Notas de Aveiro: Pacheco Pereira e os blogs

02-07-2011
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Pacheco Pereira coloca o dedo na ferida em opinião publicada hoje no Público. Como estes textos só ficam disponíveis durante 7 dias, cometi o pecado de colocá-lo no meu repositório de textos sobre novas tecnologias com a data de hoje.
A ideia base, correcta e justíssima para um estudo sociológico sobre a sociedade portuguesa é que 2003 não fica para a história sem o arquivo dos blogs portugueses. Algo que é normal nos EUA, onde as publicações electrónicas, incluindo blogs, que o queiram podem requisitar um ISSN e ganhar algum estatuto legal. Para além disso, seria necessário criar uma estrutura que garantisse, a quem quissesse o "backup" dos dados. E fica a ideia: que tal criar um arquivo de blogs?
Algumas das partes mais curiosas do texto:
Uma parte muito significativa do retrato do Portugal contemporâneo perde-se todos os dias sem apelo nem agravo: a Internet portuguesa. Se bem que eu seja suspeito de querer fazer e guardar o mapa com o tamanho do país que representa, ou seja tudo, nem por isso deixo de me preocupar com essa evaporação invisível dos "bits", assim como de outras formas de "efemera", onde uma parte muito especial do nosso país devia ficar para a memória colectiva.
Guardamos e bem os jornais de paróquia, perdemos e mal as páginas pessoais, os fanzines obscuros, as revistas electrónicas, os blogues apagados, os "sites" de futebol, os locais de raiva e paixão, "hobbies" curiosos, páginas que duram a brevidade de uma campanha eleitoral, elogios e insultos (mais os insultos) nos "newsgroups", "chats" estudantis com linguagens únicas, grafismos de "pastiche", mas reveladores de um gosto ou de escolhas de imitação, músicas experimentais, primícias literárias, obsessões, cultos, etc., etc. Deixo de parte outro aspecto, mais de arquivo do que de "biblioteca", do registo permanente de muita da actividade institucional, governo em particular, e que já se faz usando correio electrónico, que se apaga para sempre, sem o registo mais durável do papel.
Veja-se o caso da blogosfera. A blogosfera devia ter um "depósito obrigatório" imediato. Os blogues, enquanto formas individualizadas de expressão, originais e únicas, são uma voz imprescindível para se compreender o país em 2003. Eles expressam um mundo etário, social, comunicacional, cultural, político que, sendo uma continuação do mundo exterior, tem elementos "sui generis". A lei que obriga ao depósito obrigatório está completamente desactualizada, e uma nova lei está a ser discutida há tempo demais, sem andar para a frente. Algumas tentativas sem continuidade foram feitas na Biblioteca Nacional, incluindo um estudo em colaboração com o ISCTE sobre o "arquivamento" da Internet, já em 2001. Depois disso o que é que se fez? Eu estou a fazer os possíveis por alterar este estado de coisas.


Pacheco Pereira coloca o dedo na ferida em opinião publicada hoje no Público. Como estes textos só ficam disponíveis durante 7 dias, cometi o pecado de colocá-lo no meu repositório de textos sobre novas tecnologias com a data de hoje.
A ideia base, correcta e justíssima para um estudo sociológico sobre a sociedade portuguesa é que 2003 não fica para a história sem o arquivo dos blogs portugueses. Algo que é normal nos EUA, onde as publicações electrónicas, incluindo blogs, que o queiram podem requisitar um ISSN e ganhar algum estatuto legal. Para além disso, seria necessário criar uma estrutura que garantisse, a quem quissesse o "backup" dos dados. E fica a ideia: que tal criar um arquivo de blogs?
Algumas das partes mais curiosas do texto:
Uma parte muito significativa do retrato do Portugal contemporâneo perde-se todos os dias sem apelo nem agravo: a Internet portuguesa. Se bem que eu seja suspeito de querer fazer e guardar o mapa com o tamanho do país que representa, ou seja tudo, nem por isso deixo de me preocupar com essa evaporação invisível dos "bits", assim como de outras formas de "efemera", onde uma parte muito especial do nosso país devia ficar para a memória colectiva.
Guardamos e bem os jornais de paróquia, perdemos e mal as páginas pessoais, os fanzines obscuros, as revistas electrónicas, os blogues apagados, os "sites" de futebol, os locais de raiva e paixão, "hobbies" curiosos, páginas que duram a brevidade de uma campanha eleitoral, elogios e insultos (mais os insultos) nos "newsgroups", "chats" estudantis com linguagens únicas, grafismos de "pastiche", mas reveladores de um gosto ou de escolhas de imitação, músicas experimentais, primícias literárias, obsessões, cultos, etc., etc. Deixo de parte outro aspecto, mais de arquivo do que de "biblioteca", do registo permanente de muita da actividade institucional, governo em particular, e que já se faz usando correio electrónico, que se apaga para sempre, sem o registo mais durável do papel.
Veja-se o caso da blogosfera. A blogosfera devia ter um "depósito obrigatório" imediato. Os blogues, enquanto formas individualizadas de expressão, originais e únicas, são uma voz imprescindível para se compreender o país em 2003. Eles expressam um mundo etário, social, comunicacional, cultural, político que, sendo uma continuação do mundo exterior, tem elementos "sui generis". A lei que obriga ao depósito obrigatório está completamente desactualizada, e uma nova lei está a ser discutida há tempo demais, sem andar para a frente. Algumas tentativas sem continuidade foram feitas na Biblioteca Nacional, incluindo um estudo em colaboração com o ISCTE sobre o "arquivamento" da Internet, já em 2001. Depois disso o que é que se fez? Eu estou a fazer os possíveis por alterar este estado de coisas.

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