Ferro Rodrigues quer ser ouvido por Souto de Moura

09-06-2003
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Ferro Rodrigues Quer Ser Ouvido por Souto de Moura

Por MARIA JOSÉ OLIVEIRA*

Segunda-feira, 26 de Maio de 2003

Ferro Rodrigues quer saber "toda a verdade". E não admite que recaia sobre si qualquer suspeita. Por isso, vai solicitar uma audiência ao procurador-geral da República, Souto de Moura, para deixar "completamente claro" que não tem qualquer ligação com "qualquer comportamento censurável". Neste sentido, o secretário-geral do PS pretende também conhecer "toda a verdade" sobre as insinuações que lhe imputam um alegado envolvimento na rede de pedofilia, de forma a "proceder judicialmente contra a difamação e os difamadores".

Num tom que foi ao encontro da promessa de demonstrar "firmeza", Ferro Rodrigues anunciou ontem, no início da reunião da Comissão Nacional do PS, em Lisboa, que quer ser ouvido por Souto de Moura, já que tem "o direito e o dever de saber toda a verdade". Um dia depois do semanário "Expresso" ter referido a eventual existência de uma alusão "indirecta" a Ferro Rodrigues por uma alegada testemunha do processo Casa Pia, o líder socialista reafirmou querer conhecer as razões do envolvimento do seu nome na investigação e saber quais "as motivações que estão por detrás de quem o fez". "Não me basta que se afirme que não sou suspeito de crimes", sublinhou, numa clara resposta às recentes declarações de Souto de Moura, que, em várias entrevistas, disse que Ferro não está sob suspeição.

Apesar do perfil visivelmente abalado, o secretário-geral socialista salientou que o partido deve prosseguir o seu trabalho regular, apelando aos militantes para, "com todo o vigor", dar continuidade às actividades do PS. Contrariando a ideia de uma eventual imobilização, Ferro apontou o "momento alto" das Jornadas Parlamentares, em Junho próximo, e o início da realização de reuniões entre o Secretariado Nacional e os secretariados das federações distritais, no final desta semana. "Eu próprio estarei envolvido em diversas reuniões ligadas à competitividade da nossa economia", afirmou, em jeito de exemplo.

Num discurso que ficou marcado pelo voto de confiança na Justiça, Ferro não precisou dados sobre aquilo que o partido considera ser uma "calúnia", declarando somente que o PS não possui "nenhum outro adversário senão quem dá origem a estas mentiras". "Não contem connosco para descredibilizar a justiça e qualquer investigação, nomeadamente os crimes de pedofilia", disse. E destacou igualmente a recusa em proceder a uma "mudança legislativa sobre pressão de quem quer que seja", acrescentando que o contributo do PS para a melhoria do sistema de justiça apenas será dado sob "a serenidade do normal funcionamento do processo legislativo".

Numa aparente resposta aos apelos de Jorge Sampaio, que anteontem pediu "serenidade", o dirigente socialista afirmou "comungar" dos alertas, asseverando, porém, que "ninguém pense que isso significa, da nossa parte, menor determinação ou qualquer hesitação na exigência do esclarecimento da verdade". Neste contexto, Ferro haveria de regressar, no final da sua intervenção, às promessas de "determinação política, frontalidade e uma inabalável vontade em vencer esta crise" que atinge o partido. "Seremos serenos, racionais e responsáveis", garantiu, reagindo, contudo, a algumas críticas internas com a afirmação: "Não me peçam para apagar a minha emoção, quando a ela tenho direito".

Apoiando-se nas expressões "calúnia", "insinuações" e "mentira" para ilustrar as acusações que alvejam o PS, o líder explicou que não foi somente no "Expresso" que o seu nome surgiu como estando envolvido em "actividades criminosas": "Era já o documento que solicitou a libertação da imunidade parlamentar de Paulo Pedroso que me associava a tentativas de encobrimento de actividades criminosas", afirmou em tom irado, acrescentando que a referência ao seu nome foi feita de forma "grosseira e malévola, mas prontamente desmontada".

O elogio à "lição de coragem" e à "dignidade pessoal e política" de Paulo Pedroso foi interrompido por uma autêntica ovação por parte dos socialistas presentes na Comissão Nacional, que, no final do discurso de Ferro Rodrigues, aplaudiram de pé um notoriamente comovido secretário-geral.

À excepção de João Soares (ver texto ao lado), as intervenções que se seguiram pautaram-se pelo reforço das declarações de Ferro, mas ao que o PÚBLICO conseguiu apurar três dirigentes do PS - Maria de Belém, Alberto Martins e Jorge Lacão - chegaram a contestar a legislação que possibilita a existência de escutas telefónicas a pessoas que não estão sob suspeita. Jorge Lacão, jurista, terá mesmo sugerido a "clarificação" da lei, embora não tenha apontado prazos. Também as palavras de Helena Roseta terão introduzido novos alertas: a deputada declarou que é necessário recuar até à década de 80 para renovar as investigações sobre o processo da Casa Pia aberto em 1982.

com J.P.H

Ferro Rodrigues Quer Ser Ouvido por Souto de Moura

Por MARIA JOSÉ OLIVEIRA*

Segunda-feira, 26 de Maio de 2003

Ferro Rodrigues quer saber "toda a verdade". E não admite que recaia sobre si qualquer suspeita. Por isso, vai solicitar uma audiência ao procurador-geral da República, Souto de Moura, para deixar "completamente claro" que não tem qualquer ligação com "qualquer comportamento censurável". Neste sentido, o secretário-geral do PS pretende também conhecer "toda a verdade" sobre as insinuações que lhe imputam um alegado envolvimento na rede de pedofilia, de forma a "proceder judicialmente contra a difamação e os difamadores".

Num tom que foi ao encontro da promessa de demonstrar "firmeza", Ferro Rodrigues anunciou ontem, no início da reunião da Comissão Nacional do PS, em Lisboa, que quer ser ouvido por Souto de Moura, já que tem "o direito e o dever de saber toda a verdade". Um dia depois do semanário "Expresso" ter referido a eventual existência de uma alusão "indirecta" a Ferro Rodrigues por uma alegada testemunha do processo Casa Pia, o líder socialista reafirmou querer conhecer as razões do envolvimento do seu nome na investigação e saber quais "as motivações que estão por detrás de quem o fez". "Não me basta que se afirme que não sou suspeito de crimes", sublinhou, numa clara resposta às recentes declarações de Souto de Moura, que, em várias entrevistas, disse que Ferro não está sob suspeição.

Apesar do perfil visivelmente abalado, o secretário-geral socialista salientou que o partido deve prosseguir o seu trabalho regular, apelando aos militantes para, "com todo o vigor", dar continuidade às actividades do PS. Contrariando a ideia de uma eventual imobilização, Ferro apontou o "momento alto" das Jornadas Parlamentares, em Junho próximo, e o início da realização de reuniões entre o Secretariado Nacional e os secretariados das federações distritais, no final desta semana. "Eu próprio estarei envolvido em diversas reuniões ligadas à competitividade da nossa economia", afirmou, em jeito de exemplo.

Num discurso que ficou marcado pelo voto de confiança na Justiça, Ferro não precisou dados sobre aquilo que o partido considera ser uma "calúnia", declarando somente que o PS não possui "nenhum outro adversário senão quem dá origem a estas mentiras". "Não contem connosco para descredibilizar a justiça e qualquer investigação, nomeadamente os crimes de pedofilia", disse. E destacou igualmente a recusa em proceder a uma "mudança legislativa sobre pressão de quem quer que seja", acrescentando que o contributo do PS para a melhoria do sistema de justiça apenas será dado sob "a serenidade do normal funcionamento do processo legislativo".

Numa aparente resposta aos apelos de Jorge Sampaio, que anteontem pediu "serenidade", o dirigente socialista afirmou "comungar" dos alertas, asseverando, porém, que "ninguém pense que isso significa, da nossa parte, menor determinação ou qualquer hesitação na exigência do esclarecimento da verdade". Neste contexto, Ferro haveria de regressar, no final da sua intervenção, às promessas de "determinação política, frontalidade e uma inabalável vontade em vencer esta crise" que atinge o partido. "Seremos serenos, racionais e responsáveis", garantiu, reagindo, contudo, a algumas críticas internas com a afirmação: "Não me peçam para apagar a minha emoção, quando a ela tenho direito".

Apoiando-se nas expressões "calúnia", "insinuações" e "mentira" para ilustrar as acusações que alvejam o PS, o líder explicou que não foi somente no "Expresso" que o seu nome surgiu como estando envolvido em "actividades criminosas": "Era já o documento que solicitou a libertação da imunidade parlamentar de Paulo Pedroso que me associava a tentativas de encobrimento de actividades criminosas", afirmou em tom irado, acrescentando que a referência ao seu nome foi feita de forma "grosseira e malévola, mas prontamente desmontada".

O elogio à "lição de coragem" e à "dignidade pessoal e política" de Paulo Pedroso foi interrompido por uma autêntica ovação por parte dos socialistas presentes na Comissão Nacional, que, no final do discurso de Ferro Rodrigues, aplaudiram de pé um notoriamente comovido secretário-geral.

À excepção de João Soares (ver texto ao lado), as intervenções que se seguiram pautaram-se pelo reforço das declarações de Ferro, mas ao que o PÚBLICO conseguiu apurar três dirigentes do PS - Maria de Belém, Alberto Martins e Jorge Lacão - chegaram a contestar a legislação que possibilita a existência de escutas telefónicas a pessoas que não estão sob suspeita. Jorge Lacão, jurista, terá mesmo sugerido a "clarificação" da lei, embora não tenha apontado prazos. Também as palavras de Helena Roseta terão introduzido novos alertas: a deputada declarou que é necessário recuar até à década de 80 para renovar as investigações sobre o processo da Casa Pia aberto em 1982.

com J.P.H

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