Pelos caminhos de Salvador Dalí

24-06-2011
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Vida e obra interpenetram-se em Salvador Dalí. Ana Cristina Pereira (texto) e Paulo Pimenta (fotos) foram à província espanhola de Girona e não resistiram a cumprir um percurso por cenários que fizeram parte da vida e fazem parte da obra do surrealista catalão

Tínhamos ido ao maior bordel da Europa - um edifício com neon´s em forma de palmeira, numa encruzilhada de La Junquera, já na fronteira de Espanha com França. Como perder a oportunidade de fazer o "roteiro" Salvador Dalí, o mais surreal dos surrealistas?

O génio catalão sempre exercera sobre mim um enorme fascínio - pela liberdade criativa, pela sensação de que uma vida inteira não chegaria para o compreender. E, de repente, ali estávamos, na província de Girona, a dois passos da costa de Cadaqués - das paisagens que povoam a sua obra.

Linha de partida: Figueres. Só uma placa denuncia o número 20 da rua Monturiolin, onde Salvador Domingo Felipe Jacinto Dalí i Domènech nasceu às 8h45 de 11 de Maio de 1904. Mas tudo, naquela vila, vai dar ao Teatro-Museu Dalí, um edifício ocre, com uma cúpula geodésica, que tantos relacionam com a sua obsessão pela forma do olho da mosca.

Naquele espaço imponente, uma grande colecção, a maior - desde as primeiras experiências às mais tardias. E é ali que o artista está sepultado. O seu funeral partiu da igreja ao lado, a Sant Pere, a mesma que acolheu o seu baptismo e a sua primeira comunhão.

A Casa-Museu Salvador Dalí situa-se a cerca de 40 quilómetros, seguindo por uma estrada curvilínea, verdejante. Entrar naquela casa debruçada sobre o mar é, de alguma forma, entrar na história de amor que uniu Dali e Elena Ivanovna Diakonova - Gala, a sua musa.

Conheceram-se em 1929, quando Dalí colaborou com Luis Buñuel na curta-metragem Un Chien Andalou. A russa era casada com o poeta surrealista Paul Éluard, os surrealistas reuniam-se no bairro parisiense de Montparnasse, e Dalí impressionava com o seu "método paranóico-crítico", que desenvolveria ao longo dos anos 30. Ela decidiu passar uns dias em casa dele, em Portlligat. E ficou.

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Não mais de oito pessoas podem entrar ao mesmo tempo naquela construção labiríntica, junção de diversas casas minúsculas, que Dalí foi comprando a pescadores e peixeiras e alterando até adquirirem aquela aparência onírica, surreal. Esta foi a sua única morada estável entre 1930 e 1982, altura em que Gala morreu e ele se mudou para o castelo de Púbol.

Entrar naquela casa é entrar na parte mais íntima da vida do artista: foi para ver o nascer do sol, sem ter de se levantar da cama, que Dalí inventou um jogo de espelhos. Em Dali, vida e obra confundem-se. Por isso, entrar naquela casa também é entrar no lugar onde tanto pôs em prática o seu "método espontâneo de conhecimento irracional baseado na associação crítica interpretativa de fenómenos delirantes".

No fim, Púbol. Naquele castelo medieval Gala foi sepultada. E, por ela, sem ela, Dalí ia definhando. Ao virar as costas a Girona, o fascínio, por ele, por ela, era ainda maior. µ

Vida e obra interpenetram-se em Salvador Dalí. Ana Cristina Pereira (texto) e Paulo Pimenta (fotos) foram à província espanhola de Girona e não resistiram a cumprir um percurso por cenários que fizeram parte da vida e fazem parte da obra do surrealista catalão

Tínhamos ido ao maior bordel da Europa - um edifício com neon´s em forma de palmeira, numa encruzilhada de La Junquera, já na fronteira de Espanha com França. Como perder a oportunidade de fazer o "roteiro" Salvador Dalí, o mais surreal dos surrealistas?

O génio catalão sempre exercera sobre mim um enorme fascínio - pela liberdade criativa, pela sensação de que uma vida inteira não chegaria para o compreender. E, de repente, ali estávamos, na província de Girona, a dois passos da costa de Cadaqués - das paisagens que povoam a sua obra.

Linha de partida: Figueres. Só uma placa denuncia o número 20 da rua Monturiolin, onde Salvador Domingo Felipe Jacinto Dalí i Domènech nasceu às 8h45 de 11 de Maio de 1904. Mas tudo, naquela vila, vai dar ao Teatro-Museu Dalí, um edifício ocre, com uma cúpula geodésica, que tantos relacionam com a sua obsessão pela forma do olho da mosca.

Naquele espaço imponente, uma grande colecção, a maior - desde as primeiras experiências às mais tardias. E é ali que o artista está sepultado. O seu funeral partiu da igreja ao lado, a Sant Pere, a mesma que acolheu o seu baptismo e a sua primeira comunhão.

A Casa-Museu Salvador Dalí situa-se a cerca de 40 quilómetros, seguindo por uma estrada curvilínea, verdejante. Entrar naquela casa debruçada sobre o mar é, de alguma forma, entrar na história de amor que uniu Dali e Elena Ivanovna Diakonova - Gala, a sua musa.

Conheceram-se em 1929, quando Dalí colaborou com Luis Buñuel na curta-metragem Un Chien Andalou. A russa era casada com o poeta surrealista Paul Éluard, os surrealistas reuniam-se no bairro parisiense de Montparnasse, e Dalí impressionava com o seu "método paranóico-crítico", que desenvolveria ao longo dos anos 30. Ela decidiu passar uns dias em casa dele, em Portlligat. E ficou.

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Não mais de oito pessoas podem entrar ao mesmo tempo naquela construção labiríntica, junção de diversas casas minúsculas, que Dalí foi comprando a pescadores e peixeiras e alterando até adquirirem aquela aparência onírica, surreal. Esta foi a sua única morada estável entre 1930 e 1982, altura em que Gala morreu e ele se mudou para o castelo de Púbol.

Entrar naquela casa é entrar na parte mais íntima da vida do artista: foi para ver o nascer do sol, sem ter de se levantar da cama, que Dalí inventou um jogo de espelhos. Em Dali, vida e obra confundem-se. Por isso, entrar naquela casa também é entrar no lugar onde tanto pôs em prática o seu "método espontâneo de conhecimento irracional baseado na associação crítica interpretativa de fenómenos delirantes".

No fim, Púbol. Naquele castelo medieval Gala foi sepultada. E, por ela, sem ela, Dalí ia definhando. Ao virar as costas a Girona, o fascínio, por ele, por ela, era ainda maior. µ

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