Uma colecção de violinos e um oboé

17-06-2004
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Uma Colecção de Violinos e Um Oboé

Por ALC

Domingo, 25 de Abril de 2004

Agostinho Silva nasceu em Pousadas Vedras, uma aldeia perto de Pombal que só teve luz eléctrica quando ele já andava na faculdade. Foi a primeira criança dessa aldeia a ir à escola. E para isso, ao longo da primária e do liceu, durante anos, fez oito quilómetros sozinho de manhã, e outros oito, no regresso. No Verão, ia de bicicleta; no Inverno, a pé, por caminhos ainda sem asfalto, desertos. Não pôde estudar música. "Era a minha paixão."

Quando terminou o liceu, foi estudar para ser engenheiro. Só aos 20 anos, quando teve condições, é que começou a estudar violino. Hoje tem uma colecção de violinos em casa, e o seu filho de dez anos, João, tem o que ele não teve, aulas de música.

"Mas a minha verdadeira paixão é o oboé. O Bach escreveu o primeiro concerto para oboé já com muita idade e dizia que tinha medo de não conseguir." Não há instrumento que se lhe compare, diz. "É um som celestial."

Há três anos decidiu-se a comprar um oboé, um Puchner, dos melhores que existem. "Temos de fazer nós próprios as palhetas." Pôs-se a fazê-las, sozinho, e a estudar, sozinho.

"Isto de a gente se habituar a ganhar, depois não sabe perder. O oboé foi a minha primeira derrota total. Sinto-me impotente. Em comparação, o violino é muito fácil. Mas para aprender oboé, 40 anos é seguramente tarde."

Está com 42, e na verdade ainda não desistiu completamente. Quando deixar a vida de empresário, como quer, gostava de ter uma escola de música. "A música alimenta-me. Ainda no fim-de-semana passado fui a Lisboa, precisava de ouvir uma missa, uma oratória, uma paixão, uma obra grande."

E retira da música alento para trabalhar: "Sabe-se que é possível fazer sempre melhor, que quando paramos regredimos. Depois, na música há os andamentos, e nas empresas é a mesma coisa. Há momentos em que é preciso deixar a equipa relaxar, e há momentos em que é preciso dar o que se tem e o que não se tem. Esse é o problema da Função Pública, vive sempre no mesmo andamento. As empresas, para viverem, têm de mudar, exactamente como uma sinfonia tocada por uma orquestra."

Uma Colecção de Violinos e Um Oboé

Por ALC

Domingo, 25 de Abril de 2004

Agostinho Silva nasceu em Pousadas Vedras, uma aldeia perto de Pombal que só teve luz eléctrica quando ele já andava na faculdade. Foi a primeira criança dessa aldeia a ir à escola. E para isso, ao longo da primária e do liceu, durante anos, fez oito quilómetros sozinho de manhã, e outros oito, no regresso. No Verão, ia de bicicleta; no Inverno, a pé, por caminhos ainda sem asfalto, desertos. Não pôde estudar música. "Era a minha paixão."

Quando terminou o liceu, foi estudar para ser engenheiro. Só aos 20 anos, quando teve condições, é que começou a estudar violino. Hoje tem uma colecção de violinos em casa, e o seu filho de dez anos, João, tem o que ele não teve, aulas de música.

"Mas a minha verdadeira paixão é o oboé. O Bach escreveu o primeiro concerto para oboé já com muita idade e dizia que tinha medo de não conseguir." Não há instrumento que se lhe compare, diz. "É um som celestial."

Há três anos decidiu-se a comprar um oboé, um Puchner, dos melhores que existem. "Temos de fazer nós próprios as palhetas." Pôs-se a fazê-las, sozinho, e a estudar, sozinho.

"Isto de a gente se habituar a ganhar, depois não sabe perder. O oboé foi a minha primeira derrota total. Sinto-me impotente. Em comparação, o violino é muito fácil. Mas para aprender oboé, 40 anos é seguramente tarde."

Está com 42, e na verdade ainda não desistiu completamente. Quando deixar a vida de empresário, como quer, gostava de ter uma escola de música. "A música alimenta-me. Ainda no fim-de-semana passado fui a Lisboa, precisava de ouvir uma missa, uma oratória, uma paixão, uma obra grande."

E retira da música alento para trabalhar: "Sabe-se que é possível fazer sempre melhor, que quando paramos regredimos. Depois, na música há os andamentos, e nas empresas é a mesma coisa. Há momentos em que é preciso deixar a equipa relaxar, e há momentos em que é preciso dar o que se tem e o que não se tem. Esse é o problema da Função Pública, vive sempre no mesmo andamento. As empresas, para viverem, têm de mudar, exactamente como uma sinfonia tocada por uma orquestra."

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