Costa do Castelo: Considerações soltas de um debate morno

30-06-2011
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Considerações soltas de um debate mornoO debate ontem da Sic Not foi morno. Era de esperar que assim fosse, mas desiludiu pela falta de verdadeiro combate político, confronto de ideias e exposição de argumentos. Era difícil fazer melhor neste cenário de 7 concorrentes? Talvez. Mas quem perde são os lisboetas, os que votam, que não conseguiram ver a melhor luz os seus candidatos.Era espectável que esta primeiro encontro entre os principais candidatos fosse táctico, defensivo e cauteloso. Afinal, ninguém quereria parecer demasiado ansioso, arrogante ou prepotente. Foi, para utilizar uma metáfora desportiva, um jogo de marcações à zona, por vezes num misto zona / homem-a-homem (como o par Sá Fernandes / Telmo Correia), demasiado defensivo e com poucas oportunidades de golo.No jogo das expectativas António Costa saiu-se muito bem, uma vez que era, à entrada do debate, o alvo a abater por todos os candidatos. Carmona Rodrigues decepcionou por não saber reconhecer a «sua obra» (leia-se o buraco financeiro e a situação de descontrolo que se vive hoje na CML), parecendo viver num outro mundo, enquanto Fernando Negrão apresentou-se como não pertencendo ao baralho lisboeta. As dificuldades em dizer a palavra «Câmara Municipal de Lisboa» foram evidentes (saiu um bom par de vezes «Câmara Municipal de Setúbal). Dos dois esperava-se muito mais. Esperava-se que se apresentassem a disputar a liderança da autarquia, e nunca o fizeram. Carmona só quer ser eleito e ficar à frente de Negrão. Negrão só quer ser eleito e ficar à frente de Carmona. Nenhum deles tem algum plano para a cidade.Ruben de Carvalho não desiludiu, na medida em que fez o que dele se esperava: não perder votos. Falando exclusivamente para o eleitorado comunista, de Ruben de Carvalho esperava-se que conseguisse sair da cassete PC e entrar pelo menos na «luta das esquerdas» (com Helena Roseta e Sá Fernandes, e António Costa). É uma estratégia inteligente, pois segurando o eleitorado comunista num cenário de grande abstenção pode traduzir-se na manutenção do segundo vereador.Nas «novas esquerdas», Sá Fernandes desiludiu, e Helena Roseta mostrou que está na luta para a segunda posição. Em Sá Fernandes o problema é… Helena Roseta e… Sá Fernandes. Helena Roseta porque ela apresenta o discurso que ele queria apresentar: o independente, a participação cívica e tal (como o fez há dois anos). O seu segundo problema é ter elevado a sua fasquia a um nível elevado, fazendo que qualquer intervenção mediana seja fraca. Foi o caso. Já Helena Roseta, ocupando com mestria o espaço da «esquerda urbana» tão querida ao BE (não foi por acaso que o bloco tentou até à ultima fundir as duas candidaturas), soube capitalizar a simpatia que promove, em relação a si, à sua candidatura e ao ideal que promove (como antes Alegre o tinha feito). Tem poucas ideias, é inconsequente, mas não interessa. Joga como poucos com a imprensa e será uma força a ter em conta no dia 16 de Julho. Pena é que nem tenha equipa nem projecto.Telmo Correia teme em não existir.Vejamos a análise individualAntónio CostaJá dissemos que se saiu bem. Foi cauteloso, defensivo e «presidenciável», como referem alguns comentadores. Apesar de gostarmos de o ver em cenários mais ofensivos, mais ainda quando tem claramente a melhor equipa e o melhor projecto, entende-se que nãos e tenha exposto tanto. Afinal era quem tinha mais a perder, se o debate lhe corresse mal. Penso que estará um pouco indeciso entre pedir uma maioria absoluta e estudar as potenciais coligações pós eleitorais. Mostrou porque é o único a concorrer à presidência da CML.Helena RosetaMuito inteligente na postura apresentada. O seu charme, pessoal e feminino, funcionou na perfeição. Apesar de demasiado circular no discurso, de apresentar propostas irrealizáveis (como a do comité do urbanismo) escapou ao confronto directo. Mostrou-se elegível, tranquilamente, e começou a negociar com António Costa um cenário pós eleitoral.Sá FernandesTem um grave problema em Helena Roseta. A presença da arquitecta obriga-o a apostar num jogo mais ofensivo, mais atacante, numa tentativa de [1] solidificar o seu eleitorado e [2] marcar que é a esquerda não comunista (nem socialista) nesta eleição. Foi esse o desenho táctico do ataque a Telmo Correia, que me pareceu mal sucedido e denunciado. Terá dificuldades na campanha em se desligar do elan de Roseta.Ruben CarvalhoPouco de novo. Demasiada cassete. Por vezes pareceu-me a Odete Santos, honestamente, não pela emotividade da eterna comunista mas pela sucessão de sondbites e clichés com que nos presenteou. Não se distinguiu em nada, apostando totalmente numa táctica de controlo de estragos em relação ao eleitorado da CDU. É essa a táctica comunista: não perder votos nesta eleição (o que lhe pode manter o segundo vereador)Telmo CorreiaParece que está a fazer tudo para não ser eleito, o que para o CDS seria uma estreia. Já era difícil com Carmona na corrida, com Maria José Nogueira Pinto a apoiar António Costa e com o CDS numa clara «mó de baixo». É arrasante colocar numa mesma frase a questão homossexual, a toxicodependência e a segurança, parecendo que todos os problemas de segurança da cidade proviessem de toxicodependentes gay. Terá muitas dificuldades.Fernando NegrãoNão sabia ao que ia. Pareceu distante, pouco informado e incosequente. A tirada de ter colocar pelouro do urbanismo na dependência da presidência da Câmara pelo seu valor simbólico só pode ser piada. E o engano entre Lisboa e Setúbal mostra que nem sabe bem de onde vem, nem o que anda por aqui a fazer. Para quem acusa António Costa de andar colado ao Governo (de onde foi, lembra-se, Ministro até há um mês) é um decalque do PSD de Marques Mendes: nada tem para dizer. Parece perguntar: para Lisboa? A sério?Carmona RodriguesAquele de quem tinha mais expectativas. Parece ser viver num qualquer sonho utópico, uma vez que não reconhece a situação calamitosa da CML. Há muitos departamentos sem papel higiénico, as dividas a fornecedores são graves, a CML está, na prática, em falência técnica, paralisada e sem credibilidade. O único que parece não o querer ver é Carmona. É um contender, não para a presidência mas para a vereação. Será um bom combate, o das direitas.Conclusão.Confirmou-se que apenas António Costa se apresenta como candidato à Presidência da Câmara Municipal de Lisboa, sendo que todos os outros candidatos o são apenas a vereadores. É muito interessante quer a disputa geral pelo segundo lugar, aparentemente aberta entre Helena Roseta, Carmona e Negrão, quer os campeonatos ideológicos, nas direita e nas esquerdas. António Costa, ao ocupar o centro, parece afigurar-se distante destas disputas «partidárias», preocupando-se exclusivamente com o governo futura da cidade (e não com a conquista de alguns desses campeonatos).Esperam-se mais debates, pelo menos um a 12 (que adivinho seja na RTP) e mais alguns na Sic Not (não sei bem com que critérios, mas não interessa, pois a estação de Carnaxide pode sempre alegar critérios editoriais na escolha dos candidatos).Deixo uma sugestão: porque não fazer duelos online? Mais análises do debate aqui (Daniel Oliveira), aqui (Paulo Gorjão), aqui (António Pinto), aqui (CMC).JRS


Considerações soltas de um debate mornoO debate ontem da Sic Not foi morno. Era de esperar que assim fosse, mas desiludiu pela falta de verdadeiro combate político, confronto de ideias e exposição de argumentos. Era difícil fazer melhor neste cenário de 7 concorrentes? Talvez. Mas quem perde são os lisboetas, os que votam, que não conseguiram ver a melhor luz os seus candidatos.Era espectável que esta primeiro encontro entre os principais candidatos fosse táctico, defensivo e cauteloso. Afinal, ninguém quereria parecer demasiado ansioso, arrogante ou prepotente. Foi, para utilizar uma metáfora desportiva, um jogo de marcações à zona, por vezes num misto zona / homem-a-homem (como o par Sá Fernandes / Telmo Correia), demasiado defensivo e com poucas oportunidades de golo.No jogo das expectativas António Costa saiu-se muito bem, uma vez que era, à entrada do debate, o alvo a abater por todos os candidatos. Carmona Rodrigues decepcionou por não saber reconhecer a «sua obra» (leia-se o buraco financeiro e a situação de descontrolo que se vive hoje na CML), parecendo viver num outro mundo, enquanto Fernando Negrão apresentou-se como não pertencendo ao baralho lisboeta. As dificuldades em dizer a palavra «Câmara Municipal de Lisboa» foram evidentes (saiu um bom par de vezes «Câmara Municipal de Setúbal). Dos dois esperava-se muito mais. Esperava-se que se apresentassem a disputar a liderança da autarquia, e nunca o fizeram. Carmona só quer ser eleito e ficar à frente de Negrão. Negrão só quer ser eleito e ficar à frente de Carmona. Nenhum deles tem algum plano para a cidade.Ruben de Carvalho não desiludiu, na medida em que fez o que dele se esperava: não perder votos. Falando exclusivamente para o eleitorado comunista, de Ruben de Carvalho esperava-se que conseguisse sair da cassete PC e entrar pelo menos na «luta das esquerdas» (com Helena Roseta e Sá Fernandes, e António Costa). É uma estratégia inteligente, pois segurando o eleitorado comunista num cenário de grande abstenção pode traduzir-se na manutenção do segundo vereador.Nas «novas esquerdas», Sá Fernandes desiludiu, e Helena Roseta mostrou que está na luta para a segunda posição. Em Sá Fernandes o problema é… Helena Roseta e… Sá Fernandes. Helena Roseta porque ela apresenta o discurso que ele queria apresentar: o independente, a participação cívica e tal (como o fez há dois anos). O seu segundo problema é ter elevado a sua fasquia a um nível elevado, fazendo que qualquer intervenção mediana seja fraca. Foi o caso. Já Helena Roseta, ocupando com mestria o espaço da «esquerda urbana» tão querida ao BE (não foi por acaso que o bloco tentou até à ultima fundir as duas candidaturas), soube capitalizar a simpatia que promove, em relação a si, à sua candidatura e ao ideal que promove (como antes Alegre o tinha feito). Tem poucas ideias, é inconsequente, mas não interessa. Joga como poucos com a imprensa e será uma força a ter em conta no dia 16 de Julho. Pena é que nem tenha equipa nem projecto.Telmo Correia teme em não existir.Vejamos a análise individualAntónio CostaJá dissemos que se saiu bem. Foi cauteloso, defensivo e «presidenciável», como referem alguns comentadores. Apesar de gostarmos de o ver em cenários mais ofensivos, mais ainda quando tem claramente a melhor equipa e o melhor projecto, entende-se que nãos e tenha exposto tanto. Afinal era quem tinha mais a perder, se o debate lhe corresse mal. Penso que estará um pouco indeciso entre pedir uma maioria absoluta e estudar as potenciais coligações pós eleitorais. Mostrou porque é o único a concorrer à presidência da CML.Helena RosetaMuito inteligente na postura apresentada. O seu charme, pessoal e feminino, funcionou na perfeição. Apesar de demasiado circular no discurso, de apresentar propostas irrealizáveis (como a do comité do urbanismo) escapou ao confronto directo. Mostrou-se elegível, tranquilamente, e começou a negociar com António Costa um cenário pós eleitoral.Sá FernandesTem um grave problema em Helena Roseta. A presença da arquitecta obriga-o a apostar num jogo mais ofensivo, mais atacante, numa tentativa de [1] solidificar o seu eleitorado e [2] marcar que é a esquerda não comunista (nem socialista) nesta eleição. Foi esse o desenho táctico do ataque a Telmo Correia, que me pareceu mal sucedido e denunciado. Terá dificuldades na campanha em se desligar do elan de Roseta.Ruben CarvalhoPouco de novo. Demasiada cassete. Por vezes pareceu-me a Odete Santos, honestamente, não pela emotividade da eterna comunista mas pela sucessão de sondbites e clichés com que nos presenteou. Não se distinguiu em nada, apostando totalmente numa táctica de controlo de estragos em relação ao eleitorado da CDU. É essa a táctica comunista: não perder votos nesta eleição (o que lhe pode manter o segundo vereador)Telmo CorreiaParece que está a fazer tudo para não ser eleito, o que para o CDS seria uma estreia. Já era difícil com Carmona na corrida, com Maria José Nogueira Pinto a apoiar António Costa e com o CDS numa clara «mó de baixo». É arrasante colocar numa mesma frase a questão homossexual, a toxicodependência e a segurança, parecendo que todos os problemas de segurança da cidade proviessem de toxicodependentes gay. Terá muitas dificuldades.Fernando NegrãoNão sabia ao que ia. Pareceu distante, pouco informado e incosequente. A tirada de ter colocar pelouro do urbanismo na dependência da presidência da Câmara pelo seu valor simbólico só pode ser piada. E o engano entre Lisboa e Setúbal mostra que nem sabe bem de onde vem, nem o que anda por aqui a fazer. Para quem acusa António Costa de andar colado ao Governo (de onde foi, lembra-se, Ministro até há um mês) é um decalque do PSD de Marques Mendes: nada tem para dizer. Parece perguntar: para Lisboa? A sério?Carmona RodriguesAquele de quem tinha mais expectativas. Parece ser viver num qualquer sonho utópico, uma vez que não reconhece a situação calamitosa da CML. Há muitos departamentos sem papel higiénico, as dividas a fornecedores são graves, a CML está, na prática, em falência técnica, paralisada e sem credibilidade. O único que parece não o querer ver é Carmona. É um contender, não para a presidência mas para a vereação. Será um bom combate, o das direitas.Conclusão.Confirmou-se que apenas António Costa se apresenta como candidato à Presidência da Câmara Municipal de Lisboa, sendo que todos os outros candidatos o são apenas a vereadores. É muito interessante quer a disputa geral pelo segundo lugar, aparentemente aberta entre Helena Roseta, Carmona e Negrão, quer os campeonatos ideológicos, nas direita e nas esquerdas. António Costa, ao ocupar o centro, parece afigurar-se distante destas disputas «partidárias», preocupando-se exclusivamente com o governo futura da cidade (e não com a conquista de alguns desses campeonatos).Esperam-se mais debates, pelo menos um a 12 (que adivinho seja na RTP) e mais alguns na Sic Not (não sei bem com que critérios, mas não interessa, pois a estação de Carnaxide pode sempre alegar critérios editoriais na escolha dos candidatos).Deixo uma sugestão: porque não fazer duelos online? Mais análises do debate aqui (Daniel Oliveira), aqui (Paulo Gorjão), aqui (António Pinto), aqui (CMC).JRS

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