Vias de Facto: Notas soltíssimas sobre a noite eleitoral e adeus pepinos

04-07-2011
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1. Há muito tempo que não via tanta televisão2. O PS de José Sócrates levou uma abada muito maior do que estava previsto (não chega aos 30%)3. Vieira da Silva, do PS, parece estar prestes a desfazer-se em lágrimas4. O António Vitorino não comenta a eventual demissão do Grande Líder e face à insistência de Judite de Sousa sobre o que Sócrates devia fazer dada a previsível derrota, responde que só não está no lugar do outro porque não quis5. Judite de Sousa mudou de penteado. Envelhece-a mas fica-lhe muito melhor6. A maioria dos comentadores não diz nada que um português com a antiga quarta classe não conseguisse dizer 7. A esquerda perdeu. Obrigada José Sócrates!8. Uma jornalista mostra uma sede de campanha e diz que um dos líderes (não me lembro qual) vai vir para o púlpito mais tarde na noite (sic)9. O Vitalino Canas faz boquinhas e diz que só fala depois do Grande Líder10. Uma porta estilhaçou-se no Altis. É de filme11. Sócrates faz um discurso interminável. Deu o seu o melhor. Ama Portugal e os portugueses. Ele ama-me, porra! Sinto um arrepio. E acaba a dizer que vai para casa tomar conta dos filhosJulgo ver os olhos marejados de lágrimas de Silva Pereira mas não consigo comover-me (e eu fico sempre triste pelos que perdem – mesmo quando não os gramo: mariquices)12. Os jornalistas fazem perguntas. Ouço apupos da cozinha. Não gosto de ver bater em quem acaba de se estatelar mesmo quando a queda é merecida: mariquices 13. Os discursos de todos os líderes partidários deviam ter acabado três parágrafos antes. Falta-lhes, certamente, sentido dramático. Até Portas, que costuma ser o mais demagogicamente articulado14. Fico assustada com as referências agradecidas às juventudes partidárias. Afinal, eu conheço-as. Costumam passar aqui ao pé da minha casa. Andam de batina preta e cantam (eles e elas): É o caralho/ é o caralho… e etc.15. Passos Coelho discursa. O casaco assenta-lhe terrivelmente mal nos ombros. O corte é péssimo e antiquado. O novo primeiro-ministro devia perguntar a Sócrates (ou mesmo a Portas) quem lhe faz os fatos16. O inglês de Passos lembra-me qualquer coisa17. Cantam o hino nacional (o que me recorda sempre as aulas de canto coral desafinadas da minha juventude) e alguém anuncia na TV um programa qualquer com a Fátima Campos Ferreira. Uma mulher não é de ferro. Volto para casa e vou dormir. Leio um bocadinho de O Caso dos Macacos Lendários de Erle Stanley Gardner (já tenho uma ideia sobre quem poderá ser o assassino...)18. Enquanto isto, a Europa descobre que o problema não está nos pepinos mas talvez resida na soja. Nada disto é sério, embora seja trágico


1. Há muito tempo que não via tanta televisão2. O PS de José Sócrates levou uma abada muito maior do que estava previsto (não chega aos 30%)3. Vieira da Silva, do PS, parece estar prestes a desfazer-se em lágrimas4. O António Vitorino não comenta a eventual demissão do Grande Líder e face à insistência de Judite de Sousa sobre o que Sócrates devia fazer dada a previsível derrota, responde que só não está no lugar do outro porque não quis5. Judite de Sousa mudou de penteado. Envelhece-a mas fica-lhe muito melhor6. A maioria dos comentadores não diz nada que um português com a antiga quarta classe não conseguisse dizer 7. A esquerda perdeu. Obrigada José Sócrates!8. Uma jornalista mostra uma sede de campanha e diz que um dos líderes (não me lembro qual) vai vir para o púlpito mais tarde na noite (sic)9. O Vitalino Canas faz boquinhas e diz que só fala depois do Grande Líder10. Uma porta estilhaçou-se no Altis. É de filme11. Sócrates faz um discurso interminável. Deu o seu o melhor. Ama Portugal e os portugueses. Ele ama-me, porra! Sinto um arrepio. E acaba a dizer que vai para casa tomar conta dos filhosJulgo ver os olhos marejados de lágrimas de Silva Pereira mas não consigo comover-me (e eu fico sempre triste pelos que perdem – mesmo quando não os gramo: mariquices)12. Os jornalistas fazem perguntas. Ouço apupos da cozinha. Não gosto de ver bater em quem acaba de se estatelar mesmo quando a queda é merecida: mariquices 13. Os discursos de todos os líderes partidários deviam ter acabado três parágrafos antes. Falta-lhes, certamente, sentido dramático. Até Portas, que costuma ser o mais demagogicamente articulado14. Fico assustada com as referências agradecidas às juventudes partidárias. Afinal, eu conheço-as. Costumam passar aqui ao pé da minha casa. Andam de batina preta e cantam (eles e elas): É o caralho/ é o caralho… e etc.15. Passos Coelho discursa. O casaco assenta-lhe terrivelmente mal nos ombros. O corte é péssimo e antiquado. O novo primeiro-ministro devia perguntar a Sócrates (ou mesmo a Portas) quem lhe faz os fatos16. O inglês de Passos lembra-me qualquer coisa17. Cantam o hino nacional (o que me recorda sempre as aulas de canto coral desafinadas da minha juventude) e alguém anuncia na TV um programa qualquer com a Fátima Campos Ferreira. Uma mulher não é de ferro. Volto para casa e vou dormir. Leio um bocadinho de O Caso dos Macacos Lendários de Erle Stanley Gardner (já tenho uma ideia sobre quem poderá ser o assassino...)18. Enquanto isto, a Europa descobre que o problema não está nos pepinos mas talvez resida na soja. Nada disto é sério, embora seja trágico

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