Ecologistas alemães erm crise

25-01-2005
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Ecologistas alemães em crise

A catástrofe atómica

dos Verdes

A aprovação do acordo sobre energia nuclear na Alemanha pode ter consequências fatais para o futuro do governo SPD/Verdes.

A decisão do governo Schröder de prolongar por mais 32 a 35 anos a licença de exploração das centrais atómicas alemãs, com o consentimento do ministro do Ambiente Jügen Trittin (Verdes), mergulhou o Partido Ecologista numa profunda crise interna.

O Die Welt, num comentário de primeira página intitulado «A catástrofe atómica dos Verdes», salientava a semana passada que é a própria secretária-geral, Antja Radeke, a apelar aos membros e ao partido para recusarem este compromisso entre Schröder e o lobby atómico, e a colocar na ordem do dia a questão do abandono da coligação.

Por seu lado, o Tageszeitung de Berlim, próximo dos ecologistas, constatava, num artigo de primeira página intitulado «Reacção em cadeia», que o consenso atómico «divide o partido, onde muitas organizações estão abertamente contra, e um terço dos seus membros pode abandoná-lo». Como afirmou há dias a fundadora e deputada dos Verdes no parlamento de Düsseldorf, Marianne Hürten, o que está em causa é uma questão de sobrevivência para os Verdes, que até agora têm seguido uma política contrária ao que dizem defender.

Trata-se da crise mais grave dos Verdes desde que o ministro Fischer, há pouco mais de uma ano, decidiu apoiar a agressão da NATO contra a Jugoslávia, e que poderá ter consequências fatais para o futuro do governo SPD/Verdes.

Na reunião do grupo parlamentar destinada a aprovar o acordo entre Schröder/Trittin e a indústria atómica, dos 49 deputados ecologistas apenas estiveram presentes 22, tendo 18 votado a favor do compromisso.

Interesses pouco ecológicos

Das organizações estaduais que já recusaram o acordo destacam-se a Baixa Saxónia, onde se têm desenvolvido grandes lutas contra o transporte de resíduos atómicos, a Turíngia e a Saxónia-Anhalt. Jochen Stay, um dos dirigentes do movimento anti-nuclear, acaba de declarar que «os Verdes quebraram a aliança com o movimento de oposição à energia atómica e colocaram-se ao lado dos grandes grupos económicos capitalistas.» Segundo Stay, «é necessário desenvolver a luta contra a energia nuclear», pois «só assim se poderá obter muito mais do que o pretenso abandona nuclear de Trittin».

Na conferência da Renânia do Norte-Vestefália, com delegados provenientes de grandes cidades como Colónia, Dortmund, Essen ..., que se reuniu no passado fim-de-semana em Bona para avaliar o programa da coligação governamental com o SDP naquele Estado alemão, apesar da maioria dos delegados estar contra o programa foi alcançado um apoio tangencial ao acordo com os social-democratas: 156 votos a favor e 102 contra. O resultado é tanto mais significativo quanto se sabe que a maior parte dos delegados estão hoje instalados no aparelho de Estado, pelo que o resultado da votação poderia pôr em perigo a coligação do governo Schröder em Berlim e, consequentemente, o seu próprio emprego.

A questão está longe de estar encerrada. No próximo fim-de-semana realiza-se em Münster uma conferência federal dos Verdes, onde se esperam grandes confrontos em torno do compromisso do governo com o lobby atómico. Os burocratas do partido, colados aos privilégios do poder a nível federal e estadual, vão ter que utilizar toda a sua retórica ludibriante para contarem com o apoio dos delegados para uma política de bancarrota ecológica.

Patrões satisfeitos

No telejornal de quinta-feira à noite, após o ministro Trittin ter justificado a decisão do governo como um passo em frente com vista ao encerramento das centrais de energia atómicas alemãs, o comentador da ARD constatava que, com a aprovação deste compromisso, a classe governamental ecologista ludibriara o partido e os eleitores, a quem tinha prometido o início do desactivar das centrais atómicas ainda no decorrer desta legislatura. E concluía o comentário afirmando que quando estes ministros já tiverem falecido e outros governos tiverem revogado este acordo, as transnacionais atómicas continuarão a destruir a saúde das populações e as condições de vida no planeta.

Corroborando esta análise, a oposição democrata-cristã, que acusa o governo de se opor às novas tecnologias e ameaça com a apresentação de um recurso de inconstitucionalidade, não hesitou em afirmar de imediato que revogará a medida caso ganhe as eleições de 2002.

Os representantes da indústria atómica alemã, Ulrich Hartmann, da VEBA, e Dietmar Kuhnt, chefe da RWE, saudaram o acordo com o governo como muito positivo.

Na Alemanha há 19 centrais nucleares, construídas em diferentes datas, que fornecem cerca de 30 por cento da energia eléctrica do país. A mais antiga é a da Obrigheim, que entrou em funcionamento em 1968. Segundo o acordo agora firmado, cada uma das centrais poderá produzir uma determinada quantidade máxima de electricidade de 1 de Janeiro de 2000 até ao seu encerramento, terminando as autorizações de produção quando for atingido o valor acordado. As centrais poderão no entanto reduzir os prazos de uma unidade e aumentar os de outra, segundo critério de racionalidade e rentabilidade.

«Avante!» Nº 1386 - 21.Junho.2000

Ecologistas alemães em crise

A catástrofe atómica

dos Verdes

A aprovação do acordo sobre energia nuclear na Alemanha pode ter consequências fatais para o futuro do governo SPD/Verdes.

A decisão do governo Schröder de prolongar por mais 32 a 35 anos a licença de exploração das centrais atómicas alemãs, com o consentimento do ministro do Ambiente Jügen Trittin (Verdes), mergulhou o Partido Ecologista numa profunda crise interna.

O Die Welt, num comentário de primeira página intitulado «A catástrofe atómica dos Verdes», salientava a semana passada que é a própria secretária-geral, Antja Radeke, a apelar aos membros e ao partido para recusarem este compromisso entre Schröder e o lobby atómico, e a colocar na ordem do dia a questão do abandono da coligação.

Por seu lado, o Tageszeitung de Berlim, próximo dos ecologistas, constatava, num artigo de primeira página intitulado «Reacção em cadeia», que o consenso atómico «divide o partido, onde muitas organizações estão abertamente contra, e um terço dos seus membros pode abandoná-lo». Como afirmou há dias a fundadora e deputada dos Verdes no parlamento de Düsseldorf, Marianne Hürten, o que está em causa é uma questão de sobrevivência para os Verdes, que até agora têm seguido uma política contrária ao que dizem defender.

Trata-se da crise mais grave dos Verdes desde que o ministro Fischer, há pouco mais de uma ano, decidiu apoiar a agressão da NATO contra a Jugoslávia, e que poderá ter consequências fatais para o futuro do governo SPD/Verdes.

Na reunião do grupo parlamentar destinada a aprovar o acordo entre Schröder/Trittin e a indústria atómica, dos 49 deputados ecologistas apenas estiveram presentes 22, tendo 18 votado a favor do compromisso.

Interesses pouco ecológicos

Das organizações estaduais que já recusaram o acordo destacam-se a Baixa Saxónia, onde se têm desenvolvido grandes lutas contra o transporte de resíduos atómicos, a Turíngia e a Saxónia-Anhalt. Jochen Stay, um dos dirigentes do movimento anti-nuclear, acaba de declarar que «os Verdes quebraram a aliança com o movimento de oposição à energia atómica e colocaram-se ao lado dos grandes grupos económicos capitalistas.» Segundo Stay, «é necessário desenvolver a luta contra a energia nuclear», pois «só assim se poderá obter muito mais do que o pretenso abandona nuclear de Trittin».

Na conferência da Renânia do Norte-Vestefália, com delegados provenientes de grandes cidades como Colónia, Dortmund, Essen ..., que se reuniu no passado fim-de-semana em Bona para avaliar o programa da coligação governamental com o SDP naquele Estado alemão, apesar da maioria dos delegados estar contra o programa foi alcançado um apoio tangencial ao acordo com os social-democratas: 156 votos a favor e 102 contra. O resultado é tanto mais significativo quanto se sabe que a maior parte dos delegados estão hoje instalados no aparelho de Estado, pelo que o resultado da votação poderia pôr em perigo a coligação do governo Schröder em Berlim e, consequentemente, o seu próprio emprego.

A questão está longe de estar encerrada. No próximo fim-de-semana realiza-se em Münster uma conferência federal dos Verdes, onde se esperam grandes confrontos em torno do compromisso do governo com o lobby atómico. Os burocratas do partido, colados aos privilégios do poder a nível federal e estadual, vão ter que utilizar toda a sua retórica ludibriante para contarem com o apoio dos delegados para uma política de bancarrota ecológica.

Patrões satisfeitos

No telejornal de quinta-feira à noite, após o ministro Trittin ter justificado a decisão do governo como um passo em frente com vista ao encerramento das centrais de energia atómicas alemãs, o comentador da ARD constatava que, com a aprovação deste compromisso, a classe governamental ecologista ludibriara o partido e os eleitores, a quem tinha prometido o início do desactivar das centrais atómicas ainda no decorrer desta legislatura. E concluía o comentário afirmando que quando estes ministros já tiverem falecido e outros governos tiverem revogado este acordo, as transnacionais atómicas continuarão a destruir a saúde das populações e as condições de vida no planeta.

Corroborando esta análise, a oposição democrata-cristã, que acusa o governo de se opor às novas tecnologias e ameaça com a apresentação de um recurso de inconstitucionalidade, não hesitou em afirmar de imediato que revogará a medida caso ganhe as eleições de 2002.

Os representantes da indústria atómica alemã, Ulrich Hartmann, da VEBA, e Dietmar Kuhnt, chefe da RWE, saudaram o acordo com o governo como muito positivo.

Na Alemanha há 19 centrais nucleares, construídas em diferentes datas, que fornecem cerca de 30 por cento da energia eléctrica do país. A mais antiga é a da Obrigheim, que entrou em funcionamento em 1968. Segundo o acordo agora firmado, cada uma das centrais poderá produzir uma determinada quantidade máxima de electricidade de 1 de Janeiro de 2000 até ao seu encerramento, terminando as autorizações de produção quando for atingido o valor acordado. As centrais poderão no entanto reduzir os prazos de uma unidade e aumentar os de outra, segundo critério de racionalidade e rentabilidade.

«Avante!» Nº 1386 - 21.Junho.2000

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