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06-12-2019
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Há-os cada vez mais. Inquietos porque a negritude tem mais visibilidade e voz. Desconcertados porque as velhas narrativas colonialistas e esclavagistas são postas em causa. Por vezes paternalistas com as razões igualitárias das mulheres. Contorcendo-se quando confrontados com direitos LGBTQ+. E quando se fala de crise ambiental, a partir de um ângulo crítico do capitalismo, acham que toda a gente é apocalíptica.

São maioritariamente de direita, mas também os há à esquerda. São antigos e novos defensores da velha cultura colonial, patriarcal e neoliberal. Alguns conscientemente. Outros não porque nunca questionaram algo que interiorizaram desde sempre. Agora são obrigados a confrontar-se. E estão confusos. O seu comportamento é sintoma de que estamos a viver um momento de reposicionamentos.[...] No tempo dos nossos avós havia mais racismo do que hoje, mas na actualidade há uma onda reactiva que perturba as relações sociais, por essa maior visibilidade e representatividade das identidades vistas por alguns como subalternas.

Criam-se novas conflitualidades? Sim. Há paradoxos, diferentes correntes e excessos em todas estas lógicas anti-racistas, feministas, ambientalistas ou de justiça social? Inevitavelmente. É de transformação que falamos e de hierarquias de dominação que durante anos foram interiorizadas sem serem contestadas. Quem até aqui as dava como adquiridas sente-se incomodado.Veja-se estes dias. Uma deputada, Joacine Katar Moreira, revela falta de preparação e, ela e um partido, o Livre, expõem de forma inábil divisões. E o que sucede? Há críticas, justas, à barafunda política. Mas a reboque delas, o que se entrevê em muitos casos, são invectivas moralistas, comportamentais, culturais. Racismo.

Um racismo nunca reconhecido porque naturalizado. E que facilmente é aproveitado por populismos. Num tempo em que os modelos económicos revelam debilidades, onde o crescimento económico é mais quimera do que realidade, as atenções são desviadas. Estigmatiza-se alguns grupos para reforçar uma identidade nunca nomeada. São sempre os outros (“os de cor”) os designados, com o propósito de reavivar estruturas de privilégio que não se expõem, nem sequer se vêem, como identidades.

Dessa forma legitima-se um discurso estigmatizador e reforçam-se categorias de dominação. O grande desafio, para quem defende uma outra visão da realidade, é mostrar que todas estas lógicas estão ligadas, enraizadas num mesmo sistema socioeconómico e político em erosão. É isso que pode articular a procura de maior justiça social, a luta contras as desigualdades ou as lutas feministas, anti-racistas ou ambientalistas.[...]

Trabalho de preto - Vítor Belanciano

Há-os cada vez mais. Inquietos porque a negritude tem mais visibilidade e voz. Desconcertados porque as velhas narrativas colonialistas e esclavagistas são postas em causa. Por vezes paternalistas com as razões igualitárias das mulheres. Contorcendo-se quando confrontados com direitos LGBTQ+. E quando se fala de crise ambiental, a partir de um ângulo crítico do capitalismo, acham que toda a gente é apocalíptica.

São maioritariamente de direita, mas também os há à esquerda. São antigos e novos defensores da velha cultura colonial, patriarcal e neoliberal. Alguns conscientemente. Outros não porque nunca questionaram algo que interiorizaram desde sempre. Agora são obrigados a confrontar-se. E estão confusos. O seu comportamento é sintoma de que estamos a viver um momento de reposicionamentos.[...] No tempo dos nossos avós havia mais racismo do que hoje, mas na actualidade há uma onda reactiva que perturba as relações sociais, por essa maior visibilidade e representatividade das identidades vistas por alguns como subalternas.

Criam-se novas conflitualidades? Sim. Há paradoxos, diferentes correntes e excessos em todas estas lógicas anti-racistas, feministas, ambientalistas ou de justiça social? Inevitavelmente. É de transformação que falamos e de hierarquias de dominação que durante anos foram interiorizadas sem serem contestadas. Quem até aqui as dava como adquiridas sente-se incomodado.Veja-se estes dias. Uma deputada, Joacine Katar Moreira, revela falta de preparação e, ela e um partido, o Livre, expõem de forma inábil divisões. E o que sucede? Há críticas, justas, à barafunda política. Mas a reboque delas, o que se entrevê em muitos casos, são invectivas moralistas, comportamentais, culturais. Racismo.

Um racismo nunca reconhecido porque naturalizado. E que facilmente é aproveitado por populismos. Num tempo em que os modelos económicos revelam debilidades, onde o crescimento económico é mais quimera do que realidade, as atenções são desviadas. Estigmatiza-se alguns grupos para reforçar uma identidade nunca nomeada. São sempre os outros (“os de cor”) os designados, com o propósito de reavivar estruturas de privilégio que não se expõem, nem sequer se vêem, como identidades.

Dessa forma legitima-se um discurso estigmatizador e reforçam-se categorias de dominação. O grande desafio, para quem defende uma outra visão da realidade, é mostrar que todas estas lógicas estão ligadas, enraizadas num mesmo sistema socioeconómico e político em erosão. É isso que pode articular a procura de maior justiça social, a luta contras as desigualdades ou as lutas feministas, anti-racistas ou ambientalistas.[...]

Trabalho de preto - Vítor Belanciano

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