Assembleia discute reestruturação do audiovisual

28-06-2003
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Assembleia Discute Reestruturação do Audiovisual

Por SOFIA RODRIGUES

Quarta-feira, 25 de Junho de 2003 A atribuição da RTP2 a uma entidade representativa da sociedade civil, o alargamento da "taxa" da RDP para financiar a televisão estatal e a reorganização empresarial do audiovisual público constituem os principais pilares das três propostas de lei governamentais que são hoje apreciadas pela Assembleia da República. Os três diplomas - nova Lei da Televisão, reorganização do sector empresarial do audiovisual e financiamento do serviço público - são a tradução legislativa do documento Novas Opções para o Audiovisual apresentado pelo ministro Morais Sarmento, em Dezembro de 2002, e que reflecte a reestruturação que o Governo projecta para esta área. Um dos assuntos que mais marcou a tutela do ministro foi o destino da RTP2, desde que anunciou que o Estado apenas ficaria com um canal generalista, e mais tarde, quando revelou que a frequência seria cedida à sociedade civil. A proposta de Lei da televisão prevê que a concessão da actual RTP2 seja atribuída por um prazo de oito anos ao futuro operador "até que seja transmitida para uma entidade constituída para esse fim específico, cuja organização reflicta a diversidade da sociedade civil". Esse canal será vocacionado para a cultura, ciência, investigação, inovação, acção social, desporto amador, confissões religiosas, produção independente, cinema português, ambiente e defesa do consumidor e o "experimentalismo audiovisual". Outro dos domínios em que o Governo decidiu mexer é o financiamento da RTP. A proposta de lei sobre esta matéria prevê que a taxa de radiodifusão (que passará a chamar-se Contribuição para o Audiovisual) seja canalizada também para a estação pública de televisão, numa quantia não especificada. O diploma diz apenas que será a receita não utilizada pela RDP. A RTP continua a ser financiada pelo Orçamento de Estado (indemnizações compensatórias) - num montante definido a quatro anos - e pelas receitas de publicidade que "ficam afectas ao serviço da dívida consolidada", ou seja, servirão para ajudar a pagar o passivo e não para despesas correntes da empresa. Em termos de reorganização empresarial, a proposta de lei cria uma nova "holding" (Rádio e Televisão de Portugal SGPS) que fica com as concessões da RTP e da RDP. É ainda nesta sede que funcionará o Conselho de Opinião que será comum às duas empresas. Fora desta "holding" fica a agência Lusa, que passa a estar na dependência da Direcção-Geral do Tesouro. Esta reestruturação implica a extinção da actual sociedade Portugal Global. A proposta de Lei de televisão impõe ainda regras mais restritas na exibição de programação de carácter pornográfico e violento (só permitida entre as 23h00 e as 6h00 em sinal aberto) e prevê um agravamento das sanções quando os crimes são cometidos através da televisão. Em matéria de sanções, nada é alterado, à excepção da suspensão da emissão ou retransmissão de um programa que pode ser ordenada imediatamente. O diploma projecta ainda a constituição de uma única entidade reguladora que reunirá as competências actualmente dispersas por vários órgãos. "Desmantelamento do serviço público" O destino da RTP2 e o financiamento do serviço público de televisão são as soluções que merecem as maiores críticas dos partidos da oposição com assento parlamentar. PCP e Bloco de Esquerda vão votar contra os três diplomas, o PS também alinha pela mesma posição, à excepção do texto sobre financiamento em que irá abster-se. O partido "Os Verdes" também deverá chumbar as propostas. "A presença da sociedade civil [na RTP2] arrisca-se a ser uma manta de retalhos", diz o socialista Arons de Carvalho, ex-secretário de Estado da Comunicação Social, salientando que "vão deixar de ser possíveis as sinergias entre os dois canais e até entre empresas [RTP e RDP]". O deputado socialista considera que a solução da RTP2 acaba por ser "um recuo do ministro" face ao que chegou a estar em cima da mesa. Para o PCP, "este pacote legislativo configura um verdadeiro desmantelamento do serviço público de televisão", afirmou ontem ao PÚBLICO o deputado António Filipe. Os diplomas suscitam duas grandes preocupações aos comunistas: a RTP2 e o financiamento. Neste capítulo, o deputado considera que o novo modelo "não assegura os meios financeiros necessários para que o serviço público possa funcionar em condições", além de que "pode provocar danos colaterais na RDP". Em relação à RTP2, António Filipe considera que "a estratégia do Governo é abandonar o segundo canal, deixá-lo à sorte de algo que ainda está indefinido". Para o Bloco de Esquerda, também a solução encontrada para a RTP2 e que está inscrita na lei é vaga. "O Governo pede um cheque em branco de oito anos", afirmou Daniel Oliveira, assessor do BE para esta área. Em termos de financiamento, o Bloco considera que "não faz qualquer sentido reintroduzir a taxa pela porta do cavalo". Numa apreciação global, o BE considera que este pacote "não traz nada de novo no essencial. E do que é novo, grande parte é mau". Aponta como aspectos negativos a reorganização empresarial, a falta de um caderno de encargos na renegociação das licenças dos operadores privados e a ausência de independência das administrações da RTP. Como positivo, Daniel Oliveira salienta a lógica plurianual das indemnizações compensatórias. OUTROS TÍTULOS EM MEDIA Assembleia discute reestruturação do audiovisual

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A proposta de Lei da televisão prevê que a concessão da actual RTP2 seja atribuída por um prazo de oito anos ao futuro operador "até que seja transmitida para uma entidade constituída para esse fim específico, cuja organização reflicta a diversidade da sociedade civil". Esse canal será vocacionado para a cultura, ciência, investigação, inovação, acção social, desporto amador, confissões religiosas, produção independente, cinema português, ambiente e defesa do consumidor e o "experimentalismo audiovisual". Outro dos domínios em que o Governo decidiu mexer é o financiamento da RTP. A proposta de lei sobre esta matéria prevê que a taxa de radiodifusão (que passará a chamar-se Contribuição para o Audiovisual) seja canalizada também para a estação pública de televisão, numa quantia não especificada. O diploma diz apenas que será a receita não utilizada pela RDP. 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A proposta de Lei de televisão impõe ainda regras mais restritas na exibição de programação de carácter pornográfico e violento (só permitida entre as 23h00 e as 6h00 em sinal aberto) e prevê um agravamento das sanções quando os crimes são cometidos através da televisão. Em matéria de sanções, nada é alterado, à excepção da suspensão da emissão ou retransmissão de um programa que pode ser ordenada imediatamente. O diploma projecta ainda a constituição de uma única entidade reguladora que reunirá as competências actualmente dispersas por vários órgãos. "Desmantelamento do serviço público" O destino da RTP2 e o financiamento do serviço público de televisão são as soluções que merecem as maiores críticas dos partidos da oposição com assento parlamentar. PCP e Bloco de Esquerda vão votar contra os três diplomas, o PS também alinha pela mesma posição, à excepção do texto sobre financiamento em que irá abster-se. O partido "Os Verdes" também deverá chumbar as propostas. "A presença da sociedade civil [na RTP2] arrisca-se a ser uma manta de retalhos", diz o socialista Arons de Carvalho, ex-secretário de Estado da Comunicação Social, salientando que "vão deixar de ser possíveis as sinergias entre os dois canais e até entre empresas [RTP e RDP]". O deputado socialista considera que a solução da RTP2 acaba por ser "um recuo do ministro" face ao que chegou a estar em cima da mesa. Para o PCP, "este pacote legislativo configura um verdadeiro desmantelamento do serviço público de televisão", afirmou ontem ao PÚBLICO o deputado António Filipe. Os diplomas suscitam duas grandes preocupações aos comunistas: a RTP2 e o financiamento. Neste capítulo, o deputado considera que o novo modelo "não assegura os meios financeiros necessários para que o serviço público possa funcionar em condições", além de que "pode provocar danos colaterais na RDP". Em relação à RTP2, António Filipe considera que "a estratégia do Governo é abandonar o segundo canal, deixá-lo à sorte de algo que ainda está indefinido". Para o Bloco de Esquerda, também a solução encontrada para a RTP2 e que está inscrita na lei é vaga. "O Governo pede um cheque em branco de oito anos", afirmou Daniel Oliveira, assessor do BE para esta área. Em termos de financiamento, o Bloco considera que "não faz qualquer sentido reintroduzir a taxa pela porta do cavalo". Numa apreciação global, o BE considera que este pacote "não traz nada de novo no essencial. E do que é novo, grande parte é mau". Aponta como aspectos negativos a reorganização empresarial, a falta de um caderno de encargos na renegociação das licenças dos operadores privados e a ausência de independência das administrações da RTP. Como positivo, Daniel Oliveira salienta a lógica plurianual das indemnizações compensatórias. OUTROS TÍTULOS EM MEDIA Assembleia discute reestruturação do audiovisual

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