PS intensifica a pressão pelas antecipadas

03-08-2004
marcar artigo

PS Intensifica a Pressão Pelas Antecipadas

Por JOÃO PEDRO HENRIQUES

Terça-feira, 06 de Julho de 2004 Um novo argumento surgiu ontem nas hostes socialistas em favor de eleições antecipadas. O seu autor foi António José Seguro, líder da bancada parlamentar: "Se não houver dissolução [do Parlamento], o país terá pela terceira vez consecutiva um Governo de dois anos." Seguro, que falava na abertura das jornadas parlamentares do PS, em Ponta Delgada, acrescentou que o país "não se pode dar a este luxo". Na sua contabilidade dos três governos de dois anos conta o último executivo de António Guterres, o actual de Durão e o próximo daquele que o PSD escolher para a função, se o Presidente da República for por esse caminho. O essencial da intervenção de Seguro - feita antes de Durão apresentar a sua demissão - consistiu num longo argumentário em favor da tese de eleições antecipadas. "Alguém acredita que o PSD pode ainda ter um Governo forte? Alguém acredita que não será senão uma comissão eleitoral?", perguntou. O PS não pretende, porém, que a sua pressão pareça demasiado óbvia e, por isso, Seguro garantiu: "O PS aceitará qualquer decisão do Presidente, não exercendo sobre ele qualquer chantagem ou condicionalismo." Seja como for, lá foi dizendo que as eleições servirão também para restabelecer uma "relação de confiança" entre os eleitos e os eleitores, tendo em conta promessas alegadamente não cumpridas pela governção de Durão Barroso. "É fundamental devolver a palavra aos portugueses", disse. O PS, pelo seu lado, pretende, segundo o líder parlamentar, ser "um referencial de estabilidade". Antes já tinha denunciado a "inaceitável chantagem" sobre o Presidente da República que, no seu entender, constituiu o argumento de Durão segundo o qual só teria aceite presidir à Comissão depois de o PR lhe garantir que não seriam convocadas eleições legislativas antecipadas. "Em democracia não pode haver lugar à chantagem, sobretudo quando os titulares dos órgãos de soberania são eleitos." Tempo de autocrítica Tudo se preparava, ontem, neste primeiro dia de jornadas parlamentares do PS para ser inteiramente pacífico. Porém não foi. Autor do "feito": Ascenso Simões, deputado e líder do PS de Vila Real (que já na campanha europeia se tinha tornado notícia por defender a candidatura presidencial de Sousa Franco - caso Guterres recusasse). Ascenso Simões foi encarregue pela direcção da bancada do PS de fazer, nas suas próprias palavras, "uma intervenção provocante" para "provocar um debate" que, segundo garantiu, "provocou". Acontece, porém, que segundo disse depois - ele e o líder da bancada - não estaria no programa que essa intervenção fosse testemunhada por jornalistas. Foi - com gravações radiofónicas, inclusivamente -, mas os jornalistas estavam na sala porque foram autorizados a tal, não ouviram por detrás da porta. As notícias da intervenção foram feitas e, na sequência, Ascenso Simões sentiu-se na obrigação de fazer um comunicado dizendo, nomeadamente, não ser "correcto" que se apresentasse o seu discurso como sendo "oficial" ou "identificado" com as "posições do PS". Ancorado em argumentos já lançados por diversos socialistas - de Jorge Sampaio a António Galamba, passando por Coelho e Sócrates, entre muitos outros - Ascenso Simões fez uma série propostas radicais para uma nova governação socialista. Só que essas propostas incluiam, como base de lançamento, um diagnóstico muito crítico das anteriores governações do PS. O deputado transmontano foi à raiz do problema: o clientelismo partidário. Do discurso constaram frases como: "Temos uma mania que é ir enchouriçando o Governo à medida do interesse do partido". Ou: "Temos ministros adjuntos e da Presidência e dos Assuntos Parlamentares cuja existência os portugueses não entendem". Ou que se fazem "acrescentos" no Governo para "satisfazer clientelas internas do partido". Este diagnóstico foi feito em defesa de um governo "pequeno e eficaz" que "não se vergue ao partido e às corporações". E na defesa da qualificação política dos governantes: "Esta mania de que um secretário de Estado é um chefe de secretaria deve acabar definitivamente." Ascenso Simões lançou ainda outras propostas - muito caras à "terceira via" de Blair - sobre, nomeadamente, gestão da Função Pública e reforma da Segurança Social. Por exemplo, "reformas antecipadas e com rescisão amigável para todos os funcionários que se encontrem desajustados à realidade e exigências da Função Pública"; e "um único regime de segurança social para o sector privado e para a função pública". Propostas controversas, portanto, no quadro do actual PS. Provavelmente é verdade que Ascenso Simões não sabia que estavam jornalistas na sala. Se soubesse não teria dito, ao defender a extinção do ICEP e da API, os "bois do PSD" em vez dos "boys do PSD". Mas disse. OUTROS TÍTULOS EM DESTAQUE Durão considera "inédito" eleições antecipadas com maioria "estável"

PSD exigia "clarificação" rápida em 2001

Santana quer mais ministérios e promete manter peso do CDS no Governo

PS intensifica a pressão pelas antecipadas

Balanço de um Governo deixado a meio

Carlos Tavares apela à "continuidade de políticas"

PCP exige suspensão de privatizações

Contra o recurso a eleições

PS Intensifica a Pressão Pelas Antecipadas

Por JOÃO PEDRO HENRIQUES

Terça-feira, 06 de Julho de 2004 Um novo argumento surgiu ontem nas hostes socialistas em favor de eleições antecipadas. O seu autor foi António José Seguro, líder da bancada parlamentar: "Se não houver dissolução [do Parlamento], o país terá pela terceira vez consecutiva um Governo de dois anos." Seguro, que falava na abertura das jornadas parlamentares do PS, em Ponta Delgada, acrescentou que o país "não se pode dar a este luxo". Na sua contabilidade dos três governos de dois anos conta o último executivo de António Guterres, o actual de Durão e o próximo daquele que o PSD escolher para a função, se o Presidente da República for por esse caminho. O essencial da intervenção de Seguro - feita antes de Durão apresentar a sua demissão - consistiu num longo argumentário em favor da tese de eleições antecipadas. "Alguém acredita que o PSD pode ainda ter um Governo forte? Alguém acredita que não será senão uma comissão eleitoral?", perguntou. O PS não pretende, porém, que a sua pressão pareça demasiado óbvia e, por isso, Seguro garantiu: "O PS aceitará qualquer decisão do Presidente, não exercendo sobre ele qualquer chantagem ou condicionalismo." Seja como for, lá foi dizendo que as eleições servirão também para restabelecer uma "relação de confiança" entre os eleitos e os eleitores, tendo em conta promessas alegadamente não cumpridas pela governção de Durão Barroso. "É fundamental devolver a palavra aos portugueses", disse. O PS, pelo seu lado, pretende, segundo o líder parlamentar, ser "um referencial de estabilidade". Antes já tinha denunciado a "inaceitável chantagem" sobre o Presidente da República que, no seu entender, constituiu o argumento de Durão segundo o qual só teria aceite presidir à Comissão depois de o PR lhe garantir que não seriam convocadas eleições legislativas antecipadas. "Em democracia não pode haver lugar à chantagem, sobretudo quando os titulares dos órgãos de soberania são eleitos." Tempo de autocrítica Tudo se preparava, ontem, neste primeiro dia de jornadas parlamentares do PS para ser inteiramente pacífico. Porém não foi. Autor do "feito": Ascenso Simões, deputado e líder do PS de Vila Real (que já na campanha europeia se tinha tornado notícia por defender a candidatura presidencial de Sousa Franco - caso Guterres recusasse). Ascenso Simões foi encarregue pela direcção da bancada do PS de fazer, nas suas próprias palavras, "uma intervenção provocante" para "provocar um debate" que, segundo garantiu, "provocou". Acontece, porém, que segundo disse depois - ele e o líder da bancada - não estaria no programa que essa intervenção fosse testemunhada por jornalistas. Foi - com gravações radiofónicas, inclusivamente -, mas os jornalistas estavam na sala porque foram autorizados a tal, não ouviram por detrás da porta. As notícias da intervenção foram feitas e, na sequência, Ascenso Simões sentiu-se na obrigação de fazer um comunicado dizendo, nomeadamente, não ser "correcto" que se apresentasse o seu discurso como sendo "oficial" ou "identificado" com as "posições do PS". Ancorado em argumentos já lançados por diversos socialistas - de Jorge Sampaio a António Galamba, passando por Coelho e Sócrates, entre muitos outros - Ascenso Simões fez uma série propostas radicais para uma nova governação socialista. Só que essas propostas incluiam, como base de lançamento, um diagnóstico muito crítico das anteriores governações do PS. O deputado transmontano foi à raiz do problema: o clientelismo partidário. Do discurso constaram frases como: "Temos uma mania que é ir enchouriçando o Governo à medida do interesse do partido". Ou: "Temos ministros adjuntos e da Presidência e dos Assuntos Parlamentares cuja existência os portugueses não entendem". Ou que se fazem "acrescentos" no Governo para "satisfazer clientelas internas do partido". Este diagnóstico foi feito em defesa de um governo "pequeno e eficaz" que "não se vergue ao partido e às corporações". E na defesa da qualificação política dos governantes: "Esta mania de que um secretário de Estado é um chefe de secretaria deve acabar definitivamente." Ascenso Simões lançou ainda outras propostas - muito caras à "terceira via" de Blair - sobre, nomeadamente, gestão da Função Pública e reforma da Segurança Social. Por exemplo, "reformas antecipadas e com rescisão amigável para todos os funcionários que se encontrem desajustados à realidade e exigências da Função Pública"; e "um único regime de segurança social para o sector privado e para a função pública". Propostas controversas, portanto, no quadro do actual PS. Provavelmente é verdade que Ascenso Simões não sabia que estavam jornalistas na sala. Se soubesse não teria dito, ao defender a extinção do ICEP e da API, os "bois do PSD" em vez dos "boys do PSD". Mas disse. OUTROS TÍTULOS EM DESTAQUE Durão considera "inédito" eleições antecipadas com maioria "estável"

PSD exigia "clarificação" rápida em 2001

Santana quer mais ministérios e promete manter peso do CDS no Governo

PS intensifica a pressão pelas antecipadas

Balanço de um Governo deixado a meio

Carlos Tavares apela à "continuidade de políticas"

PCP exige suspensão de privatizações

Contra o recurso a eleições

marcar artigo