdeu a eleição de representantes apenas por 2 mil ou 3 mil votos. Portas e o CDS/PP entraram, com mérito incontestável, na galeria dos vencedores deste acto eleitoral. Já o PCP não resistiu, uma vez mais, à bipolarização e colecciona nova derrota eleitoral. É o pior resultado dos comunistas em legislativas, com a queda de 9% para 7%, a sangria de 105 mil eleitores (204 mil menos do que nas autárquicas de há três meses...) e a passagem para o quarto lugar, atrás do CDS/PP na tabela partidária. Carlos Carvalhas tem somado sucessivas derrotas em dez anos de liderança do PCP e deixa agora o partido com menos 5 deputados e representantes eleitos apenas em 6 dos 20 círculos eleitorais do país. O PCP é um partido circunscrito e regionalizado eleitoralmente. Carlos Carvalhas tem somado sucessivas derrotas em dez anos de liderança do PCP e deixa agora o partido com menos 5 deputados e representantes eleitos apenas em 6 dos 20 círculos eleitorais do país. O PCP é um partido circunscrito e regionalizado eleitoralmente. Deixa fugir mais de 60 mil votantes para o PS, mais de 30 mil para a abstenção e cerca de 8 mil para o Bloco de Esquerda, que vê a aproximar-se percentualmente e a disputar-lhe o eleitorado de esquerda jovem e urbano. O processo de declínio é, ao que anos e anos de sucessivas derrotas eleitorais indicam, irreversível. E a capacidade de renovação do PCP perdeu-se há muito. As perdas eleitorais são acentuadas na sua zona de maior implantação: Lisboa (menos 4%), Setúbal (menos 4%), Beja (menos 4%) e Évora (menos 3%), vendo-se o PCP ultrapassado mesmo pelo PSD em muitos concelhos do próprio Alentejo. A «udêpização» do PCP torna-se, de eleição para eleição, um fenómeno cada vez mais real. Já um pouco abaixo dos 7%, os comunistas são uma força política em constante perda de atracção e influência. As perdas eleitorais são acentuadas na sua zona de maior implantação: Lisboa (menos 4%), Setúbal (menos 4%), Beja (menos 4%) e Évora (menos 3%), vendo-se o PCP ultrapassado mesmo pelo PSD em muitos concelhos do próprio Alentejo. A «udêpização» do PCP torna-se, de eleição para eleição, um fenómeno cada vez mais real. Já um pouco abaixo dos 7%, os comunistas são uma força política em constante perda de atracção e influência. O Bloco de Esquerda, por seu lado, se cresce e consolida a sua posição eleitoral, com 2,8%, mais 22 mil votos e mais um deputado, acaba por ficar aquém das expectativas dos seus dirigentes. O Bloco falha a eleição do terceiro deputado em Lisboa por larga margem (precisava de juntar mais 13.072 votos aos 26.519 que alcançou) e de Fernando Rosas em Setúbal (por 1292 votos), e acaba por perder votantes nos seus núcleos duros citadinos de Lisboa e Porto. É um partido de zonas mais suburbanas e de cidades intermédias (as suas votações são sempre maiores nas capitais de distrito do que nos distritos), sendo de realçar as subidas na Madeira (mais 1,9%) e no distrito de Setúbal (mais 1,1%). Com o quadro saído destas legislativas, surge como inevitável uma aliança de Governo entre PSD e CDS/PP, dispondo de uma maioria parlamentar de 118 deputados. Fica a incógnita sobre o nível de entendimento, de confiança e de acordo político que Durão Barroso e Paulo Portas conseguirão estabelecer nesta AD imposta pela força do voto. Disso dependerá a estabilidade política e a duração do próximo Governo. Com o quadro saído destas legislativas, surge como inevitável uma aliança de Governo entre PSD e CDS/PP, dispondo de uma maioria parlamentar de 118 deputados. Fica a incógnita sobre o nível de entendimento, de confiança e de acordo político que Durão Barroso e Paulo Portas conseguirão estabelecer nesta AD imposta pela força do voto. Disso dependerá a estabilidade política e a duração do próximo Governo. Se chegar a 2004, esta AD ressuscitada terá que enfrentar os testes de eleições europeias e regionais, do rescaldo do Euro-2004 e do défice zero para cumprir. E terá ultrapassado dois anos de coexistência no poder, vaticínio que poucos se atreverão a formular neste momento. 30

Ficha técnica O cálculo dos indicadores concelhios, sua representação cartográfica e elaboração dos vários mapas de vencedores, de estrutura e variação de voto, bem como o «software» de análise eleitoral foram efectuados por Luís Fraga. O modelo de transferência de voto é o saldo das 308 matrizes de transferência de eleitorado em cada concelho. As escalas dos mapas do Bloco de Esquerda são com valores menores, para tornar mais legível a sua variação e peso eleitoral.

Perdidos & ... Aqui se professa uma leitura enviesada dos resultados eleitorais. Não tanto pelo que foi, mas pelo que há-de ser, onde vencedores são vencidos e perdedores acabam por vencer. Onde - para o cúmulo - um homem consegue essa dupla e rara condição de Pirro, a condição de ganhador vencido. Aqui se confessa que há manifesto exagero e o seu quê de injustiça apesar do respeito sincero. Nas mais esconsas entrelinhas ficam também registadas a imensa ternura e admiração que todos - perdidos e achados - nos merecem, sem excepção. ANTÓNIO GUTERRES De acordo com a sábia teoria segundo a qual a Oposição nunca ganha eleições, sendo sempre o Governo que as perde, tentou-se encontrar um membro do Governo cessante para o dar como perdedor. Excluindo Paulo Pedroso, António Costa, António José Seguro, Mariano Gago, Correia de Campos e vários independentes que apoiaram o quase-vencedor Ferro, resta o quase ex-primeiro-ministro. Perdeu sozinho (o que é normal para quem tinha também ganho sozinho). De acordo com a sábia teoria segundo a qual a Oposição nunca ganha eleições, sendo sempre o Governo que as perde, tentou-se encontrar um membro do Governo cessante para o dar como perdedor. Excluindo Paulo Pedroso, António Costa, António José Seguro, Mariano Gago, Correia de Campos e vários independentes que apoiaram o quase-vencedor Ferro, resta o quase ex-primeiro-ministro. Perdeu sozinho (o que é normal para quem tinha também ganho sozinho). JOSÉ SARAMAGO Nos próximos tempos não mais o veremos em iniciativas oficiais da Pátria. Ele avisou, mas não o ouviram. Quiseram dar o voto a Barroso, mesmo sabendo que o nosso Nobel o desaconselhava. Se o tempo que o escritor poupa, esquivando-se a tanto social, lhe der para fazer um novo romance, talvez tenhamos de agradecer aos portugueses a iniciativa de terem posto a direita em maioria. Com optimismo, poderemos dizer que foi em atenção a Saramago que o PSD ganhou. Nos próximos tempos não mais o veremos em iniciativas oficiais da Pátria. Ele avisou, mas não o ouviram. Quiseram dar o voto a Barroso, mesmo sabendo que o nosso Nobel o desaconselhava. Se o tempo que o escritor poupa, esquivando-se a tanto social, lhe der para fazer um novo romance, talvez tenhamos de agradecer aos portugueses a iniciativa de terem posto a direita em maioria. Com optimismo, poderemos dizer que foi em atenção a Saramago que o PSD ganhou. MANUEL MONTEIRO Este homem enganou-se e enganou-nos! Pensava-se que ele seria o único interlocutor do PP com capacidade para se unir ao PSD e eis que Paulo Portas, mandando às urtigas a táctica do antecessor, consegue, igualmente, tornar-se indispensável. E agora, Manuel? (cita-se Drummond alterado, para não ser sempre O'Neill o sacrificado). Agora, vai mais uma travessia do deserto, enquanto o usurpador Portas pavoneia a sua nova pose de Estado. Enfim, azares... Este homem enganou-se e enganou-nos! Pensava-se que ele seria o único interlocutor do PP com capacidade para se unir ao PSD e eis que Paulo Portas, mandando às urtigas a táctica do antecessor, consegue, igualmente, tornar-se indispensável. E agora, Manuel? (cita-se Drummond alterado, para não ser sempre O'Neill o sacrificado). Agora, vai mais uma travessia do deserto, enquanto o usurpador Portas pavoneia a sua nova pose de Estado. Enfim, azares... FREITAS DO AMARAL É um caso semelhante. O ex-líder do CDS falha o momento de glória do partido que fundou, saindo da noite eleitoral acusado de traidor pelos seus ex-apaniguados. Foi triste e provavelmente injusto. Porém, caso se tivesse mantido um pouco mais discreto, seria hoje uma ponte entre os dois partidos que constituem a maioria no Parlamento. Assim, em vez de fazer parte da solução pode vir a fazer parte do problema... ou até, o que é pior, nem sequer fazer parte de coisa alguma. É um caso semelhante. O ex-líder do CDS falha o momento de glória do partido que fundou, saindo da noite eleitoral acusado de traidor pelos seus ex-apaniguados. Foi triste e provavelmente injusto. Porém, caso se tivesse mantido um pouco mais discreto, seria hoje uma ponte entre os dois partidos que constituem a maioria no Parlamento. Assim, em vez de fazer parte da solução pode vir a fazer parte do problema... ou até, o que é pior, nem sequer fazer parte de coisa alguma. BERNARDINO SOARES Em boa verdade, neste lugar devia estar Carlos Carvalhas. Porém, a ideia de não nos repetirmos levou-nos à consagração deste jovem que foi o líder parlamentar do PCP nos últimos tempos. Apostou-se nele como forma de renovação, como modo de captar jovens, como sinal de abertura. O problema é que em vez do PCP ficar mais aberto, mais novo e mais renovado, foi Bernardino ficando mais velho, mais ortodoxo e mais fechado. Há doenças que se pegam num instante... Em boa verdade, neste lugar devia estar Carlos Carvalhas. Porém, a ideia de não nos repetirmos levou-nos à consagração deste jovem que foi o líder parlamentar do PCP nos últimos tempos. Apostou-se nele como forma de renovação, como modo de captar jovens, como sinal de abertura. O problema é que em vez do PCP ficar mais aberto, mais novo e mais renovado, foi Bernardino ficando mais velho, mais ortodoxo e mais fechado. Há doenças que se pegam num instante... MIGUEL PORTAS Este querido ex-colega tem uma pontaria invulgar para não ser eleito deputado (há quem diga que é o que ele quer). Há dois anos, por escassos votos, não foi eleito pelo círculo do Porto. Mudou este ano para Lisboa, onde poderia ser o terceiro bloquista eleito... Pois bem, o Bloco elegeu um deputado no Porto, mas falhou o terceiro em Lisboa, ficando Miguel, de novo, à porta de São Bento. Será azar, ou saber viver? Eis um mistério a que apenas o próprio poderá responder. Este querido ex-colega tem uma pontaria invulgar para não ser eleito deputado (há quem diga que é o que ele quer). Há dois anos, por escassos votos, não foi eleito pelo círculo do Porto. Mudou este ano para Lisboa, onde poderia ser o terceiro bloquista eleito... Pois bem, o Bloco elegeu um deputado no Porto, mas falhou o terceiro em Lisboa, ficando Miguel, de novo, à porta de São Bento. Será azar, ou saber viver? Eis um mistério a que apenas o próprio poderá responder. SANTANA LOPES Eis um homem para o qual noite eleitoral sem escândalo não é noite verdadeira. Nas autárquicas, foi o caso do roubo dos votos em Marvila; no domingo, foi o caso do telefonema de Ferro para Durão. Santana é fogo! Mesmo quando ganha (e o PSD ganhou no concelho de Lisboa) alimenta-se com lenha, gasolina e explosivos. Sem ele, não haveria sequer uma pequena peixeirada para animar, com as devidas doses de intriga e «suspense», as mais famosas noites políticas de televisão. Eis um homem para o qual noite eleitoral sem escândalo não é noite verdadeira. Nas autárquicas, foi o caso do roubo dos votos em Marvila; no domingo, foi o caso do telefonema de Ferro para Durão. Santana é fogo! Mesmo quando ganha (e o PSD ganhou no concelho de Lisboa) alimenta-se com lenha, gasolina e explosivos. Sem ele, não haveria sequer uma pequena peixeirada para animar, com as devidas doses de intriga e «suspense», as mais famosas noites políticas de televisão. MARIA ELISA Porque perdeu se o PSD aumentou em Castelo Branco o número de votos e a percentagem (embora não o número de deputados)? Porque esse aumento foi curto de mais se se tiver em conta que ela é uma das mais conhecidas vedetas de televisão, que andou a perguntar quem queria ser milionário, a entrevistar famosos e a escrever crónicas em jornais. E porque não conseguiu que o seu - e nosso - colega da Renascença Ribeiro Cristóvão (terceiro da lista) fosse também para São Bento... Porque perdeu se o PSD aumentou em Castelo Branco o número de votos e a percentagem (embora não o número de deputados)? Porque esse aumento foi curto de mais se se tiver em conta que ela é uma das mais conhecidas vedetas de televisão, que andou a perguntar quem queria ser milionário, a entrevistar famosos e a escrever crónicas em jornais. E porque não conseguiu que o seu - e nosso - colega da Renascença Ribeiro Cristóvão (terceiro da lista) fosse também para São Bento... PINTO DA COSTA As coisas podiam ter-lhe corrido pior, mas também não lhe correram nada bem. O PSD ganhou a nível nacional e, mesmo no Porto, embora ficando atrás do PS, não teve a derrocada que lhe desejariam os superdragões. Enfim, o poder de Pinto da Costa é como a tradição - já não é o que era. E, como se não lhe bastasse, ultimamente a equipa de futebol só lhe traz dissabores - ele é o Beira-Mar, o Belenenses, ele é o Alverca... enfim, uma desgraça nunca vem só. As coisas podiam ter-lhe corrido pior, mas também não lhe correram nada bem. O PSD ganhou a nível nacional e, mesmo no Porto, embora ficando atrás do PS, não teve a derrocada que lhe desejariam os superdragões. Enfim, o poder de Pinto da Costa é como a tradição - já não é o que era. E, como se não lhe bastasse, ultimamente a equipa de futebol só lhe traz dissabores - ele é o Beira-Mar, o Belenenses, ele é o Alverca... enfim, uma desgraça nunca vem só. MANUEL VILARINHO Pouca gente houve que ficasse tão afectada com estas eleições como Manuel Vilarinho. Se, institucionalmente venceu, pessoalmente perdeu. Deu o dito por não dito, atrapalhou-se, embrulhou-se. O Vilarinho que ganha é o presidente do Benfica; o Vilarinho que perde é aquele senhor simpático, popular, de ar descontraído e sério que venceu aos pontos Vale e Azevedo. É um caso contraditório, mas é de casos como este que é feito o nosso belo e muito querido país. Pouca gente houve que ficasse tão afectada com estas eleições como Manuel Vilarinho. Se, institucionalmente venceu, pessoalmente perdeu. Deu o dito por não dito, atrapalhou-se, embrulhou-se. O Vilarinho que ganha é o presidente do Benfica; o Vilarinho que perde é aquele senhor simpático, popular, de ar descontraído e sério que venceu aos pontos Vale e Azevedo. É um caso contraditório, mas é de casos como este que é feito o nosso belo e muito querido país.

... achados PAULO PORTAS Ao fim de tantos anos de luta tenaz, o país respondeu-lhe: Sim, Paulo, fazes falta à Nação, ao Estado e ao Governo. Desde que não obrigues o Conselho de Ministros a cantar o Hino Nacional sempre que aprovar um decreto-lei, és bem-vindo ao Executivo, àquela mesa enorme em São Bento onde não chega ter boas ideias - é preciso aplicá-las. Agora que o braço direito está assegurado, convém ter igualmente alguma cabeça. Vamos ter fé, que o momento é de alegria. Ao fim de tantos anos de luta tenaz, o país respondeu-lhe: Sim, Paulo, fazes falta à Nação, ao Estado e ao Governo. Desde que não obrigues o Conselho de Ministros a cantar o Hino Nacional sempre que aprovar um decreto-lei, és bem-vindo ao Executivo, àquela mesa enorme em São Bento onde não chega ter boas ideias - é preciso aplicá-las. Agora que o braço direito está assegurado, convém ter igualmente alguma cabeça. Vamos ter fé, que o momento é de alegria. DURÃO BARROSO A vitória não foi estrondosa, mas a profecia consumou-se. José Manuel sabia que ia ser primeiro-ministro, só não sabia quando. Ficou, domingo, a saber ? é para o mês que vem! Resta, porém, conhecer o como e o quanto: como vai sair-se como líder do Governo (espera-se que bastante melhor do que na campanha) e quanto tempo vai aguentar-se (espera-se que uma legislatura). Com elevada esperança e não menos cunho maoísta, desejemos longa vida ao novo timoneiro! A vitória não foi estrondosa, mas a profecia consumou-se. José Manuel sabia que ia ser primeiro-ministro, só não sabia quando. Ficou, domingo, a saber ? é para o mês que vem! Resta, porém, conhecer o como e o quanto: como vai sair-se como líder do Governo (espera-se que bastante melhor do que na campanha) e quanto tempo vai aguentar-se (espera-se que uma legislatura). Com elevada esperança e não menos cunho maoísta, desejemos longa vida ao novo timoneiro! JOÃO LOBO ANTUNES De hoje em diante, não são necessárias sondagens: quem João Lobo Antunes apoia é eleito pela certa. Mandatário de Sampaio, apoiante de Barroso e um dos raros que com genuína alegria puderam celebrar ambos os actos eleitorais. Acresce que, se algo correr mal entre Presidente e primeiro-ministro, lá está este conhecido neurocirurgião para desbloquear o contencioso. É, digamos, uma autêntica ponte entre os hemisférios esquerdo e direito do cérebro da Pátria. De hoje em diante, não são necessárias sondagens: quem João Lobo Antunes apoia é eleito pela certa. Mandatário de Sampaio, apoiante de Barroso e um dos raros que com genuína alegria puderam celebrar ambos os actos eleitorais. Acresce que, se algo correr mal entre Presidente e primeiro-ministro, lá está este conhecido neurocirurgião para desbloquear o contencioso. É, digamos, uma autêntica ponte entre os hemisférios esquerdo e direito do cérebro da Pátria. JOÃO AMARAL Ele bem pediu um Congresso extraordinário no PCP porque via que a coisa ia por maus caminhos. Não só não o ouviram, como o sanearam da lista do Porto. O resultado está à vista: a CDU perdeu um deputado na Invicta e o PCP perdeu o Norte (inclua-se no pacote o deputado que também perdeu em Braga). Poder-se-ia dizer que o mais charmoso dos comunistas teve razão antes de tempo, não fosse o caso de esta mania de os comunistas perderem votos já durar há mais de 10 anos. Ele bem pediu um Congresso extraordinário no PCP porque via que a coisa ia por maus caminhos. Não só não o ouviram, como o sanearam da lista do Porto. O resultado está à vista: a CDU perdeu um deputado na Invicta e o PCP perdeu o Norte (inclua-se no pacote o deputado que também perdeu em Braga). Poder-se-ia dizer que o mais charmoso dos comunistas teve razão antes de tempo, não fosse o caso de esta mania de os comunistas perderem votos já durar há mais de 10 anos. FERREIRA DO AMARAL Foi candidato do PSD em Leiria com a espinhosa missão de se opor ao que todos os outros partidos reivindicavam: a construção do aeroporto da Ota. Mesmo assim subiu mais de 8% e conquistou mais um deputado. Claro que há a possibilidade de ninguém ter acreditado nele; ou seja, de todos pensarem que o antigo ministro das Obras Públicas, apesar do que disse, estar mortinho por construir o aeroporto. É que Ferreira não parece homem para falhar uma grande obra. Foi candidato do PSD em Leiria com a espinhosa missão de se opor ao que todos os outros partidos reivindicavam: a construção do aeroporto da Ota. Mesmo assim subiu mais de 8% e conquistou mais um deputado. Claro que há a possibilidade de ninguém ter acreditado nele; ou seja, de todos pensarem que o antigo ministro das Obras Públicas, apesar do que disse, estar mortinho por construir o aeroporto. É que Ferreira não parece homem para falhar uma grande obra. FERRO RODRIGUES Esta já é velha: quem perde também pode ganhar. O novo líder do PS conquistou o partido e perdeu honrosamente pelo que, nas contas dos portugueses, ganhou um bocadinho (é como a selecção nacional quando fica em terceiro lugar no Europeu de futebol). Depois de seis anos como ministro, fica-lhe bem passar à Oposição e assistir de São Bento às trapalhadas próprias de um Governo, guardando-se para a sua hora. Também ele há-de ser primeiro-ministro, embora não saiba quando. Esta já é velha: quem perde também pode ganhar. O novo líder do PS conquistou o partido e perdeu honrosamente pelo que, nas contas dos portugueses, ganhou um bocadinho (é como a selecção nacional quando fica em terceiro lugar no Europeu de futebol). Depois de seis anos como ministro, fica-lhe bem passar à Oposição e assistir de São Bento às trapalhadas próprias de um Governo, guardando-se para a sua hora. Também ele há-de ser primeiro-ministro, embora não saiba quando. DANIEL CAMPELO Depois do negócio do queijo, o PP não o quis mais nas listas de deputados. Fez mal! Campelo conseguiu, numa aritmética fantástica, pôr o CDS a perder um deputado mesmo quando o partido subiu largamente de votação. No círculo de Viana, que inclui Ponte de Lima, e ao contrário do resto do país, o eleito era ele, Daniel, e não Paulo Portas. Por isso mesmo, sentia-se livre para fazer o que bem entendesse. E a verdade é que em Viana, sem Campelo não há PP... Depois do negócio do queijo, o PP não o quis mais nas listas de deputados. Fez mal! Campelo conseguiu, numa aritmética fantástica, pôr o CDS a perder um deputado mesmo quando o partido subiu largamente de votação. No círculo de Viana, que inclui Ponte de Lima, e ao contrário do resto do país, o eleito era ele, Daniel, e não Paulo Portas. Por isso mesmo, sentia-se livre para fazer o que bem entendesse. E a verdade é que em Viana, sem Campelo não há PP... JOSÉ SÓCRATES A façanha de ganhar em Castelo Branco nem é grande coisa, apesar da adversária. A façanha é ter ganho em Souselas e em Outão, terras onde se presumia que a co-incineração iria penalizar o PS. Moral da história (embora seja bem conhecida): o mal do Governo socialista não residiu tanto nas decisões que tomou, mas sobretudo nas que não tomou. Sócrates, um dos únicos que decidiu, foi recompensado; Guterres, o indeciso, foi punido. Um conto infantil não acabaria melhor... A façanha de ganhar em Castelo Branco nem é grande coisa, apesar da adversária. A façanha é ter ganho em Souselas e em Outão, terras onde se presumia que a co-incineração iria penalizar o PS. Moral da história (embora seja bem conhecida): o mal do Governo socialista não residiu tanto nas decisões que tomou, mas sobretudo nas que não tomou. Sócrates, um dos únicos que decidiu, foi recompensado; Guterres, o indeciso, foi punido. Um conto infantil não acabaria melhor... JORGE SAMPAIO Sua Excelência o Presidente da República está, como se sabe, acima dos partidos, por isso não ganha nem perde numas legislativas. Pronto! Posta a versão oficial, a verdade é que Sampaio está muito mais à vontade agora. A sua velha vocação para defender os fracos e desprotegidos pode estender-se e alargar-se; o único risco que corre é desagradar ao PSD e... talvez ao CDS. Para quem tinha de usar punhos de renda com os socialistas no poder, isto é uma autêntica libertação. Sua Excelência o Presidente da República está, como se sabe, acima dos partidos, por isso não ganha nem perde numas legislativas. Pronto! Posta a versão oficial, a verdade é que Sampaio está muito mais à vontade agora. A sua velha vocação para defender os fracos e desprotegidos pode estender-se e alargar-se; o único risco que corre é desagradar ao PSD e... talvez ao CDS. Para quem tinha de usar punhos de renda com os socialistas no poder, isto é uma autêntica libertação. MANUEL VILARINHO Como presidente da grande instituição que é o Benfica, há muito que este homem não fazia uma aposta tão certa. Depois de contratar vários lesionados e protolesionados, finalmente conseguiu encontrar o homem certo; Durão Barroso (não foi por acaso que, um dia depois das eleições, já o Benfica ganhava por 5-0). O país espera, agora, que a mágica solução seja encontrada, de forma a não ficar com uma espécie de circo romano (com muito menos charme) ao pé da 2ª Circular. Como presidente da grande instituição que é o Benfica, há muito que este homem não fazia uma aposta tão certa. Depois de contratar vários lesionados e protolesionados, finalmente conseguiu encontrar o homem certo; Durão Barroso (não foi por acaso que, um dia depois das eleições, já o Benfica ganhava por 5-0). O país espera, agora, que a mágica solução seja encontrada, de forma a não ficar com uma espécie de circo romano (com muito menos charme) ao pé da 2ª Circular. Textos de Henrique Monteiro

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