Prémio de Poesia para Manuel António Pina

12-01-2005
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Prémio de Poesia para Manuel António Pina

Por JOANA GORJÃO HENRIQUES

Quinta-feira, 30 de Dezembro de 2004

O Prémio de Poesia Luís Miguel Nava 2003 distinguiu ontem "Os Livros" (Assírio & Alvim), de Manuel António Pina. É um livro com uma interrogação que "pode parecer de fim de ciclo", diz o autor Manuel António Pina.

A escolha deve-se à escrita "de grande exigência e de grande rigor estilístico" do autor, justificou ontem o poeta Gastão Cruz, um dos membros do júri (constituído pelos regulares da Fundação Luís Miguel Nava, Carlos Mendes de Sousa, Fernando Pinto do Amaral e Paulo Teixeira - e pela convidada deste ano, Margarida Braga Neve). "Tem feito um percurso ascendente e [em 'Os Livros'] atingiu uma depuração da linguagem ao mesmo tempo que fez uma reflexão sobre a própria escrita". Além disso, acrescentou, "é um poeta, um homem muito discreto e talvez ainda não tenha sido salientada a importância da sua poesia".

Caracterizando a sua obra como uma "recolha que anda à volta da leitura e da literatura", Pina comentou ontem: "Pode parecer uma obra de fim de ciclo porque é uma interrogação sobre os limites da própria escrita, sobre o facto de a escrita funcionar por si mesma, de os livros se fazerem e refazerem a si próprios. Como se cada livro fosse mais um elemento de um processo infinito. É uma interrogação mais perplexa e amargurada. De qualquer maneira é a consumação de uma interrogação que atravessa toda a minha poesia."

É por isso que nele escreve "Porque a literatura é uma arte/ escura de ladrões que roubam a ladrões"? "Exactamente. É uma alusão a T. S. Elliot que dizia que os poetas fracos copiam e que os poetas fortes roubam."

"Extrema delicadeza pessoal"

Nascido em 1943 no Sabugal, Manuel António Pina, poeta, contista, dramaturgo, autor de livros para crianças, ficcionista e ex-jornalista, formou-se em Direito e vive no Porto. Começou por publicar livros infantis, "O País das Pessoas de Pernas para o Ar" (1973), e editou a sua primeira obra de poesia há exactamente 30 anos, "Ainda Não é o Fim nem o Princípio do Mundo Calma é Apenas um Pouco Tarde" (A Regra do Jogo), à qual se seguiram "Aquele que Quer Morrer", "O Caminho de Casa" (Frenesi, 1988), "Um Sítio Onde Pousar a Cabeça" (ed. Autor, 1991), "Algo Parecido com Isto da Mesma Substância" (poesia reunida de 1974 a 1992, pela Afrontamento), "Cuidados Intensivos" (Afrontamento, 1994) e "Le Noir" (edição do autor, 2000).

Em 2002, o poeta foi galardoado com o Prémio da Crítica 2001 na categoria "Criação Literária", do Centro Português da Associação Internacional de Críticos Literários pelo livro de poesia "Atropelamento e Fuga" (Asa). Nesse mesmo ano, a Assírio & Alvim editou a sua "Poesia Reunida" e a propósito dela escrevia o professor Eduardo Prado Coelho no PÚBLICO: "Talvez agora (...) estejamos em condições de poder afirmar que nos encontramos perante um dos grandes nomes da poesia portuguesa actual. Uma extrema delicadeza pessoal, uma discrição obsessiva, uma cultura ziguezagueante e desconcertante, mas sempre subtil e envolvente, um sentido profundo da complexidade da literatura, e também, sobretudo, da complexidade da vida, têm talvez impedido a descoberta plena e mediática deste jornalista e homem de letras também voltado para os jogos mais leves e embaladores da literatura infantil."

Os outros premiados

Instituído em 1998 pela Fundação Luís Miguel Nava, seguindo uma das cláusulas do testamento do poeta, o prémio (5000 euros), foi atribuído a Sophia de Mello Breyner, Fernando Echevarria, António Franco Alexandre, Armando Silva Carvalho, Manuel Gusmão e Fernando Guimarães.

Prémio de Poesia para Manuel António Pina

Por JOANA GORJÃO HENRIQUES

Quinta-feira, 30 de Dezembro de 2004

O Prémio de Poesia Luís Miguel Nava 2003 distinguiu ontem "Os Livros" (Assírio & Alvim), de Manuel António Pina. É um livro com uma interrogação que "pode parecer de fim de ciclo", diz o autor Manuel António Pina.

A escolha deve-se à escrita "de grande exigência e de grande rigor estilístico" do autor, justificou ontem o poeta Gastão Cruz, um dos membros do júri (constituído pelos regulares da Fundação Luís Miguel Nava, Carlos Mendes de Sousa, Fernando Pinto do Amaral e Paulo Teixeira - e pela convidada deste ano, Margarida Braga Neve). "Tem feito um percurso ascendente e [em 'Os Livros'] atingiu uma depuração da linguagem ao mesmo tempo que fez uma reflexão sobre a própria escrita". Além disso, acrescentou, "é um poeta, um homem muito discreto e talvez ainda não tenha sido salientada a importância da sua poesia".

Caracterizando a sua obra como uma "recolha que anda à volta da leitura e da literatura", Pina comentou ontem: "Pode parecer uma obra de fim de ciclo porque é uma interrogação sobre os limites da própria escrita, sobre o facto de a escrita funcionar por si mesma, de os livros se fazerem e refazerem a si próprios. Como se cada livro fosse mais um elemento de um processo infinito. É uma interrogação mais perplexa e amargurada. De qualquer maneira é a consumação de uma interrogação que atravessa toda a minha poesia."

É por isso que nele escreve "Porque a literatura é uma arte/ escura de ladrões que roubam a ladrões"? "Exactamente. É uma alusão a T. S. Elliot que dizia que os poetas fracos copiam e que os poetas fortes roubam."

"Extrema delicadeza pessoal"

Nascido em 1943 no Sabugal, Manuel António Pina, poeta, contista, dramaturgo, autor de livros para crianças, ficcionista e ex-jornalista, formou-se em Direito e vive no Porto. Começou por publicar livros infantis, "O País das Pessoas de Pernas para o Ar" (1973), e editou a sua primeira obra de poesia há exactamente 30 anos, "Ainda Não é o Fim nem o Princípio do Mundo Calma é Apenas um Pouco Tarde" (A Regra do Jogo), à qual se seguiram "Aquele que Quer Morrer", "O Caminho de Casa" (Frenesi, 1988), "Um Sítio Onde Pousar a Cabeça" (ed. Autor, 1991), "Algo Parecido com Isto da Mesma Substância" (poesia reunida de 1974 a 1992, pela Afrontamento), "Cuidados Intensivos" (Afrontamento, 1994) e "Le Noir" (edição do autor, 2000).

Em 2002, o poeta foi galardoado com o Prémio da Crítica 2001 na categoria "Criação Literária", do Centro Português da Associação Internacional de Críticos Literários pelo livro de poesia "Atropelamento e Fuga" (Asa). Nesse mesmo ano, a Assírio & Alvim editou a sua "Poesia Reunida" e a propósito dela escrevia o professor Eduardo Prado Coelho no PÚBLICO: "Talvez agora (...) estejamos em condições de poder afirmar que nos encontramos perante um dos grandes nomes da poesia portuguesa actual. Uma extrema delicadeza pessoal, uma discrição obsessiva, uma cultura ziguezagueante e desconcertante, mas sempre subtil e envolvente, um sentido profundo da complexidade da literatura, e também, sobretudo, da complexidade da vida, têm talvez impedido a descoberta plena e mediática deste jornalista e homem de letras também voltado para os jogos mais leves e embaladores da literatura infantil."

Os outros premiados

Instituído em 1998 pela Fundação Luís Miguel Nava, seguindo uma das cláusulas do testamento do poeta, o prémio (5000 euros), foi atribuído a Sophia de Mello Breyner, Fernando Echevarria, António Franco Alexandre, Armando Silva Carvalho, Manuel Gusmão e Fernando Guimarães.

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