EXPRESSO: Cartaz

06-09-2002
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ACTUAL TEMA DA SEMANA A escrita das imagens Três novas obras discutem o presente e o futuro da RTP (Minerva de Coimbra, 2002, 151 págs., €14,50; Oficina do Livro, 2002, 181 págs., €13; Editorial Notícias, 2002, 222 págs., €14) José Gabriel Viegas

ANA BAIÃO Nuno Goulart Brandão No momento em que o debate sobre o futuro da RTP e as modalidades do prosseguimento do serviço público de televisão se mantêm no primeiro plano da actualidade, são publicados três livros que, cada um a seu modo, podem dar úteis contributos para este debate. Trata-se de Valerá a Pena Desmenti-los?, de Alberto Arons de Carvalho, RTP: O Fim Anunciado, de José Manuel Barata-Feyo, e O Espectáculo das Notícias, de Nuno Goulart Brandão. No momento em que o debate sobre o futuro da RTP e as modalidades do prosseguimento do serviço público de televisão se mantêm no primeiro plano da actualidade, são publicados três livros que, cada um a seu modo, podem dar úteis contributos para este debate. Trata-se de, de Alberto Arons de Carvalho,, de José Manuel Barata-Feyo, e, de Nuno Goulart Brandão. Embora publicados já em plena controvérsia sobre os projectos do actual Governo para reformulação do serviço público de televisão, foram escritos em momentos distintos e têm características e conteúdos de natureza diferente: apenas o livro de Arons de Carvalho é totalmente escrito nos últimos tempos, sendo que o de José Manuel Barata-Feyo é constituído por um conjunto de crónicas e artigos publicados em jornais e revistas desde 1984 até ao início de 2002 e o de Nuno Goulart Brandão resulta de uma tese de mestrado desenvolvida ao longo de 2001. Em comum têm, sobretudo, a defesa da manutenção de um serviço público de televisão prestado pelos dois canais da RTP. Arons de Carvalho Valerá a Pena Desmenti-los?, do ex-secretário de Estado da Comunicação Social dos Governos de António Guterres, foi o primeiro a sair. Escrito em pouco mais de dois meses, após a queda do Governo de que fazia parte, pretende representar uma forma de afirmação do conjunto de políticas defendidas pelo autor. «Nessa vertente, é claramente um livro de combate», afirma Arons de Carvalho, acrescentando: «E de legítima defesa.» Este aspecto valeu-lhe algumas críticas, sobretudo de carácter político. Mas, independentemente do fundamento dessas críticas políticas e de algumas fragilidades do livro, ele não deixa de conter elementos importantes para a compreensão de seis anos de políticas, erradas ou não, para o sector. Mesmo que não se concorde com o autor nem com os fundamentos da sua refutação às acusações de que os seus Governos foram alvo. , do ex-secretário de Estado da Comunicação Social dos Governos de António Guterres, foi o primeiro a sair. Escrito em pouco mais de dois meses, após a queda do Governo de que fazia parte, pretende representar uma forma de afirmação do conjunto de políticas defendidas pelo autor. «Nessa vertente, é claramente um livro de combate», afirma Arons de Carvalho, acrescentando: «E de legítima defesa.» Este aspecto valeu-lhe algumas críticas, sobretudo de carácter político. Mas, independentemente do fundamento dessas críticas políticas e de algumas fragilidades do livro, ele não deixa de conter elementos importantes para a compreensão de seis anos de políticas, erradas ou não, para o sector. Mesmo que não se concorde com o autor nem com os fundamentos da sua refutação às acusações de que os seus Governos foram alvo. José Manuel Barata-Feyo Quem, provavelmente, não concordará com ele é José Manuel Barata-Feyo, que, ao longo de 181 páginas de crónicas e artigos publicados desde 1984, não poupa os diversos poderes políticos, incluindo os socialistas de Arons de Carvalho, responsáveis pela gestão - ou pela destruição, como diz - da RTP. No seu peculiar estilo acutilante e polémico, Barata-Feyo denuncia causas e responsabilidades longínquas - «O estatuto da RTP é filho da democrática e comum incapacidade dos partidos para resistir à tentação totalitária», ou «Os principais responsáveis pela falência da RTP são o PSD e o PS» - ou datadas dos últimos dez anos: «A RTP foi morta. Não por um tiro assassino e misericordioso, mas através de um longo e premeditado processo de asfixia que se estendeu por uma década - os anos do aparecimento e do triunfo das televisões comerciais em Portugal.» Tratar-se-ia, portanto, de uma longa agonia, de um processo de «asfixia» denunciada pelo autor nas crónicas e artigos agora reunidos em livro. «Não há nada (do que actualmente se passa) que, há mais de uma década, não tivéssemos previsto e para que não tivéssemos alertado», escreve, acrescentando que não obteve qualquer resposta da RTP, «excepto algumas punições, ameaças de despedimento e reduções de salário». Mas são abordados outros temas, como os da censura a uma Grande Reportagem realizada em 1984 sobre Angola e a UNITA, a questão da tese da sabotagem em Camarate, a violência, o mau gosto, o sensacionalismo e o seguidismo do serviço público em relação à estratégia das estações privadas para captarem audiências. Quem, provavelmente, não concordará com ele é José Manuel Barata-Feyo, que, ao longo de 181 páginas de crónicas e artigos publicados desde 1984, não poupa os diversos poderes políticos, incluindo os socialistas de Arons de Carvalho, responsáveis pela gestão - ou pela destruição, como diz - da RTP. No seu peculiar estilo acutilante e polémico, Barata-Feyo denuncia causas e responsabilidades longínquas - «O estatuto da RTP é filho da democrática e comum incapacidade dos partidos para resistir à tentação totalitária», ou «Os principais responsáveis pela falência da RTP são o PSD e o PS» - ou datadas dos últimos dez anos: «A RTP foi morta. Não por um tiro assassino e misericordioso, mas através de um longo e premeditado processo de asfixia que se estendeu por uma década - os anos do aparecimento e do triunfo das televisões comerciais em Portugal.» Tratar-se-ia, portanto, de uma longa agonia, de um processo de «asfixia» denunciada pelo autor nas crónicas e artigos agora reunidos em livro. «Não há nada (do que actualmente se passa) que, há mais de uma década, não tivéssemos previsto e para que não tivéssemos alertado», escreve, acrescentando que não obteve qualquer resposta da RTP, «excepto algumas punições, ameaças de despedimento e reduções de salário». Mas são abordados outros temas, como os da censura a uma Grande Reportagem realizada em 1984 sobre Angola e a UNITA, a questão da tese da sabotagem em Camarate, a violência, o mau gosto, o sensacionalismo e o seguidismo do serviço público em relação à estratégia das estações privadas para captarem audiências. Este «seguidismo» ou, pelo menos, «incapacidade alternativa» da informação da RTP perante as estratégias agressivas (e, aprovem-se ou não, certamente inovadoras) das suas concorrentes é, curiosamente, confirmado no excelente ensaio de Nuno Goulart Brandão, O Espectáculo das Notícias - A Televisão Generalista e a Abertura dos Telejornais. Num estudo efectuado durante um horizonte temporal de seis meses sobre 546 aberturas dos telejornais da RTP1, SIC e TVI, verifica-se com efeito que são mínimas as diferenças na hierarquia das categorias noticiosas dos telejornais de cada uma das estações e nos espaços que lhes são atribuídos. Acidentes e catástrofes são os temas principais de abertura dos noticiários dos três canais, do mesmo modo que o desporto (essencialmente futebol) ocupa sensivelmente a mesma percentagem de aberturas. No seu livro, Nuno Goulart Brandão propõe uma aprofundada reflexão sobre as prioridades informativas dominantes na informação televisiva portuguesa. E enquadra essa reflexão num contexto mais vasto: o da evolução das tendências da informação e programação televisiva internacional. Uma evolução em que se assiste a uma acentuada diminuição do espaço para a contextualização dos acontecimentos, em que as notícias são encaradas como mais uma «mercadoria» no «palco do espectáculo». Objecto comercial que corresponde a uma forte procura social, a televisão passou de «uma lógica de serviço pedagógico e de entretenimento dado ao público com meios modestos a uma lógica de prestígio e de rentabilidade». E, acrescenta, «entrámos num espaço televisivo em que predomina o registo da 'emoção', do 'espectacular' e do 'prazer'», em detrimento da razão e da transmissão do conhecimento. «A televisão dá-nos a imagem da realidade e permite a modificação da representação do mundo. Torna-se, hoje, numa das principais fontes de construção da realidade social, mediante a difusão de diferentes modelos de comportamento, hábitos de vida, opiniões diversas e estilos de vida. A comunicação televisiva torna-se assim numa forma de comunicação espectáculo, pois surge no ecrã como uma mistura de informação e ficção, entrando sobretudo no espaço privado, modificando o lugar e a natureza do espectáculo da nossa sociedade, ou seja, confunde a própria realidade com a ficção ao transformar a vida em espectáculo», escreve Nuno Goulart Brandão. No meio de uma controvérsia frequentemente mais emotiva do que racional, este ensaio constitui uma excelente e rigorosa base de reflexão para o debate sobre o serviço público de televisão. 5 Este «seguidismo» ou, pelo menos, «incapacidade alternativa» da informação da RTP perante as estratégias agressivas (e, aprovem-se ou não, certamente inovadoras) das suas concorrentes é, curiosamente, confirmado no excelente ensaio de Nuno Goulart Brandão,. Num estudo efectuado durante um horizonte temporal de seis meses sobre 546 aberturas dos telejornais da RTP1, SIC e TVI, verifica-se com efeito que são mínimas as diferenças na hierarquia das categorias noticiosas dos telejornais de cada uma das estações e nos espaços que lhes são atribuídos. Acidentes e catástrofes são os temas principais de abertura dos noticiários dos três canais, do mesmo modo que o desporto (essencialmente futebol) ocupa sensivelmente a mesma percentagem de aberturas. No seu livro, Nuno Goulart Brandão propõe uma aprofundada reflexão sobre as prioridades informativas dominantes na informação televisiva portuguesa. E enquadra essa reflexão num contexto mais vasto: o da evolução das tendências da informação e programação televisiva internacional. Uma evolução em que se assiste a uma acentuada diminuição do espaço para a contextualização dos acontecimentos, em que as notícias são encaradas como mais uma «mercadoria» no «palco do espectáculo». Objecto comercial que corresponde a uma forte procura social, a televisão passou de «uma lógica de serviço pedagógico e de entretenimento dado ao público com meios modestos a uma lógica de prestígio e de rentabilidade». E, acrescenta, «entrámos num espaço televisivo em que predomina o registo da 'emoção', do 'espectacular' e do 'prazer'», em detrimento da razão e da transmissão do conhecimento. «A televisão dá-nos a imagem da realidade e permite a modificação da representação do mundo. Torna-se, hoje, numa das principais fontes de construção da realidade social, mediante a difusão de diferentes modelos de comportamento, hábitos de vida, opiniões diversas e estilos de vida. A comunicação televisiva torna-se assim numa forma de comunicação espectáculo, pois surge no ecrã como uma mistura de informação e ficção, entrando sobretudo no espaço privado, modificando o lugar e a natureza do espectáculo da nossa sociedade, ou seja, confunde a própria realidade com a ficção ao transformar a vida em espectáculo», escreve Nuno Goulart Brandão. No meio de uma controvérsia frequentemente mais emotiva do que racional, este ensaio constitui uma excelente e rigorosa base de reflexão para o debate sobre o serviço público de televisão.

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ACTUAL TEMA DA SEMANA A escrita das imagens Três novas obras discutem o presente e o futuro da RTP (Minerva de Coimbra, 2002, 151 págs., €14,50; Oficina do Livro, 2002, 181 págs., €13; Editorial Notícias, 2002, 222 págs., €14) José Gabriel Viegas

ANA BAIÃO Nuno Goulart Brandão No momento em que o debate sobre o futuro da RTP e as modalidades do prosseguimento do serviço público de televisão se mantêm no primeiro plano da actualidade, são publicados três livros que, cada um a seu modo, podem dar úteis contributos para este debate. Trata-se de Valerá a Pena Desmenti-los?, de Alberto Arons de Carvalho, RTP: O Fim Anunciado, de José Manuel Barata-Feyo, e O Espectáculo das Notícias, de Nuno Goulart Brandão. No momento em que o debate sobre o futuro da RTP e as modalidades do prosseguimento do serviço público de televisão se mantêm no primeiro plano da actualidade, são publicados três livros que, cada um a seu modo, podem dar úteis contributos para este debate. Trata-se de, de Alberto Arons de Carvalho,, de José Manuel Barata-Feyo, e, de Nuno Goulart Brandão. Embora publicados já em plena controvérsia sobre os projectos do actual Governo para reformulação do serviço público de televisão, foram escritos em momentos distintos e têm características e conteúdos de natureza diferente: apenas o livro de Arons de Carvalho é totalmente escrito nos últimos tempos, sendo que o de José Manuel Barata-Feyo é constituído por um conjunto de crónicas e artigos publicados em jornais e revistas desde 1984 até ao início de 2002 e o de Nuno Goulart Brandão resulta de uma tese de mestrado desenvolvida ao longo de 2001. Em comum têm, sobretudo, a defesa da manutenção de um serviço público de televisão prestado pelos dois canais da RTP. Arons de Carvalho Valerá a Pena Desmenti-los?, do ex-secretário de Estado da Comunicação Social dos Governos de António Guterres, foi o primeiro a sair. Escrito em pouco mais de dois meses, após a queda do Governo de que fazia parte, pretende representar uma forma de afirmação do conjunto de políticas defendidas pelo autor. «Nessa vertente, é claramente um livro de combate», afirma Arons de Carvalho, acrescentando: «E de legítima defesa.» Este aspecto valeu-lhe algumas críticas, sobretudo de carácter político. Mas, independentemente do fundamento dessas críticas políticas e de algumas fragilidades do livro, ele não deixa de conter elementos importantes para a compreensão de seis anos de políticas, erradas ou não, para o sector. Mesmo que não se concorde com o autor nem com os fundamentos da sua refutação às acusações de que os seus Governos foram alvo. , do ex-secretário de Estado da Comunicação Social dos Governos de António Guterres, foi o primeiro a sair. Escrito em pouco mais de dois meses, após a queda do Governo de que fazia parte, pretende representar uma forma de afirmação do conjunto de políticas defendidas pelo autor. «Nessa vertente, é claramente um livro de combate», afirma Arons de Carvalho, acrescentando: «E de legítima defesa.» Este aspecto valeu-lhe algumas críticas, sobretudo de carácter político. Mas, independentemente do fundamento dessas críticas políticas e de algumas fragilidades do livro, ele não deixa de conter elementos importantes para a compreensão de seis anos de políticas, erradas ou não, para o sector. Mesmo que não se concorde com o autor nem com os fundamentos da sua refutação às acusações de que os seus Governos foram alvo. José Manuel Barata-Feyo Quem, provavelmente, não concordará com ele é José Manuel Barata-Feyo, que, ao longo de 181 páginas de crónicas e artigos publicados desde 1984, não poupa os diversos poderes políticos, incluindo os socialistas de Arons de Carvalho, responsáveis pela gestão - ou pela destruição, como diz - da RTP. No seu peculiar estilo acutilante e polémico, Barata-Feyo denuncia causas e responsabilidades longínquas - «O estatuto da RTP é filho da democrática e comum incapacidade dos partidos para resistir à tentação totalitária», ou «Os principais responsáveis pela falência da RTP são o PSD e o PS» - ou datadas dos últimos dez anos: «A RTP foi morta. Não por um tiro assassino e misericordioso, mas através de um longo e premeditado processo de asfixia que se estendeu por uma década - os anos do aparecimento e do triunfo das televisões comerciais em Portugal.» Tratar-se-ia, portanto, de uma longa agonia, de um processo de «asfixia» denunciada pelo autor nas crónicas e artigos agora reunidos em livro. «Não há nada (do que actualmente se passa) que, há mais de uma década, não tivéssemos previsto e para que não tivéssemos alertado», escreve, acrescentando que não obteve qualquer resposta da RTP, «excepto algumas punições, ameaças de despedimento e reduções de salário». Mas são abordados outros temas, como os da censura a uma Grande Reportagem realizada em 1984 sobre Angola e a UNITA, a questão da tese da sabotagem em Camarate, a violência, o mau gosto, o sensacionalismo e o seguidismo do serviço público em relação à estratégia das estações privadas para captarem audiências. Quem, provavelmente, não concordará com ele é José Manuel Barata-Feyo, que, ao longo de 181 páginas de crónicas e artigos publicados desde 1984, não poupa os diversos poderes políticos, incluindo os socialistas de Arons de Carvalho, responsáveis pela gestão - ou pela destruição, como diz - da RTP. No seu peculiar estilo acutilante e polémico, Barata-Feyo denuncia causas e responsabilidades longínquas - «O estatuto da RTP é filho da democrática e comum incapacidade dos partidos para resistir à tentação totalitária», ou «Os principais responsáveis pela falência da RTP são o PSD e o PS» - ou datadas dos últimos dez anos: «A RTP foi morta. Não por um tiro assassino e misericordioso, mas através de um longo e premeditado processo de asfixia que se estendeu por uma década - os anos do aparecimento e do triunfo das televisões comerciais em Portugal.» Tratar-se-ia, portanto, de uma longa agonia, de um processo de «asfixia» denunciada pelo autor nas crónicas e artigos agora reunidos em livro. «Não há nada (do que actualmente se passa) que, há mais de uma década, não tivéssemos previsto e para que não tivéssemos alertado», escreve, acrescentando que não obteve qualquer resposta da RTP, «excepto algumas punições, ameaças de despedimento e reduções de salário». Mas são abordados outros temas, como os da censura a uma Grande Reportagem realizada em 1984 sobre Angola e a UNITA, a questão da tese da sabotagem em Camarate, a violência, o mau gosto, o sensacionalismo e o seguidismo do serviço público em relação à estratégia das estações privadas para captarem audiências. Este «seguidismo» ou, pelo menos, «incapacidade alternativa» da informação da RTP perante as estratégias agressivas (e, aprovem-se ou não, certamente inovadoras) das suas concorrentes é, curiosamente, confirmado no excelente ensaio de Nuno Goulart Brandão, O Espectáculo das Notícias - A Televisão Generalista e a Abertura dos Telejornais. Num estudo efectuado durante um horizonte temporal de seis meses sobre 546 aberturas dos telejornais da RTP1, SIC e TVI, verifica-se com efeito que são mínimas as diferenças na hierarquia das categorias noticiosas dos telejornais de cada uma das estações e nos espaços que lhes são atribuídos. Acidentes e catástrofes são os temas principais de abertura dos noticiários dos três canais, do mesmo modo que o desporto (essencialmente futebol) ocupa sensivelmente a mesma percentagem de aberturas. No seu livro, Nuno Goulart Brandão propõe uma aprofundada reflexão sobre as prioridades informativas dominantes na informação televisiva portuguesa. E enquadra essa reflexão num contexto mais vasto: o da evolução das tendências da informação e programação televisiva internacional. Uma evolução em que se assiste a uma acentuada diminuição do espaço para a contextualização dos acontecimentos, em que as notícias são encaradas como mais uma «mercadoria» no «palco do espectáculo». Objecto comercial que corresponde a uma forte procura social, a televisão passou de «uma lógica de serviço pedagógico e de entretenimento dado ao público com meios modestos a uma lógica de prestígio e de rentabilidade». E, acrescenta, «entrámos num espaço televisivo em que predomina o registo da 'emoção', do 'espectacular' e do 'prazer'», em detrimento da razão e da transmissão do conhecimento. «A televisão dá-nos a imagem da realidade e permite a modificação da representação do mundo. Torna-se, hoje, numa das principais fontes de construção da realidade social, mediante a difusão de diferentes modelos de comportamento, hábitos de vida, opiniões diversas e estilos de vida. A comunicação televisiva torna-se assim numa forma de comunicação espectáculo, pois surge no ecrã como uma mistura de informação e ficção, entrando sobretudo no espaço privado, modificando o lugar e a natureza do espectáculo da nossa sociedade, ou seja, confunde a própria realidade com a ficção ao transformar a vida em espectáculo», escreve Nuno Goulart Brandão. No meio de uma controvérsia frequentemente mais emotiva do que racional, este ensaio constitui uma excelente e rigorosa base de reflexão para o debate sobre o serviço público de televisão. 5 Este «seguidismo» ou, pelo menos, «incapacidade alternativa» da informação da RTP perante as estratégias agressivas (e, aprovem-se ou não, certamente inovadoras) das suas concorrentes é, curiosamente, confirmado no excelente ensaio de Nuno Goulart Brandão,. Num estudo efectuado durante um horizonte temporal de seis meses sobre 546 aberturas dos telejornais da RTP1, SIC e TVI, verifica-se com efeito que são mínimas as diferenças na hierarquia das categorias noticiosas dos telejornais de cada uma das estações e nos espaços que lhes são atribuídos. Acidentes e catástrofes são os temas principais de abertura dos noticiários dos três canais, do mesmo modo que o desporto (essencialmente futebol) ocupa sensivelmente a mesma percentagem de aberturas. No seu livro, Nuno Goulart Brandão propõe uma aprofundada reflexão sobre as prioridades informativas dominantes na informação televisiva portuguesa. E enquadra essa reflexão num contexto mais vasto: o da evolução das tendências da informação e programação televisiva internacional. Uma evolução em que se assiste a uma acentuada diminuição do espaço para a contextualização dos acontecimentos, em que as notícias são encaradas como mais uma «mercadoria» no «palco do espectáculo». Objecto comercial que corresponde a uma forte procura social, a televisão passou de «uma lógica de serviço pedagógico e de entretenimento dado ao público com meios modestos a uma lógica de prestígio e de rentabilidade». E, acrescenta, «entrámos num espaço televisivo em que predomina o registo da 'emoção', do 'espectacular' e do 'prazer'», em detrimento da razão e da transmissão do conhecimento. «A televisão dá-nos a imagem da realidade e permite a modificação da representação do mundo. Torna-se, hoje, numa das principais fontes de construção da realidade social, mediante a difusão de diferentes modelos de comportamento, hábitos de vida, opiniões diversas e estilos de vida. A comunicação televisiva torna-se assim numa forma de comunicação espectáculo, pois surge no ecrã como uma mistura de informação e ficção, entrando sobretudo no espaço privado, modificando o lugar e a natureza do espectáculo da nossa sociedade, ou seja, confunde a própria realidade com a ficção ao transformar a vida em espectáculo», escreve Nuno Goulart Brandão. No meio de uma controvérsia frequentemente mais emotiva do que racional, este ensaio constitui uma excelente e rigorosa base de reflexão para o debate sobre o serviço público de televisão.

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