"Há um novo espaço na Europa para a esquerda da esquerda"

26-11-2002
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"Há Um Novo Espaço na Europa para a Esquerda da Esquerda"

Por POR NUNO SÁ LOURENÇO, em Florença

Domingo, 10 de Novembro de 2002 Nem tudo é reciclável para este francês que quer acabar com o FMI, com a OMC e o Banco Mundial. A intenção é substituí-los por uma instituição capaz de gerir os recursos da aplicação da taxa tobin, que sabe não ser a resposta a todos os problemas. Mas acredita que outras soluções surgirão à medida que a esquerda à esquerda substituir os partidos tradicionais. P: Já o ouvi defender que a diferença deste últimos anos para os últimos dias do século XX é o facto de se ter tornado útil votar na esquerda anticapitalista. Porquê? R: Pela primeira vez em França, nestas últimas eleições presidenciais, mais de 10 por cento dos eleitores votou na extrema-esquerda. Eu sei que isso foi assombrado pela percentagem superior de Jean Marie Le Pen, mas não deixa de ser uma cifra significativa. Isto quer dizer que surgiu um novo espaço na política para a esquerda da esquerda em todos os países europeus. Até em Portugal, onde o Bloco de Esquerda conseguiu eleger deputados, como sabe melhor que eu. No fundo os eleitores estão a dar uma oportunidade a esta esquerda da esquerda para lutar e falar das medidas urgentes para os mais desfavorecidos. P: Mas que efeito prático é que isso traz à vida das pessoas. O LCR não consegue fazer aprovar leis... R: Foram 4,5 por cento nas presidenciais, isso não é um valor desvalorizável. Até porque consegue colocar à sociedade e à classe política - incluindo o Governo - as questões-chave. Com a nossa intervenção todos os Governos se vêem forçados a discutir a privatização, a emigração. São debates que se tornaram centrais também porque nós fizemos por isso. P: Também o ouvi dizer que não se pode reformar o que não é reformável. Para si neste mundo o que é que não tem emenda? R: O Fundo Monetário Internacional, a Organização Mundial do Comércio e o Banco Mundial não são recicláveis (risos). Não se pode pedir a estas três instituições que ajudem os pobres depois de terem passado trinta anos a esmagar populações inteiras. A função delas é manter países sob o jugo da dívida externa. É por isso, necessário criar outras instituições controladas pelos movimentos sociais que sejam capazes de redistribuir a receita da taxa tobin. P: A solução para os problemas do mundo está na taxa tobin? R: Não passa de uma pequena parte, mas surte um efeito psicológico. É um encorajamento a taxar mais e outras receitas financeiras. E feitas as contas, só o valor recolhido com a percentagem da taxa tobin, seria possível erradicar uma importante parte da pobreza mundial. P: Acha que o objectivo deste movimento deve ser regular a globalização? R: Acho que não. A globalização que agora temos é a globalização da lei da economia de mercado, da oferta e da procura, e essa não suporta reformas. Quer submeter tudo à sua lógica de rentabilidade. É preciso impor outra globalização. P: Mas já todo o mundo vos ouviu dizer que outro mundo é possível. O que importa saber agora é que outro mundo é esse? R: Um mundo preocupado com a redução da dívida, com a taxa tobin, mas também um projecto de sociedade alternativo ao capitalismo. Uma democracia que seja capaz de dar o poder à maioria, que desse o direito ao produtor de dizer para quem, como e porquê produziu. E uma democracia que não acabasse onde começa a propriedade privada. OUTROS TÍTULOS EM DESTAQUE Não houve guerra em Florença

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