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20-11-2002
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Autárquicas 2001

Eleições locais de leitura nacional

Por Filipe Félix

Segunda-feira, 3 de Dezembro de 2001 Por muito que as forças políticas garantam que as eleições autárquicas possuem um cariz marcadamente local, o certo é que dificilmente os partidos que obtiverem bons resultados conseguirão resistir à tentação de os extrapolar na noite de 16 de Dezembro e fazer uma leitura nacional da votação. Com efeito, as eleições deste ano surgem como um importante teste, não só à imagem do Governo - fortemente desgastado -, mas também à capacidade do PSD - e do seu líder - em capitalizar o aparente descontentamento dos eleitores face à governação rosa. Durão Barroso colocou, aliás, a fasquia muito alto. De acordo com o presidente social-democrata, as autárquicas deste mês deverão funcionar como uma autêntica moção de censura à equipa de António Guterres. A intenção do PSD é clara e visa aproveitar o momento negativo do Governo, e por arrastamento do PS, e encontrar a embalagem que lhe tem faltado para adquirir uma maior base de sustentação, preparando o "assalto ao poder" nas legislativas de 2003.

Esta visão nacional das eleições é corroborada pelo antigo primeiro-ministro, Cavaco Silva - uma das vozes mais críticas do Executivo de Guterres -, para quem as autárquicas são a "última oportunidade de inverter a situação económica do país em tempo útil". Ora para Cavaco, tal só poderá acontecer com uma clara derrota do PS.

O mesmo discurso é defendido, embora com menos vigor, pelo CDS-PP. Ao PÚBLICO.PT, o coordenador autárquico popular, Anacoreta Correia, refere que "apesar das eleições terem um cariz predominantemente local, deverão ser analisadas também sob um ponto de vista nacional".

Sociais-democratas e populares encontram, no entanto, uma outra motivação para estudar atentamente os resultados de 16 de Dezembro: a viabilidade de uma futura Aliança Democrática entre PSD e CDS-PP.

Os dois partidos apresentam-se para estas eleições coligados em 45 concelhos - 41 dos quais encabeçados por dirigentes laranja - e um bom resultado em municípios como o Porto, Coimbra e Braga poderá precipitar uma aliança nas legislativas de 2003. "A coligação com o PSD é uma eventualidade que será tratada a seu tempo", refere cautelosamente Anacoreta Correia, adiantanto contudo que essa é uma possibilidade real, até porque "as relações entre os dois partidos estão descrispadas". PS desdramatiza resultados Do lado socialista, a lógica é precisamente a contrária, com o partido a tentar desdramatizar os resultados e salientar as especificidades deste tipo de eleição.

"Não há extrapolação possível destes resultados eleitorais", defende um dos responsáveis autárquicos do PS, António Galamba, justificando que, "caso contrário, o professor Cavaco Silva, nos seus mandatos como primeiro-ministro, tinha pedido a demissão ou teria visto as suas condições políticas fragilizadas por ter perdido duas batalhas autárquicas".

O certo é que, em aparente contradição com esta posição assumida pelo PS, o primeiro-ministro e secretário geral do partido, António Guterres, prepara-se para participar de forma activa na campanha rosa, em claro contraste com a discrição patenteada aquando das autárquicas de 1997.

Ao lado do PS, pelo menos nesta matéria, parecem estar CDU e Bloco de Esquerda. O coordenador autárquico comunista apela aos eleitores para que não confundam a "diferente natureza" das votações, frizando que as eleições de Dezembro não podem ser vistas como "meras primárias das legislativas".

"Admitimos que os fatores nacionais possam ter alguma influência, mas não poderão desviar as atenções para o que realmente está em jogo, ou seja, a avaliação do mérito das candidaturas e do que cada partido tem feito por determinado município", enfatiza.

Já para o dirigente bloquista, Miguel Portas, "não é legítima a apreciação que o PSD tem vindo a fazer deste acto eleitoral", adiantando que só um "autêntico cataclismo no panorâma político nacional permitiria extravassar as ilações locais". PS e PSD separados por uma câmara Nas autárquicas de 1997, socialistas e sociais-democratas ficaram separados apenas por uma câmara - 128 contra 127, sendo que nesta contabilização entra a câmara de Lisboa, onde os socialistas estão coligados com PCP, "Os Verdes" e UDP -, pelo que as eleições deste ano poderão alterar ou subverter a relação de forças entre os partidos.

Tanto PS como PSD já referiram que a vitória a 16 de Dezembro conquista-se pela obtenção do maior número de câmaras, mandatos e votos, sendo, no entanto, certo que grande parte dos louros desta eleição serão obtidos por quem triunfar em Lisboa.

Em maus lençoóis poderá estar o CDS-PP. Com oito câmaras no seu pecúlio e com duas delas já perdidas à partida - Batalha e Ponte de Lima, onde Daniel Campelo se candidata por uma lista independente -, os democratas-cristãos lutarão não só pela sobrevivência no mapa político autárquico, mas também por resultados individuais fortes, de forma a seduzir o PSD para uma coligação nas próximas legislativas.

Os populares acreditam, ainda assim, num bom resultado, almejando "aproximar os resultados das autárquicas dos das legislativas [8,5 por cento]", dado que o partido apresenta tradicionalmente uma votação mais fraca nos municípios.

Para o PCP, o principal risco é o de vir a perder autarquias para os socialista, principalmente no Alentejo - onde reside a sua principal base de sustentação -, tendo em contrapartida

como meta "roubar" ao PS câmaras como a de Setúbal.

Jorge Cordeiro confia, no entanto, no reconhecimento por parte do eleitorado "do imenso legado de trabalho deixado pelos autarcas da CDU na protecção das populações", destacando a "dedicação, competência e seriedade" como trunfos eleitorais comunistas.

Estreante em eleições autárquicas, o Bloco de Esquerda apostará tudo nos grandes centros urbanos para captar o seu eleitorado habitual e procurar chamar a si os votos da esquerda descontente com os partidos "institucionais".

Os bloquistas poderão, mesmo, garantir uma presidência de câmara, a de Salvaterra de Magos, onde o partido candidata a actual edil, Ana Cristina Ribeiro, que últimas eleições foi eleita pelas listas da CDU. Distribuição de presidências de câmara nas autárquicas de 1997: PS - 127

PSD - 127

CDU - 41

CDS-PP - 8

PS/CDU/UDP - 1

PPM - 1

Autárquicas 2001

Eleições locais de leitura nacional

Por Filipe Félix

Segunda-feira, 3 de Dezembro de 2001 Por muito que as forças políticas garantam que as eleições autárquicas possuem um cariz marcadamente local, o certo é que dificilmente os partidos que obtiverem bons resultados conseguirão resistir à tentação de os extrapolar na noite de 16 de Dezembro e fazer uma leitura nacional da votação. Com efeito, as eleições deste ano surgem como um importante teste, não só à imagem do Governo - fortemente desgastado -, mas também à capacidade do PSD - e do seu líder - em capitalizar o aparente descontentamento dos eleitores face à governação rosa. Durão Barroso colocou, aliás, a fasquia muito alto. De acordo com o presidente social-democrata, as autárquicas deste mês deverão funcionar como uma autêntica moção de censura à equipa de António Guterres. A intenção do PSD é clara e visa aproveitar o momento negativo do Governo, e por arrastamento do PS, e encontrar a embalagem que lhe tem faltado para adquirir uma maior base de sustentação, preparando o "assalto ao poder" nas legislativas de 2003.

Esta visão nacional das eleições é corroborada pelo antigo primeiro-ministro, Cavaco Silva - uma das vozes mais críticas do Executivo de Guterres -, para quem as autárquicas são a "última oportunidade de inverter a situação económica do país em tempo útil". Ora para Cavaco, tal só poderá acontecer com uma clara derrota do PS.

O mesmo discurso é defendido, embora com menos vigor, pelo CDS-PP. Ao PÚBLICO.PT, o coordenador autárquico popular, Anacoreta Correia, refere que "apesar das eleições terem um cariz predominantemente local, deverão ser analisadas também sob um ponto de vista nacional".

Sociais-democratas e populares encontram, no entanto, uma outra motivação para estudar atentamente os resultados de 16 de Dezembro: a viabilidade de uma futura Aliança Democrática entre PSD e CDS-PP.

Os dois partidos apresentam-se para estas eleições coligados em 45 concelhos - 41 dos quais encabeçados por dirigentes laranja - e um bom resultado em municípios como o Porto, Coimbra e Braga poderá precipitar uma aliança nas legislativas de 2003. "A coligação com o PSD é uma eventualidade que será tratada a seu tempo", refere cautelosamente Anacoreta Correia, adiantanto contudo que essa é uma possibilidade real, até porque "as relações entre os dois partidos estão descrispadas". PS desdramatiza resultados Do lado socialista, a lógica é precisamente a contrária, com o partido a tentar desdramatizar os resultados e salientar as especificidades deste tipo de eleição.

"Não há extrapolação possível destes resultados eleitorais", defende um dos responsáveis autárquicos do PS, António Galamba, justificando que, "caso contrário, o professor Cavaco Silva, nos seus mandatos como primeiro-ministro, tinha pedido a demissão ou teria visto as suas condições políticas fragilizadas por ter perdido duas batalhas autárquicas".

O certo é que, em aparente contradição com esta posição assumida pelo PS, o primeiro-ministro e secretário geral do partido, António Guterres, prepara-se para participar de forma activa na campanha rosa, em claro contraste com a discrição patenteada aquando das autárquicas de 1997.

Ao lado do PS, pelo menos nesta matéria, parecem estar CDU e Bloco de Esquerda. O coordenador autárquico comunista apela aos eleitores para que não confundam a "diferente natureza" das votações, frizando que as eleições de Dezembro não podem ser vistas como "meras primárias das legislativas".

"Admitimos que os fatores nacionais possam ter alguma influência, mas não poderão desviar as atenções para o que realmente está em jogo, ou seja, a avaliação do mérito das candidaturas e do que cada partido tem feito por determinado município", enfatiza.

Já para o dirigente bloquista, Miguel Portas, "não é legítima a apreciação que o PSD tem vindo a fazer deste acto eleitoral", adiantando que só um "autêntico cataclismo no panorâma político nacional permitiria extravassar as ilações locais". PS e PSD separados por uma câmara Nas autárquicas de 1997, socialistas e sociais-democratas ficaram separados apenas por uma câmara - 128 contra 127, sendo que nesta contabilização entra a câmara de Lisboa, onde os socialistas estão coligados com PCP, "Os Verdes" e UDP -, pelo que as eleições deste ano poderão alterar ou subverter a relação de forças entre os partidos.

Tanto PS como PSD já referiram que a vitória a 16 de Dezembro conquista-se pela obtenção do maior número de câmaras, mandatos e votos, sendo, no entanto, certo que grande parte dos louros desta eleição serão obtidos por quem triunfar em Lisboa.

Em maus lençoóis poderá estar o CDS-PP. Com oito câmaras no seu pecúlio e com duas delas já perdidas à partida - Batalha e Ponte de Lima, onde Daniel Campelo se candidata por uma lista independente -, os democratas-cristãos lutarão não só pela sobrevivência no mapa político autárquico, mas também por resultados individuais fortes, de forma a seduzir o PSD para uma coligação nas próximas legislativas.

Os populares acreditam, ainda assim, num bom resultado, almejando "aproximar os resultados das autárquicas dos das legislativas [8,5 por cento]", dado que o partido apresenta tradicionalmente uma votação mais fraca nos municípios.

Para o PCP, o principal risco é o de vir a perder autarquias para os socialista, principalmente no Alentejo - onde reside a sua principal base de sustentação -, tendo em contrapartida

como meta "roubar" ao PS câmaras como a de Setúbal.

Jorge Cordeiro confia, no entanto, no reconhecimento por parte do eleitorado "do imenso legado de trabalho deixado pelos autarcas da CDU na protecção das populações", destacando a "dedicação, competência e seriedade" como trunfos eleitorais comunistas.

Estreante em eleições autárquicas, o Bloco de Esquerda apostará tudo nos grandes centros urbanos para captar o seu eleitorado habitual e procurar chamar a si os votos da esquerda descontente com os partidos "institucionais".

Os bloquistas poderão, mesmo, garantir uma presidência de câmara, a de Salvaterra de Magos, onde o partido candidata a actual edil, Ana Cristina Ribeiro, que últimas eleições foi eleita pelas listas da CDU. Distribuição de presidências de câmara nas autárquicas de 1997: PS - 127

PSD - 127

CDU - 41

CDS-PP - 8

PS/CDU/UDP - 1

PPM - 1

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