As expulsões no PCP

23-07-2002
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As Expulsões no PCP

Por EDUARDO DÂMASO

Terça-feira, 23 de Julho de 2002 As expulsões de dois renovadores (Edgar Correia e Carlos Luís Figueira), a par do supremo cinismo de suspender Carlos Brito, confirmam tudo aquilo que há muito se adivinha no PCP: este partido não é reformável enquanto for dominado por dirigentes que ainda estão no tempo do muro de Berlim. O PCP é cada vez mais um partido embrulhado numa espiral de estalinismo, numa implacável caça às bruxas que só acabará quando o comité central for o paraíso secreto de todos os gerontes que sonham com a imposição do pensamento único determinado pelo conclave de dirigentes/funcionários, guardiões dessa abstracção de inspiração divina que é o "Partido". Quem manda no PCP continua a acreditar que há um movimento comunista internacional dirigido algures de uma barricada secreta em Moscovo e que o aguarda a missão vital de defender o país de novos fascismos. Esses não querem saber de outras realidades. Não querem saber que representam um partido com responsabilidades parlamentares num país que está há mais de década e meia na União Europeia e que esse é um caminho irreversível; que o comunismo ele próprio se foi transformando por essa Europa fora e que os seus congéneres que procuram novos caminhos na velha doutrina marxista são pós-comunistas. O PCP vive dominado por gente que se alimenta de velhos mitos sem regresso. Em 1974 tentou ser o partido dominante não só à esquerda como na sociedade. Em toda a sua pujança, o PCP tinha uma liderança forte, bons quadros, as massas nas ruas e pertencia a um movimento internacional que dominava metade do mundo. Hoje, o PCP não tem nada disso e não compreende que esses tempos não vão regressar. O que tem hoje o PCP? Está cada vez mais sozinho, com menos quadros e dominado por homens que permanecem agarrados ao que de mais arcaico tem a utopia comunista. Interessa-lhes sobretudo manter a qualidade de dirigentes/funcionários porque depois dos 60 anos já não se muda de vida. Já lá vai o tempo em que a vitalidade do PCP se encontrava na implantação que tinha no movimento operário, entre os jovens e entre os intelectuais. Os intelectuais estão em fuga e os jovens também, por muito que em cada festa do "Avante!" um folclore festivaleiro tente demonstrar o contrário. Torna-se penoso, para quem acredita que é um quadro parlamentar resistente à forte atracção do centro e da bipolarização o motor mais saudável da democracia, constatar que o PCP já nem é, nos tempos que correm, um partido em busca do seu papel na sociedade. Se não se transformar num partido de quadros aberto ao debate e daí partir à procura de novos factores de enraizamento social o PCP está obviamente perdido. A verdade é que, queira ou não, o PCP está condenado ao reformismo, qualquer que seja ele. O PCP necessita de tentar imaginar o seu futuro num quadro de reformismo que lhe permita conciliar o seu enraizamento popular, a sua cultura de ruptura e protesto com o objectivo de regressar à esfera do poder. E aí não é com purgas que se abre o caminho mas com um debate político interno diverso e abrangente em relação a todos os que possam estar interessados em fazer essa discussão sem pôr em causa o património histórico do partido, como é o caso dos renovadores que estão agora em causa. É integrando a diversidade e não excluindo que o PCP pode sobreviver. Mas pelos vistos não quer. OUTROS TÍTULOS EM ESPAÇO PÚBLICO EDITORIAL

As expulsões no PCP

OPINIÃO

O exemplo da Ordem dos Advogados

Segurança Social: vitória imperfeita

COMENTÁRIO

Fluorescentes

O FIO DO HORIZONTE

O nome em questão (1)

CARTAS AO DIRECTOR

Estados Unidos da Europa? Que fundamento?

Saúde necessita de ética

Citações

O PÚBLICO ERROU

Errata

As Expulsões no PCP

Por EDUARDO DÂMASO

Terça-feira, 23 de Julho de 2002 As expulsões de dois renovadores (Edgar Correia e Carlos Luís Figueira), a par do supremo cinismo de suspender Carlos Brito, confirmam tudo aquilo que há muito se adivinha no PCP: este partido não é reformável enquanto for dominado por dirigentes que ainda estão no tempo do muro de Berlim. O PCP é cada vez mais um partido embrulhado numa espiral de estalinismo, numa implacável caça às bruxas que só acabará quando o comité central for o paraíso secreto de todos os gerontes que sonham com a imposição do pensamento único determinado pelo conclave de dirigentes/funcionários, guardiões dessa abstracção de inspiração divina que é o "Partido". Quem manda no PCP continua a acreditar que há um movimento comunista internacional dirigido algures de uma barricada secreta em Moscovo e que o aguarda a missão vital de defender o país de novos fascismos. Esses não querem saber de outras realidades. Não querem saber que representam um partido com responsabilidades parlamentares num país que está há mais de década e meia na União Europeia e que esse é um caminho irreversível; que o comunismo ele próprio se foi transformando por essa Europa fora e que os seus congéneres que procuram novos caminhos na velha doutrina marxista são pós-comunistas. O PCP vive dominado por gente que se alimenta de velhos mitos sem regresso. Em 1974 tentou ser o partido dominante não só à esquerda como na sociedade. Em toda a sua pujança, o PCP tinha uma liderança forte, bons quadros, as massas nas ruas e pertencia a um movimento internacional que dominava metade do mundo. Hoje, o PCP não tem nada disso e não compreende que esses tempos não vão regressar. O que tem hoje o PCP? Está cada vez mais sozinho, com menos quadros e dominado por homens que permanecem agarrados ao que de mais arcaico tem a utopia comunista. Interessa-lhes sobretudo manter a qualidade de dirigentes/funcionários porque depois dos 60 anos já não se muda de vida. Já lá vai o tempo em que a vitalidade do PCP se encontrava na implantação que tinha no movimento operário, entre os jovens e entre os intelectuais. Os intelectuais estão em fuga e os jovens também, por muito que em cada festa do "Avante!" um folclore festivaleiro tente demonstrar o contrário. Torna-se penoso, para quem acredita que é um quadro parlamentar resistente à forte atracção do centro e da bipolarização o motor mais saudável da democracia, constatar que o PCP já nem é, nos tempos que correm, um partido em busca do seu papel na sociedade. Se não se transformar num partido de quadros aberto ao debate e daí partir à procura de novos factores de enraizamento social o PCP está obviamente perdido. A verdade é que, queira ou não, o PCP está condenado ao reformismo, qualquer que seja ele. O PCP necessita de tentar imaginar o seu futuro num quadro de reformismo que lhe permita conciliar o seu enraizamento popular, a sua cultura de ruptura e protesto com o objectivo de regressar à esfera do poder. E aí não é com purgas que se abre o caminho mas com um debate político interno diverso e abrangente em relação a todos os que possam estar interessados em fazer essa discussão sem pôr em causa o património histórico do partido, como é o caso dos renovadores que estão agora em causa. É integrando a diversidade e não excluindo que o PCP pode sobreviver. Mas pelos vistos não quer. OUTROS TÍTULOS EM ESPAÇO PÚBLICO EDITORIAL

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O PÚBLICO ERROU

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