Ulrich. Intervenção no BES/GES deveria ter sido em 2012, mas governo também tem culpa

30-04-2015
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Fernando Ulrich começa a sua intervenção inicial na comissão parlamentar de inquérito ao Banco Espírito Santo (BES) e ao GES (Grupo Espírito Santo), contrariando o depoimento de Vítor Gaspar à comissão, a propósito dos contactos feitos pelo então ministro das Finanças com operadores do sistema financeiro. Na resposta à comissão de inquérito, Gaspar disse ter tido conhecimento dos problemas no banco e no grupo pelos jornais, apenas depois de sair do Governo. E testemunhou que nos contactos que teve com o setor financeiro entre 2011 e 2013 não lhe foi transmitida preocupação em relação ao BES e ao GES.

“Gostava de dizer que falei com Vítor Gaspar, ministro das Finanças, talvez em maio ou junho de 2013. Nessa conversa, um dos assuntos que referi foi a minha preocupação com a situação no BES e no GES. E ele atuou de imediato porque, em menos de 24 horas, fui contactado por um alto funcionário do Banco de Portugal que pediu para falar comigo. E nessa conversa expliquei mais em detalhe as razões de ser da preocupação, o que aconteceu a partir daí não sei. Todas as partes envolvidas fizeram o que tinham de fazer. Eu comuniquei, e o ministro atuou e o Banco de Portugal também.”

Troika mandou calar Ulrich quando este falou sobre o BES

O presidente do BPI testemunha também que teve contactos com a troika onde falou dos problemas do BES que eram públicos no caso da exposição ao GES e Angola. Revela que nesta reunião, em setembro de 2013, “até houve uma pessoa da troika que o mandou calar.”

Ulrich não percebe porque é que o Banco Central Europeu atuou de forma “tão violenta” para com o Banco Espírito Santo, ao contrário do que fez com outros bancos. E questiona como foi possível que o BES estoirasse sem a troika dar por isso, já que a estabilidade financeira da banca era uma parte muito importante no programa de assistência a Portugal.

Intervenção deveria ter sido em 2012

Para o presidente do BPI, a situação de grande fragilidade do grupo era visível quando este começou a vender a dívida das empresas da área não financeira nos fundos de investimento comercializados aos balcões do BES. O fundo ES Liquidez começou a ser comercializado com forte exposição a títulos de dívida das empresas do Grupo Espírito Santo a partir de 2011, e cresceu sempre até 2013.

Para Fernando Ulrich, o BES/GES deveria ter sido “alvo de intervenção o mais tardar em 2012″. A intervenção deveria ter acontecido em 2012, pelo menos no Grupo Espírito Santo, reafirma. Acrescenta contudo que não sabe que leitura teve a situação do grupo no supervisor. Admite ainda que hoje é fácil avaliar que o regulador deveria ter intervindo mais cedo, mas ao mesmo tempo lembra que existiam já sinais públicos dos problemas do grupo e do banco. Também no BESA (Angola), os sinais de descontrolo existiam desde 2009, quando o BES começou a financiar a operação em Angola. Fernando Ulrich garante que nunca teve qualquer problema em ter acesso a toda a informação sobre o BFA, o o banco angolano controlado pelo BPI.

“Voto em Passos”, mas a culpa também é o do governo

Ulrich considera que a política de financiamento do grupo pelos clientes do banco era uma “confissão de fraqueza e vulnerabilidade. Não estou a ver alguém a usar a rede de retalho se não estiver em grande necessidade”. No primeiro semestre de 2014, já a gestão do banco e do grupo estavam em “fuga para a frente”. O presidente do BPI considera que nunca se deveria ter realizado o aumento de capital do BES, que aconteceu em maio de 2014 e admite que “as autoridades poderiam ter feito mais e mais cedo”. Quais autoridades? O Banco de Portugal, a CMVM e o governo.

Confessando que “votou em Passos Coelho e que provavelmente votará outra vez”, Fernando Ulrich não aceita a tese de que a culpa é toda do Banco de Portugal, o governo também é responsável pelo que aconteceu. “Não estou disponível para dizer que a culpa é toda do Banco de Portugal. Tudo o que ouvi e li, não é possível excluir o governo. Tenho pena, falo contra o meu interesse político”, mas não é possível fazer essa separação. As responsabilidades são mais vastas, acrescenta.

O presidente do BPI aponta, concretamente, ao dedo do governo na medida de resolução aplicada ao Banco Espírito Santo. Todas as alternativas à resolução implicariam uma intervenção do executivo. “Não consigo conceber que possa ter sido decidido este caso sem que o governo tivesse nada a ver com isso”. Fernando Ulrich até compreende a solução, o que não aceita é que fique estabelecido um limite para as perdas que o sistema bancário poderá ter que suportar com a resolução.

Tem que haver um limite para as perdas da banca

O gestor recorda que, para além da perda que pode decorrer da venda do Novo Banco, há ainda a possibilidade do custo de decisões judiciais desfavoráveis ser transferido para o Fundo de Resolução, e para os bancos. Ulrich não consegue entender que o impacto da resolução do BES sobre a banca não tenha sido analisado antes da tomada de decisão. “E se a perda for dois mil milhões? Vão os bancos portugueses ser obrigados a fazer aumentos de capital? Tem que haver um limite”. O banqueiro diz que já perguntou às autoridades, mas não obteve resposta.

Sem garantia de Angola, o BES estoirava

Sobra a garantia dada por Angola ao BES não final de 2013, conclui que se ela não tivesse acontecido naquela altura, os dois bancos (o BES e o BESA) estoiravam. A garantia soberana permitiu ganhar tempo até à aplicação da resolução. Hoje, o banqueiro reconhece que o Banco de Portugal deveria ter atuado mais cedo, considerando que no final de 2013 o ponto de não retorno já estava ultrapassado. Mas salientas que o BdP foi a única instituição que afrontou o poder de Salgado.

“Nunca percebi donde vinha a ideia de que Salgado tinha muito poder”

E sobre o todo poderoso ex-presidente do BES, Fernando Ulrich confessa que nunca percebeu donde vinha a ideia de que Ricardo Salgado tinha muito poder, lembrando que há grupos muito mais importantes do que GES. “Foi-se criando um mito” por parte das pessoas que o rodeavam. “Penso que este mito até não foi útil para o BES e para o próprio, porque não correspondia à realidade.”

Fernando Ulrich começa a sua intervenção inicial na comissão parlamentar de inquérito ao Banco Espírito Santo (BES) e ao GES (Grupo Espírito Santo), contrariando o depoimento de Vítor Gaspar à comissão, a propósito dos contactos feitos pelo então ministro das Finanças com operadores do sistema financeiro. Na resposta à comissão de inquérito, Gaspar disse ter tido conhecimento dos problemas no banco e no grupo pelos jornais, apenas depois de sair do Governo. E testemunhou que nos contactos que teve com o setor financeiro entre 2011 e 2013 não lhe foi transmitida preocupação em relação ao BES e ao GES.

“Gostava de dizer que falei com Vítor Gaspar, ministro das Finanças, talvez em maio ou junho de 2013. Nessa conversa, um dos assuntos que referi foi a minha preocupação com a situação no BES e no GES. E ele atuou de imediato porque, em menos de 24 horas, fui contactado por um alto funcionário do Banco de Portugal que pediu para falar comigo. E nessa conversa expliquei mais em detalhe as razões de ser da preocupação, o que aconteceu a partir daí não sei. Todas as partes envolvidas fizeram o que tinham de fazer. Eu comuniquei, e o ministro atuou e o Banco de Portugal também.”

Troika mandou calar Ulrich quando este falou sobre o BES

O presidente do BPI testemunha também que teve contactos com a troika onde falou dos problemas do BES que eram públicos no caso da exposição ao GES e Angola. Revela que nesta reunião, em setembro de 2013, “até houve uma pessoa da troika que o mandou calar.”

Ulrich não percebe porque é que o Banco Central Europeu atuou de forma “tão violenta” para com o Banco Espírito Santo, ao contrário do que fez com outros bancos. E questiona como foi possível que o BES estoirasse sem a troika dar por isso, já que a estabilidade financeira da banca era uma parte muito importante no programa de assistência a Portugal.

Intervenção deveria ter sido em 2012

Para o presidente do BPI, a situação de grande fragilidade do grupo era visível quando este começou a vender a dívida das empresas da área não financeira nos fundos de investimento comercializados aos balcões do BES. O fundo ES Liquidez começou a ser comercializado com forte exposição a títulos de dívida das empresas do Grupo Espírito Santo a partir de 2011, e cresceu sempre até 2013.

Para Fernando Ulrich, o BES/GES deveria ter sido “alvo de intervenção o mais tardar em 2012″. A intervenção deveria ter acontecido em 2012, pelo menos no Grupo Espírito Santo, reafirma. Acrescenta contudo que não sabe que leitura teve a situação do grupo no supervisor. Admite ainda que hoje é fácil avaliar que o regulador deveria ter intervindo mais cedo, mas ao mesmo tempo lembra que existiam já sinais públicos dos problemas do grupo e do banco. Também no BESA (Angola), os sinais de descontrolo existiam desde 2009, quando o BES começou a financiar a operação em Angola. Fernando Ulrich garante que nunca teve qualquer problema em ter acesso a toda a informação sobre o BFA, o o banco angolano controlado pelo BPI.

“Voto em Passos”, mas a culpa também é o do governo

Ulrich considera que a política de financiamento do grupo pelos clientes do banco era uma “confissão de fraqueza e vulnerabilidade. Não estou a ver alguém a usar a rede de retalho se não estiver em grande necessidade”. No primeiro semestre de 2014, já a gestão do banco e do grupo estavam em “fuga para a frente”. O presidente do BPI considera que nunca se deveria ter realizado o aumento de capital do BES, que aconteceu em maio de 2014 e admite que “as autoridades poderiam ter feito mais e mais cedo”. Quais autoridades? O Banco de Portugal, a CMVM e o governo.

Confessando que “votou em Passos Coelho e que provavelmente votará outra vez”, Fernando Ulrich não aceita a tese de que a culpa é toda do Banco de Portugal, o governo também é responsável pelo que aconteceu. “Não estou disponível para dizer que a culpa é toda do Banco de Portugal. Tudo o que ouvi e li, não é possível excluir o governo. Tenho pena, falo contra o meu interesse político”, mas não é possível fazer essa separação. As responsabilidades são mais vastas, acrescenta.

O presidente do BPI aponta, concretamente, ao dedo do governo na medida de resolução aplicada ao Banco Espírito Santo. Todas as alternativas à resolução implicariam uma intervenção do executivo. “Não consigo conceber que possa ter sido decidido este caso sem que o governo tivesse nada a ver com isso”. Fernando Ulrich até compreende a solução, o que não aceita é que fique estabelecido um limite para as perdas que o sistema bancário poderá ter que suportar com a resolução.

Tem que haver um limite para as perdas da banca

O gestor recorda que, para além da perda que pode decorrer da venda do Novo Banco, há ainda a possibilidade do custo de decisões judiciais desfavoráveis ser transferido para o Fundo de Resolução, e para os bancos. Ulrich não consegue entender que o impacto da resolução do BES sobre a banca não tenha sido analisado antes da tomada de decisão. “E se a perda for dois mil milhões? Vão os bancos portugueses ser obrigados a fazer aumentos de capital? Tem que haver um limite”. O banqueiro diz que já perguntou às autoridades, mas não obteve resposta.

Sem garantia de Angola, o BES estoirava

Sobra a garantia dada por Angola ao BES não final de 2013, conclui que se ela não tivesse acontecido naquela altura, os dois bancos (o BES e o BESA) estoiravam. A garantia soberana permitiu ganhar tempo até à aplicação da resolução. Hoje, o banqueiro reconhece que o Banco de Portugal deveria ter atuado mais cedo, considerando que no final de 2013 o ponto de não retorno já estava ultrapassado. Mas salientas que o BdP foi a única instituição que afrontou o poder de Salgado.

“Nunca percebi donde vinha a ideia de que Salgado tinha muito poder”

E sobre o todo poderoso ex-presidente do BES, Fernando Ulrich confessa que nunca percebeu donde vinha a ideia de que Ricardo Salgado tinha muito poder, lembrando que há grupos muito mais importantes do que GES. “Foi-se criando um mito” por parte das pessoas que o rodeavam. “Penso que este mito até não foi útil para o BES e para o próprio, porque não correspondia à realidade.”

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