A Arte da Fuga: O meu Congresso do CDS

01-07-2011
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Entrei no Congresso do CDS sem ter plena certeza de quem deveria apoiar para a liderança do partido. Penso que, como eu, muitos dos congressistas queriam ouvir os candidatos e, tão importante como isso, os seus principais apoiantes, para poder decidir em consciência.O primeiro discurso de Ribeiro e Castro não acrescentou muito à sua moção. Foi, no entanto, um discurso extraordinariamente inflamado, muito virado para o interior do partido, e destilando um entusiasmo que muitos queriam ver no seu próximo líder. No entanto, para mim que procurava encontrar um líder que permitisse a abertura do partido a novas questões e gerações e que não o recentrasse exclusivamente na democracia cristã, o discurso de Ribeiro e Castro nada me disse. Pelo que teria de esperar por novas intervenções. O primeiro discurso de Telmo Correia foi virado para o exterior do partido, mas quase sempre fazendo um balanço do passado. Ficaram por responder diversas questões que gostaria de ter visto analisadas. E foi um discurso menos entusiasta e, sobretudo (o que lhe foi fatal) menos afectivo.Do resumo dos dois discursos foi possível perceber que os dois candidatos se afirmavam democratas cristãos e queriam manter a democracia cristã como trave mestra do partido. Que ambos ambicionavam tornar o CDS como maior partido português. Que ambos defendiam o Não ao aborto e o Sim ao tratado constitucional europeu. Que ambos apoiariam um candidato presidencial único do centro e direita. Que ambos apostariam nas autárquicas. Que ambos queriam a abertura do CDS à sociedade civil. Posto isto, teria de esperar pelos discursos dos apoiantes de cada um para me decidir.De um lado, percebi que os apoiantes de Ribeiro e Castro temiam a abertura do CDS às correntes liberais. Maria José Nogueira Pinto chegou a defender que a primeira questão a ser colocada pelo partido deveria ser: “o que é ser português e o que significa a bandeira portuguesa hoje em dia?” apelando a um discurso mais conservador e nacionalista. Continuou dizendo que as ideias trazem eleitores e que o partido não deveria ponderar rectificar estratégias em busca de novos eleitores, apelando a um partido marcadamente doutrinário. Luís Nobre Guedes veio criticar a estratégia de falar para a classe média e para os empresários, dizendo que os empresários eram os eleitores do PSD e que as classes mais desfavorecidas e os novos pobres eram os eleitores do CDS, apelando a um reforço profundo da democracia cristã.Do outro lado, os apoiantes de Telmo Correia falavam na necessidade de o partido se abrir a liberais e conservadores, alargando o seu espaço e, em consequência, esbatendo o seu carácter doutrinário. Pires de Lima defendeu um partido mais liberal, que encontrasse resposta para os que mais sofrem e para os que mais iniciativa têm. Chegou mesmo a criticar a forma fechada e dogmática como o CDS fala de família tradicional. Teresa Caeiro e Guilherme Magalhães alertaram para o risco de fechar o partido e de o tornar demasiadamente confessional, insistindo na vontade de tornar o CDS um partido mais pragmático.O sentimento da sala foi exactamente contrário ao meu. De cada vez que um congressista falava no aprofundamento da democracia cristã, os aplausos somavam-se (muitos deles vindos de pessoas que ajudaram Manuel Monteiro a enterrar a democracia cristã). De cada vez que um congressista falava na abertura do partido, os sussurros somavam-se. O sentimento geral, que o segundo discurso de Ribeiro e Castro corporizou na perfeição, foi o de a democracia cristã poder estar em risco com Telmo Correia. Ribeiro e Castro ganhou o Congresso, e Luís Nobre Guedes percebeu perfeitamente o caminho quando discursou, porque se assumiu como o garante de um partido doutrinário. Telmo Correia perdeu apoios precisamente porque assumiu que queria abrir o partido a novas correntes.Decidi por isso apoiar Telmo Correia, nomeadamente durante o seu segundo discurso, quando expôs o seu projecto de partido de quadros e aberto à sociedade civil, que não segregasse doutrinariamente, que encontrasse novas bandeiras e novas respostas, que assumisse a batalha cultural com a esquerda.Quando Telmo Correia apresentou parte da sua equipa e apresentou para Secretário-Geral do CDS o nome de João Almeida, decidi que não poderia manter o meu apoio. Indepententemente das profundas divergências pessoais e políticas que me afastam de João Almeida, não consegui entender que um partido que se quer credibilizar e que quer encontrar um novo elan na sociedade civil apresentasse como Secretário Geral um pessoa cuja única actividade conhecida é a de político e cujas convicções estão bem mais próximas (legitimamente) do conservadorismo. E ao apresentar apenas os nomes Pires de Lima, Nuno Melo, Álvaro Castelo Branco e João Almeida, a sensação de todos os que apoiavam Telmo Correia no pressuposto de um novo e grande partido de quadros, pragmático e reformista, foi a de que apenas o nome Pires de Lima reflectia esse espírito e os restantes nomes eram insuficientes, sendo mesmo, no caso de João Almeida, um nome contrário ao projecto de partido sonhado.Optei assim por me abster, não votando em nenhum dos candidatos. Foi, seguramente, uma opção de eleitor, mais do que militante. Um militante, quando as convicções não estão espelhadas em nenhuma candidatura, vota no menos mau, naquele que tem melhores pessoas mesmo que delas se discorde, naquele que ofereceu melhores lugares ou naquele que pareceu mais entusiasta. Esse não é o meu caminho. Senti que em consciência o Congresso não era um oportunidade perdida. Havia ali, isso sim, falta de oportunidade, porque nenhuma das candidaturas me assegurava aquilo que eu, talvez à força, sonho para o CDS. Abstive-me enquanto eleitor do CDS. Como militante, colaborarei sempre com tudo o que me for pedido e em tudo o que não violar as minhas convicções.Teremos assim um CDS marcadamente doutrinário e essencialmente democrata cristão, que não é, nem pode ser o meu caminho. A esquerda já rejubilou. Veremos se o eleitorado de direita fará o mesmo.

Entrei no Congresso do CDS sem ter plena certeza de quem deveria apoiar para a liderança do partido. Penso que, como eu, muitos dos congressistas queriam ouvir os candidatos e, tão importante como isso, os seus principais apoiantes, para poder decidir em consciência.O primeiro discurso de Ribeiro e Castro não acrescentou muito à sua moção. Foi, no entanto, um discurso extraordinariamente inflamado, muito virado para o interior do partido, e destilando um entusiasmo que muitos queriam ver no seu próximo líder. No entanto, para mim que procurava encontrar um líder que permitisse a abertura do partido a novas questões e gerações e que não o recentrasse exclusivamente na democracia cristã, o discurso de Ribeiro e Castro nada me disse. Pelo que teria de esperar por novas intervenções. O primeiro discurso de Telmo Correia foi virado para o exterior do partido, mas quase sempre fazendo um balanço do passado. Ficaram por responder diversas questões que gostaria de ter visto analisadas. E foi um discurso menos entusiasta e, sobretudo (o que lhe foi fatal) menos afectivo.Do resumo dos dois discursos foi possível perceber que os dois candidatos se afirmavam democratas cristãos e queriam manter a democracia cristã como trave mestra do partido. Que ambos ambicionavam tornar o CDS como maior partido português. Que ambos defendiam o Não ao aborto e o Sim ao tratado constitucional europeu. Que ambos apoiariam um candidato presidencial único do centro e direita. Que ambos apostariam nas autárquicas. Que ambos queriam a abertura do CDS à sociedade civil. Posto isto, teria de esperar pelos discursos dos apoiantes de cada um para me decidir.De um lado, percebi que os apoiantes de Ribeiro e Castro temiam a abertura do CDS às correntes liberais. Maria José Nogueira Pinto chegou a defender que a primeira questão a ser colocada pelo partido deveria ser: “o que é ser português e o que significa a bandeira portuguesa hoje em dia?” apelando a um discurso mais conservador e nacionalista. Continuou dizendo que as ideias trazem eleitores e que o partido não deveria ponderar rectificar estratégias em busca de novos eleitores, apelando a um partido marcadamente doutrinário. Luís Nobre Guedes veio criticar a estratégia de falar para a classe média e para os empresários, dizendo que os empresários eram os eleitores do PSD e que as classes mais desfavorecidas e os novos pobres eram os eleitores do CDS, apelando a um reforço profundo da democracia cristã.Do outro lado, os apoiantes de Telmo Correia falavam na necessidade de o partido se abrir a liberais e conservadores, alargando o seu espaço e, em consequência, esbatendo o seu carácter doutrinário. Pires de Lima defendeu um partido mais liberal, que encontrasse resposta para os que mais sofrem e para os que mais iniciativa têm. Chegou mesmo a criticar a forma fechada e dogmática como o CDS fala de família tradicional. Teresa Caeiro e Guilherme Magalhães alertaram para o risco de fechar o partido e de o tornar demasiadamente confessional, insistindo na vontade de tornar o CDS um partido mais pragmático.O sentimento da sala foi exactamente contrário ao meu. De cada vez que um congressista falava no aprofundamento da democracia cristã, os aplausos somavam-se (muitos deles vindos de pessoas que ajudaram Manuel Monteiro a enterrar a democracia cristã). De cada vez que um congressista falava na abertura do partido, os sussurros somavam-se. O sentimento geral, que o segundo discurso de Ribeiro e Castro corporizou na perfeição, foi o de a democracia cristã poder estar em risco com Telmo Correia. Ribeiro e Castro ganhou o Congresso, e Luís Nobre Guedes percebeu perfeitamente o caminho quando discursou, porque se assumiu como o garante de um partido doutrinário. Telmo Correia perdeu apoios precisamente porque assumiu que queria abrir o partido a novas correntes.Decidi por isso apoiar Telmo Correia, nomeadamente durante o seu segundo discurso, quando expôs o seu projecto de partido de quadros e aberto à sociedade civil, que não segregasse doutrinariamente, que encontrasse novas bandeiras e novas respostas, que assumisse a batalha cultural com a esquerda.Quando Telmo Correia apresentou parte da sua equipa e apresentou para Secretário-Geral do CDS o nome de João Almeida, decidi que não poderia manter o meu apoio. Indepententemente das profundas divergências pessoais e políticas que me afastam de João Almeida, não consegui entender que um partido que se quer credibilizar e que quer encontrar um novo elan na sociedade civil apresentasse como Secretário Geral um pessoa cuja única actividade conhecida é a de político e cujas convicções estão bem mais próximas (legitimamente) do conservadorismo. E ao apresentar apenas os nomes Pires de Lima, Nuno Melo, Álvaro Castelo Branco e João Almeida, a sensação de todos os que apoiavam Telmo Correia no pressuposto de um novo e grande partido de quadros, pragmático e reformista, foi a de que apenas o nome Pires de Lima reflectia esse espírito e os restantes nomes eram insuficientes, sendo mesmo, no caso de João Almeida, um nome contrário ao projecto de partido sonhado.Optei assim por me abster, não votando em nenhum dos candidatos. Foi, seguramente, uma opção de eleitor, mais do que militante. Um militante, quando as convicções não estão espelhadas em nenhuma candidatura, vota no menos mau, naquele que tem melhores pessoas mesmo que delas se discorde, naquele que ofereceu melhores lugares ou naquele que pareceu mais entusiasta. Esse não é o meu caminho. Senti que em consciência o Congresso não era um oportunidade perdida. Havia ali, isso sim, falta de oportunidade, porque nenhuma das candidaturas me assegurava aquilo que eu, talvez à força, sonho para o CDS. Abstive-me enquanto eleitor do CDS. Como militante, colaborarei sempre com tudo o que me for pedido e em tudo o que não violar as minhas convicções.Teremos assim um CDS marcadamente doutrinário e essencialmente democrata cristão, que não é, nem pode ser o meu caminho. A esquerda já rejubilou. Veremos se o eleitorado de direita fará o mesmo.

Entrei no Congresso do CDS sem ter plena certeza de quem deveria apoiar para a liderança do partido. Penso que, como eu, muitos dos congressistas queriam ouvir os candidatos e, tão importante como isso, os seus principais apoiantes, para poder decidir em consciência.O primeiro discurso de Ribeiro e Castro não acrescentou muito à sua moção. Foi, no entanto, um discurso extraordinariamente inflamado, muito virado para o interior do partido, e destilando um entusiasmo que muitos queriam ver no seu próximo líder. No entanto, para mim que procurava encontrar um líder que permitisse a abertura do partido a novas questões e gerações e que não o recentrasse exclusivamente na democracia cristã, o discurso de Ribeiro e Castro nada me disse. Pelo que teria de esperar por novas intervenções. O primeiro discurso de Telmo Correia foi virado para o exterior do partido, mas quase sempre fazendo um balanço do passado. Ficaram por responder diversas questões que gostaria de ter visto analisadas. E foi um discurso menos entusiasta e, sobretudo (o que lhe foi fatal) menos afectivo.Do resumo dos dois discursos foi possível perceber que os dois candidatos se afirmavam democratas cristãos e queriam manter a democracia cristã como trave mestra do partido. Que ambos ambicionavam tornar o CDS como maior partido português. Que ambos defendiam o Não ao aborto e o Sim ao tratado constitucional europeu. Que ambos apoiariam um candidato presidencial único do centro e direita. Que ambos apostariam nas autárquicas. Que ambos queriam a abertura do CDS à sociedade civil. Posto isto, teria de esperar pelos discursos dos apoiantes de cada um para me decidir.De um lado, percebi que os apoiantes de Ribeiro e Castro temiam a abertura do CDS às correntes liberais. Maria José Nogueira Pinto chegou a defender que a primeira questão a ser colocada pelo partido deveria ser: “o que é ser português e o que significa a bandeira portuguesa hoje em dia?” apelando a um discurso mais conservador e nacionalista. Continuou dizendo que as ideias trazem eleitores e que o partido não deveria ponderar rectificar estratégias em busca de novos eleitores, apelando a um partido marcadamente doutrinário. Luís Nobre Guedes veio criticar a estratégia de falar para a classe média e para os empresários, dizendo que os empresários eram os eleitores do PSD e que as classes mais desfavorecidas e os novos pobres eram os eleitores do CDS, apelando a um reforço profundo da democracia cristã.Do outro lado, os apoiantes de Telmo Correia falavam na necessidade de o partido se abrir a liberais e conservadores, alargando o seu espaço e, em consequência, esbatendo o seu carácter doutrinário. Pires de Lima defendeu um partido mais liberal, que encontrasse resposta para os que mais sofrem e para os que mais iniciativa têm. Chegou mesmo a criticar a forma fechada e dogmática como o CDS fala de família tradicional. Teresa Caeiro e Guilherme Magalhães alertaram para o risco de fechar o partido e de o tornar demasiadamente confessional, insistindo na vontade de tornar o CDS um partido mais pragmático.O sentimento da sala foi exactamente contrário ao meu. De cada vez que um congressista falava no aprofundamento da democracia cristã, os aplausos somavam-se (muitos deles vindos de pessoas que ajudaram Manuel Monteiro a enterrar a democracia cristã). De cada vez que um congressista falava na abertura do partido, os sussurros somavam-se. O sentimento geral, que o segundo discurso de Ribeiro e Castro corporizou na perfeição, foi o de a democracia cristã poder estar em risco com Telmo Correia. Ribeiro e Castro ganhou o Congresso, e Luís Nobre Guedes percebeu perfeitamente o caminho quando discursou, porque se assumiu como o garante de um partido doutrinário. Telmo Correia perdeu apoios precisamente porque assumiu que queria abrir o partido a novas correntes.Decidi por isso apoiar Telmo Correia, nomeadamente durante o seu segundo discurso, quando expôs o seu projecto de partido de quadros e aberto à sociedade civil, que não segregasse doutrinariamente, que encontrasse novas bandeiras e novas respostas, que assumisse a batalha cultural com a esquerda.Quando Telmo Correia apresentou parte da sua equipa e apresentou para Secretário-Geral do CDS o nome de João Almeida, decidi que não poderia manter o meu apoio. Indepententemente das profundas divergências pessoais e políticas que me afastam de João Almeida, não consegui entender que um partido que se quer credibilizar e que quer encontrar um novo elan na sociedade civil apresentasse como Secretário Geral um pessoa cuja única actividade conhecida é a de político e cujas convicções estão bem mais próximas (legitimamente) do conservadorismo. E ao apresentar apenas os nomes Pires de Lima, Nuno Melo, Álvaro Castelo Branco e João Almeida, a sensação de todos os que apoiavam Telmo Correia no pressuposto de um novo e grande partido de quadros, pragmático e reformista, foi a de que apenas o nome Pires de Lima reflectia esse espírito e os restantes nomes eram insuficientes, sendo mesmo, no caso de João Almeida, um nome contrário ao projecto de partido sonhado.Optei assim por me abster, não votando em nenhum dos candidatos. Foi, seguramente, uma opção de eleitor, mais do que militante. Um militante, quando as convicções não estão espelhadas em nenhuma candidatura, vota no menos mau, naquele que tem melhores pessoas mesmo que delas se discorde, naquele que ofereceu melhores lugares ou naquele que pareceu mais entusiasta. Esse não é o meu caminho. Senti que em consciência o Congresso não era um oportunidade perdida. Havia ali, isso sim, falta de oportunidade, porque nenhuma das candidaturas me assegurava aquilo que eu, talvez à força, sonho para o CDS. Abstive-me enquanto eleitor do CDS. Como militante, colaborarei sempre com tudo o que me for pedido e em tudo o que não violar as minhas convicções.Teremos assim um CDS marcadamente doutrinário e essencialmente democrata cristão, que não é, nem pode ser o meu caminho. A esquerda já rejubilou. Veremos se o eleitorado de direita fará o mesmo.

Entrei no Congresso do CDS sem ter plena certeza de quem deveria apoiar para a liderança do partido. Penso que, como eu, muitos dos congressistas queriam ouvir os candidatos e, tão importante como isso, os seus principais apoiantes, para poder decidir em consciência.O primeiro discurso de Ribeiro e Castro não acrescentou muito à sua moção. Foi, no entanto, um discurso extraordinariamente inflamado, muito virado para o interior do partido, e destilando um entusiasmo que muitos queriam ver no seu próximo líder. No entanto, para mim que procurava encontrar um líder que permitisse a abertura do partido a novas questões e gerações e que não o recentrasse exclusivamente na democracia cristã, o discurso de Ribeiro e Castro nada me disse. Pelo que teria de esperar por novas intervenções. O primeiro discurso de Telmo Correia foi virado para o exterior do partido, mas quase sempre fazendo um balanço do passado. Ficaram por responder diversas questões que gostaria de ter visto analisadas. E foi um discurso menos entusiasta e, sobretudo (o que lhe foi fatal) menos afectivo.Do resumo dos dois discursos foi possível perceber que os dois candidatos se afirmavam democratas cristãos e queriam manter a democracia cristã como trave mestra do partido. Que ambos ambicionavam tornar o CDS como maior partido português. Que ambos defendiam o Não ao aborto e o Sim ao tratado constitucional europeu. Que ambos apoiariam um candidato presidencial único do centro e direita. Que ambos apostariam nas autárquicas. Que ambos queriam a abertura do CDS à sociedade civil. Posto isto, teria de esperar pelos discursos dos apoiantes de cada um para me decidir.De um lado, percebi que os apoiantes de Ribeiro e Castro temiam a abertura do CDS às correntes liberais. Maria José Nogueira Pinto chegou a defender que a primeira questão a ser colocada pelo partido deveria ser: “o que é ser português e o que significa a bandeira portuguesa hoje em dia?” apelando a um discurso mais conservador e nacionalista. Continuou dizendo que as ideias trazem eleitores e que o partido não deveria ponderar rectificar estratégias em busca de novos eleitores, apelando a um partido marcadamente doutrinário. Luís Nobre Guedes veio criticar a estratégia de falar para a classe média e para os empresários, dizendo que os empresários eram os eleitores do PSD e que as classes mais desfavorecidas e os novos pobres eram os eleitores do CDS, apelando a um reforço profundo da democracia cristã.Do outro lado, os apoiantes de Telmo Correia falavam na necessidade de o partido se abrir a liberais e conservadores, alargando o seu espaço e, em consequência, esbatendo o seu carácter doutrinário. Pires de Lima defendeu um partido mais liberal, que encontrasse resposta para os que mais sofrem e para os que mais iniciativa têm. Chegou mesmo a criticar a forma fechada e dogmática como o CDS fala de família tradicional. Teresa Caeiro e Guilherme Magalhães alertaram para o risco de fechar o partido e de o tornar demasiadamente confessional, insistindo na vontade de tornar o CDS um partido mais pragmático.O sentimento da sala foi exactamente contrário ao meu. De cada vez que um congressista falava no aprofundamento da democracia cristã, os aplausos somavam-se (muitos deles vindos de pessoas que ajudaram Manuel Monteiro a enterrar a democracia cristã). De cada vez que um congressista falava na abertura do partido, os sussurros somavam-se. O sentimento geral, que o segundo discurso de Ribeiro e Castro corporizou na perfeição, foi o de a democracia cristã poder estar em risco com Telmo Correia. Ribeiro e Castro ganhou o Congresso, e Luís Nobre Guedes percebeu perfeitamente o caminho quando discursou, porque se assumiu como o garante de um partido doutrinário. Telmo Correia perdeu apoios precisamente porque assumiu que queria abrir o partido a novas correntes.Decidi por isso apoiar Telmo Correia, nomeadamente durante o seu segundo discurso, quando expôs o seu projecto de partido de quadros e aberto à sociedade civil, que não segregasse doutrinariamente, que encontrasse novas bandeiras e novas respostas, que assumisse a batalha cultural com a esquerda.Quando Telmo Correia apresentou parte da sua equipa e apresentou para Secretário-Geral do CDS o nome de João Almeida, decidi que não poderia manter o meu apoio. Indepententemente das profundas divergências pessoais e políticas que me afastam de João Almeida, não consegui entender que um partido que se quer credibilizar e que quer encontrar um novo elan na sociedade civil apresentasse como Secretário Geral um pessoa cuja única actividade conhecida é a de político e cujas convicções estão bem mais próximas (legitimamente) do conservadorismo. E ao apresentar apenas os nomes Pires de Lima, Nuno Melo, Álvaro Castelo Branco e João Almeida, a sensação de todos os que apoiavam Telmo Correia no pressuposto de um novo e grande partido de quadros, pragmático e reformista, foi a de que apenas o nome Pires de Lima reflectia esse espírito e os restantes nomes eram insuficientes, sendo mesmo, no caso de João Almeida, um nome contrário ao projecto de partido sonhado.Optei assim por me abster, não votando em nenhum dos candidatos. Foi, seguramente, uma opção de eleitor, mais do que militante. Um militante, quando as convicções não estão espelhadas em nenhuma candidatura, vota no menos mau, naquele que tem melhores pessoas mesmo que delas se discorde, naquele que ofereceu melhores lugares ou naquele que pareceu mais entusiasta. Esse não é o meu caminho. Senti que em consciência o Congresso não era um oportunidade perdida. Havia ali, isso sim, falta de oportunidade, porque nenhuma das candidaturas me assegurava aquilo que eu, talvez à força, sonho para o CDS. Abstive-me enquanto eleitor do CDS. Como militante, colaborarei sempre com tudo o que me for pedido e em tudo o que não violar as minhas convicções.Teremos assim um CDS marcadamente doutrinário e essencialmente democrata cristão, que não é, nem pode ser o meu caminho. A esquerda já rejubilou. Veremos se o eleitorado de direita fará o mesmo.

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