Louçã Apela ao Voto Útil no Bloco de Esquerda
Sexta-feira, 18 de Fevereiro de 2005
No penúltimo dia da campanha, o candidato inverteu discurso e justificou que é preciso "impedir a paralisia de mudança" que resulta da eventual maioria absoluta do P
Maria José Oliveir
Na véspera do encerramento da campanha eleitoral do Bloco de Esquerda (BE), Francisco Louçã decidiu reformular a sua retórica sobre o voto útil, admitindo que os bloquistas vão lutar por este voto. "Vamo-nos bater pelo voto útil no Bloco de Esquerda", afirmou.
No final de uma "arruada" pela Baixa de Lisboa, ontem à tarde - os bloquistas também quiseram descer o Chiado, à semelhança do PS e do PSD -, Louçã, num comentário às sondagens que dão ao BE um consistente resultado eleitoral, revelou uma certa contradição sobre a questão do voto útil. Isto porque, desde o início da campanha, o cabeça de lista por Lisboa tem contestado os seus adversários políticos que utilizam o argumento do voto útil para fins eleitoralistas.
Questionado pelo PÙBLICO sobre essa inversão de discurso, Francisco Louçã justificou-se desta forma: "É preciso impedir a paralisia de mudança que representaria a maioria absoluta do PS." Recorde-se que Louçã insistiu, ao longo do período de campanha oficial, que o voto no Bloco é "pela clareza" e pela "vontade de mudança". Na semana transacta, numa acção realizada em Lisboa, atacou também o PS por pedir um "voto de protesto", considerando-o como um "argumento eleitoral (...) que só revela o reconhecimento eleitoral do Bloco de Esquerda". E anteontem à noite, no único comício-concerto realizado em Lisboa, no Fórum Lisboa, Miguel Vale de Almeida, membro da Mesa Nacional do BE, criticou a "ideia feita" do voto útil. "O único voto útil numa democracia é o que corresponde à consciência do eleitor ou eleitora", afirmou.
Regressando aos eventuais "animadores" resultados do BE nas eleições de domingo, o candidato afirmou que os bloquistas só poderão admitir uma derrota se não conseguirem eleger "mais um ou dois" deputados para além dos três que perfazem a sua bancada parlamentar: "Uma derrota para mim é ter três deputados, uma vitória é eleger mais um ou dois".
Apesar de o Bloco, nomeadamente Louçã, não ter escondido que a fasquia que pretende alcançar nestas eleições é a terceira posição no "ranking" dos partidos mais votados - os bloquistas atentaram frequentemente neste objectivo durante duas semanas -, o cabeça de lista rejeitou a ideia de uma "derrota" se não alcançar esta meta. "Se não for a terceira força mais votada isso não é uma derrota", esclareceu, optando por sublinhar as "mudanças da maioria" que poderão acontecer com a vitória dos socialistas.
Anteontem à noite, no comício do Fórum Lisboa, onde estiveram presentes cerca de mil pessoas, Francisco Louçã, o último orador da noite, voltou a protestar contra a eventual maioria absoluta do PS, dizendo que "um voto na maioria absoluta é sempre uma manifestação de situacionismo". Mais referências ao PS não se ouviram pela voz de Louçã. Coube a Ana Drago, Miguel Portas e Luís Fazenda atacarem a falta de compromissos por parte do PS relativamente a matérias como o referendo sobre a Constituição Europeia, a despenalização da interrupção voluntária da gravidez ou a legalização de imigrantes.
O Porto foi escolhido para receber o último dia de campanha, que culminará com um comício no Teatro Rivoli.
Positivo
Lotação esgotadíssima no comício do Fórum Lisboa. Excelente a ideia de projectar, num ecrã instalado no palco, os tempos de antena do Bloco.
Negativo
Louçã sabia para quem discursava no Fórum Lisboa (classe urbana intelectual). A isso se devem estas frases: "Encontrámos um povo que se levanta e que está disposto a fazer da sua voz uma mudança política" ou, a propósito da visita a uma fábrica de vidros na Marinha Grande, "vi o último forno que chora antes de ser apagado".
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Louçã Apela ao Voto Útil no Bloco de Esquerda
Sexta-feira, 18 de Fevereiro de 2005
No penúltimo dia da campanha, o candidato inverteu discurso e justificou que é preciso "impedir a paralisia de mudança" que resulta da eventual maioria absoluta do P
Maria José Oliveir
Na véspera do encerramento da campanha eleitoral do Bloco de Esquerda (BE), Francisco Louçã decidiu reformular a sua retórica sobre o voto útil, admitindo que os bloquistas vão lutar por este voto. "Vamo-nos bater pelo voto útil no Bloco de Esquerda", afirmou.
No final de uma "arruada" pela Baixa de Lisboa, ontem à tarde - os bloquistas também quiseram descer o Chiado, à semelhança do PS e do PSD -, Louçã, num comentário às sondagens que dão ao BE um consistente resultado eleitoral, revelou uma certa contradição sobre a questão do voto útil. Isto porque, desde o início da campanha, o cabeça de lista por Lisboa tem contestado os seus adversários políticos que utilizam o argumento do voto útil para fins eleitoralistas.
Questionado pelo PÙBLICO sobre essa inversão de discurso, Francisco Louçã justificou-se desta forma: "É preciso impedir a paralisia de mudança que representaria a maioria absoluta do PS." Recorde-se que Louçã insistiu, ao longo do período de campanha oficial, que o voto no Bloco é "pela clareza" e pela "vontade de mudança". Na semana transacta, numa acção realizada em Lisboa, atacou também o PS por pedir um "voto de protesto", considerando-o como um "argumento eleitoral (...) que só revela o reconhecimento eleitoral do Bloco de Esquerda". E anteontem à noite, no único comício-concerto realizado em Lisboa, no Fórum Lisboa, Miguel Vale de Almeida, membro da Mesa Nacional do BE, criticou a "ideia feita" do voto útil. "O único voto útil numa democracia é o que corresponde à consciência do eleitor ou eleitora", afirmou.
Regressando aos eventuais "animadores" resultados do BE nas eleições de domingo, o candidato afirmou que os bloquistas só poderão admitir uma derrota se não conseguirem eleger "mais um ou dois" deputados para além dos três que perfazem a sua bancada parlamentar: "Uma derrota para mim é ter três deputados, uma vitória é eleger mais um ou dois".
Apesar de o Bloco, nomeadamente Louçã, não ter escondido que a fasquia que pretende alcançar nestas eleições é a terceira posição no "ranking" dos partidos mais votados - os bloquistas atentaram frequentemente neste objectivo durante duas semanas -, o cabeça de lista rejeitou a ideia de uma "derrota" se não alcançar esta meta. "Se não for a terceira força mais votada isso não é uma derrota", esclareceu, optando por sublinhar as "mudanças da maioria" que poderão acontecer com a vitória dos socialistas.
Anteontem à noite, no comício do Fórum Lisboa, onde estiveram presentes cerca de mil pessoas, Francisco Louçã, o último orador da noite, voltou a protestar contra a eventual maioria absoluta do PS, dizendo que "um voto na maioria absoluta é sempre uma manifestação de situacionismo". Mais referências ao PS não se ouviram pela voz de Louçã. Coube a Ana Drago, Miguel Portas e Luís Fazenda atacarem a falta de compromissos por parte do PS relativamente a matérias como o referendo sobre a Constituição Europeia, a despenalização da interrupção voluntária da gravidez ou a legalização de imigrantes.
O Porto foi escolhido para receber o último dia de campanha, que culminará com um comício no Teatro Rivoli.
Positivo
Lotação esgotadíssima no comício do Fórum Lisboa. Excelente a ideia de projectar, num ecrã instalado no palco, os tempos de antena do Bloco.
Negativo
Louçã sabia para quem discursava no Fórum Lisboa (classe urbana intelectual). A isso se devem estas frases: "Encontrámos um povo que se levanta e que está disposto a fazer da sua voz uma mudança política" ou, a propósito da visita a uma fábrica de vidros na Marinha Grande, "vi o último forno que chora antes de ser apagado".