%Somos de esquerda, juraram os socialistas

21-11-2002
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%Somos de Esquerda, Juraram Os Socialistas

Segunda-feira, 18 de Novembro de 2002 Quem não sabia, ou tinha dúvidas ficou cabalmente esclarecido no XIII Congresso do Partido Socialista. O PS é de esquerda. É mesmo de esquerda, juraram todos. As interpretações para este ser de esquerda é que são muito variadas. Por Luciano Alvarez É de esquerda, é esquerda, é esquerda. O PS é mesmo de esquerda e quem disser o contrário é, no mínimo, visto como um mal intencionado. No palanque e nos corredores do congresso socialista o posicionamento ideológico do partido foi um dos temas mais falados. Durante os três dias dos trabalhos, o PÚBLICO ouviu perto de 50 congressistas e nem um só admitiu que gostaria de ver um partido "mais ou centro" ou "mais aberto". "Somos de esquerda e da esquerda não saímos", disseram muitos socialistas, alguns quase indignados com a pergunta do jornalista, talvez embalados pelos discursos em jeito de jura à esquerda que vinham dos notáveis que iam passando pelo palco.

A gritaria de dirigentes e militantes em torno deste tema que António Costa comparou, em tom mais ou menos crítico, a um problema de "circulação rodoviária" ideológica, foi tal que quase pareceu uma profissão de fé. Mais que uma questão de afirmação ficou no ar a ideia que muitos o garantiam para se convencer a si próprios que são, sempre foram de esquerda e que se no passado houve algum tropeção ele foi um pequeno pecado do qual agora pedem perdão.

O povo socialista de Ferro Rodrigues é de esquerda e ponto final foi uma das grandes conclusões do conclave do PS. Os congressistas, pelo menos os ouvidos pelo PÚBLICO, já não se entendem é sobre o que significa ser de esquerda. Os dicionários não deixam dúvidas: em termos políticos significa fazer parte "de um grupo de orientação progressista, avançada, dentro de um partido ou em relação a um conjunto de partidos".

"Ser de esquerda é ser pelos trabalhadores", foi, porém, a resposta mais ouvida entre os socialistas. Mas houve também quem garantisse que é ser "do PS", "pela igualdade entre os homens e as mulheres", "contra o Governo da maioria", "a favor das políticas sociais", "uma atitude", um "modo de estar na vida" ou até "uma luta permanente contra o social-fascismo e o capitalismo ainda reinante no mundo e sob comando do Estados Unidos". José Serra, um algarvio que diz ter assistido a todos os congressos do PS tem ainda outra explicação: "É ser do Ferro, contra os guterres, os pinas mouras e os cristãos que quiseram desviar o partido do rumo."

Ferro Rodrigues, que assim que pegou no partido lançou esta discussão dizendo que com ele o PS ia pela ala esquerda, tem uma tropa fiel para trilhar este caminho. Também não deverá ter grandes dificuldades porque alguns que ainda não há muitos dias diziam que o caminho não era este foram ao congresso dizer que o caminho é, afinal, o de Ferro. O que ainda ninguém explicou é se esta determinada e quase colectiva afirmação de ser esquerda pode entrar na contabilização das reformas e renovações que Ferro Rodrigues prometeu.

PS: a palavra esquerda foi repetida 19 vezes neste texto. A verdade é que é difícil fugir-lhe porque a utilização de um sinónimo pode ser mal interpretada. Ainda de acordo com os dicionários, para esquerdo há muitas hipóteses e nenhuma delas é muito agradável. A saber: agourento; canho; canhoto; desajeitado; desastrado; esquivo; funesto; incómodo; mal jeitoso; sestro; sinistro; torcido; torto; vesgo. Já para esquerda é apontado apenas um sinónimo: oposição. Portanto, impossível de aplicar porque podia dar a entender que o PS só é de esquerda quando está na oposição. E não passa pela cabeça dos congressistas que o PS se desvie desta sua orientação ideológica tão jurada no congresso se, como ambiciona, voltar a ser Governo.

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As frases

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Segunda-feira, 18 de Novembro de 2002 Quem não sabia, ou tinha dúvidas ficou cabalmente esclarecido no XIII Congresso do Partido Socialista. O PS é de esquerda. É mesmo de esquerda, juraram todos. As interpretações para este ser de esquerda é que são muito variadas. Por Luciano Alvarez É de esquerda, é esquerda, é esquerda. O PS é mesmo de esquerda e quem disser o contrário é, no mínimo, visto como um mal intencionado. No palanque e nos corredores do congresso socialista o posicionamento ideológico do partido foi um dos temas mais falados. Durante os três dias dos trabalhos, o PÚBLICO ouviu perto de 50 congressistas e nem um só admitiu que gostaria de ver um partido "mais ou centro" ou "mais aberto". "Somos de esquerda e da esquerda não saímos", disseram muitos socialistas, alguns quase indignados com a pergunta do jornalista, talvez embalados pelos discursos em jeito de jura à esquerda que vinham dos notáveis que iam passando pelo palco.

A gritaria de dirigentes e militantes em torno deste tema que António Costa comparou, em tom mais ou menos crítico, a um problema de "circulação rodoviária" ideológica, foi tal que quase pareceu uma profissão de fé. Mais que uma questão de afirmação ficou no ar a ideia que muitos o garantiam para se convencer a si próprios que são, sempre foram de esquerda e que se no passado houve algum tropeção ele foi um pequeno pecado do qual agora pedem perdão.

O povo socialista de Ferro Rodrigues é de esquerda e ponto final foi uma das grandes conclusões do conclave do PS. Os congressistas, pelo menos os ouvidos pelo PÚBLICO, já não se entendem é sobre o que significa ser de esquerda. Os dicionários não deixam dúvidas: em termos políticos significa fazer parte "de um grupo de orientação progressista, avançada, dentro de um partido ou em relação a um conjunto de partidos".

"Ser de esquerda é ser pelos trabalhadores", foi, porém, a resposta mais ouvida entre os socialistas. Mas houve também quem garantisse que é ser "do PS", "pela igualdade entre os homens e as mulheres", "contra o Governo da maioria", "a favor das políticas sociais", "uma atitude", um "modo de estar na vida" ou até "uma luta permanente contra o social-fascismo e o capitalismo ainda reinante no mundo e sob comando do Estados Unidos". José Serra, um algarvio que diz ter assistido a todos os congressos do PS tem ainda outra explicação: "É ser do Ferro, contra os guterres, os pinas mouras e os cristãos que quiseram desviar o partido do rumo."

Ferro Rodrigues, que assim que pegou no partido lançou esta discussão dizendo que com ele o PS ia pela ala esquerda, tem uma tropa fiel para trilhar este caminho. Também não deverá ter grandes dificuldades porque alguns que ainda não há muitos dias diziam que o caminho não era este foram ao congresso dizer que o caminho é, afinal, o de Ferro. O que ainda ninguém explicou é se esta determinada e quase colectiva afirmação de ser esquerda pode entrar na contabilização das reformas e renovações que Ferro Rodrigues prometeu.

PS: a palavra esquerda foi repetida 19 vezes neste texto. A verdade é que é difícil fugir-lhe porque a utilização de um sinónimo pode ser mal interpretada. Ainda de acordo com os dicionários, para esquerdo há muitas hipóteses e nenhuma delas é muito agradável. A saber: agourento; canho; canhoto; desajeitado; desastrado; esquivo; funesto; incómodo; mal jeitoso; sestro; sinistro; torcido; torto; vesgo. Já para esquerda é apontado apenas um sinónimo: oposição. Portanto, impossível de aplicar porque podia dar a entender que o PS só é de esquerda quando está na oposição. E não passa pela cabeça dos congressistas que o PS se desvie desta sua orientação ideológica tão jurada no congresso se, como ambiciona, voltar a ser Governo.

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