PSD "is back to business"

16-07-2002
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PSD "Is Back To Business"

Por SÃO JOSÉ ALMEIDA

Domingo, 14 de Julho de 2002

Depois de seis anos de oposição, o PSD volta ao Governo e à liderança da máquina do Estado. No Coliseu, o partido diz presente à chamada. Mas se há "boys", o facto é que ninguém pede "jobs".

De facto, tão certo como os alhos não se misturarem com os bugalhos, não há hipótese de ninguém confundir um congresso do PSD com um do PS. Ao fim de três meses de Governo, o PSD está unido pelo cimento do poder que nunca colou no PS. E nem por milagre há hipótese de aparecer alguém a assumir o papel de grilo falante do Pinóquio, ou de consciência crítica estilo Manuel Alegre. O ambiente é ordeiro. Entorpecente, mesmo. E se expectativa havia sobre como iria reflectir-se no Congresso o espírito do regresso ao poder da "máquina laranja" ela ficou defraudada. A palavra "jobs" praticamente não foi nunca pronunciada e, se na sala havia "boys", eles não se manifestaram.

Só Marques Mendes, ontem ao fim da tarde, foi directo ao assunto, precisamente para arrumar a ideia, antes que ao longo da noite alguém se distraísse e quebrasse o verniz que dá brilho à imagem de partido ordeiro e disciplinado do PSD.

O ministro dos Assuntos Parlamentares assumiu também neste particular a sua nova missão de bombeiro do Governo e tratou de lançar o aviso à navegação: "Não há que ter medo de dizer que todo o clientelismo é mau." E depois de afirmar que "os socialistas colocaram no aparelho de Estado" os seus ""boys", concluiu: "Não vale a pena, sob pena de perdermos autoridade, substituirmos aquela clientela política. Não quero substituir o clientelismo rosa pelo clientelismo laranja."

Mas se não irrompeu nenhum surto de fome de poder, os congressistas não foram ao Coliseu só pelo espectáculo do desfile do poder. Apresentaram-se genuinamente ao serviço, numa sucessão de proclamação de fé na capacidade do PSD de governar. E logo na sexta-feira à noite, ouviram-se as juras de fidelidade, as loas de admiração e as certezas inabaláveis de que José Manuel Durão Barroso é o primeiro-ministro certo para operar um milagre a descobrir.

A coisa começou com António Preto a erguer Durão no novo Josué e a jurar que o PSD é o "farol". Ainda na sexta, mas depois de jantar, Marco António repetia a ideia do "farol" e legitimava-se como novo líder do PSD-Porto, na tradição Meneses, ou seja, explicava através da projecção de 'slides' que era contra a linha sulista-elitista-liberal. Ambos, claro está, cantaram hossanas ao novo faroleiro, José Manuel Durão Barroso - numa reciclagem de poder que transforma em "farol" o símbolo da liderança que com Cavaco se fez ao "leme".

Simbologia marítima à parte, num país que a história diz de marinheiros, a maior reivindicação que se fez ouvir na apresentação das moções, sexta-feira à noite e ontem de manhã, até foi contra a desertificação do interior. O apelo às "discriminações positivas" iniciado por Ana Manso, repetido pelos vários líderes concelhios do interior, como António Sousa, de Évora, e José Luís Figueira, de Beja, mas também por dirigentes nacionais e sindicais como Arménio Santos.

Mas seria ontem de manhã que o atraso do interior seria erguido em verdadeiro símbolo da fronteira a ultrapassar, quando Luís Novais garantiu ao congresso: "A hidra das sete cabeças que temos de enfrentar está dentro de nós. Temos de ultrapassar o facto de sermos um país em que um terço da população vive em duas áreas metropolitanas."

O mesmo delegado que, sem papas na língua, estabelecia uma nova bissectriz entre o PS e o PSD no que se refere à relação com o poder e ao projecto para o país: "A diferença entre o ambicioso e o ganancioso é que o ambicioso pensa no longo prazo, o ganancioso pensa no curto prazo." Uma metáfora em que, como é bom de ver, a imagem do ambicioso coube ao PSD e a do ganancioso ao PS. E que talvez possa eventualmente ajudar a explicar as razões profundas porque ninguém quis falar de "jobs" no Coliseu. Quem sabe se será tudo uma questão de prazo?

PSD "Is Back To Business"

Por SÃO JOSÉ ALMEIDA

Domingo, 14 de Julho de 2002

Depois de seis anos de oposição, o PSD volta ao Governo e à liderança da máquina do Estado. No Coliseu, o partido diz presente à chamada. Mas se há "boys", o facto é que ninguém pede "jobs".

De facto, tão certo como os alhos não se misturarem com os bugalhos, não há hipótese de ninguém confundir um congresso do PSD com um do PS. Ao fim de três meses de Governo, o PSD está unido pelo cimento do poder que nunca colou no PS. E nem por milagre há hipótese de aparecer alguém a assumir o papel de grilo falante do Pinóquio, ou de consciência crítica estilo Manuel Alegre. O ambiente é ordeiro. Entorpecente, mesmo. E se expectativa havia sobre como iria reflectir-se no Congresso o espírito do regresso ao poder da "máquina laranja" ela ficou defraudada. A palavra "jobs" praticamente não foi nunca pronunciada e, se na sala havia "boys", eles não se manifestaram.

Só Marques Mendes, ontem ao fim da tarde, foi directo ao assunto, precisamente para arrumar a ideia, antes que ao longo da noite alguém se distraísse e quebrasse o verniz que dá brilho à imagem de partido ordeiro e disciplinado do PSD.

O ministro dos Assuntos Parlamentares assumiu também neste particular a sua nova missão de bombeiro do Governo e tratou de lançar o aviso à navegação: "Não há que ter medo de dizer que todo o clientelismo é mau." E depois de afirmar que "os socialistas colocaram no aparelho de Estado" os seus ""boys", concluiu: "Não vale a pena, sob pena de perdermos autoridade, substituirmos aquela clientela política. Não quero substituir o clientelismo rosa pelo clientelismo laranja."

Mas se não irrompeu nenhum surto de fome de poder, os congressistas não foram ao Coliseu só pelo espectáculo do desfile do poder. Apresentaram-se genuinamente ao serviço, numa sucessão de proclamação de fé na capacidade do PSD de governar. E logo na sexta-feira à noite, ouviram-se as juras de fidelidade, as loas de admiração e as certezas inabaláveis de que José Manuel Durão Barroso é o primeiro-ministro certo para operar um milagre a descobrir.

A coisa começou com António Preto a erguer Durão no novo Josué e a jurar que o PSD é o "farol". Ainda na sexta, mas depois de jantar, Marco António repetia a ideia do "farol" e legitimava-se como novo líder do PSD-Porto, na tradição Meneses, ou seja, explicava através da projecção de 'slides' que era contra a linha sulista-elitista-liberal. Ambos, claro está, cantaram hossanas ao novo faroleiro, José Manuel Durão Barroso - numa reciclagem de poder que transforma em "farol" o símbolo da liderança que com Cavaco se fez ao "leme".

Simbologia marítima à parte, num país que a história diz de marinheiros, a maior reivindicação que se fez ouvir na apresentação das moções, sexta-feira à noite e ontem de manhã, até foi contra a desertificação do interior. O apelo às "discriminações positivas" iniciado por Ana Manso, repetido pelos vários líderes concelhios do interior, como António Sousa, de Évora, e José Luís Figueira, de Beja, mas também por dirigentes nacionais e sindicais como Arménio Santos.

Mas seria ontem de manhã que o atraso do interior seria erguido em verdadeiro símbolo da fronteira a ultrapassar, quando Luís Novais garantiu ao congresso: "A hidra das sete cabeças que temos de enfrentar está dentro de nós. Temos de ultrapassar o facto de sermos um país em que um terço da população vive em duas áreas metropolitanas."

O mesmo delegado que, sem papas na língua, estabelecia uma nova bissectriz entre o PS e o PSD no que se refere à relação com o poder e ao projecto para o país: "A diferença entre o ambicioso e o ganancioso é que o ambicioso pensa no longo prazo, o ganancioso pensa no curto prazo." Uma metáfora em que, como é bom de ver, a imagem do ambicioso coube ao PSD e a do ganancioso ao PS. E que talvez possa eventualmente ajudar a explicar as razões profundas porque ninguém quis falar de "jobs" no Coliseu. Quem sabe se será tudo uma questão de prazo?

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