Carlos Zorrinho dissera que essa votação seria "um sinal muito importante numa altura em que se vai começar a discutir o Orçamento": "Interpreta-la-emos no sentido de perceber se o Governo está com as pessoas, com as empresas", avisara.
Só que a direita foi a jogo. Prometeu votar contra e acusou o PS de divisão. "Não entendemos que seja a forma mais adequada para uma discussão construtiva [sobre o OE]", reagiu o social-democrata Luís Montenegro. "Não me passa pela cabeça que o PS não irá cumprir o acordo assinado [com a troika]", recarregou o centrista Nuno Magalhães. Da esquerda não chegou mais conforto. O bloquista Pedro Filipe Soares confirmava que votaria a favor da subida no IRC mas contra a suspensão do aumento do IVA. E o PCP, através de Bernardino Soares, também não se comprometia, assumindo estar ainda "a ponderar". No horizonte ficava a possibilidade de o PS se ver isolado numa votação parlamentar.
Como se isso não fosse suficiente, nas fileiras abriam-se brechas. O debate quinzenal de anteontem deixara marcas internas e, ontem, a prestação do líder e do chefe da bancada voltou a ser criticada. Na reunião do grupo parlamentar, o deputado José Lello classificou a conduta da direcção no debate como "a estratégia de vénia". Nos corredores, assumia-se a "vergonha" pela forma como tudo decorrera, especialmente em relação à exigência da prestação de contas ao Governo pela questão da Madeira.
Como se tal não bastasse, a reunião do grupo parlamentar - onde Seguro não esteve - revelou que no seu seio há duas posições diametralmente opostas no que se refere ao próximo Orçamento do Estado (OE). O ex-porta-voz Vitalino Canas desencadeou o debate ao defender a votação a favor do OE, para enviar um sinal de estabilidade para o estrangeiro. O ex-presidente da Câmara de Lisboa João Soares seguiu uma linha semelhante. E até mesmo Francisco Assis, candidato derrotado à liderança, admitiu a abstenção na votação. Mas houve quem, na sala, se insurgisse. E não foram deputados anónimos: o ex-ministro de José Sócrates Pedro Silva Pereira, o antigo presidente do AICEP Basílio Horta e o ex-secretário de Estado adjunto, da Indústria e do Desenvolvimento Fernando Medina. Votar a favor do OE era assumir "vergonha do passado", defendeu-se.
Por baixo da pluralidade estava a desconfiança. Assumida antes - na comissão nacional do PS em Santarém - e ontem reafirmada em surdina: de António José Seguro ceder ao desafio para integrar um futuro Governo ao lado do PSD. Já não escondiam a incomodidade com as escolhas do novo secretário-geral do partido, para a direcção do grupo, no secretariado nacional e mesmo nas tácticas de combate político. Viam sinais de "demasiada proximidade" na forma como o primeiro-ministro admitiu aceitar as propostas do PS no debate quinzenal. E deixaram o aviso: sem ir a votos, "o PS não aceita" coligação com o PSD.
Os socialistas pareciam viver uma espécie de crise existencial que lhes podia manietar a acção. Francisco Assis reconheceu-o ao PÚBLICO. Embora defendendo que se "deve baixar um bocadinho o tom da discussão interna para haver uma boa colaboração entre todos", porque, sustenta, "o papel que está reservado à oposição não é nada fácil", o ex-líder da bancada parlamentar deixava uma advertência ao líder do partido: "Tem de haver gestos de valorização, porque todos somos necessários, o dr. António Costa, antigos ministros - não é um anátema ter sido ministro. Toda essa gente tem de ser valorizada".
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Carlos Zorrinho dissera que essa votação seria "um sinal muito importante numa altura em que se vai começar a discutir o Orçamento": "Interpreta-la-emos no sentido de perceber se o Governo está com as pessoas, com as empresas", avisara.
Só que a direita foi a jogo. Prometeu votar contra e acusou o PS de divisão. "Não entendemos que seja a forma mais adequada para uma discussão construtiva [sobre o OE]", reagiu o social-democrata Luís Montenegro. "Não me passa pela cabeça que o PS não irá cumprir o acordo assinado [com a troika]", recarregou o centrista Nuno Magalhães. Da esquerda não chegou mais conforto. O bloquista Pedro Filipe Soares confirmava que votaria a favor da subida no IRC mas contra a suspensão do aumento do IVA. E o PCP, através de Bernardino Soares, também não se comprometia, assumindo estar ainda "a ponderar". No horizonte ficava a possibilidade de o PS se ver isolado numa votação parlamentar.
Como se isso não fosse suficiente, nas fileiras abriam-se brechas. O debate quinzenal de anteontem deixara marcas internas e, ontem, a prestação do líder e do chefe da bancada voltou a ser criticada. Na reunião do grupo parlamentar, o deputado José Lello classificou a conduta da direcção no debate como "a estratégia de vénia". Nos corredores, assumia-se a "vergonha" pela forma como tudo decorrera, especialmente em relação à exigência da prestação de contas ao Governo pela questão da Madeira.
Como se tal não bastasse, a reunião do grupo parlamentar - onde Seguro não esteve - revelou que no seu seio há duas posições diametralmente opostas no que se refere ao próximo Orçamento do Estado (OE). O ex-porta-voz Vitalino Canas desencadeou o debate ao defender a votação a favor do OE, para enviar um sinal de estabilidade para o estrangeiro. O ex-presidente da Câmara de Lisboa João Soares seguiu uma linha semelhante. E até mesmo Francisco Assis, candidato derrotado à liderança, admitiu a abstenção na votação. Mas houve quem, na sala, se insurgisse. E não foram deputados anónimos: o ex-ministro de José Sócrates Pedro Silva Pereira, o antigo presidente do AICEP Basílio Horta e o ex-secretário de Estado adjunto, da Indústria e do Desenvolvimento Fernando Medina. Votar a favor do OE era assumir "vergonha do passado", defendeu-se.
Por baixo da pluralidade estava a desconfiança. Assumida antes - na comissão nacional do PS em Santarém - e ontem reafirmada em surdina: de António José Seguro ceder ao desafio para integrar um futuro Governo ao lado do PSD. Já não escondiam a incomodidade com as escolhas do novo secretário-geral do partido, para a direcção do grupo, no secretariado nacional e mesmo nas tácticas de combate político. Viam sinais de "demasiada proximidade" na forma como o primeiro-ministro admitiu aceitar as propostas do PS no debate quinzenal. E deixaram o aviso: sem ir a votos, "o PS não aceita" coligação com o PSD.
Os socialistas pareciam viver uma espécie de crise existencial que lhes podia manietar a acção. Francisco Assis reconheceu-o ao PÚBLICO. Embora defendendo que se "deve baixar um bocadinho o tom da discussão interna para haver uma boa colaboração entre todos", porque, sustenta, "o papel que está reservado à oposição não é nada fácil", o ex-líder da bancada parlamentar deixava uma advertência ao líder do partido: "Tem de haver gestos de valorização, porque todos somos necessários, o dr. António Costa, antigos ministros - não é um anátema ter sido ministro. Toda essa gente tem de ser valorizada".