Rivalidades de esquerda na manifestação

17-12-2002
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Rivalidades de Esquerda na Manifestação

Por MARIA JOSÉ OLIVEIRA COM ANA CLOTILDE CORREIA

Quarta-feira, 11 de Dezembro de 2002

Pouco mais de duas centenas de grevistas assistiram ao comício de Carvalho da Silva no Rossio

É verdade que "não houve chuva, não houve frio, não houve vento" que impedisse a mobilização para a greve geral de ontem, como afirmou Arménio Carlos, da União de Sindicatos de Lisboa, mas houve qualquer coisa que resultou numa vulnerável concentração de manifestantes. Cansados, "mas orgulhosos", sublinhou o dirigente sindical, somente cerca de duas centenas de pessoas responderam à convocação da CGTP para uma concentração, ontem à tarde, no Rossio, em Lisboa. E a fadiga parece também ter atingido as vozes, que bradavam, não muito alto e sem grande fulgor, "Bagão é um aldrabão" e "mentiroso! mentiroso!".

A maioria dos presentes, piquetes de greve e delegados sindicais, aguardavam o discurso de Carvalho da Silva, marcado para as 16 horas, e coube a Arménio Carlos "entreter" o público e magnetizar algumas atenções focadas numa "intervenção urbana" organizada pelo Bloco de Esquerda (BE). Ou melhor, uma "acção do campo artístico", como os próprios bloquistas lhe chamaram, interpretada por alunos de escolas de teatro, que decidiram vestir-se a rigor para protestar contra o Pacote Laboral: dentro de caixotes de papelão, ornados com autocolantes do BE, os jovens aproveitavam os minutos do sinal vermelho de um semáforo para confrontarem os condutores com um cordão de pacotes humanos. Alguns motoristas, mais afoitos, não gostaram muito da "perfomance" e chegaram mesmo a passar o vermelho, sob os apupos e assobios dos bloquistas.

Entre o original protesto dos bloquistas e a espera pelas palavras do secretário-geral da CGTP (ao som das buzinas dos automóveis presos no trânsito, juntavam-se canções de Fausto e dos Trovante) o público não sabia muito bem onde parar e o vaivém acabou por irritar Arménio Carlos. Ao ponto de o sindicalista dirigir-se a Francisco Louçã e manifestar-lhe a sua "preocupação" com os "moços". "Podem ser atropelados...", disse. Louçã anuiu com a cabeça, mas o protesto continuou. Arménio Santos, então, não esteve com meias palavras: subiu ao camião-palco da CGTP e, entre críticas ao Código Laboral, ia aludindo ao "folclore" que acontecia a poucos metros dali. Sem referir explicitamente a acção do BE - apontava, contudo, o dedo para o local -, o sindicalista ia repetindo: "Não respondemos a provocações. Há muita gente que faz folclore com coisas sérias, mas nós não entramos nisso. Que cada um assuma as suas responsabilidades!" Previa-se uma troca de acusações, mas os bloquistas preferiram acreditar num qualquer equívoco. "Tenho a certeza que a CGTP não estava a referir-se a este protesto", respondeu uma apaziguadora Ana Drago, deputada do BE, quando interpelada pelo PÚBLICO.

Distante desta confusão, Carvalho da Silva chegou à Baixa para um breve discurso, no qual congratulou os activistas sindicais pelo "êxito" da greve. "[A greve] vai ter efeitos sociais e políticos. Somos corredores de fundo e estamos empenhados nesta luta", sublinhou, enumerando de seguida índices de adesão em alguns sectores.

Mais animado, o público aplaudiu os números apresentados pelo sindicalista, mas uma outra circunstância haveria de perturbar a concentração. Um dos grevistas desmaiou, tendo sido transportado para uma unidade hospitalar. Carvalho da Silva, imperturbável, continuou o seu discurso."Absolutamente satisfeito, mas um bocadinho cansado", o líder da CGTP abalou depois para novos encontros com grevistas.

Rivalidades de Esquerda na Manifestação

Por MARIA JOSÉ OLIVEIRA COM ANA CLOTILDE CORREIA

Quarta-feira, 11 de Dezembro de 2002

Pouco mais de duas centenas de grevistas assistiram ao comício de Carvalho da Silva no Rossio

É verdade que "não houve chuva, não houve frio, não houve vento" que impedisse a mobilização para a greve geral de ontem, como afirmou Arménio Carlos, da União de Sindicatos de Lisboa, mas houve qualquer coisa que resultou numa vulnerável concentração de manifestantes. Cansados, "mas orgulhosos", sublinhou o dirigente sindical, somente cerca de duas centenas de pessoas responderam à convocação da CGTP para uma concentração, ontem à tarde, no Rossio, em Lisboa. E a fadiga parece também ter atingido as vozes, que bradavam, não muito alto e sem grande fulgor, "Bagão é um aldrabão" e "mentiroso! mentiroso!".

A maioria dos presentes, piquetes de greve e delegados sindicais, aguardavam o discurso de Carvalho da Silva, marcado para as 16 horas, e coube a Arménio Carlos "entreter" o público e magnetizar algumas atenções focadas numa "intervenção urbana" organizada pelo Bloco de Esquerda (BE). Ou melhor, uma "acção do campo artístico", como os próprios bloquistas lhe chamaram, interpretada por alunos de escolas de teatro, que decidiram vestir-se a rigor para protestar contra o Pacote Laboral: dentro de caixotes de papelão, ornados com autocolantes do BE, os jovens aproveitavam os minutos do sinal vermelho de um semáforo para confrontarem os condutores com um cordão de pacotes humanos. Alguns motoristas, mais afoitos, não gostaram muito da "perfomance" e chegaram mesmo a passar o vermelho, sob os apupos e assobios dos bloquistas.

Entre o original protesto dos bloquistas e a espera pelas palavras do secretário-geral da CGTP (ao som das buzinas dos automóveis presos no trânsito, juntavam-se canções de Fausto e dos Trovante) o público não sabia muito bem onde parar e o vaivém acabou por irritar Arménio Carlos. Ao ponto de o sindicalista dirigir-se a Francisco Louçã e manifestar-lhe a sua "preocupação" com os "moços". "Podem ser atropelados...", disse. Louçã anuiu com a cabeça, mas o protesto continuou. Arménio Santos, então, não esteve com meias palavras: subiu ao camião-palco da CGTP e, entre críticas ao Código Laboral, ia aludindo ao "folclore" que acontecia a poucos metros dali. Sem referir explicitamente a acção do BE - apontava, contudo, o dedo para o local -, o sindicalista ia repetindo: "Não respondemos a provocações. Há muita gente que faz folclore com coisas sérias, mas nós não entramos nisso. Que cada um assuma as suas responsabilidades!" Previa-se uma troca de acusações, mas os bloquistas preferiram acreditar num qualquer equívoco. "Tenho a certeza que a CGTP não estava a referir-se a este protesto", respondeu uma apaziguadora Ana Drago, deputada do BE, quando interpelada pelo PÚBLICO.

Distante desta confusão, Carvalho da Silva chegou à Baixa para um breve discurso, no qual congratulou os activistas sindicais pelo "êxito" da greve. "[A greve] vai ter efeitos sociais e políticos. Somos corredores de fundo e estamos empenhados nesta luta", sublinhou, enumerando de seguida índices de adesão em alguns sectores.

Mais animado, o público aplaudiu os números apresentados pelo sindicalista, mas uma outra circunstância haveria de perturbar a concentração. Um dos grevistas desmaiou, tendo sido transportado para uma unidade hospitalar. Carvalho da Silva, imperturbável, continuou o seu discurso."Absolutamente satisfeito, mas um bocadinho cansado", o líder da CGTP abalou depois para novos encontros com grevistas.

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