"Renovação" atinge em cheio o "joão soarismo"

24-11-2002
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"Renovação" Atinge em Cheio o "João Soarismo"

Por JOÃO PEDRO HENRIQUES

Segunda-feira, 18 de Novembro de 2002 A renovação é profunda: quase duzentos militantes foram "expulsos" da comissão nacional. A tendência de João Soares é a mais atingida. O "joão soarismo" saiu seriamente abalado do congresso do PS. Figuras de topo na facção foram afastadas da Comissão Nacional, o órgão de onde vai sair a Comissão Política, que, por sua vez, elegerá o Secretariado Nacional, o núcleo mais restrito de decisão dentro do partido. As vítimas foram António Saleiro (ex-governador civil de Beja), Tomás Vasques (ex-chefe de gabinete de João Soares na câmara de Lisboa e actual vereador nesta autarquia), Carlos Luís (deputado), Henrique Coelho (ex-dirigente da UGT), e Rodrigues Soares (autarca no concelho de Cascais). Um elemento da tendência afirmou ao PÚBLICO que este processo foi, em parte, culpa da própria tendência, por ter desacompanhado quase totalmente o processo de elaboração das listas. Mas não disfarçou o mal-estar. Nos tempos de Guterres isto nunca aconteceu. O ex-líder socialista nunca esqueceu o apoio que João Soares lhe deu, contra Jorge Sampaio, no histórico congresso de 1992, onde Guterres chegou a secretário-geral do partido. Na verdade, do "joão soarismo" só se aguentaram aqueles cujo afastamento significaria guerra aberta entre esta facção e o grupo que actualmente domina o partido: o próprio João Soares; Rui Cunha (ex-secretário de Estado de Ferro tanto na Segurança Social como no Equipamento Social); Acácio Barreiros (deputado); e Joaquim Rosa do Céu, presidente da câmara de Alpiarça. Seja como for, o ambiente entre o "joão soarismo" e o "ferrismo" está muito tenso. Na sessão de encerramento do congresso, ontem, foi bem visível uma acalorada conversa entre João Soares e Paulo Pedroso, braço direito de Ferro Rodrigues e um dos principais artífices das listas ontem aprovadas. Ninguém se surpreenderá, no entanto, se João Soares começar a refrear os elogios a Ferro Rodrigues. Ou começar mesmo a disparar algumas críticas. A eliminação de parte significativa do "joão soarismo" do corpo dirigente do PS pode também significar da parte de Ferro Rodrigues e dos seus colaboradores uma tentativa de controlar (para não dizer parar) as ambições presidenciais já publicamente manifestadas pelo o ex-presidente da câmara de Lisboa. O "joão soarismo" não foi a única facção a sair fragilizada. Jorge Coelho protegeu-se - fica "só" na Comissão Política mas mantendo o controlo do (ainda) influente aparelho autárquico - mas alguns dos seus mais directos colaboradores foram afastados: António Galamba vai perder no secretariado nacional do partido o pelouro da Organização, ficando a colaborar com Coelho no pelouro das autarquias; José Nicolau (secretário nacional adjunto, que acompanhou Guterres por todo o país na tournée autárquica de Dezembro do ano passado) e Arnaldo Silva (ex-secretário de Estado da Saúde) caíram da lista, pura e simplesmente. Renovação a doer A dimensão do processo de renovação é algo que ainda está por avaliar. Mas já se percebeu que é profunda. Bastante, mesmo. Primeiro constata-se que a comissão nacional foi reduzida de cerca de 350 membros para 250. Ou seja: saíram cem. Depois acrescente-se que entraram naquele órgão 80 a 90 dirigentes novos (dos quais os mais conhecidos são Eduardo Prado Coelho, Ana Gomes e o ex-presidente da câmara do Porto Nuno Cardoso), ou regressados após rupturas com o guterrismo (casos de Manuel Alegre, Helena Roseta e Manuel Maria Carrilho) É fazer as contas: algo entre 180 a 200 dirigentes foram eliminados do órgão máximo entre congressos. Não é de estranhar, portanto, que na eleição da comissão nacional cerca de 180 delegados tenham recusado votar a favor. O número é, aliás, absolutamente desproporcionado em relação aos das outras eleições (ver quadro). Por outras palavras: a limpeza não se fica por nomes mediáticos como Saleiro ou Fátima Felgueiras (que também saiu). Ou pelo jovem Afonso Candal, ou pelo fundador do partido Alberto Arons de Carvalho, ou pelo presidente da federação de Vila Real, o deputado Ascenso Simões, ou pela controversa Fátima Felgueiras, cujos processos judiciais tantas dores de cabeça deram ao partido nas últimas eleições autárquicas. É muito mais funda, pelo menos em dimensão numérica, significando isto que ontem, depois do congresso da entronização de Ferro Rodrigues à frente do PS, pode ter nascido uma multidão de humilhados e ofendidos que nunca perdoarão ao secretário-geral a desfeita de os ter feito perder o seu pequeno quinhão de poder. Enfim: ontem pode ter acabado o estado de graça entre Ferro Rodrigues e o partido. Pelo menos com o partido do guterrismo. Secretariado indefinido No próximo sábado reunirá a comissão nacional. Deste órgão sairá a comissão política, a qual irá, por sua vez, eleger o secretariado nacional. Este órgão é composto por doze efectivos (Ferro Rodrigues incluído). Ontem (tal como anteontem) só eram dados como certos os nomes de Paulo Pedroso, Vieira da Silva, António Costa, Ana Gomes, José Sócrates e Luís Nazaré. Outra certeza: do guterrismo puro e duro, o que esteve com Guterres desde sempre, mesmo quando ele não liderava o partido, só sobrou José Sócrates (António José Seguro e Jorge Coelho ficaram-se pela comissão política nacional). Nomes em dúvida, ainda no secretariado nacional: Maria de Belém ou Ana Benavente (mais provável a primeira, mas não sendo impossível que fiquem as duas); Augusto Santos Silva ou Alberto Martins (o mesmo). OUTROS TÍTULOS EM DESTAQUE Ferro desafiou Governo a rever programa de estabilidade e crescimento

Mário Soares é o número um

Bancada parlamentar

"Renovação" atinge em cheio o "joão soarismo"

%Vasco Franco pondera demitir-se da CML

As figuras do Coliseu

Um Congresso de equívocos

%Somos de esquerda, juraram os socialistas

As frases

"Renovação" Atinge em Cheio o "João Soarismo"

Por JOÃO PEDRO HENRIQUES

Segunda-feira, 18 de Novembro de 2002 A renovação é profunda: quase duzentos militantes foram "expulsos" da comissão nacional. A tendência de João Soares é a mais atingida. O "joão soarismo" saiu seriamente abalado do congresso do PS. Figuras de topo na facção foram afastadas da Comissão Nacional, o órgão de onde vai sair a Comissão Política, que, por sua vez, elegerá o Secretariado Nacional, o núcleo mais restrito de decisão dentro do partido. As vítimas foram António Saleiro (ex-governador civil de Beja), Tomás Vasques (ex-chefe de gabinete de João Soares na câmara de Lisboa e actual vereador nesta autarquia), Carlos Luís (deputado), Henrique Coelho (ex-dirigente da UGT), e Rodrigues Soares (autarca no concelho de Cascais). Um elemento da tendência afirmou ao PÚBLICO que este processo foi, em parte, culpa da própria tendência, por ter desacompanhado quase totalmente o processo de elaboração das listas. Mas não disfarçou o mal-estar. Nos tempos de Guterres isto nunca aconteceu. O ex-líder socialista nunca esqueceu o apoio que João Soares lhe deu, contra Jorge Sampaio, no histórico congresso de 1992, onde Guterres chegou a secretário-geral do partido. Na verdade, do "joão soarismo" só se aguentaram aqueles cujo afastamento significaria guerra aberta entre esta facção e o grupo que actualmente domina o partido: o próprio João Soares; Rui Cunha (ex-secretário de Estado de Ferro tanto na Segurança Social como no Equipamento Social); Acácio Barreiros (deputado); e Joaquim Rosa do Céu, presidente da câmara de Alpiarça. Seja como for, o ambiente entre o "joão soarismo" e o "ferrismo" está muito tenso. Na sessão de encerramento do congresso, ontem, foi bem visível uma acalorada conversa entre João Soares e Paulo Pedroso, braço direito de Ferro Rodrigues e um dos principais artífices das listas ontem aprovadas. Ninguém se surpreenderá, no entanto, se João Soares começar a refrear os elogios a Ferro Rodrigues. Ou começar mesmo a disparar algumas críticas. A eliminação de parte significativa do "joão soarismo" do corpo dirigente do PS pode também significar da parte de Ferro Rodrigues e dos seus colaboradores uma tentativa de controlar (para não dizer parar) as ambições presidenciais já publicamente manifestadas pelo o ex-presidente da câmara de Lisboa. O "joão soarismo" não foi a única facção a sair fragilizada. Jorge Coelho protegeu-se - fica "só" na Comissão Política mas mantendo o controlo do (ainda) influente aparelho autárquico - mas alguns dos seus mais directos colaboradores foram afastados: António Galamba vai perder no secretariado nacional do partido o pelouro da Organização, ficando a colaborar com Coelho no pelouro das autarquias; José Nicolau (secretário nacional adjunto, que acompanhou Guterres por todo o país na tournée autárquica de Dezembro do ano passado) e Arnaldo Silva (ex-secretário de Estado da Saúde) caíram da lista, pura e simplesmente. Renovação a doer A dimensão do processo de renovação é algo que ainda está por avaliar. Mas já se percebeu que é profunda. Bastante, mesmo. Primeiro constata-se que a comissão nacional foi reduzida de cerca de 350 membros para 250. Ou seja: saíram cem. Depois acrescente-se que entraram naquele órgão 80 a 90 dirigentes novos (dos quais os mais conhecidos são Eduardo Prado Coelho, Ana Gomes e o ex-presidente da câmara do Porto Nuno Cardoso), ou regressados após rupturas com o guterrismo (casos de Manuel Alegre, Helena Roseta e Manuel Maria Carrilho) É fazer as contas: algo entre 180 a 200 dirigentes foram eliminados do órgão máximo entre congressos. Não é de estranhar, portanto, que na eleição da comissão nacional cerca de 180 delegados tenham recusado votar a favor. O número é, aliás, absolutamente desproporcionado em relação aos das outras eleições (ver quadro). Por outras palavras: a limpeza não se fica por nomes mediáticos como Saleiro ou Fátima Felgueiras (que também saiu). Ou pelo jovem Afonso Candal, ou pelo fundador do partido Alberto Arons de Carvalho, ou pelo presidente da federação de Vila Real, o deputado Ascenso Simões, ou pela controversa Fátima Felgueiras, cujos processos judiciais tantas dores de cabeça deram ao partido nas últimas eleições autárquicas. É muito mais funda, pelo menos em dimensão numérica, significando isto que ontem, depois do congresso da entronização de Ferro Rodrigues à frente do PS, pode ter nascido uma multidão de humilhados e ofendidos que nunca perdoarão ao secretário-geral a desfeita de os ter feito perder o seu pequeno quinhão de poder. Enfim: ontem pode ter acabado o estado de graça entre Ferro Rodrigues e o partido. Pelo menos com o partido do guterrismo. Secretariado indefinido No próximo sábado reunirá a comissão nacional. Deste órgão sairá a comissão política, a qual irá, por sua vez, eleger o secretariado nacional. Este órgão é composto por doze efectivos (Ferro Rodrigues incluído). Ontem (tal como anteontem) só eram dados como certos os nomes de Paulo Pedroso, Vieira da Silva, António Costa, Ana Gomes, José Sócrates e Luís Nazaré. Outra certeza: do guterrismo puro e duro, o que esteve com Guterres desde sempre, mesmo quando ele não liderava o partido, só sobrou José Sócrates (António José Seguro e Jorge Coelho ficaram-se pela comissão política nacional). Nomes em dúvida, ainda no secretariado nacional: Maria de Belém ou Ana Benavente (mais provável a primeira, mas não sendo impossível que fiquem as duas); Augusto Santos Silva ou Alberto Martins (o mesmo). OUTROS TÍTULOS EM DESTAQUE Ferro desafiou Governo a rever programa de estabilidade e crescimento

Mário Soares é o número um

Bancada parlamentar

"Renovação" atinge em cheio o "joão soarismo"

%Vasco Franco pondera demitir-se da CML

As figuras do Coliseu

Um Congresso de equívocos

%Somos de esquerda, juraram os socialistas

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