"Há sectores que servem os interesses do bloco central"

15-10-2003
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"Há Sectores Que Servem Os Interesses do Bloco Central"

Segunda-feira, 06 de Outubro de 2003

"O António Mexia foi nomeado pelo PS para a Petrogal e ficou lá. O Jorge Armindo na Portucel o mesmo... porque há interesses que servem a grupos do PS e do PSD", acusa o ex-porta-voz dos socialistas para a política industrial.

A.C. e C.F.

PÚBLICO - Concorda com o caminho que se pretende seguir na energia?

Henrique Neto - Sou adepto de que devia criar-se uma "holding" que englobasse a EDP, o gás, e a Petrogal, de capitais nacionais, com cruzamento de bancos e da CGD. E com um poder único. Resultaria numa empresa muito poderosa em termos ibéricos. O Estado tem poder para fazer uma coisa destas. Tinha, naturalmente, de negociar com os grupos empresariais portugueses e motivá-los para uma grande operação de defesa dos interesse nacionais, não há nenhuma razão para que o Governo não faça isso. Mas por agora ninguém sabe o que é que Governo está a negociar, o que posso dizer é que o passado não nos dá garantias de que vá no bom caminho. Andamos sempre a saltar de solução, para solução. Isto enfraquece-nos. Pina Moura fez a associação com a ENI e não foi por estupidez. Há interesses nos vários governos, que se demitiram de intervir. E veja que os próprios gestores se mantiveram. O António Mexia foi nomeado pelo PS para a Petrogal e ficou lá. O Jorge Armindo na Portucel o mesmo... Há sectores que servem os interesses do bloco central.

- Está a pensar no financiamento dos partidos?

- Sim, mas também noutros interesses. É lucrativo, porque há muita gente que foi para as privatizações para vender depois as empresas. A Petrocontrol, onde estava o GES, comprou por 30 milhões e vendeu por 200.

- Pina Moura sugeriu a venda

- Pina Moura tinha os seus interesses e sugeriu aos privados, alegando o interesse nacional, que vendessem. E os privados conseguiram ganhar dinheiro de consciência tranquila. É claro que alguns estavam naquilo a sério, havendo quem não quisesse vender, como o Patrick Monteiro de Barros ou o Boullosa, este não vendeu mesmo. Mas os outros conseguiram pôr um governante, sem grande vergonha aliás, que é o Pina Moura, a fazer a vontade aos privados... É uma mancha no Governo de Guterres de que ele não se livra.

- Como avalia o modelo de privatização da Portucel?

- Havia duas empresas, uma boa, que era Soporcel, outra má, que era a Portucel. Pina Moura pôs à frente da Portucel Jorge Armindo, depois o Estado português comprou a posição dos estrangeiros na Soporcel, ou seja, fez uma espécie de nacionalização, e colocou-a sob domínio da Portucel, ou seja, sob o comando de Jorge Armindo. Põem um miúdo a mandar no engenheiro Álvaro Barreto, há 30 anos na Soporcel, que criou uma boa empresa e que sabe do negócio. Entretanto, Belmiro de Azevedo sabia que as empresas eram para privatizar e comprou uma posição na Soporcel, agora tem 30 por cento da Portucel. Pina Moura escolheu Jorge Armindo para a Portucel, e este escolheu outro amigo, Paulo Fernandes, para a privatização. Conseguem arranjar uma forma para que todos desistiam da corrida e Paulo Fernandes fica sozinho associado a uma empresa de capital de risco, que tinha comprado há cinco anos empresas falidas na Europa, e que agora quer ver-se livre dos activos. O Estado português põe-se a jeito ao fazer um processo de privatização por entrada de activos, ou seja, ao jeito do Jorge Armindo, do amigo e da empresa de capital de risco. Como é possível ter uma estratégia de privatização e não procurar o apoio de um Álvaro Barreto e de um Deslandes, com 30 anos de provas dadas no papel. E optar por pôr a gerir o sector Jorge Armindo. Alguém no seu juizo pode aceitar isto? Eu não.

- Mas Belmiro de Azevedo se lhe passar pela cabeça vende...

- Também é verdade.

- O modelo de privatização não tem vantagens?

- Portugal fica com um mercado de dois mil milhões de dólares de papel, em vez de mil milhões. É positivo. Mas à custa de quê? A que preço?

- Porque é que a oposição não diz nada?

- É parte dos interesses. Porque é que acha que o PSD mantém algumas nomeações feitas pelo PS? O PS está manietado e há interesses que servem a grupos do PS e do PSD.

- Poderá haver uma pacto de silêncio?

- O PS não fala de nada que seja importante. Não se deve fazer oposição, por fazer oposição. Deve fazer-se oposição com aquilo que conta, e a questão da Portucel é de um escândalo tal que deveria ser analisada. Agora, o PS de Ferro Rodrigues não fez a ruptura com o passado... Se a oposição levantar esta questão, a primeira resposta que obterá é que foram eles que fizeram o erro.

"Há Sectores Que Servem Os Interesses do Bloco Central"

Segunda-feira, 06 de Outubro de 2003

"O António Mexia foi nomeado pelo PS para a Petrogal e ficou lá. O Jorge Armindo na Portucel o mesmo... porque há interesses que servem a grupos do PS e do PSD", acusa o ex-porta-voz dos socialistas para a política industrial.

A.C. e C.F.

PÚBLICO - Concorda com o caminho que se pretende seguir na energia?

Henrique Neto - Sou adepto de que devia criar-se uma "holding" que englobasse a EDP, o gás, e a Petrogal, de capitais nacionais, com cruzamento de bancos e da CGD. E com um poder único. Resultaria numa empresa muito poderosa em termos ibéricos. O Estado tem poder para fazer uma coisa destas. Tinha, naturalmente, de negociar com os grupos empresariais portugueses e motivá-los para uma grande operação de defesa dos interesse nacionais, não há nenhuma razão para que o Governo não faça isso. Mas por agora ninguém sabe o que é que Governo está a negociar, o que posso dizer é que o passado não nos dá garantias de que vá no bom caminho. Andamos sempre a saltar de solução, para solução. Isto enfraquece-nos. Pina Moura fez a associação com a ENI e não foi por estupidez. Há interesses nos vários governos, que se demitiram de intervir. E veja que os próprios gestores se mantiveram. O António Mexia foi nomeado pelo PS para a Petrogal e ficou lá. O Jorge Armindo na Portucel o mesmo... Há sectores que servem os interesses do bloco central.

- Está a pensar no financiamento dos partidos?

- Sim, mas também noutros interesses. É lucrativo, porque há muita gente que foi para as privatizações para vender depois as empresas. A Petrocontrol, onde estava o GES, comprou por 30 milhões e vendeu por 200.

- Pina Moura sugeriu a venda

- Pina Moura tinha os seus interesses e sugeriu aos privados, alegando o interesse nacional, que vendessem. E os privados conseguiram ganhar dinheiro de consciência tranquila. É claro que alguns estavam naquilo a sério, havendo quem não quisesse vender, como o Patrick Monteiro de Barros ou o Boullosa, este não vendeu mesmo. Mas os outros conseguiram pôr um governante, sem grande vergonha aliás, que é o Pina Moura, a fazer a vontade aos privados... É uma mancha no Governo de Guterres de que ele não se livra.

- Como avalia o modelo de privatização da Portucel?

- Havia duas empresas, uma boa, que era Soporcel, outra má, que era a Portucel. Pina Moura pôs à frente da Portucel Jorge Armindo, depois o Estado português comprou a posição dos estrangeiros na Soporcel, ou seja, fez uma espécie de nacionalização, e colocou-a sob domínio da Portucel, ou seja, sob o comando de Jorge Armindo. Põem um miúdo a mandar no engenheiro Álvaro Barreto, há 30 anos na Soporcel, que criou uma boa empresa e que sabe do negócio. Entretanto, Belmiro de Azevedo sabia que as empresas eram para privatizar e comprou uma posição na Soporcel, agora tem 30 por cento da Portucel. Pina Moura escolheu Jorge Armindo para a Portucel, e este escolheu outro amigo, Paulo Fernandes, para a privatização. Conseguem arranjar uma forma para que todos desistiam da corrida e Paulo Fernandes fica sozinho associado a uma empresa de capital de risco, que tinha comprado há cinco anos empresas falidas na Europa, e que agora quer ver-se livre dos activos. O Estado português põe-se a jeito ao fazer um processo de privatização por entrada de activos, ou seja, ao jeito do Jorge Armindo, do amigo e da empresa de capital de risco. Como é possível ter uma estratégia de privatização e não procurar o apoio de um Álvaro Barreto e de um Deslandes, com 30 anos de provas dadas no papel. E optar por pôr a gerir o sector Jorge Armindo. Alguém no seu juizo pode aceitar isto? Eu não.

- Mas Belmiro de Azevedo se lhe passar pela cabeça vende...

- Também é verdade.

- O modelo de privatização não tem vantagens?

- Portugal fica com um mercado de dois mil milhões de dólares de papel, em vez de mil milhões. É positivo. Mas à custa de quê? A que preço?

- Porque é que a oposição não diz nada?

- É parte dos interesses. Porque é que acha que o PSD mantém algumas nomeações feitas pelo PS? O PS está manietado e há interesses que servem a grupos do PS e do PSD.

- Poderá haver uma pacto de silêncio?

- O PS não fala de nada que seja importante. Não se deve fazer oposição, por fazer oposição. Deve fazer-se oposição com aquilo que conta, e a questão da Portucel é de um escândalo tal que deveria ser analisada. Agora, o PS de Ferro Rodrigues não fez a ruptura com o passado... Se a oposição levantar esta questão, a primeira resposta que obterá é que foram eles que fizeram o erro.

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