Deputados divididos sobre a investigação em embriões humanos

10-07-2003
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Deputados Divididos Sobre a Investigação em Embriões Humanos

Por TERESA FIRMINO

Quinta-feira, 26 de Junho de 2003 Das técnicas de tratamentos da infertilidade resultam embriões que, por vezes, os casais já não querem, e por isso põe-se uma grande questão: que destino dar a esses embriões humanos? Poderão ser usados em investigação, através da recolha de células estaminais? Os deputados que participaram num simpósio sobre células estaminais e medicina regenerativa na Faculdade de Farmácia da Universidade de Lisboa, que terminou ontem, estão divididos: António Pinheiro Torres, do PSD, foi a voz discordante, dizendo que "o embrião é um ser humano" e que "a primeira coisa a fazer é não atacá-lo". Já Maria de Belém Roseira, do PS, e Odete Santos, do PCP, defenderam a possibilidade de fazer investigação em células estaminais do embrião. "A partir da fecundação inicia-se uma vida autónoma. Está ali um ser humano único", afirmou António Pinheiro Torres, um dos fundadores do movimento contra o aborto Juntos pela Vida. O que fazer então a estes embriões? Podem ser doados, e há que reduzir a produção de embriões excedentários, disse o deputado. Depreende-se, assim, que é contra a investigação com embriões excedentários, dos quais podem retirar-se as células estaminais, com a capacidade de originar todas as células diferenciadas de um organismo, como as da pele ou do coração. Os cientistas consideram estas células muito promissoras para tratar, um dia, tratar doenças incuráveis, como a de Alzheimer, caso aprendam a manipulá-las, de forma a criar as células diferenciadas desejadas. Daí que queiram autorização para estudá-las. No fim, o deputado condenou a falta de "rigor científico" de certos cientistas, ávidos de embriões: "Está aqui um embriãozinho mesmo a pedir investigação", afirmou. Da plateia, Mário de Sousa, do Instituto de Ciências Biomédicas de Abel Salazar, no Porto, respondeu: "Não somos ávidos de embriões, cumprimos protocolos éticos. Precisamos de embriões pelo seu potencial. Em vez de irem para a incineradora, poderíamos retirar algumas células para depois, se um dia se verificar que isto é possível, obter células diferenciadas para transplantes." Como alternativa, António Pinheiro Torres lembrou que há células estaminais nos adultos. São raras, difíceis de isolar e já não são tão plásticas como as dos embriões - por exemplo, células estaminais do sangue originam várias células, mas todas do sangue -, mas não põem os problemas éticos das dos embriões. Não implicam a destruição destes, nem necessitarão de ser conjugadas com a clonagem terapêutica, outro procedimento polémico. Se, no futuro, a clonagem for aliada à manipulação das células estaminais embrionárias, espera-se obter células estaminais de embriões clones de alguém, que serão destruídos para colher as células que poderão reparar tecidos e órgãos doentes de quem é clonado. Por diversas vezes, António Pinheiro Torres disse serem estas opiniões pessoais. "O PSD não tem uma posição definida neste momento." Não a tem deliberadamente, explicou, até que esteja concluída, no fim do mês, a discussão pública sobre o livro branco sobre a investigação em embriões humanos, que servirá de base à elaboração de uma proposta de lei pelo Governo. Esta deverá ser submetida ao Parlamento em Setembro. Para António Pinheiro Torres, a lei que vier a ser adoptada sobre a investigação em embriões e também sobre a reprodução medicamente assistida deve ter uma entidade reguladora, à semelhança da do Reino Unido. "A lei deve ter apenas princípios gerais, porque a ciência vai avançando. E deve ter uma autoridade que examinará os princípios éticos dos projectos, a metodologia, a sua imprescindibilidade, que autorize, ou não, os projectos." OUTROS TÍTULOS EM CIÊNCIAS Deputados divididos sobre a investigação em embriões humanos

Comissário quer financiar estudos com células estaminais

Uso prolongado de substituição hormonal aumenta riscos de cancro da mama

Sonda que observa o Sol está com problemas

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Quinta-feira, 26 de Junho de 2003 Das técnicas de tratamentos da infertilidade resultam embriões que, por vezes, os casais já não querem, e por isso põe-se uma grande questão: que destino dar a esses embriões humanos? Poderão ser usados em investigação, através da recolha de células estaminais? Os deputados que participaram num simpósio sobre células estaminais e medicina regenerativa na Faculdade de Farmácia da Universidade de Lisboa, que terminou ontem, estão divididos: António Pinheiro Torres, do PSD, foi a voz discordante, dizendo que "o embrião é um ser humano" e que "a primeira coisa a fazer é não atacá-lo". Já Maria de Belém Roseira, do PS, e Odete Santos, do PCP, defenderam a possibilidade de fazer investigação em células estaminais do embrião. "A partir da fecundação inicia-se uma vida autónoma. Está ali um ser humano único", afirmou António Pinheiro Torres, um dos fundadores do movimento contra o aborto Juntos pela Vida. O que fazer então a estes embriões? Podem ser doados, e há que reduzir a produção de embriões excedentários, disse o deputado. Depreende-se, assim, que é contra a investigação com embriões excedentários, dos quais podem retirar-se as células estaminais, com a capacidade de originar todas as células diferenciadas de um organismo, como as da pele ou do coração. Os cientistas consideram estas células muito promissoras para tratar, um dia, tratar doenças incuráveis, como a de Alzheimer, caso aprendam a manipulá-las, de forma a criar as células diferenciadas desejadas. Daí que queiram autorização para estudá-las. No fim, o deputado condenou a falta de "rigor científico" de certos cientistas, ávidos de embriões: "Está aqui um embriãozinho mesmo a pedir investigação", afirmou. Da plateia, Mário de Sousa, do Instituto de Ciências Biomédicas de Abel Salazar, no Porto, respondeu: "Não somos ávidos de embriões, cumprimos protocolos éticos. Precisamos de embriões pelo seu potencial. Em vez de irem para a incineradora, poderíamos retirar algumas células para depois, se um dia se verificar que isto é possível, obter células diferenciadas para transplantes." Como alternativa, António Pinheiro Torres lembrou que há células estaminais nos adultos. São raras, difíceis de isolar e já não são tão plásticas como as dos embriões - por exemplo, células estaminais do sangue originam várias células, mas todas do sangue -, mas não põem os problemas éticos das dos embriões. Não implicam a destruição destes, nem necessitarão de ser conjugadas com a clonagem terapêutica, outro procedimento polémico. Se, no futuro, a clonagem for aliada à manipulação das células estaminais embrionárias, espera-se obter células estaminais de embriões clones de alguém, que serão destruídos para colher as células que poderão reparar tecidos e órgãos doentes de quem é clonado. Por diversas vezes, António Pinheiro Torres disse serem estas opiniões pessoais. "O PSD não tem uma posição definida neste momento." Não a tem deliberadamente, explicou, até que esteja concluída, no fim do mês, a discussão pública sobre o livro branco sobre a investigação em embriões humanos, que servirá de base à elaboração de uma proposta de lei pelo Governo. Esta deverá ser submetida ao Parlamento em Setembro. Para António Pinheiro Torres, a lei que vier a ser adoptada sobre a investigação em embriões e também sobre a reprodução medicamente assistida deve ter uma entidade reguladora, à semelhança da do Reino Unido. "A lei deve ter apenas princípios gerais, porque a ciência vai avançando. E deve ter uma autoridade que examinará os princípios éticos dos projectos, a metodologia, a sua imprescindibilidade, que autorize, ou não, os projectos." OUTROS TÍTULOS EM CIÊNCIAS Deputados divididos sobre a investigação em embriões humanos

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