"Os Verdes" e os OGM, o canhoto e os marmelos

21-08-2004
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"Os Verdes" e Os OGM, o Canhoto e Os Marmelos

Por HELOÍSA APOLÓNIA

Quinta-feira, 03 de Junho de 2004 No dia 24 de Maio saiu no PÚBLICO um artigo do docente Jorge M. Canhoto intitulado "Os OGM, os marmelos e os 'Verdes'", ao qual passamos a responder. Desde logo, ficámos muito satisfeitos pelo facto de o autor, devido à campanha e aos materiais de campanha do Partido Ecologista "Os Verdes", se ter dado conta de que se aproxima um acto eleitoral. Este partido já contribuiu, assim, para reduzir o desconhecimento sobre actos relevantes neste país e certamente para diminuir a abstenção eleitoral. Gostaríamos também de agradecer o reconhecimento que Jorge Canhoto fez da originalidade dos materiais de campanha, nomeadamente da imagem que, representando espermatozóides e um óvulo, apela à defesa da igualdade entre homens e mulheres. Na verdade, através da distribuição destes materiais, temos tido eco da satisfação generalizada pelo impacte e originalidade das imagens e pela justeza e premência das ideias defendidas, tais como o direito à água, protecção dos mares, melhores transportes, preservação da floresta, apelo à paz, entre outros. Em relação à posição e à mensagem de "Os Verdes" sobre os organismos geneticamente modificados (OGM), queremos em primeiro lugar referir que Jorge Canhoto não deveria "confundir peitos com marmelos", quer no sentido literal quer figurativo desta expressão popular. Se assim proceder vai ver que não se aflige com a imagem do fruto tomate para suportar a mensagem de "Uma Europa livre de OGM". Passando aos esclarecimentos desejados, "Os Verdes" são peremptoriamente contra a introdução de OGM na alimentação. Sabe o referido docente que uma boa parte da comunidade científica tem muitas dúvidas quanto aos seus efeitos no ambiente e na saúde, nomeadamente a médio e longo prazo. E tem com certeza conhecimento de que as multinacionais do sector agro-alimentar têm feito uma grande pressão ao nível da FAO e da OMC para a introdução de OGM na produção e no mercado alimentar. E de certeza que também sabe que o objectivo destes interesses económicos não são nem a defesa da saúde pública, nem do ambiente. Sabe o sr. professor que não há forma de garantir o princípio da coexistência entre culturas transgénicas e culturas tradicionais, porque a agricultura que nos alimenta não se faz em laboratórios, faz-se na terra, e aceitar a produção generalizada (que não exclusivamente para fins científicos) de OGM é impor a ditadura dos transgénicos aos agricultores e aos consumidores. Por isso, "Os Verdes" condenaram a decisão da Comissão Europeia em relação ao levantamento da moratória que tem constituído a aplicação do princípio da precaução (em caso de dúvida, optar pelo seguro) à produção e comercialização de produtos com OGM na UE. E Jorge Canhoto, que considera inoportuno falar de OGM porque pressupõe que as pessoas não sabem do que se trata, dever-se-ia era indignar pelo facto de a Comissão querer impingir aos agricultores e aos consumidores OGM, quando um estudo realizado à escala europeia (ainda a 15) concluiu que mais de 70 por cento dos cidadãos de diferentes Estados da União rejeitam e não querem consumir OGM. Pode ter a certeza de que enquanto alguns vão fazendo investigação científica por encomenda de empresas, "Os Verdes" vão continuar a defender a aplicação do princípio da precaução e uma Europa livre de OGM. E porque parece, apesar de não ter explicado porquê, que é amante de OGM, esperamos que não se situe entre aqueles que consideram que os OGM são o milagre para combater a fome no mundo. Sabe, sr. professor, esse também foi o argumento usado para a proliferação de químicos e pesticidas na agricultura. O único resultado foi uma maior degradação ambiental, pior saúde... e a fome no mundo continuar apesar dos excedentes que se produzem, porque o problema da fome não é a falta de alimentos: é a exploração e a hipocrisia! Quanto ao símbolo de "Os Verdes", não deveria levar tão a peito os inúmeros significados que se podem atribuir a um símbolo, mas aqui fica uma explicação: o girassol foi adoptado por "Os Verdes" portugueses, como por outros partidos verdes, como simbologia de uma planta que está permanentemente virada para o sol numa altura em que a luta contra o nuclear e a energia nuclear era a luta comum da família verde. Por fim, também Canhoto se juntou ao rol das personalidades que se têm multiplicado em declarações públicas e em artigos de opinião sobre o Partido Ecologista "Os Verdes" e a CDU. É até engraçado ver algumas afirmações feitas, como uma de Pacheco Pereira no PÚBLICO, referindo que "Os Verdes" só existem na Assembleia da República quando, umas páginas mais à frente, no mesmíssimo jornal, se dava conta da Marcha pela Água, uma campanha que "Os Verdes" estão a desenvolver há alguns meses junto da população em defesa da qualidade da água e contra a privatização deste património colectivo. É certo que provavelmente ninguém viu esta campanha na televisão, como não viram uma outra campanha sobre segurança alimentar que temos em curso e todo um outro conjunto de acções sobre outras temáticas. Mas se não as viram nas televisões isso deve-se ao insustentável silenciamento que as televisões fazem à intervenção de "Os Verdes", quer no Parlamento, quer fora dele. Quem só age pelo impulso do mediatismo ou só concebe a intervenção política com base em "lobbies" e em pressões do poder económico deve, de facto, entender que "Os Verdes" valem pouco porque nós somos livres dessas manipulações. Quanto à CDU, em cada acto eleitoral definimos a nossa forma de concorrer às eleições. E a CDU tem constituído um projecto que incomoda poderes instalados, e incomoda também os que não concebem o respeito pela identidade própria de cada componente num projecto alargado, porque a lógica desses é sempre a de domínio sobre os outros. Ainda bem que na CDU não é assim. Candidata de "Os Verdes", nas listas da CDU, ao Parlamento Europeu OUTROS TÍTULOS EM ESPAÇO PÚBLICO EDITORIAL

Um futuro sem petróleo

OPINIÃO

Podem hoje as democracias conduzir uma guerra? (4)

EMEL e nós (2)

Política rasca

"Os Verdes" e os OGM, o canhoto e os marmelos

"Os Verdes" e Os OGM, o Canhoto e Os Marmelos

Por HELOÍSA APOLÓNIA

Quinta-feira, 03 de Junho de 2004 No dia 24 de Maio saiu no PÚBLICO um artigo do docente Jorge M. Canhoto intitulado "Os OGM, os marmelos e os 'Verdes'", ao qual passamos a responder. Desde logo, ficámos muito satisfeitos pelo facto de o autor, devido à campanha e aos materiais de campanha do Partido Ecologista "Os Verdes", se ter dado conta de que se aproxima um acto eleitoral. Este partido já contribuiu, assim, para reduzir o desconhecimento sobre actos relevantes neste país e certamente para diminuir a abstenção eleitoral. Gostaríamos também de agradecer o reconhecimento que Jorge Canhoto fez da originalidade dos materiais de campanha, nomeadamente da imagem que, representando espermatozóides e um óvulo, apela à defesa da igualdade entre homens e mulheres. Na verdade, através da distribuição destes materiais, temos tido eco da satisfação generalizada pelo impacte e originalidade das imagens e pela justeza e premência das ideias defendidas, tais como o direito à água, protecção dos mares, melhores transportes, preservação da floresta, apelo à paz, entre outros. Em relação à posição e à mensagem de "Os Verdes" sobre os organismos geneticamente modificados (OGM), queremos em primeiro lugar referir que Jorge Canhoto não deveria "confundir peitos com marmelos", quer no sentido literal quer figurativo desta expressão popular. Se assim proceder vai ver que não se aflige com a imagem do fruto tomate para suportar a mensagem de "Uma Europa livre de OGM". Passando aos esclarecimentos desejados, "Os Verdes" são peremptoriamente contra a introdução de OGM na alimentação. Sabe o referido docente que uma boa parte da comunidade científica tem muitas dúvidas quanto aos seus efeitos no ambiente e na saúde, nomeadamente a médio e longo prazo. E tem com certeza conhecimento de que as multinacionais do sector agro-alimentar têm feito uma grande pressão ao nível da FAO e da OMC para a introdução de OGM na produção e no mercado alimentar. E de certeza que também sabe que o objectivo destes interesses económicos não são nem a defesa da saúde pública, nem do ambiente. Sabe o sr. professor que não há forma de garantir o princípio da coexistência entre culturas transgénicas e culturas tradicionais, porque a agricultura que nos alimenta não se faz em laboratórios, faz-se na terra, e aceitar a produção generalizada (que não exclusivamente para fins científicos) de OGM é impor a ditadura dos transgénicos aos agricultores e aos consumidores. Por isso, "Os Verdes" condenaram a decisão da Comissão Europeia em relação ao levantamento da moratória que tem constituído a aplicação do princípio da precaução (em caso de dúvida, optar pelo seguro) à produção e comercialização de produtos com OGM na UE. E Jorge Canhoto, que considera inoportuno falar de OGM porque pressupõe que as pessoas não sabem do que se trata, dever-se-ia era indignar pelo facto de a Comissão querer impingir aos agricultores e aos consumidores OGM, quando um estudo realizado à escala europeia (ainda a 15) concluiu que mais de 70 por cento dos cidadãos de diferentes Estados da União rejeitam e não querem consumir OGM. Pode ter a certeza de que enquanto alguns vão fazendo investigação científica por encomenda de empresas, "Os Verdes" vão continuar a defender a aplicação do princípio da precaução e uma Europa livre de OGM. E porque parece, apesar de não ter explicado porquê, que é amante de OGM, esperamos que não se situe entre aqueles que consideram que os OGM são o milagre para combater a fome no mundo. Sabe, sr. professor, esse também foi o argumento usado para a proliferação de químicos e pesticidas na agricultura. O único resultado foi uma maior degradação ambiental, pior saúde... e a fome no mundo continuar apesar dos excedentes que se produzem, porque o problema da fome não é a falta de alimentos: é a exploração e a hipocrisia! Quanto ao símbolo de "Os Verdes", não deveria levar tão a peito os inúmeros significados que se podem atribuir a um símbolo, mas aqui fica uma explicação: o girassol foi adoptado por "Os Verdes" portugueses, como por outros partidos verdes, como simbologia de uma planta que está permanentemente virada para o sol numa altura em que a luta contra o nuclear e a energia nuclear era a luta comum da família verde. Por fim, também Canhoto se juntou ao rol das personalidades que se têm multiplicado em declarações públicas e em artigos de opinião sobre o Partido Ecologista "Os Verdes" e a CDU. É até engraçado ver algumas afirmações feitas, como uma de Pacheco Pereira no PÚBLICO, referindo que "Os Verdes" só existem na Assembleia da República quando, umas páginas mais à frente, no mesmíssimo jornal, se dava conta da Marcha pela Água, uma campanha que "Os Verdes" estão a desenvolver há alguns meses junto da população em defesa da qualidade da água e contra a privatização deste património colectivo. É certo que provavelmente ninguém viu esta campanha na televisão, como não viram uma outra campanha sobre segurança alimentar que temos em curso e todo um outro conjunto de acções sobre outras temáticas. Mas se não as viram nas televisões isso deve-se ao insustentável silenciamento que as televisões fazem à intervenção de "Os Verdes", quer no Parlamento, quer fora dele. Quem só age pelo impulso do mediatismo ou só concebe a intervenção política com base em "lobbies" e em pressões do poder económico deve, de facto, entender que "Os Verdes" valem pouco porque nós somos livres dessas manipulações. Quanto à CDU, em cada acto eleitoral definimos a nossa forma de concorrer às eleições. E a CDU tem constituído um projecto que incomoda poderes instalados, e incomoda também os que não concebem o respeito pela identidade própria de cada componente num projecto alargado, porque a lógica desses é sempre a de domínio sobre os outros. Ainda bem que na CDU não é assim. Candidata de "Os Verdes", nas listas da CDU, ao Parlamento Europeu OUTROS TÍTULOS EM ESPAÇO PÚBLICO EDITORIAL

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Podem hoje as democracias conduzir uma guerra? (4)

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