TheOldMan

01-07-2011
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Imagem: Net

Universos Paralelos- Argumento para o “piloto” da primeira série portuguesa de ficção científica, a transmitir na RTP2 por volta das três e meia da madrugada; mas apenas após a compra da estação por parte da Fundação Calouste Gulbenkian –
Debruçado sobre uma projecção tridimensional do que parece ser uma colecção de gigantescos “abafadores”, um extraterrestre que lembra vagamente uma “lagarta da couve” atacada de bulimia, repreende outro exactamente igual mas de expressão compungida.
– Idiota! – Grita furiosamente o primeiro ET, enquanto as suas antenas abanam como se fossem feitas com bolas de ping-pong e molas de arame – disse-te para teres cuidado com o reboque, e mesmo assim quase que conseguiste enfiar esse planeta todo encharcado pelo buraco negro adentro.
- Mas, ó chefe…
- Cala-te! Se não fechas a matraca deixo-te na próxima dimensão com Centro de Emprego. Como é que vou remediar isto? Por causa da tua estupidez, o buraco negro acabou por fazer carambola e entrar pelo “Wormhole” Nº 7. E agora, minha besta, vou ter que aturar a administração porque tenho cinco planetas iguais, com habitantes iguais, mas com linhas de tempo paralelas. Como é que hei-de saber qual deles é o original?
Enquanto o 2º ET fica a fazer “horas extra” para remediar o problema, a câmara desce sobre uma fila de cinco planetas azuis, apenas separados por uma ténue membrana de tempo inerte (uma espécie de “látex do tempo” mas sem lubrificação).
***************************************São exactamente 19h do dia 5 de Junho de 2011.
***************************************
Planeta 1
- Vá lá, Teixeira… Não me digas que ainda estás chateado com aquela ninharia da desautorização? Sabes bem que é aquilo a que os gajos do PC chamam de “disciplina revolucionária”. E escusas de fazer essa cara de menino chorão, que eu conto contigo para a vida… Se me falhas, entalo-te como fiz ao labrego do Mário Lino.
Teixeira dos Santos continua a fazer bolinhas com o miolo do croissant, sem perder o seu ar amuado. Mas a senhora que traz os cafés dá-lhe uma disciplinar palmada na mão; farta já de birras e de ver o chão todos os dias sujo de migalhas. – Que eu não o apanhe a brincar outra vez com a comida. – adverte-o esta com ar sério – Mas que ministro da economia mais “estragadão”…
José Sócrates pega num pastel de nata e pergunta à funcionária – Então Dona Vicência, o que é que achou de termos ganho com margem de 18%? Foi mesmo do outro mundo, hein?...
Deve ter sido, Senhor Presidente do Concelho – disse a senhora que já devia vencer aí umas seis diuturnidades – Deve ter sido, porque está lá fora uma coisa enorme que parece uma travessa de pyrex; e que além de fazer uma barulheira terrível, já derreteu metade da Fundação Mário Soares…

Planeta 2
No Largo do Caldas, uma multidão de 48 pessoas, alguns deles apoiados em andarilhos e acompanhados de enfermeiras boazonas (que são o único tipo de enfermeiras que deveriam existir em qualquer universo) contempla o líder; que de botas de salto de prateleira e boné aos quadrados acaba de saltar para uma pick-up onde já se encontra um arado em esferovite.
- Amigos! – Profere esfuziante enquanto ajeita a melena para fora do boné – Nossa Senhora que não me abandona desde aquela ocasião do crude, desta vez recompensou todas as velas que a minha mãe lhe tem posto por mim e pelo meu irmão.
- Mas afinal, ganhámos ou não? – Pergunta Telmo Correia, que está no meio da multidão a tentar reparar com fita adesiva, a armação dos óculos que lhe caíram ao chão no meio da efusão da vitória.
- Ganhámos sim! – Exulta Paulo Portas, levantando o punho com determinação como se estivesse a ser filmado para um documentário de Leni Riefenstahl. – Finalmente, Portugal!
De uma negra e solitária nuvem que pairava preguiçosamente sobre o local, desce subitamente um raio ziguezagueante que o atinge no Patek Philippe, convertendo-o instantaneamente em cinzas.
- E agora, Telmo? – Pergunta Basílio Horta, que entretanto tinha chegado atrasado ainda a compor o cós das calças. – Não me digas que é desta que vamos ter que ir ao “lar” buscar o Soares Carneiro…

Planeta 3
- Ó Laurinha, onde e que eu deixei aquela gravata cor salmão que o “Socas” me mandou no Natal? O tipo vai estoirar de raiva quando me vir usá-la durante o discurso da vitória…
- Aghhorra no phosso. Tou a lavhhar os thentes.
Contrariado, Pedro Passos Coelho abre a porta do roupeiro; mas dentro deste apenas consegue ver casacos e gabardinas. Nada de gravatas…
Estende cautelosamente o braço para lá dos casacos, mas uma força desconhecida suga-o para dentro do móvel, cuja porta se fecha com um som semelhante a uma palmada seca dada numa nádega carnuda (nem sei porque é que escrevi isto aqui, mas “prontes”).
Meio atordoado, tenta levantar-se mas pára a meio com uma expressão de incredulidade estampada no rosto. As suas últimas e históricas palavras, são – Não sabia que em Nárnia havia lagartas gigantes… - antes de um desgostoso ET o reconverter numa boa porção de átomos livres bem como ao seu planeta natal.

Planeta 4
Francisco Louçã põe-se de pé sorrindo com uma expressão de extrema felicidade; e com a face banhada por flashes luminosos, pigarreia para indicar que vai usar da palavra.
- Portugueses! Não venho aqui agradecer terem-me eleito; porque serão vocês - todos aqueles que hoje confirmaram o “Não” que já tínhamos gritado no dia 12 de Março – que agradecerão a vós próprios terem votado em mim. O povo sabe o que quer. Tal como antes exemplifiquei, o casal “Zé e Maria”…
- Xico! Sai daí, caralho! – Grita-lhe Miguel Portas que continua sentado no sofá a comer “Doritos” directamente do pacote. – Senta-te lá, que me estás a “cortar a onda”…
- O que é que estás a fazer aí no meio da imprensa, Miguel? – Pergunta Louçã um pouco perplexo – Devias estar aqui comigo na tribuna, a festejar o novo amanhecer…
- Pois, pois… - Cortou cerce o interlocutor, enquanto tentava chupar um pedaço do delicioso frito que se alojara no intervalo entre os dois dentes da frente – Está a amanhecer, está. Olha, sai da frente da TV que eu estou a tentar ver o DVD dos Pink Floyd “Live at Pomeii”. E já agora, para a próxima vez certifica-te que os ácidos que compras são mesmo de confiança. Francamente! Só tenho coisas que me ralem…

Planeta 5
À porta da sede de campanha da CDU uma ambulância do INEM põe-se em marcha, transportando Bernardino Soares, que apreensivo segura solidariamente a mão de um arroxeado e balbuciante Jerónimo; jazendo este na maca com uma expressão esgazeada.
- E logo a mim! Porque é que isto não aconteceu ao Octávio Pato ou ao paspalho do Carvalhas? – Lamentava-se inquieto o simpático ancião, fazendo abanar perigosamente o saquinho do soro – O povo enlouqueceu, Dino. E logo este ano que tinha alugado um apartamento em Monte Gordo…
- Tem calma, Jerónimo – Responde-lhe compassivamente o camarada – Vais ver que a gente se safa. Pedimos ajuda ao Kim Jong-ll que tem experiência a tratar de assuntos do poder, e que também foi eleito… Ou ao Fidel, que agora está reformado e tem mais tempo para nos dar uma mãozinha… Estás a ouvir, Jerónimo? Jerónimo!... Por amor de Deus alguém traga o desfibrilador!

Conclusão
De volta à projecção do espaço multi-dimensional, o técnico tem as antenas pendentes de cansaço, quando o chefe irrompe no aposento travando bruscamente as suas elegantes cento e oito toneladas apenas com as pernas do lado esquerdo. – Então, não conseguiste remediar isso pois não? – guincha casualmente para o subalterno – De qualquer modo estive a ver as configurações do “multiverso” em relação àquilo e não há mesmo solução; pois já antes do acidente nenhuma das realidades era viável. Olha, aproveita a água e converte o resto em “matéria negra”. – Após o que se retirou rapidamente, derrapando ao melhor estilo Fred Flintstone.
O outro deu um encontrão mal-humorado no tanque de projecção, o que fez a imagem desestabilizar por uns momentos. Após o que se dirigiu ao aposento contíguo enquanto resmungava – A minha mãe bem tinha razão. Nestes estágios não se aprende nada de útil…
Música de Fundo I Lost My Heart to a Starship Trooper – Sarah Brightman & The Gossip (link)

Imagem: Net

Universos Paralelos- Argumento para o “piloto” da primeira série portuguesa de ficção científica, a transmitir na RTP2 por volta das três e meia da madrugada; mas apenas após a compra da estação por parte da Fundação Calouste Gulbenkian –
Debruçado sobre uma projecção tridimensional do que parece ser uma colecção de gigantescos “abafadores”, um extraterrestre que lembra vagamente uma “lagarta da couve” atacada de bulimia, repreende outro exactamente igual mas de expressão compungida.
– Idiota! – Grita furiosamente o primeiro ET, enquanto as suas antenas abanam como se fossem feitas com bolas de ping-pong e molas de arame – disse-te para teres cuidado com o reboque, e mesmo assim quase que conseguiste enfiar esse planeta todo encharcado pelo buraco negro adentro.
- Mas, ó chefe…
- Cala-te! Se não fechas a matraca deixo-te na próxima dimensão com Centro de Emprego. Como é que vou remediar isto? Por causa da tua estupidez, o buraco negro acabou por fazer carambola e entrar pelo “Wormhole” Nº 7. E agora, minha besta, vou ter que aturar a administração porque tenho cinco planetas iguais, com habitantes iguais, mas com linhas de tempo paralelas. Como é que hei-de saber qual deles é o original?
Enquanto o 2º ET fica a fazer “horas extra” para remediar o problema, a câmara desce sobre uma fila de cinco planetas azuis, apenas separados por uma ténue membrana de tempo inerte (uma espécie de “látex do tempo” mas sem lubrificação).
***************************************São exactamente 19h do dia 5 de Junho de 2011.
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Planeta 1
- Vá lá, Teixeira… Não me digas que ainda estás chateado com aquela ninharia da desautorização? Sabes bem que é aquilo a que os gajos do PC chamam de “disciplina revolucionária”. E escusas de fazer essa cara de menino chorão, que eu conto contigo para a vida… Se me falhas, entalo-te como fiz ao labrego do Mário Lino.
Teixeira dos Santos continua a fazer bolinhas com o miolo do croissant, sem perder o seu ar amuado. Mas a senhora que traz os cafés dá-lhe uma disciplinar palmada na mão; farta já de birras e de ver o chão todos os dias sujo de migalhas. – Que eu não o apanhe a brincar outra vez com a comida. – adverte-o esta com ar sério – Mas que ministro da economia mais “estragadão”…
José Sócrates pega num pastel de nata e pergunta à funcionária – Então Dona Vicência, o que é que achou de termos ganho com margem de 18%? Foi mesmo do outro mundo, hein?...
Deve ter sido, Senhor Presidente do Concelho – disse a senhora que já devia vencer aí umas seis diuturnidades – Deve ter sido, porque está lá fora uma coisa enorme que parece uma travessa de pyrex; e que além de fazer uma barulheira terrível, já derreteu metade da Fundação Mário Soares…

Planeta 2
No Largo do Caldas, uma multidão de 48 pessoas, alguns deles apoiados em andarilhos e acompanhados de enfermeiras boazonas (que são o único tipo de enfermeiras que deveriam existir em qualquer universo) contempla o líder; que de botas de salto de prateleira e boné aos quadrados acaba de saltar para uma pick-up onde já se encontra um arado em esferovite.
- Amigos! – Profere esfuziante enquanto ajeita a melena para fora do boné – Nossa Senhora que não me abandona desde aquela ocasião do crude, desta vez recompensou todas as velas que a minha mãe lhe tem posto por mim e pelo meu irmão.
- Mas afinal, ganhámos ou não? – Pergunta Telmo Correia, que está no meio da multidão a tentar reparar com fita adesiva, a armação dos óculos que lhe caíram ao chão no meio da efusão da vitória.
- Ganhámos sim! – Exulta Paulo Portas, levantando o punho com determinação como se estivesse a ser filmado para um documentário de Leni Riefenstahl. – Finalmente, Portugal!
De uma negra e solitária nuvem que pairava preguiçosamente sobre o local, desce subitamente um raio ziguezagueante que o atinge no Patek Philippe, convertendo-o instantaneamente em cinzas.
- E agora, Telmo? – Pergunta Basílio Horta, que entretanto tinha chegado atrasado ainda a compor o cós das calças. – Não me digas que é desta que vamos ter que ir ao “lar” buscar o Soares Carneiro…

Planeta 3
- Ó Laurinha, onde e que eu deixei aquela gravata cor salmão que o “Socas” me mandou no Natal? O tipo vai estoirar de raiva quando me vir usá-la durante o discurso da vitória…
- Aghhorra no phosso. Tou a lavhhar os thentes.
Contrariado, Pedro Passos Coelho abre a porta do roupeiro; mas dentro deste apenas consegue ver casacos e gabardinas. Nada de gravatas…
Estende cautelosamente o braço para lá dos casacos, mas uma força desconhecida suga-o para dentro do móvel, cuja porta se fecha com um som semelhante a uma palmada seca dada numa nádega carnuda (nem sei porque é que escrevi isto aqui, mas “prontes”).
Meio atordoado, tenta levantar-se mas pára a meio com uma expressão de incredulidade estampada no rosto. As suas últimas e históricas palavras, são – Não sabia que em Nárnia havia lagartas gigantes… - antes de um desgostoso ET o reconverter numa boa porção de átomos livres bem como ao seu planeta natal.

Planeta 4
Francisco Louçã põe-se de pé sorrindo com uma expressão de extrema felicidade; e com a face banhada por flashes luminosos, pigarreia para indicar que vai usar da palavra.
- Portugueses! Não venho aqui agradecer terem-me eleito; porque serão vocês - todos aqueles que hoje confirmaram o “Não” que já tínhamos gritado no dia 12 de Março – que agradecerão a vós próprios terem votado em mim. O povo sabe o que quer. Tal como antes exemplifiquei, o casal “Zé e Maria”…
- Xico! Sai daí, caralho! – Grita-lhe Miguel Portas que continua sentado no sofá a comer “Doritos” directamente do pacote. – Senta-te lá, que me estás a “cortar a onda”…
- O que é que estás a fazer aí no meio da imprensa, Miguel? – Pergunta Louçã um pouco perplexo – Devias estar aqui comigo na tribuna, a festejar o novo amanhecer…
- Pois, pois… - Cortou cerce o interlocutor, enquanto tentava chupar um pedaço do delicioso frito que se alojara no intervalo entre os dois dentes da frente – Está a amanhecer, está. Olha, sai da frente da TV que eu estou a tentar ver o DVD dos Pink Floyd “Live at Pomeii”. E já agora, para a próxima vez certifica-te que os ácidos que compras são mesmo de confiança. Francamente! Só tenho coisas que me ralem…

Planeta 5
À porta da sede de campanha da CDU uma ambulância do INEM põe-se em marcha, transportando Bernardino Soares, que apreensivo segura solidariamente a mão de um arroxeado e balbuciante Jerónimo; jazendo este na maca com uma expressão esgazeada.
- E logo a mim! Porque é que isto não aconteceu ao Octávio Pato ou ao paspalho do Carvalhas? – Lamentava-se inquieto o simpático ancião, fazendo abanar perigosamente o saquinho do soro – O povo enlouqueceu, Dino. E logo este ano que tinha alugado um apartamento em Monte Gordo…
- Tem calma, Jerónimo – Responde-lhe compassivamente o camarada – Vais ver que a gente se safa. Pedimos ajuda ao Kim Jong-ll que tem experiência a tratar de assuntos do poder, e que também foi eleito… Ou ao Fidel, que agora está reformado e tem mais tempo para nos dar uma mãozinha… Estás a ouvir, Jerónimo? Jerónimo!... Por amor de Deus alguém traga o desfibrilador!

Conclusão
De volta à projecção do espaço multi-dimensional, o técnico tem as antenas pendentes de cansaço, quando o chefe irrompe no aposento travando bruscamente as suas elegantes cento e oito toneladas apenas com as pernas do lado esquerdo. – Então, não conseguiste remediar isso pois não? – guincha casualmente para o subalterno – De qualquer modo estive a ver as configurações do “multiverso” em relação àquilo e não há mesmo solução; pois já antes do acidente nenhuma das realidades era viável. Olha, aproveita a água e converte o resto em “matéria negra”. – Após o que se retirou rapidamente, derrapando ao melhor estilo Fred Flintstone.
O outro deu um encontrão mal-humorado no tanque de projecção, o que fez a imagem desestabilizar por uns momentos. Após o que se dirigiu ao aposento contíguo enquanto resmungava – A minha mãe bem tinha razão. Nestes estágios não se aprende nada de útil…
Música de Fundo I Lost My Heart to a Starship Trooper – Sarah Brightman & The Gossip (link)

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