"Gosto muito de uma palavra que se chama aventura"

08-08-2004
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"Gosto Muito de Uma Palavra Que Se Chama Aventura"

Sexta-feira, 16 de Julho de 2004 Caso José Sócrates chegue à liderança do PS, não será a primeira vez que substitui o demissionário secretário-geral num cargo político. Em Janeiro de 2002, quando Ferro Rodrigues abandonava o já governo de gestão de António Guterres, para se preparar para as eleições antecipadas, Sócrates assumia a pasta de Ferro: Equipamentos Sociais. O espírito que o animou na ascenção contínua na hierarquia guterrista deve ser o mesmo que o faz avançar para a liderança do PS. "Gosto muito de uma palavra que se chama aventura", respondeu José Sócrates ao PÚBLICO quando em Dezembro foi questionado sobre a sua disponibilidade para o cargo de secretário-geral. O engenheiro, natural da Covilhã, ganhou notoriedade durante os anos de Governo guterrista. Dos anos 90, ficou a boa presença, de imagem cuidada e a facilidade de discurso. É recordado, por alguns socialistas, como o ministro mais afirmativo e determinado desses tempos. Elogiam-lhe a combatividade mediática. Em vez disso, os seus inimigos políticos preferem vê-lo como um autoritário colérico. Deve ser o gosto pela aventura que o faz lançar para desafios que parecem impossíveis. O candidato já o faz há muito. Exemplo disso são os seus primeiros anos no PS. A forma como, em 1984, ainda jovem, conquista a liderança da Federação de Castelo Branco aos soaristas é o primeiro sinal. Também aí viria a revelar a sua outra característica, o espírito combativo e ganhador. Naquele distrito faz subir os votos socialistas dos 19 por cento até aos 53 por cento, em 1995, ano em que se retira da direcção da federação. A sua ascensão no PS foi feita ao lado de António Guterres. Não se cansou ainda de fazer a defesa intransigente do ex-primeiro-ministro. Mesmo após a queda do Governo continua a considerar Guterres um "líder sobredotado". Faz parte da nova geração (Jorge Lacão, António José Seguro, Armando Vara, Laurentino Dias) que este, em 1992, leva para a direcção e mais tarde, em 1995, para o Governo. A imagem de político de acção copmeça a construir-se logo nos primeiros anos. Como secretário de Estado do Ambiente, impõe a facturação detalhada na PT. Faz sucesso o seu autocolante "publicidade, não obrigado". Como ministro-adjunto para a Juventude, Toxicodependência e Desporto aprova a legislação que passa a olhar o drogado como doente e descriminaliza o consumo. Vulgariza a metadona e ganha para Portugal o Euro 2004 A única guerra que perdeu foi, quando era já ministro do Ambiente e do Ordenamento do Território, provocada pela decisão de instalar o processo de co-incineração nas cimenteiras de Souselas e Maceira. A contestação sentiu-se até dentro do partido, com o histórico Manuel Alegre a fazer-lhe frente. No auge da crise, teve de ouvir o poeta acusá-lo de culto da autoridade. "Querem fazer novos Cavacos", disparou Alegre. O programa Polis não pode ser catalogado com guerra perdida, embora a sua aposta na requalificação urbana de muitas cidades portuguesas tenha ficado congelada com o Governo PSD-CDS. José Sócrates assume-se social-democrata. Faz parte da ala socialista que priveligia a via reformista e moderada, sem viragens à esquerda. "O PS afirma-se ao centro", disse numa entrevista ao semanário "Expresso", em Abril de 2002. O seu passado revela, contudo, a contradição de ter militado do outro lado da barricada. Filiou-se com 16 anos, em 1974, na JSD, embora tenha sido namoro de apenas um ano. Tornar-se-ia militante socialista em 1981. Começava a aventura. Nuno Sá Lourenço OUTROS TÍTULOS EM DESTAQUE José Sócrates tenta

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