EXPRESSO: Opinião

28-11-2002
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5 de Junho de 2002 às 12:43

O Europeu

Bolas, ate no futebol se ve a diferenca de mentalidades! Onze toscos contra o melhor jogador do mundo & Cia., onde a vontade de fazer e vencer foi mais forte que o futebol. Foi uma vitoria do rigor contra o voltar de costas dos portugueses. Donde se conclui que nao basta dizer que temos, e preciso trabalhar para o demonstrar. Outra vez a ciencia contra a ostentacao e as palavras. Que sirva de licao...

5 de Junho de 2002 às 12:31

O Europeu

Ora aqui esta um mau exemplo de como a falta de transparencia pode prejudicar, e muito, um governo acabado de entrar. Este erro nao perdoo! Vamos talvez assistir a um aproveitar da situacao a boa maneira do PS, por culpa propria do governo, e hipotecar outra vez o futuro do pais? Nao ha pachorra!

5 de Junho de 2002 às 12:27

O Europeu

Nao sei onde a Franca e a Inglaterra se reveem, acho que nos dias de hoje tudo isso e muito diluido e nem uns nem outros se preocupam com isso, garantidas que estao as condicoes para poder almejar outros voos, no dominio das ciencia e da tecnologia. Mas de todos os que aqui foram referidos, ha um, que foi obrigatorio nos meus tempos de escola, nao sei se ainda e, se ano e devia ser, que se chama Eca de Queiros e ondes todos os portugueses se deviam rever, pelo menos para comecar. Falou-se aqui da saudade do imperio perdido, mas ja Eca se referia a figura do portugues da epoca, que nao era muito diferente do actual. E tambem das culpas da monarquia portuguesa no marasmo da altura. Portanto, a questao arrasta-se a seculos! So nao sei quantos mais iremos levar para acordar...

4 de Junho de 2002 às 23:10

Luke Skywalker

Vou continuar a ignorar a torrente de insultos que você não consegue evitar quando fala, aliás exactamente como Carrilho, e procurar sistematizar o que nos aproxima e o que nos separa.

Afinidades:

1 – Ambos gostamos de Manuel Oliveira (quem conhece o Porto sabe que só ele o descreveu como ele é), e não gostamos de Saramago, nem como político nem como escritor.

2 – Ambos gostamos que Portugal receba prémios Nobel, mesmo quando eles são injustos (por patriotismo também eu faço concessões ao relativismo moral).

3 – Ambos reconhecemos e lamentamos a impreparação do nosso povo.

4 – Ambos concordamos que a Inveja é um mal português, afim da mediocridade.

5 – Ambos nos desconfortamos com a facilidade com que Durão Barroso passou de apoiante de Arnaldo Matos “em nome do povo”, para líder do PSD sem ter feito, que se saiba, nenhuma autocrítica dos desmandos que praticou em 74. Mas conservou do MRPP um saudável gosto pela acção. Tenho esperança em que também estaremos de acordo em estender este desconforto com o passado de Durão Barroso aos ex-dirigentes marxistas-leninistas-estalinistas-maoístas que são figuras gradas no PS, de Mariano Gago a Jorge Coelho, passando por Acácio Barreiros, para já não mencionar os que vieram da Direcção do PCP e da ARA...

6 – Ambos temos saudades de Lucas Pires, mas se calhar por motivos diferentes. Eu, por ele ter tentado infrutiferamente criar um espaço político para o ideário liberal em Portugal, você talvez por ele depois ter desistido disso e ter-se rendido ao PSD. Bem sei que com a nossa tradição aristocrática (no pior sentido, o de clientela da corte) a luta dele era insana, mas mesmo assim foi pena...

7 – Ambos concordamos que Sousa Lara foi pior que Carrilho.

Desacordos:

1 – Você acha que o “povo” é um conceito abstracto que cada um evoca como lhe convêm. Eu acho que o povo é esse mesmo que você caracterizou, impreparado e invejoso, quiçá feio, porco e mau, mas também sacrificado, desprezado, trabalhador, violentado, triste e lutador e, sobretudo, quem sustenta o Estado e portanto a RTP, especialmente o povo pobre, dado que o rico não paga impostos, em Portugal. Se me quiser situar melhor, dir-lhe-ei que o meu conceito de povo é o mesmo do de Pacheco Pereira. O das “pessoas concretas”.

2 – Para si cultura é “Artes & Letras”. Para mim (Nepervil também já lhe disse isto), é também Ciência & Tecnologia. Mais: acho que a C&T são mesmos mais importantes, mais prioritárias, que as A&L. Por que é delas que se faz mais imediatamente a riqueza e o poderio das nações, e portanto o acesso à cultura por todos, e por que nelas ainda somos mais fracos que em A&L. Claro que isto tem subjacente uma diferente importância atribuída à economia, ao trabalho produtivo, e portanto ao povo. Já que as élites vivem sempre bem, qualquer que seja o grau de miséria da “canalha”. Sobretudo em Portugal, onde as disparidades de rendimentos são muito maiores que as da “média europeia”!...

3 – Como corolário do ponto anterior, você, como a prática totalidade da nossa intelectualidade, certamente considera que o nosso maior problema é de ileteracia, enquanto eu acho que o de inumeracia ainda é maior.

4 – Os exércitos valem o que valem os seus generais. Da mesma forma, um país vale o que valem as suas élites. Sempre tivemos um povo capaz, que foi quem construiu o Império as mais das vezes sem apoio das élites cortesãs, bem longe delas e por conta própria. Sei do que falo, por que sou filho desse Império. E sempre tivemos umas élites que são as únicas responsáveis pelo país atrasado que somos. Você pensa o contrário.

5 – Eu culpo as élites palavrosas mas soberbas e improdutivas como Carrilho pelo atraso secular do nosso povo e, portanto, do nosso país. Você culpa o “país”, ou seja, o próprio povo.

6 – Você acha que o povo não deve determinar aquilo a que as élites se dedicam. Eu acho que é tempo das élites nacionais se solidarizarem com o povo que as sustenta, descendo até ele para lhe dar a mão e o ajudar a elevar-se. Desprezá-lo, como você e Carrilho fazem, é o que sempre fez a nossa aristocracia de que ainda não nos conseguimos livrar, que se reagrupa em todas as oportunidades, agora atrás dos Partidos do “Centrão”, mas sobretudo do PS. Por que se ao menos ela fosse produtiva...

7 – Você detesta os “políticos portugueses que são ignorantes, economicistas, ...”. Eu detesto os políticos portugueses que são cultos, aristocráticos, e eficazes a levar o povo ao desastre e a depois abandoná-lo na tragédia enquanto tratam dos seus interesses e prazeres.

8 – Quanto a seguir ideias só por que são muito defendidas, caro Imperador, eu nem sequer sou adepto de nenhum clube de futebol! Basta ler-me por aqui para o notar. O mesmo parece não se poder dizer de si, que se não é o próprio Carrilho, o imita bem.

Mas olhe, feitas as contas, as nossas afinidades são quase em número igual ao dos nossos desencontros...

Zé Luís,

Concordo consigo com a necessidade de distinguir o artista da sua obra. Juntaria à lista dos que enunciou Richard Wagner (patife completo mas compositor genial), e dado que estamos na era do audiovisual, aconselharia aos interessados no tema o filme “Wolfang”, de Milos Forman. Talvez mítico, mas diz o que você quer dizer e “lê-se” em 2 horas.

E também concordo consigo quanto à mãe do Miguel Sousa Tavares como o escritor português mais merecedor do Nobel. Ou a Agustina. Mas há poucos Nóbeis da Literatura que tenham sido atribuídos a mulheres.

4 de Junho de 2002 às 22:13

O Europeu

Disse que em Angola se paga aos artistas, formadores, etc.? E verdade. Mas paga-se aos que concordam com o sistema, os outros sao afastados, perseguidos e alguns mortos (o ultimo, por acaso, foi um jovem cineasta do Lubango, que ousou ridicularizar o regime e a "nova" sociedade). E o povo continua a morrer de fome...

4 de Junho de 2002 às 21:59

O Europeu

Eu tenho uma opiniao muito propria, ja deve ter notado isso. Nao alinho facilmente em correntes de opiniao, pode haver e coincidencias de opiniao. E normalmente so tenho opiniao sobre o que conheco, ou penso conhecer de modo suficiente. No que diz respeito ao Carrilho, teve (neste momento nao tem) uma virtude: pos as suas ideias em pratica, mal ou bem, vincou bem o que queria e defendeu a sua opiniao enquanto responsavel. Mas neste momento e um individuo profundamente recalcado e incapaz de construir seja o que for. Por duas razoes: porque falhou e porque ja nao convence. E isso esta a revelar-se fatal para o seu ego. Caiu no insulto facil, no comentario infundado e, pior, nao deu ainda conta do ridiculo. Que dimensao se lhe deve reconhecer agora??

Que pode ele, neste estado, acrescentar ao que ja sabemos? Nada. Como nada tem sido.

Enfim, se quer um "holligan" na claque e consigo, e verdade que por vezes tambem engole sapos quem quer.

Quanto ao "modus vivendus" do ze povinho: nao tenho falado noutra coisa. Todos os meus pequenos contributos neste espaco vao dar quase inevitavelmente ao mesmo. A maneira de ser de todos nos. E aqui ha uma coisa em comum, pelo menos entre 5 ou seis dos que como eu tem escrito aqui: ha que mudar muita coisa, mas o ze povo tem que mudar muito mais. E nao excluo os governantes do mesmo ze povo, e deles a primeira responsabilidade disto tudo.

4 de Junho de 2002 às 21:45

O Europeu

100%! Acho que nesses escritores todos que referiu, tal como Saramago, nem toda a sua vida foi de defeitos. Pelos menos, muitos deles tiveram o condao de nos dar a conhecer melhor esses mesmos defeitos... Assim sei hoje como evitar a base do pensamento de Sramago, e Saramagos ha muitos por ai. Mas nao escondo que tem conteudo, e isso distingue-o dos demais, embora haja, de facto, injusticas face a outros escritores, do mesmo ou melhor nivel.

4 de Junho de 2002 às 00:10

imperador

A Luke Skywalker

Diz que concorda comigo...mas é vidente que não é o caso. Crei estarmos em duas maneiras antagónicas de ver o mundo. O que daí não vem, obviamente, mal nenhum ao mundo.

Detesto a maneira de fazer política da maioria dos políticos portugueses que são ignorantes, economicistas, corruptos, enfiados em lóbis seja de que partido forem. E muitas vezes feios, porcos e maus como tanto gosta o povo. Carrilho, não é um poço de virtudes mas distingue-se da corja. Aquilo a que chama retórica de salão...se calhar é arte de argumentação que tanto falta faz a este povo que em vez de pensar chocalha as caganitas e dá o paleio de Sanzala em ritmo de Pop chula. E depois, sabe essa do povo dá para tudo e cada um utiliza o desgraçado da forma que quer. Foi esse povo que libertou o camarada Arnaldo de Matos sem que ele tivesse sido nem achado no assunto. Era isso que gritava há uma décadas Durão Barroso. Agora grita-lhes aos ouvidos que aperte o cinto. E sabe que mais o facto de uma ideia ser bastante difundida e considerada pela maioria não é sinónimo de ser uma ideia inteligente. Bem pelo contrário. Tem mais propabilidades de ser estúpida e vazia de conteúdo. É disto que prefere. Já ouviu bem os outros políticos. Não acha que eles comparados por exemplo com o saudoso Lucas Pires (que você deve considerar também de retórica inútil) não valem nada. Há homens que se regem por valores e outros pelo el contado. E são em maior número estes do que aqueles. O povo português nunca se reviu em Pessoa nem em Camões e muito menos em António Vieira como o povo inglês se reviu em Shakespeare e o Francês em Molière. Essa é a nossa desgraça. Essa é a grandeza de outras nações. É aí que perdemos. E pra quê que por aqui estamos a falar de intelectuais quando essencialmente se trata de um estado de alma. Veja que nem o Figo, campião mundial, escapa à sanha lusitana da desconsideração com aqueles que singram e se elevam. A invejazinha é de tal ordem que já levou o próprio jogador a mandar literalmente o povinho português à m e r d a , numa excelente (porque exemplificativa) peça de jornalismo. Geralmente são as claques que animam empurram os jogadores para a vitória. Em Portugal os jogadores têm que ganhar primeiro para animar a claque tristonha e bisonha. É esta tristeza nacional que está em causa e que pouco tem a ver com as dicotomias, contradições, etc que estamos pra aqui a arranjar. O que não quer dizer que não sejam importantes e que ao conhecer o ponto de vista antagónico do outro não reforcemos o nosso.

Não se trata da culpa do povo ou não já a palavra culpa representa as algemas com que enfeitamos a nossa estupidez desde que perdemos o Brasil primeiro (e o Ouro que de lá vinha e depois o resto das colónias que sempre abandonámos por falta de grandeza. O que eu estou é farto com a sempre impreparação do nosso povo que não tem tempo para ler mas que não despega os mirones da televisão que só lhes dá telelixo quando lhes devia dar educação. Gostaria muito de ver o povo que, como diz, gera os respectivos subsídios a aguentar-se com os carcanhóis num país sem cultura e sem pensadores, gestores,enfim gente formada e educada. Olhe o que sucede a Angola, por (mau)exemplo, que paga o que é necessário aos formadores, artistas, intelectuais estrangeiros enquanto o povo moorre de fome. Em quê que o povo português que gera os tais subsídios se revê então. Pense bem. É de figir...

3 de Junho de 2002 às 23:59

Zé Luiz

Meu caro Europeu:

Em virtude das funções que exerço, sou muitas vezes solicitado para travar conhecimento com escritores. De um modo geral apresento as minhas desculpas e não apareço - porque li há muito tempo, e a minha experiência confirma-o, que conhecer pessoalmente um escritor é quase sempre uma desilusão.

Pelo que vejo do Saramago na televisão, acho-o uma pessoa horrível. Ainda não o vi abrir a boca que não saísse asneira. Acho-o faccioso, arrogante, vaidoso.

Acontece porém que gosto de um ou dois dos livros dele - aqueles em que os defeitos do homem não transparecem, ou transparecem menos. A "Jangada de Pedra", para mim, é um livro que se pode ler, tal como o "Memorial do Convento" ou "No Ano da Morte de Ricardo Reis". Dos outros não gosto tanto. E daqueles que ele escreveu depois do Nobel, acho que não são livros, são panfletos: o homem sentiu-se de repente responsável pelo estado do Mundo e isso foi-lhe fatal.

Se as opiniões políticas ou os comportamentos morais dos artistas fossem razão para não apreciarmos a sua obra, não poderíamos ler Céline (reaccionário e anti-semita), nem Ezra Pound (fascista e traidor), nem Sartre (esquerdista radical), nem Lewis Carroll (pedófilo), nem Sade (sádico); nem poderíamos ouvir a música de Pallestrina (tirano), nem olhar para as esculturas de Benvenuto Cellini (ladrão, aventureiro, brigão, assassino contratado).

Acredite, o que conta é a obra. O autor é um homem ou uma mulher como qualquer de nós, e às vezes muito pior do que nós.

Quanto ao Nobel da Literatura para Portugal: sabe em que mãos é que eu gostaria de o ver? Nas de Sophia de Mello Breyner Andresen. Como escritora, Sophia é genial, enquanto Saramago é meramente talentoso.

Mas cada um tem a sua opinião, e a minha é só a minha.

3 de Junho de 2002 às 20:37

Luke Skywalker

... desta vez concordo com 80% do que diz.

Detesto a maneira de fazer política de Carrilho, e onde você lhe vê virtudes (o bom gosto, etc), eu vejo defeitos. Essencialmente o da retórica de salão, vazia de conteúdo, e em que ele é inegávelmente bom, não fosse o Catedrático regente dessa disciplina, precisamente. Mas que tem a soberba da aristocracia de corte que nos impesta e que precisamos de desalojar dos poderes, no meu entendimento da situação política.

Concordo consigo, porém, quanto à apreciação dos nossos artistas (especialmente Saramago, Oliveira e os jovens). E reconheço que eles maioritariamente concordam com Carrilho.

Pena é apenas que o povo que gera os respectivos subsídios continue a não se rever nesses artistas. Será só culpa do povo?

5 de Junho de 2002 às 12:43

O Europeu

Bolas, ate no futebol se ve a diferenca de mentalidades! Onze toscos contra o melhor jogador do mundo & Cia., onde a vontade de fazer e vencer foi mais forte que o futebol. Foi uma vitoria do rigor contra o voltar de costas dos portugueses. Donde se conclui que nao basta dizer que temos, e preciso trabalhar para o demonstrar. Outra vez a ciencia contra a ostentacao e as palavras. Que sirva de licao...

5 de Junho de 2002 às 12:31

O Europeu

Ora aqui esta um mau exemplo de como a falta de transparencia pode prejudicar, e muito, um governo acabado de entrar. Este erro nao perdoo! Vamos talvez assistir a um aproveitar da situacao a boa maneira do PS, por culpa propria do governo, e hipotecar outra vez o futuro do pais? Nao ha pachorra!

5 de Junho de 2002 às 12:27

O Europeu

Nao sei onde a Franca e a Inglaterra se reveem, acho que nos dias de hoje tudo isso e muito diluido e nem uns nem outros se preocupam com isso, garantidas que estao as condicoes para poder almejar outros voos, no dominio das ciencia e da tecnologia. Mas de todos os que aqui foram referidos, ha um, que foi obrigatorio nos meus tempos de escola, nao sei se ainda e, se ano e devia ser, que se chama Eca de Queiros e ondes todos os portugueses se deviam rever, pelo menos para comecar. Falou-se aqui da saudade do imperio perdido, mas ja Eca se referia a figura do portugues da epoca, que nao era muito diferente do actual. E tambem das culpas da monarquia portuguesa no marasmo da altura. Portanto, a questao arrasta-se a seculos! So nao sei quantos mais iremos levar para acordar...

4 de Junho de 2002 às 23:10

Luke Skywalker

Vou continuar a ignorar a torrente de insultos que você não consegue evitar quando fala, aliás exactamente como Carrilho, e procurar sistematizar o que nos aproxima e o que nos separa.

Afinidades:

1 – Ambos gostamos de Manuel Oliveira (quem conhece o Porto sabe que só ele o descreveu como ele é), e não gostamos de Saramago, nem como político nem como escritor.

2 – Ambos gostamos que Portugal receba prémios Nobel, mesmo quando eles são injustos (por patriotismo também eu faço concessões ao relativismo moral).

3 – Ambos reconhecemos e lamentamos a impreparação do nosso povo.

4 – Ambos concordamos que a Inveja é um mal português, afim da mediocridade.

5 – Ambos nos desconfortamos com a facilidade com que Durão Barroso passou de apoiante de Arnaldo Matos “em nome do povo”, para líder do PSD sem ter feito, que se saiba, nenhuma autocrítica dos desmandos que praticou em 74. Mas conservou do MRPP um saudável gosto pela acção. Tenho esperança em que também estaremos de acordo em estender este desconforto com o passado de Durão Barroso aos ex-dirigentes marxistas-leninistas-estalinistas-maoístas que são figuras gradas no PS, de Mariano Gago a Jorge Coelho, passando por Acácio Barreiros, para já não mencionar os que vieram da Direcção do PCP e da ARA...

6 – Ambos temos saudades de Lucas Pires, mas se calhar por motivos diferentes. Eu, por ele ter tentado infrutiferamente criar um espaço político para o ideário liberal em Portugal, você talvez por ele depois ter desistido disso e ter-se rendido ao PSD. Bem sei que com a nossa tradição aristocrática (no pior sentido, o de clientela da corte) a luta dele era insana, mas mesmo assim foi pena...

7 – Ambos concordamos que Sousa Lara foi pior que Carrilho.

Desacordos:

1 – Você acha que o “povo” é um conceito abstracto que cada um evoca como lhe convêm. Eu acho que o povo é esse mesmo que você caracterizou, impreparado e invejoso, quiçá feio, porco e mau, mas também sacrificado, desprezado, trabalhador, violentado, triste e lutador e, sobretudo, quem sustenta o Estado e portanto a RTP, especialmente o povo pobre, dado que o rico não paga impostos, em Portugal. Se me quiser situar melhor, dir-lhe-ei que o meu conceito de povo é o mesmo do de Pacheco Pereira. O das “pessoas concretas”.

2 – Para si cultura é “Artes & Letras”. Para mim (Nepervil também já lhe disse isto), é também Ciência & Tecnologia. Mais: acho que a C&T são mesmos mais importantes, mais prioritárias, que as A&L. Por que é delas que se faz mais imediatamente a riqueza e o poderio das nações, e portanto o acesso à cultura por todos, e por que nelas ainda somos mais fracos que em A&L. Claro que isto tem subjacente uma diferente importância atribuída à economia, ao trabalho produtivo, e portanto ao povo. Já que as élites vivem sempre bem, qualquer que seja o grau de miséria da “canalha”. Sobretudo em Portugal, onde as disparidades de rendimentos são muito maiores que as da “média europeia”!...

3 – Como corolário do ponto anterior, você, como a prática totalidade da nossa intelectualidade, certamente considera que o nosso maior problema é de ileteracia, enquanto eu acho que o de inumeracia ainda é maior.

4 – Os exércitos valem o que valem os seus generais. Da mesma forma, um país vale o que valem as suas élites. Sempre tivemos um povo capaz, que foi quem construiu o Império as mais das vezes sem apoio das élites cortesãs, bem longe delas e por conta própria. Sei do que falo, por que sou filho desse Império. E sempre tivemos umas élites que são as únicas responsáveis pelo país atrasado que somos. Você pensa o contrário.

5 – Eu culpo as élites palavrosas mas soberbas e improdutivas como Carrilho pelo atraso secular do nosso povo e, portanto, do nosso país. Você culpa o “país”, ou seja, o próprio povo.

6 – Você acha que o povo não deve determinar aquilo a que as élites se dedicam. Eu acho que é tempo das élites nacionais se solidarizarem com o povo que as sustenta, descendo até ele para lhe dar a mão e o ajudar a elevar-se. Desprezá-lo, como você e Carrilho fazem, é o que sempre fez a nossa aristocracia de que ainda não nos conseguimos livrar, que se reagrupa em todas as oportunidades, agora atrás dos Partidos do “Centrão”, mas sobretudo do PS. Por que se ao menos ela fosse produtiva...

7 – Você detesta os “políticos portugueses que são ignorantes, economicistas, ...”. Eu detesto os políticos portugueses que são cultos, aristocráticos, e eficazes a levar o povo ao desastre e a depois abandoná-lo na tragédia enquanto tratam dos seus interesses e prazeres.

8 – Quanto a seguir ideias só por que são muito defendidas, caro Imperador, eu nem sequer sou adepto de nenhum clube de futebol! Basta ler-me por aqui para o notar. O mesmo parece não se poder dizer de si, que se não é o próprio Carrilho, o imita bem.

Mas olhe, feitas as contas, as nossas afinidades são quase em número igual ao dos nossos desencontros...

Zé Luís,

Concordo consigo com a necessidade de distinguir o artista da sua obra. Juntaria à lista dos que enunciou Richard Wagner (patife completo mas compositor genial), e dado que estamos na era do audiovisual, aconselharia aos interessados no tema o filme “Wolfang”, de Milos Forman. Talvez mítico, mas diz o que você quer dizer e “lê-se” em 2 horas.

E também concordo consigo quanto à mãe do Miguel Sousa Tavares como o escritor português mais merecedor do Nobel. Ou a Agustina. Mas há poucos Nóbeis da Literatura que tenham sido atribuídos a mulheres.

4 de Junho de 2002 às 22:13

O Europeu

Disse que em Angola se paga aos artistas, formadores, etc.? E verdade. Mas paga-se aos que concordam com o sistema, os outros sao afastados, perseguidos e alguns mortos (o ultimo, por acaso, foi um jovem cineasta do Lubango, que ousou ridicularizar o regime e a "nova" sociedade). E o povo continua a morrer de fome...

4 de Junho de 2002 às 21:59

O Europeu

Eu tenho uma opiniao muito propria, ja deve ter notado isso. Nao alinho facilmente em correntes de opiniao, pode haver e coincidencias de opiniao. E normalmente so tenho opiniao sobre o que conheco, ou penso conhecer de modo suficiente. No que diz respeito ao Carrilho, teve (neste momento nao tem) uma virtude: pos as suas ideias em pratica, mal ou bem, vincou bem o que queria e defendeu a sua opiniao enquanto responsavel. Mas neste momento e um individuo profundamente recalcado e incapaz de construir seja o que for. Por duas razoes: porque falhou e porque ja nao convence. E isso esta a revelar-se fatal para o seu ego. Caiu no insulto facil, no comentario infundado e, pior, nao deu ainda conta do ridiculo. Que dimensao se lhe deve reconhecer agora??

Que pode ele, neste estado, acrescentar ao que ja sabemos? Nada. Como nada tem sido.

Enfim, se quer um "holligan" na claque e consigo, e verdade que por vezes tambem engole sapos quem quer.

Quanto ao "modus vivendus" do ze povinho: nao tenho falado noutra coisa. Todos os meus pequenos contributos neste espaco vao dar quase inevitavelmente ao mesmo. A maneira de ser de todos nos. E aqui ha uma coisa em comum, pelo menos entre 5 ou seis dos que como eu tem escrito aqui: ha que mudar muita coisa, mas o ze povo tem que mudar muito mais. E nao excluo os governantes do mesmo ze povo, e deles a primeira responsabilidade disto tudo.

4 de Junho de 2002 às 21:45

O Europeu

100%! Acho que nesses escritores todos que referiu, tal como Saramago, nem toda a sua vida foi de defeitos. Pelos menos, muitos deles tiveram o condao de nos dar a conhecer melhor esses mesmos defeitos... Assim sei hoje como evitar a base do pensamento de Sramago, e Saramagos ha muitos por ai. Mas nao escondo que tem conteudo, e isso distingue-o dos demais, embora haja, de facto, injusticas face a outros escritores, do mesmo ou melhor nivel.

4 de Junho de 2002 às 00:10

imperador

A Luke Skywalker

Diz que concorda comigo...mas é vidente que não é o caso. Crei estarmos em duas maneiras antagónicas de ver o mundo. O que daí não vem, obviamente, mal nenhum ao mundo.

Detesto a maneira de fazer política da maioria dos políticos portugueses que são ignorantes, economicistas, corruptos, enfiados em lóbis seja de que partido forem. E muitas vezes feios, porcos e maus como tanto gosta o povo. Carrilho, não é um poço de virtudes mas distingue-se da corja. Aquilo a que chama retórica de salão...se calhar é arte de argumentação que tanto falta faz a este povo que em vez de pensar chocalha as caganitas e dá o paleio de Sanzala em ritmo de Pop chula. E depois, sabe essa do povo dá para tudo e cada um utiliza o desgraçado da forma que quer. Foi esse povo que libertou o camarada Arnaldo de Matos sem que ele tivesse sido nem achado no assunto. Era isso que gritava há uma décadas Durão Barroso. Agora grita-lhes aos ouvidos que aperte o cinto. E sabe que mais o facto de uma ideia ser bastante difundida e considerada pela maioria não é sinónimo de ser uma ideia inteligente. Bem pelo contrário. Tem mais propabilidades de ser estúpida e vazia de conteúdo. É disto que prefere. Já ouviu bem os outros políticos. Não acha que eles comparados por exemplo com o saudoso Lucas Pires (que você deve considerar também de retórica inútil) não valem nada. Há homens que se regem por valores e outros pelo el contado. E são em maior número estes do que aqueles. O povo português nunca se reviu em Pessoa nem em Camões e muito menos em António Vieira como o povo inglês se reviu em Shakespeare e o Francês em Molière. Essa é a nossa desgraça. Essa é a grandeza de outras nações. É aí que perdemos. E pra quê que por aqui estamos a falar de intelectuais quando essencialmente se trata de um estado de alma. Veja que nem o Figo, campião mundial, escapa à sanha lusitana da desconsideração com aqueles que singram e se elevam. A invejazinha é de tal ordem que já levou o próprio jogador a mandar literalmente o povinho português à m e r d a , numa excelente (porque exemplificativa) peça de jornalismo. Geralmente são as claques que animam empurram os jogadores para a vitória. Em Portugal os jogadores têm que ganhar primeiro para animar a claque tristonha e bisonha. É esta tristeza nacional que está em causa e que pouco tem a ver com as dicotomias, contradições, etc que estamos pra aqui a arranjar. O que não quer dizer que não sejam importantes e que ao conhecer o ponto de vista antagónico do outro não reforcemos o nosso.

Não se trata da culpa do povo ou não já a palavra culpa representa as algemas com que enfeitamos a nossa estupidez desde que perdemos o Brasil primeiro (e o Ouro que de lá vinha e depois o resto das colónias que sempre abandonámos por falta de grandeza. O que eu estou é farto com a sempre impreparação do nosso povo que não tem tempo para ler mas que não despega os mirones da televisão que só lhes dá telelixo quando lhes devia dar educação. Gostaria muito de ver o povo que, como diz, gera os respectivos subsídios a aguentar-se com os carcanhóis num país sem cultura e sem pensadores, gestores,enfim gente formada e educada. Olhe o que sucede a Angola, por (mau)exemplo, que paga o que é necessário aos formadores, artistas, intelectuais estrangeiros enquanto o povo moorre de fome. Em quê que o povo português que gera os tais subsídios se revê então. Pense bem. É de figir...

3 de Junho de 2002 às 23:59

Zé Luiz

Meu caro Europeu:

Em virtude das funções que exerço, sou muitas vezes solicitado para travar conhecimento com escritores. De um modo geral apresento as minhas desculpas e não apareço - porque li há muito tempo, e a minha experiência confirma-o, que conhecer pessoalmente um escritor é quase sempre uma desilusão.

Pelo que vejo do Saramago na televisão, acho-o uma pessoa horrível. Ainda não o vi abrir a boca que não saísse asneira. Acho-o faccioso, arrogante, vaidoso.

Acontece porém que gosto de um ou dois dos livros dele - aqueles em que os defeitos do homem não transparecem, ou transparecem menos. A "Jangada de Pedra", para mim, é um livro que se pode ler, tal como o "Memorial do Convento" ou "No Ano da Morte de Ricardo Reis". Dos outros não gosto tanto. E daqueles que ele escreveu depois do Nobel, acho que não são livros, são panfletos: o homem sentiu-se de repente responsável pelo estado do Mundo e isso foi-lhe fatal.

Se as opiniões políticas ou os comportamentos morais dos artistas fossem razão para não apreciarmos a sua obra, não poderíamos ler Céline (reaccionário e anti-semita), nem Ezra Pound (fascista e traidor), nem Sartre (esquerdista radical), nem Lewis Carroll (pedófilo), nem Sade (sádico); nem poderíamos ouvir a música de Pallestrina (tirano), nem olhar para as esculturas de Benvenuto Cellini (ladrão, aventureiro, brigão, assassino contratado).

Acredite, o que conta é a obra. O autor é um homem ou uma mulher como qualquer de nós, e às vezes muito pior do que nós.

Quanto ao Nobel da Literatura para Portugal: sabe em que mãos é que eu gostaria de o ver? Nas de Sophia de Mello Breyner Andresen. Como escritora, Sophia é genial, enquanto Saramago é meramente talentoso.

Mas cada um tem a sua opinião, e a minha é só a minha.

3 de Junho de 2002 às 20:37

Luke Skywalker

... desta vez concordo com 80% do que diz.

Detesto a maneira de fazer política de Carrilho, e onde você lhe vê virtudes (o bom gosto, etc), eu vejo defeitos. Essencialmente o da retórica de salão, vazia de conteúdo, e em que ele é inegávelmente bom, não fosse o Catedrático regente dessa disciplina, precisamente. Mas que tem a soberba da aristocracia de corte que nos impesta e que precisamos de desalojar dos poderes, no meu entendimento da situação política.

Concordo consigo, porém, quanto à apreciação dos nossos artistas (especialmente Saramago, Oliveira e os jovens). E reconheço que eles maioritariamente concordam com Carrilho.

Pena é apenas que o povo que gera os respectivos subsídios continue a não se rever nesses artistas. Será só culpa do povo?

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