EXPRESSO: País

30-04-2002
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«Olha! Este é o irmão do outro!»

«Olha! Este é o irmão do outro!» Eleitora do Porto, quando vê Miguel Portas, candidato do BE «Sou o Portas, sim, mas o do lado esquerdo»

Resposta de Miguel à mesma senhora

«Retóricas libertadoras» Um discurso que serve a todos, estudantes universitários e povo que passa na rua Sérgio Granadeiro Miguel Portas em campanha: apesar dos atrasos (muitos), a campanha correu bem ao BE SE OS CIENTISTAS sociais têm ou não um papel político na sociedade - a esta questão, Ana Drago, parecendo ter dúvidas, não teve problemas em responder. A jovem candidata do Bloco de Esquerda, quarto lugar na lista de Lisboa, tinha pela frente aquilo que parecia ser uma prova de fogo: uma plateia de estudantes e professores do ISCTE, colegas de área científica e prováveis aspirantes a um papel (seja ele qual for) de intervenção na nossa sociedade. A apreensão de conhecimento, disse, não se faz sem a consciência de que se está de «um lado». SE OS CIENTISTAS sociais têm ou não um papel político na sociedade - a esta questão, Ana Drago, parecendo ter dúvidas, não teve problemas em responder. A jovem candidata do Bloco de Esquerda, quarto lugar na lista de Lisboa, tinha pela frente aquilo que parecia ser uma prova de fogo: uma plateia de estudantes e professores do ISCTE, colegas de área científica e prováveis aspirantes a um papel (seja ele qual for) de intervenção na nossa sociedade. A apreensão de conhecimento, disse, não se faz sem a consciência de que se está de O caminho destes cientistas sociais é longo - pelo que se percebeu dos dez minutos de intervenção da candidata - mas deve servir para ajudar a construir «retóricas de sentido positivo, retóricas libertadoras». Fez-se um curto silêncio. E Ana Drago conclui: «Acho que respondi!» Os presentes também acharam, porque ninguém levantou o dedo para tirar dúvidas. A sessão de campanha do Bloco era mais um debate, desta vez com universitários em Lisboa, e com a presença de Sérgio Godinho. Às «retóricas libertadoras» de Ana Drago seguiram-se outros longos minutos de tese, repartidos entre diferentes conceitos de trabalho e produção, projectos para a Educação e ideias sobre Segurança. Ana Drago passou as despesas da conversa para Miguel Portas, o terceiro candidato por Lisboa - afinal, era ele o cabeça-de-cartaz do acontecimento e, apesar de tudo, havia que fazer alguma campanha. Miguel falou sem limitações, com o à-vontade de quem, mesmo não dominando todos os temas, tem «experiência» suficiente para dominar as situações. Mostrou-o no ISCTE, no Retiro do Bom Sucesso, na Rua Júlio Dinis, e esteve lá perto na gravação de uma entrevista na NTV, que será emitida esta noite. O problema é que, entre esta competência e a tendência - será criativa? - para andar sempre a correr atrasado, sobra a Miguel Portas um cansaço visível. Ele é o director da campanha do Bloco de Esquerda: sabe, por isso, ao pormenor do tostão o que custaram os 120 «outdoors» do BE, com cinco impressões diferentes, («17 mil contos, quase metade de tudo o que gastámos»), ou a organização do comício da Aula Magna, em Lisboa («uns dois mil e 500 contos»). Nada comparado com os milhões das centenas de «outdoors» do PS ou do PSD ou com os espectáculos de 50 mil contos das respectivas convenções, naturalmente. Ele, que parece ter sido arredado desta campanha em nome da personalização em Francisco Louçã, afinal diz ter andado num «circuito paralelo», a abrir portas «antes da passagem do Chico» em zonas onde não havia Bloco e a criar núcleos onde nas anteriores eleições o BE mostrou ter condições para nascer. Esta semana, porém, o «circuito paralelo» passou para a linha da frente. E Miguel mostrou-se um pouco mais. No Porto, onde em 1999 não fora eleito para o Parlamento por escassos mil votos, esteve agora a dar uma mãozinha a João T. Lopes, número um da lista do Bloco na Invicta. Portas à moeda «Tem vantagens ser conhecido», admite, enquanto distribui panfletos no meio do trânsito da Júlio Dinis, no Porto. É hora de ponta, chove intensamente mas a recepção não podia ser mais positiva. «És um gajo simpático», atira-lhe um condutor que passa. Miguel já desviou o olhar para o carro de trás. Uma jovem abre a janela e sorri: «Sim, claro! Vou ler isto com atenção», diz-lhe, depois do apelo directo ao voto e do convite para ir «à festa de amanhã à noite». A chuva não pára, mas também não atrapalha a pequena comitiva do Bloco que acompanha Miguel Portas. «Ele é muito querido aqui na cidade», confirma uma das militantes. Na tasca Retiro do Bom Sucesso, um grupo de homens abre os braços para receber o candidato. «Temos de respeitar toda a gente», diz um deles. Joga-se a moedinha e, de copo de vinho na mão, Miguel não resiste à aposta e à rodada geral. Lá fora passa uma mulher baixa que recebe um folheto e, de sotaque carregado, atira a Miguel Portas: «Eu cá bou pôr em si!»

Graça Rosendo

Positivo Podem ser só meia dúzia e estarem sempre atrasados, pode chover e até faltar dinheiro. Os que estão presentes não desanimam em circunstância alguma. O BE é, definitivamente, um movimento empenhado. Desta vez, quer conquistar mais espaço. E decidiu (e bem!) alargar o leque de cabeças-de-cartaz. Estará o quarteto Louçã-Portas-Rosas-Fazenda pronto para a rotatividade?

Negativo Em baixo, no BE, esteve quase sempre a desorganização e o não cumprimento de horários. Miguel Portas cancelou a reunião com os trabalhadores da EPAL porque ocupou toda a manhã no encontro com... a administração! No dia seguinte, no Porto, era cabeça-de-cartaz da tertúlia no 'Piolho' e, por conta da agenda caótica, só lá esteve uns minutos e nem participou na conversa

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«Olha! Este é o irmão do outro!»

«Olha! Este é o irmão do outro!» Eleitora do Porto, quando vê Miguel Portas, candidato do BE «Sou o Portas, sim, mas o do lado esquerdo»

Resposta de Miguel à mesma senhora

«Retóricas libertadoras» Um discurso que serve a todos, estudantes universitários e povo que passa na rua Sérgio Granadeiro Miguel Portas em campanha: apesar dos atrasos (muitos), a campanha correu bem ao BE SE OS CIENTISTAS sociais têm ou não um papel político na sociedade - a esta questão, Ana Drago, parecendo ter dúvidas, não teve problemas em responder. A jovem candidata do Bloco de Esquerda, quarto lugar na lista de Lisboa, tinha pela frente aquilo que parecia ser uma prova de fogo: uma plateia de estudantes e professores do ISCTE, colegas de área científica e prováveis aspirantes a um papel (seja ele qual for) de intervenção na nossa sociedade. A apreensão de conhecimento, disse, não se faz sem a consciência de que se está de «um lado». SE OS CIENTISTAS sociais têm ou não um papel político na sociedade - a esta questão, Ana Drago, parecendo ter dúvidas, não teve problemas em responder. A jovem candidata do Bloco de Esquerda, quarto lugar na lista de Lisboa, tinha pela frente aquilo que parecia ser uma prova de fogo: uma plateia de estudantes e professores do ISCTE, colegas de área científica e prováveis aspirantes a um papel (seja ele qual for) de intervenção na nossa sociedade. A apreensão de conhecimento, disse, não se faz sem a consciência de que se está de O caminho destes cientistas sociais é longo - pelo que se percebeu dos dez minutos de intervenção da candidata - mas deve servir para ajudar a construir «retóricas de sentido positivo, retóricas libertadoras». Fez-se um curto silêncio. E Ana Drago conclui: «Acho que respondi!» Os presentes também acharam, porque ninguém levantou o dedo para tirar dúvidas. A sessão de campanha do Bloco era mais um debate, desta vez com universitários em Lisboa, e com a presença de Sérgio Godinho. Às «retóricas libertadoras» de Ana Drago seguiram-se outros longos minutos de tese, repartidos entre diferentes conceitos de trabalho e produção, projectos para a Educação e ideias sobre Segurança. Ana Drago passou as despesas da conversa para Miguel Portas, o terceiro candidato por Lisboa - afinal, era ele o cabeça-de-cartaz do acontecimento e, apesar de tudo, havia que fazer alguma campanha. Miguel falou sem limitações, com o à-vontade de quem, mesmo não dominando todos os temas, tem «experiência» suficiente para dominar as situações. Mostrou-o no ISCTE, no Retiro do Bom Sucesso, na Rua Júlio Dinis, e esteve lá perto na gravação de uma entrevista na NTV, que será emitida esta noite. O problema é que, entre esta competência e a tendência - será criativa? - para andar sempre a correr atrasado, sobra a Miguel Portas um cansaço visível. Ele é o director da campanha do Bloco de Esquerda: sabe, por isso, ao pormenor do tostão o que custaram os 120 «outdoors» do BE, com cinco impressões diferentes, («17 mil contos, quase metade de tudo o que gastámos»), ou a organização do comício da Aula Magna, em Lisboa («uns dois mil e 500 contos»). Nada comparado com os milhões das centenas de «outdoors» do PS ou do PSD ou com os espectáculos de 50 mil contos das respectivas convenções, naturalmente. Ele, que parece ter sido arredado desta campanha em nome da personalização em Francisco Louçã, afinal diz ter andado num «circuito paralelo», a abrir portas «antes da passagem do Chico» em zonas onde não havia Bloco e a criar núcleos onde nas anteriores eleições o BE mostrou ter condições para nascer. Esta semana, porém, o «circuito paralelo» passou para a linha da frente. E Miguel mostrou-se um pouco mais. No Porto, onde em 1999 não fora eleito para o Parlamento por escassos mil votos, esteve agora a dar uma mãozinha a João T. Lopes, número um da lista do Bloco na Invicta. Portas à moeda «Tem vantagens ser conhecido», admite, enquanto distribui panfletos no meio do trânsito da Júlio Dinis, no Porto. É hora de ponta, chove intensamente mas a recepção não podia ser mais positiva. «És um gajo simpático», atira-lhe um condutor que passa. Miguel já desviou o olhar para o carro de trás. Uma jovem abre a janela e sorri: «Sim, claro! Vou ler isto com atenção», diz-lhe, depois do apelo directo ao voto e do convite para ir «à festa de amanhã à noite». A chuva não pára, mas também não atrapalha a pequena comitiva do Bloco que acompanha Miguel Portas. «Ele é muito querido aqui na cidade», confirma uma das militantes. Na tasca Retiro do Bom Sucesso, um grupo de homens abre os braços para receber o candidato. «Temos de respeitar toda a gente», diz um deles. Joga-se a moedinha e, de copo de vinho na mão, Miguel não resiste à aposta e à rodada geral. Lá fora passa uma mulher baixa que recebe um folheto e, de sotaque carregado, atira a Miguel Portas: «Eu cá bou pôr em si!»

Graça Rosendo

Positivo Podem ser só meia dúzia e estarem sempre atrasados, pode chover e até faltar dinheiro. Os que estão presentes não desanimam em circunstância alguma. O BE é, definitivamente, um movimento empenhado. Desta vez, quer conquistar mais espaço. E decidiu (e bem!) alargar o leque de cabeças-de-cartaz. Estará o quarteto Louçã-Portas-Rosas-Fazenda pronto para a rotatividade?

Negativo Em baixo, no BE, esteve quase sempre a desorganização e o não cumprimento de horários. Miguel Portas cancelou a reunião com os trabalhadores da EPAL porque ocupou toda a manhã no encontro com... a administração! No dia seguinte, no Porto, era cabeça-de-cartaz da tertúlia no 'Piolho' e, por conta da agenda caótica, só lá esteve uns minutos e nem participou na conversa

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