Ferro diz que não se demite

04-06-2003
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Ferro Diz Que Não Se Demite

Por JOÃO PEDRO HENRIQUES, Nuno Sá Lourenço e São José Almeida

Sábado, 24 de Maio de 2003 Um recado para fora - mas também um recado para dentro do PS. Na reunião conjunta, anteontem à noite, da comissão politica do partido com o grupo parlamentar, Ferro Rodrigues levantou, por sua própria iniciativa, a questão da liderança do PS face ao "caso Paulo Pedroso" - questão que é, desde a primeira hora (e cada vez mais) matéria de imensos comentários velados entre os dirigentes. "Aqueles que pensavam que eu me iria demitir-se enganam-se. Este será o combate da minha vida", afirmou o líder socialista, numa intervenção que, pela sua extrema serenidade, contrastou profundamente, na visão de dirigentes socialistas ouvidos pelo PÚBLICO, com a de quarta-feira ao final da tarde, após uma reunião do secretariado nacional. Na reunião de anteontem poucas foram as vozes que se ouviram a criticar a estratégia do PS perante este caso. Mas mesmo assim surgiram alguns avisos, como, por exemplo, do eurodeputado António Campos, que, invocando a sua experiência na denúncia do caso das "vacas loucas" considerou muito importante o partido "ter provas" que confirmem a tese segundo a qual há "alguém" que está a manobrar a justiça para - como já disse Ferro - "arrasar" a investigação ao caso da pedofilia. Outra intervenção ouvida com atenção foi a de João Soares. O deputado disse que a bancada não deveria ter votado a favor do levantamento da imunidade parlamentar a Pedroso na parte em que esta admitia já uma possível prisão preventiva (que depois se confirmou). Por outras palavras: na visão do ex-presidente da Câmara de Lisboa, Pedroso deveria ter sido somente autorizado a prestar depoimentos. Se a isso se seguisse uma ordem de prisão preventiva, isso deveria ser novamente sujeito a votação. A reunião foi iniciada por Ferro Rodrigues que expôs a situação de Paulo Pedroso. Durante esta intervenção houve um momento de particular emoção na sala, considerado mesmo por alguns dos presentes como o momento de mais emotivo, foi quando Ferro Rodrigues relatou que Paulo Pedroso está detido numa cela de seis metros por seis metros e com um balde para fazer as suas necessidades fisiológicas. A explicação da situação foi também feita por António Costa e ainda por Jorge Lacão. Para além da intervenção de Ferro Rodrigues a intervenção mais aplaudida foi a de Ana Catarina Mendonça Mendes, deputada que namora com Pedroso. Ana Catarina Mendonça Mendes elogiou a coragem de Pedroso, Ferro, António Costa e Vieira da Silva pela forma digna como geriram toda a situação. Para a comunicação social, as funções de porta-voz da reunião foram assumidas por Manuel Alegre, que falou cerca da meia-noite. De acordo com Manuel Alegre, a situação "responsabiliza todos os órgãos de soberania e todos os partidos" por estar em causa a "subversão do Estado democrático". Num tom firme, apelou aos militantes para estarem preparados: "Que os militantes estejam atentos, preparados para qualquer eventualidade, para defender o Estado de direito, tal como fizemos em 1975". Lembrou que a luta anti-fascista tinha sido feita para acabar com comportamento que identificava agora: "Não se fez o 25 de Abril para vivermos num regime arbitrário, em que tudo é possível." Manuel Alegre disse recear que alguém estivesse a fazer uso de "falsificação de provas" e "manipulação de testemunhos" para "intoxicar o sistema judicial". A intenção era "descredibilizar o sistema de justiça" e principalmente "descredibilizar o processo de investigação sobre pedofilia". À saída da reunião partidária, António Costa, pressionou Souto Moura. Perante as declarações anteriores do procurador-geral da República, o líder parlamentar socialista reafirmou a sua certeza: "Eu sei do que estou a falar e sei que as escutas estão nos autos." Costa exigiu uma resposta rápida. "O senhor procurador terá a gentileza de confirmar nos autos. Poderá, por exemplo, confirmar que estão lá as duas conversas que tive com ele ontem de manhã", disse. Antes e após a reunião, os deputados e dirigentes socialistas viram-se confrontados com insultos muito violentos. Ao sair da reunião figuras como Almeida Santos, Francisco Assis, Manuel Alegre, foram apelidados de "paneleiros", "rabos", "porcos" e "filhos da puta" por pessoas que passavam de carro a essa hora no Largo do Rato. OUTROS TÍTULOS EM DESTAQUE Escutas abrem guerra entre PS e procurador

Líder socialista fala em "ataque selectivo" feito por "alguém a montante da justiça"

O número

Sindicato do Ministério Público apela à intervenção dos conselhos superiores

Tribunais de Instrução não têm terminais para acesso às escutas

Advogado de Paulo Pedroso recorre da prisão preventiva

PSD defende renúncia de Pedroso

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Por JOÃO PEDRO HENRIQUES, Nuno Sá Lourenço e São José Almeida

Sábado, 24 de Maio de 2003 Um recado para fora - mas também um recado para dentro do PS. Na reunião conjunta, anteontem à noite, da comissão politica do partido com o grupo parlamentar, Ferro Rodrigues levantou, por sua própria iniciativa, a questão da liderança do PS face ao "caso Paulo Pedroso" - questão que é, desde a primeira hora (e cada vez mais) matéria de imensos comentários velados entre os dirigentes. "Aqueles que pensavam que eu me iria demitir-se enganam-se. Este será o combate da minha vida", afirmou o líder socialista, numa intervenção que, pela sua extrema serenidade, contrastou profundamente, na visão de dirigentes socialistas ouvidos pelo PÚBLICO, com a de quarta-feira ao final da tarde, após uma reunião do secretariado nacional. Na reunião de anteontem poucas foram as vozes que se ouviram a criticar a estratégia do PS perante este caso. Mas mesmo assim surgiram alguns avisos, como, por exemplo, do eurodeputado António Campos, que, invocando a sua experiência na denúncia do caso das "vacas loucas" considerou muito importante o partido "ter provas" que confirmem a tese segundo a qual há "alguém" que está a manobrar a justiça para - como já disse Ferro - "arrasar" a investigação ao caso da pedofilia. Outra intervenção ouvida com atenção foi a de João Soares. O deputado disse que a bancada não deveria ter votado a favor do levantamento da imunidade parlamentar a Pedroso na parte em que esta admitia já uma possível prisão preventiva (que depois se confirmou). Por outras palavras: na visão do ex-presidente da Câmara de Lisboa, Pedroso deveria ter sido somente autorizado a prestar depoimentos. Se a isso se seguisse uma ordem de prisão preventiva, isso deveria ser novamente sujeito a votação. A reunião foi iniciada por Ferro Rodrigues que expôs a situação de Paulo Pedroso. Durante esta intervenção houve um momento de particular emoção na sala, considerado mesmo por alguns dos presentes como o momento de mais emotivo, foi quando Ferro Rodrigues relatou que Paulo Pedroso está detido numa cela de seis metros por seis metros e com um balde para fazer as suas necessidades fisiológicas. A explicação da situação foi também feita por António Costa e ainda por Jorge Lacão. Para além da intervenção de Ferro Rodrigues a intervenção mais aplaudida foi a de Ana Catarina Mendonça Mendes, deputada que namora com Pedroso. Ana Catarina Mendonça Mendes elogiou a coragem de Pedroso, Ferro, António Costa e Vieira da Silva pela forma digna como geriram toda a situação. Para a comunicação social, as funções de porta-voz da reunião foram assumidas por Manuel Alegre, que falou cerca da meia-noite. De acordo com Manuel Alegre, a situação "responsabiliza todos os órgãos de soberania e todos os partidos" por estar em causa a "subversão do Estado democrático". Num tom firme, apelou aos militantes para estarem preparados: "Que os militantes estejam atentos, preparados para qualquer eventualidade, para defender o Estado de direito, tal como fizemos em 1975". Lembrou que a luta anti-fascista tinha sido feita para acabar com comportamento que identificava agora: "Não se fez o 25 de Abril para vivermos num regime arbitrário, em que tudo é possível." Manuel Alegre disse recear que alguém estivesse a fazer uso de "falsificação de provas" e "manipulação de testemunhos" para "intoxicar o sistema judicial". A intenção era "descredibilizar o sistema de justiça" e principalmente "descredibilizar o processo de investigação sobre pedofilia". À saída da reunião partidária, António Costa, pressionou Souto Moura. Perante as declarações anteriores do procurador-geral da República, o líder parlamentar socialista reafirmou a sua certeza: "Eu sei do que estou a falar e sei que as escutas estão nos autos." Costa exigiu uma resposta rápida. "O senhor procurador terá a gentileza de confirmar nos autos. Poderá, por exemplo, confirmar que estão lá as duas conversas que tive com ele ontem de manhã", disse. Antes e após a reunião, os deputados e dirigentes socialistas viram-se confrontados com insultos muito violentos. Ao sair da reunião figuras como Almeida Santos, Francisco Assis, Manuel Alegre, foram apelidados de "paneleiros", "rabos", "porcos" e "filhos da puta" por pessoas que passavam de carro a essa hora no Largo do Rato. OUTROS TÍTULOS EM DESTAQUE Escutas abrem guerra entre PS e procurador

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