O "pensamento económico" de Pedro Santana Lopes

03-08-2004
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Entrevistas e artigos publicados pelo novo primeiro-ministro desde 1990

O "Pensamento Económico" de Pedro Santana Lopes EM DESTAQUE

Segunda-feira, 19 de Julho de 2004

Preocupado com os "sectores estratégicos" nacionais ameaçados pela invasão económica espanhola, o actual chefe do governo sustentou, há dois anos, a criação de um movimento em defesa de Portugal. Opositor do PEC, nem por isso deixa de elogiar o trabalho desenvolvido pela ministra Ferreira Leite

João Ramos de Almeida

O recém empossado primeiro-ministro não é um economista de formação. Nasceu em Lisboa, em 1956 e formou-se na Faculdade de Direito de Lisboa, segundo a sua biografia oficial, com uma média de 15 valores (em 1978). Não lhe são conhecidos escritos de índole económica, mas ao longo da sua carreira política colorida pelas lutas políticas e pelas guerras internas no PSD, de que é militante (com interrupções) desde os 20 anos, produziu várias apreciações sobre a economia nacional, os desígnios do País e os "dossiers" económicos mais polémicos. Essas reflexões ou afirmações apareceram em múltiplas crónicas e em entrevistas diversas na comunicação social, numa presença bastante prolixa, própria de quem, como ele afirmou, considera a política, o futebol e a comunicação como terrenos de massas, normais a quem procure a intervenção pública. Sem preocupações de exaustão, o PÚBLICO seleccionou a partir de escritos e entrevistas de Santana Lopes desde 1990 frases que ajudam a perceber o pensamento económico do novo primeiro-ministro de Portugal.

Santana Lopes defende que, "quer se queira quer não, o que distingue hoje os partidos são as pessoas que os representam; e o que os separa é um, ou uns, serem Poder e outro, ou outros, serem Oposição" (O Independente, 26/2/1999). Fazendo fé no que disse e escreveu, o chefe do novo executivo começou por ser, numa primeira fase, um político preocupado com os "sectores estratégicos" nacionais (que não definiu) ameaçados pela invasão económica espanhola, desconfiado com um progressivo federalismo europeu, explicitamente contra um Pacto de Estabilidade e Crescimento (PEC), que considerou desadequado a Portugal porque cerceava, limitava e coarctava o tecido produtivo nacional. Em contraponto, procurava um desígnio internacional para o século XXI centrado em África e no Brasil.

O liberalismo era uma "moda"?

Mais recentemente, Santana Lopes, revela algumas dificuldades em colocar em causa o PEC, refugiando-se numa revisão do documento em curso nas instâncias comunitárias e tende adquirir uma posição de continuidade, elogiando o trabalho desenvolvido pela própria ministra Ferreira Leite e os compromissos internacionais. Torna-se mesmo num "europeísta por convicção".

Confirmando a sua fama de homem de palavra fácil e promessas rápidas, o recém primeiro-ministro nunca teve pejos em criticar o governo socialista pela facilidade com que deixou os interesses estrangeiros entrar em Portugal e prometer diversas coisas que faria se estivesse no Governo (ver citações várias nestas páginas). Sustentou mesmo, há dois anos, a criação de um movimento em defesa de Portugal. Apesar de não ter estado presente no Convento do Beato quando foi apresentado o Compromisso Portugal foi às fileiras desse movimento que foi buscar um dos seus ministros, no caso António Mexia. A comunicação social chegou a falar de António Carrapatoso, outro dos líderes do movimento, como podendo integrar o executivo de Santana Lopes, mas tal não se confirmou.

Nos anos 90, o novo primeiro-ministro considerou o liberalismo como "moda", mas pugna por uma cada vez menor presença do Estado na sociedade (sem especificar como poderia manter em mãos nacionais os recursos estratégicos), por uma redução do número de funcionários públicos (sem dizer onde) e pela introdução do despedimento na Função Pública (sem explicar como). Começa por sustentar a promessa oficial do PSD de que a redução de impostos aligeirará a cobrança fiscal, mas quando assume o Governo afirma que terá de fazer contas para ver se reduz o IRS. O início de funções de Santana Lopes à frente do governo constitui uma oportunidade para confirmar ou infirmar os seus ditos e escritos na comunicação social ao longo de vários anos.

Entrevistas e artigos publicados pelo novo primeiro-ministro desde 1990

O "Pensamento Económico" de Pedro Santana Lopes EM DESTAQUE

Segunda-feira, 19 de Julho de 2004

Preocupado com os "sectores estratégicos" nacionais ameaçados pela invasão económica espanhola, o actual chefe do governo sustentou, há dois anos, a criação de um movimento em defesa de Portugal. Opositor do PEC, nem por isso deixa de elogiar o trabalho desenvolvido pela ministra Ferreira Leite

João Ramos de Almeida

O recém empossado primeiro-ministro não é um economista de formação. Nasceu em Lisboa, em 1956 e formou-se na Faculdade de Direito de Lisboa, segundo a sua biografia oficial, com uma média de 15 valores (em 1978). Não lhe são conhecidos escritos de índole económica, mas ao longo da sua carreira política colorida pelas lutas políticas e pelas guerras internas no PSD, de que é militante (com interrupções) desde os 20 anos, produziu várias apreciações sobre a economia nacional, os desígnios do País e os "dossiers" económicos mais polémicos. Essas reflexões ou afirmações apareceram em múltiplas crónicas e em entrevistas diversas na comunicação social, numa presença bastante prolixa, própria de quem, como ele afirmou, considera a política, o futebol e a comunicação como terrenos de massas, normais a quem procure a intervenção pública. Sem preocupações de exaustão, o PÚBLICO seleccionou a partir de escritos e entrevistas de Santana Lopes desde 1990 frases que ajudam a perceber o pensamento económico do novo primeiro-ministro de Portugal.

Santana Lopes defende que, "quer se queira quer não, o que distingue hoje os partidos são as pessoas que os representam; e o que os separa é um, ou uns, serem Poder e outro, ou outros, serem Oposição" (O Independente, 26/2/1999). Fazendo fé no que disse e escreveu, o chefe do novo executivo começou por ser, numa primeira fase, um político preocupado com os "sectores estratégicos" nacionais (que não definiu) ameaçados pela invasão económica espanhola, desconfiado com um progressivo federalismo europeu, explicitamente contra um Pacto de Estabilidade e Crescimento (PEC), que considerou desadequado a Portugal porque cerceava, limitava e coarctava o tecido produtivo nacional. Em contraponto, procurava um desígnio internacional para o século XXI centrado em África e no Brasil.

O liberalismo era uma "moda"?

Mais recentemente, Santana Lopes, revela algumas dificuldades em colocar em causa o PEC, refugiando-se numa revisão do documento em curso nas instâncias comunitárias e tende adquirir uma posição de continuidade, elogiando o trabalho desenvolvido pela própria ministra Ferreira Leite e os compromissos internacionais. Torna-se mesmo num "europeísta por convicção".

Confirmando a sua fama de homem de palavra fácil e promessas rápidas, o recém primeiro-ministro nunca teve pejos em criticar o governo socialista pela facilidade com que deixou os interesses estrangeiros entrar em Portugal e prometer diversas coisas que faria se estivesse no Governo (ver citações várias nestas páginas). Sustentou mesmo, há dois anos, a criação de um movimento em defesa de Portugal. Apesar de não ter estado presente no Convento do Beato quando foi apresentado o Compromisso Portugal foi às fileiras desse movimento que foi buscar um dos seus ministros, no caso António Mexia. A comunicação social chegou a falar de António Carrapatoso, outro dos líderes do movimento, como podendo integrar o executivo de Santana Lopes, mas tal não se confirmou.

Nos anos 90, o novo primeiro-ministro considerou o liberalismo como "moda", mas pugna por uma cada vez menor presença do Estado na sociedade (sem especificar como poderia manter em mãos nacionais os recursos estratégicos), por uma redução do número de funcionários públicos (sem dizer onde) e pela introdução do despedimento na Função Pública (sem explicar como). Começa por sustentar a promessa oficial do PSD de que a redução de impostos aligeirará a cobrança fiscal, mas quando assume o Governo afirma que terá de fazer contas para ver se reduz o IRS. O início de funções de Santana Lopes à frente do governo constitui uma oportunidade para confirmar ou infirmar os seus ditos e escritos na comunicação social ao longo de vários anos.

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