Ferro falha pacificação do PS

04-08-2004
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Ferro Falha Pacificação do PS

Por JOÃO PEDRO HENRIQUES, com Alexandre Praça

Terça-feira, 15 de Junho de 2004

Ferro Rodrigues está a ser criticado no interior do PS pelo anúncio de recandidatura a secretário-geral que fez na noite das eleições. As críticas não são inocentes - vêem de militantes próximos de José Sócrates, cuja eventual candidatura a secretário-geral no próximo congresso (em Novembro) é cada vez mais comentada no interior do partido.

Em declarações ao PÚBLICO, um dos principais apoiantes de Sócrates, o deputado José Lello, considerou que a noite eleitoral "não era o momento para introduzir a questão interna" do PS. No seu entender, "o momento era para usufruir a vitória". E acrescentou: "A questão interna veio diminuir o impacto da vitória."

No mesmo sentido se pronunciou o deputado António Braga. "Acho um erro abrir já a disputa interna com vista ao congresso de Novembro, porque isso é prejudicial ao partido", afirmou ao PÚBLICO. "Sabe-se que quem deu a cara nestas eleições foi o professor Sousa Franco. Esta vitória é dele e de todo o PS e qualquer tentativa de fazer outra leitura que não esta é precipitada, sendo uma forma de distorcer os resultados", censura Braga, vincando que quem saiu "reforçado foi o PS no seu todo e não, necessariamente, o secretário-geral".

Por essa razão, o parlamentar socialista desafia o partido a "reflectir" sobre a questão da liderança, porque "está tudo em aberto" relativamente ao congresso de Novembro. "O PS tem capacidade para escolher o melhor candidato para defrontar nas legislativas a coligação PSD-CDS e é possível encontrar uma solução de liderança que não tenha de passar, obrigatoriamente, por Ferro Rodrigues", argumenta António Braga, que se escusa, contudo, a revelar o "seu" candidato preferido, alegando que o PS tem "imensas personalidades" com perfil para o cargo.

Sócrates silencioso

José Sócrates, pelo seu lado, mantem-se rigorosamente silencioso. Ontem, questionado pelo PÚBLICO, escusou-se a comentar o anúncio da recandidatura de Ferro Rodrigues. Na noite eleitoral, todos os seus comentários foram produzidos antes de Ferro Rodrigues anunciar que está disposto a um novo mandato na liderança do PS. Sócrates escusou-se sistematicamente a dizer se o resultado das eleições dava (ou não) condições reforçadas de liderança ao secretário-geral, chegando mesmo a afirmar: "Não importa o que o PS fará com esta vitória. O que interessa é o que o Governo fará com a derrota." O ex-ministro do Ambiente mantém-se no secretariado nacional do PS (o núcleo mais restrito de decisão no partido).

Avançando ou não avançando, o certo é que o congresso será disputado. Na noite de domingo para segunda, João Soares decidiu aparecer no Altis - quando já quase toda a gente tinha saído - para reafirmar que seria mesmo candidato a secretário-geral em alternativa a Ferro Rodrigues.

Pedroso de regresso

A direcção, entretanto, vai fazendo contas. Sublinhando, por exemplo, que no domingo Jorge Coelho e António José Seguro ainda foram das televisões onde estiveram (TVI e RTP, respectivamente) ao Altis dar um abraço ao secretário-geral, com quem, simbolicamente, saíram juntos. Tradução: estes dois "pesos-pesados" do aparelho socialista estão com Ferro e representam um seguro de vida para o secretário-geral. A isto contrapõem alegados escassos apoios de Sócrates no partido. Coelho, pelo seu lado, aproveitou a noite eleitoral para reafirmar o seu apoio ao secretário-geral. E subsiste uma enorme incógnita: António Costa, agora em trânsito para Bruxelas.

Ao mesmo tempo que se contam espingardas, Paulo Pedroso vai reiniciando o seu progressivo regresso à actividade política. Na quarta-feira, deverá, segundo a Lusa, reassumir o mandato de deputado na Assembleia da República. Pouco a pouco deverá, também, ir reintegrando o "núcleo duro" que rodeia Ferro Rodrigues, de quem foi o braço direito (responsável pelo importante pelouro da organização do partido) até ser preso no âmbito do processo Casa Pia (Maio de 2003).

Hoje à noite reunirá a comissão política nacional do PS, tendo também a questão de Matosinhos em agenda. De manhã Ferro Rodrigues tomará o pequeno-almoço com o Presidente da República, podendo a conversa abordar o tema do Iraque.

Ferro Falha Pacificação do PS

Por JOÃO PEDRO HENRIQUES, com Alexandre Praça

Terça-feira, 15 de Junho de 2004

Ferro Rodrigues está a ser criticado no interior do PS pelo anúncio de recandidatura a secretário-geral que fez na noite das eleições. As críticas não são inocentes - vêem de militantes próximos de José Sócrates, cuja eventual candidatura a secretário-geral no próximo congresso (em Novembro) é cada vez mais comentada no interior do partido.

Em declarações ao PÚBLICO, um dos principais apoiantes de Sócrates, o deputado José Lello, considerou que a noite eleitoral "não era o momento para introduzir a questão interna" do PS. No seu entender, "o momento era para usufruir a vitória". E acrescentou: "A questão interna veio diminuir o impacto da vitória."

No mesmo sentido se pronunciou o deputado António Braga. "Acho um erro abrir já a disputa interna com vista ao congresso de Novembro, porque isso é prejudicial ao partido", afirmou ao PÚBLICO. "Sabe-se que quem deu a cara nestas eleições foi o professor Sousa Franco. Esta vitória é dele e de todo o PS e qualquer tentativa de fazer outra leitura que não esta é precipitada, sendo uma forma de distorcer os resultados", censura Braga, vincando que quem saiu "reforçado foi o PS no seu todo e não, necessariamente, o secretário-geral".

Por essa razão, o parlamentar socialista desafia o partido a "reflectir" sobre a questão da liderança, porque "está tudo em aberto" relativamente ao congresso de Novembro. "O PS tem capacidade para escolher o melhor candidato para defrontar nas legislativas a coligação PSD-CDS e é possível encontrar uma solução de liderança que não tenha de passar, obrigatoriamente, por Ferro Rodrigues", argumenta António Braga, que se escusa, contudo, a revelar o "seu" candidato preferido, alegando que o PS tem "imensas personalidades" com perfil para o cargo.

Sócrates silencioso

José Sócrates, pelo seu lado, mantem-se rigorosamente silencioso. Ontem, questionado pelo PÚBLICO, escusou-se a comentar o anúncio da recandidatura de Ferro Rodrigues. Na noite eleitoral, todos os seus comentários foram produzidos antes de Ferro Rodrigues anunciar que está disposto a um novo mandato na liderança do PS. Sócrates escusou-se sistematicamente a dizer se o resultado das eleições dava (ou não) condições reforçadas de liderança ao secretário-geral, chegando mesmo a afirmar: "Não importa o que o PS fará com esta vitória. O que interessa é o que o Governo fará com a derrota." O ex-ministro do Ambiente mantém-se no secretariado nacional do PS (o núcleo mais restrito de decisão no partido).

Avançando ou não avançando, o certo é que o congresso será disputado. Na noite de domingo para segunda, João Soares decidiu aparecer no Altis - quando já quase toda a gente tinha saído - para reafirmar que seria mesmo candidato a secretário-geral em alternativa a Ferro Rodrigues.

Pedroso de regresso

A direcção, entretanto, vai fazendo contas. Sublinhando, por exemplo, que no domingo Jorge Coelho e António José Seguro ainda foram das televisões onde estiveram (TVI e RTP, respectivamente) ao Altis dar um abraço ao secretário-geral, com quem, simbolicamente, saíram juntos. Tradução: estes dois "pesos-pesados" do aparelho socialista estão com Ferro e representam um seguro de vida para o secretário-geral. A isto contrapõem alegados escassos apoios de Sócrates no partido. Coelho, pelo seu lado, aproveitou a noite eleitoral para reafirmar o seu apoio ao secretário-geral. E subsiste uma enorme incógnita: António Costa, agora em trânsito para Bruxelas.

Ao mesmo tempo que se contam espingardas, Paulo Pedroso vai reiniciando o seu progressivo regresso à actividade política. Na quarta-feira, deverá, segundo a Lusa, reassumir o mandato de deputado na Assembleia da República. Pouco a pouco deverá, também, ir reintegrando o "núcleo duro" que rodeia Ferro Rodrigues, de quem foi o braço direito (responsável pelo importante pelouro da organização do partido) até ser preso no âmbito do processo Casa Pia (Maio de 2003).

Hoje à noite reunirá a comissão política nacional do PS, tendo também a questão de Matosinhos em agenda. De manhã Ferro Rodrigues tomará o pequeno-almoço com o Presidente da República, podendo a conversa abordar o tema do Iraque.

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