Sábado

08-10-2014
marcar artigo

Política

Militantes falsos no PSD

Por Vítor Matos

O Partido Social Democrata (PSD) aceitou a filiação de militantes falsos em 2009, validados pela secção i, um dos antigos núcleos da distrital de Lisboa. Um grupo de estudantes do Instituto Superior de Economia e Gestão (ISEG) denuncia o caso à SÁBADO através de depoimentos gravados em vídeo. Os cartões falsos eram depois usados por outras pessoas, que não eram militantes do PSD, nas eleições internas do partido. Nas directas de Março de 2010, o beneficiado com o esquema foi Pedro Passos Coelho, que ganhou a eleição por larga margem contra Paulo Rangel e José Pedro Aguiar-Branco. O processo está a ser apreciado pelo Conselho de Jurisdição da JSD e há uma queixa na polícia.

Gonçalo Almeida, estudante de Economia de 21 anos, pediu para ser militante do PSD em Outubro de 2009 a Nuno Firmo, um colega de faculdade, que era presidente da Mesa da Assembleia da Associação de Estudantes do ISEG e presidente da Juventude Social Democrata (JSD) da secção i de Lisboa. Quando consultou o seu processo na sede nacional do PSD, verificou que todos os dados da sua ficha eram falsos. Até o cartão de estudante era de outra faculdade, de um pólo da Universidade Lusófona, que ficava na área de jurisdição da secção i, que abrangia toda a zona da Baixa de Lisboa. João Matias, estudante de Matemática Aplicada à Gestão também era militante do PSD sem saber. É natural da Marinha Grande e toda a sua família é simpatizante do PCP. Todos os dados da sua ficha, à excepção do nome eram falsos. Os estudantes suspeitam que os seus bilhetes de identidade foram copiados na Associação de Estudantes do ISEG depois de se terem inscrito na equipa de futebol do núcleo de desporto.

(Ver depoimento de Gonçalo Almeida em vídeo nas páginas seguintes).

A morada que constava na ficha a que a SÁBADO teve acesso, na Rua do Sol ao Rato, pertencia a outro colega do ISEG, Diogo Perestrelo, natural da Madeira. Este estudante confirmou à SÁBADO que o dirigente da JSD Nuno Firmo lhe pediu para receber correspondência do partido na sua caixa do correio, embora não tivesse percebido quais eram os objectivos do social-democrata. Era lá que Firmo ia recolher o correio enviado em nome das fichas falsas. Nuno Firmo nega as acusações. (Ouvir depoimento de Nuno Firmo em áudio, nas páginas seguintes)

Os cartões eram depois utilizados por estudantes universitários arregimentados para votar por militantes do PSD que não imaginavam que estavam filiados no partido. Jorge Ferreira, também estudante de Economia do ISEG, assume que votou na secção i com cartões de militantes de outras pessoas e nunca chegou a ser filiado no partido. Acusa o líder da JSD da secção i e o seu braço direito, Carlos Martins (que a SÁBADO não conseguiu contactar), de promoverem as votações fraudulentas. (Ver depoimento de Jorge Ferreira em vídeo nas páginas seguintes)

Carlos Ramos, outro estudante do ISEG, diz que também foi convidado a participar nas votações da secção i, mas recusou sempre participar. (Ver depoimento de Carlos Ramos em vídeo nas páginas seguintes)

O líder da JSD Duarte Marques afasta responsabilidades no alegado comportamento dos jovens sociais-democratas da antiga secção da Baixa de Lisboa. “Tive conhecimento do caso e reenviei-o para os órgãos próprios que devem tomar decisões e analisar as situações menos correctas”, explica à SÁBADO. “Deve-se fazer justiça, doa a quem doer”. Ricardo Sousa, presidente do Conselho de Jurisdição Nacional da JSD, confirma à SÁBADO que “o processo está a ser analisado em sede de primeira instância”. Quanto à demora na apreciação do caso, diz que “o tempo que está a demorar tem a ver com o procedimento que é adoptado para todos os processos”.

Sérgio Azevedo, 30 anos, deputado na Assembleia da República desde as últimas eleições e antigo dirigente da JSD foi presidente da secção i até à extinção das secções de Lisboa no fim de 2010. Contactado pela SÁBADO, Sérgio Azevedo diz que nunca teve conhecimento de um caso de falsificação de militantes e que nunca ouviu falar nisso. “Não tenho conhecimento de nenhuma queixa”, acrescenta. “Tenho muita dificuldade em acreditar nisso”.

(Ouvir depoimento de Sérgio Azevedo em áudio nas páginas seguintes)

O actual secretário-geral do PSD, José Matos Rosa, diz à SÁBADO desconhecer as fichas falsificadas. “Não chegou nada ao nosso conhecimento. Não foi feita queixa nenhuma”. Miguel Relvas, hoje ministro adjunto e dos Assuntos Parlamentares, também afirma à SÁBADO: “Nunca ouvi falar disso. Quando fui secretário-geral, fiz a limpeza de todos os militantes que não pagavam quotas há mais de dois anos.” Assume, porém, a dificuldade em identificar os falsos militantes: “É muito difícil detectar. Os processos chegam das secções, com as cópias dos bilhetes de identidade”. Luís Marques Guedes, actual secretário de Estado da Presidência do Conselho de Ministros que era o secretário-geral do PSD na época em que as fichas em causa entraram no partido, também não sabia de nada: “Desconheço totalmente”, afirmou.

Carlos Ramos, estudante do ISEG: “Pediram-me para votar por outras pessoas”

O seu browser não suporta iframes. Faça o upgrade do mesmo.

Carlos Ramos, 21 anos, estudante de Economia no ISEG, diz que foi aliciado pelos dirigentes associativos e da JSD para votar por outras pessoas na secção i, na Baixa de Lisboa: “O Carlos Martins e o Nuno Firmo pediram-me para votar por outras pessoas entre 2009 e 2010. Perguntei por quem ia votar ao Firmo e ele dizia que eram antigos militantes que já não ligavam ao partido. Mas eu arranjava desculpas, dizia que vivia na margem sul e que não podia ir”. No entanto, Carlos Ramos nunca o fez.

Jorge Ferreira votou com cartão falso: “Pediram-me para votar em Passos Coelho”

O seu browser não suporta iframes. Faça o upgrade do mesmo.

Jorge Ferreira, 21 anos, estudante de Economia no ISEG, assume que votou em Pedro Passos Coelho nas eleições internas de 2010, sem ser militante, com cartões falsificados na antiga secção i, onde a jota era liderada por Nuno Firmo – que foi director para a juventude em Lisboa de Passos Coelho na última campanha interna. É também fundador e dirigente da Associação Juvenil para a Juventude (AJPJ).

“Participei em eleições da secção i sem ser militante. Votei por outros. O cartão não era meu”. Recorda-se de o ter feito nas directas de Março de 2010. “Pediram-me para votar em Pedro Passos Coelho”. Porque razão é que o fez, sabendo que era errado? “Conhecemo-nos na faculdade em ambientes académicos. Parecia haver alguma confiança, éramos amigos de copos. Estávamos a fazer um favor, não era nada de mal, mas o que estava por trás é pouco ético e até é crime”.

Gonçalo Almeida denuncia: Já era militante antes de pedir para ser

O seu browser não suporta iframes. Faça o upgrade do mesmo.

Gonçalo Almeida, estudante de Economia do ISEG, pediu para ser militante do PSD em Outubro de 2009, mas a data que consta no seu cartão laranja é de de Abril desse ano. Suspeita que um colega, dirigente associativo e da JSD, tenha usado o bilhete de identidade que entregou à secção de futebol da associação de estudantes do ISEG, para falsificar a sua ficha de militante.

Quando consultou o seu processo de no partido, todos os dados eram falsificados: a sua assinatura é forjada; a do proponente é falsificada; a morada não pertence a nenhum deles; o número de telemóvel é fictício e o email inventado. O cartão de estudante que consta no processo também é falso. Aparece como estudante do curso de Solicitadoria da Universidade Lusófona. O cartão de um pólo da Lusófona que fica na Rua de São Paulo, no Cais do Sodré, na zona abrangida pela secção i, é que os habilitava a votar naquele núcleo. Se estivessem inscritos no partido como alunos do ISEG votariam noutra secção.

O estudante explica ainda como era usados os cartões falsos e diz que apresentou queixa no partido.

Nuno Firmo defende-se: “Isso dos documentos falsificados não sei o que é”

O seu browser não suporta iframes. Faça o upgrade do mesmo.

Nuno Firmo, ex-dirigente da JSD da secção i de Lisboa e ex-dirigente associativo do ISEG, defende-se das suspeitas de falsificação de documentos lançadas por antigos colegas. Sobre a ficha de Gonçalo Almeida, diz à SÁBADO numa declaração gravada em áudio: “Dei muitas fichas a muita gente. Não me recordo de lhe ter dado a ele em particular”.

Também nega ter levado estudantes do ISEG a votar por outras pessoas com documentos falsos na sua secção.

“Acho muito improvável isso acontecer, porque as pessoas têm de ter o cartão de militante e o BI”, argumenta. “Não fiz isso. Esse rapaz [Jorge Ferreira] está a dizer que usou identificação falsa para ir votar e está-me a culpar a mim pelo acto que fez, sendo maior de idade? Isso é crime!”

“Isso dos documentos falsificados não sei o que é”, responde Nuno Firmo.

Em finais de 2011, Gonçalo Almeida apresentou uma queixa ao Conselho de Jurisdição Nacional do JSD. Em Dezembro, faz uma participação à polícia por falsificação de documentos, a que a SÁBADO teve acesso. Na queixa ao partido, avança com informações adicionais: a morada que constava na sua ficha – Rua do Sol ao Rato nº 103 – pertencia a um estudante da Madeira chamado Diogo Perestrelo, a quem Nuno Firmo alegadamente pediu para usar a caixa de correio de forma a receber correspondência da JSD. Na tarde de segunda-feira, dia 19, Firmo deu uma resposta ambígua à SÁBADO: “Nunca tive acesso ao correio de ninguém, além do meu e das pessoas que me deram autorização. Nem sei onde fica a Rua do Sol ao Rato”. Duas horas depois, contactado pela SÁBADO, Diogo Perestrelo confirmou a história contada por Gonçalo Almeida: tinha sido abordado por Nuno Firmo para receber correspondência da JSD na sua caixa de correio, embora não estivesse a par dos fins do jotinha seu colega na faculdade.

Apesar de negar a falsificação de documentos, segundo os depoimentos recolhidos pela SÁBADO, era Nuno Firmo quem tinha acesso às cartas enviadas pelo partido para a morada que constava na ficha de Gonçalo Almeida.

Sérgio Azevedo, ex-líder da secção i: “Não tenho conhecimento de nenhuma queixa”

O seu browser não suporta iframes. Faça o upgrade do mesmo.

As fichas de militantes que davam entradas nas secções de Lisboa tinham de ser validadas pelo presidente da comissão política da secção. Neste caso, o presidente da secção i era Sérgio Azevedo, 30 anos, deputado na Assembleia da República desde as últimas eleições e antigo dirigente da JSD. Sérgio Azevedo diz que nunca teve conhecimento de um caso de falsificação de militantes e que nunca ouviu falar nisso. “Não tenho conhecimento de nenhuma queixa”, acrescenta. “Tenho muita dificuldade em acreditar nisso”.

Política

Militantes falsos no PSD

Por Vítor Matos

O Partido Social Democrata (PSD) aceitou a filiação de militantes falsos em 2009, validados pela secção i, um dos antigos núcleos da distrital de Lisboa. Um grupo de estudantes do Instituto Superior de Economia e Gestão (ISEG) denuncia o caso à SÁBADO através de depoimentos gravados em vídeo. Os cartões falsos eram depois usados por outras pessoas, que não eram militantes do PSD, nas eleições internas do partido. Nas directas de Março de 2010, o beneficiado com o esquema foi Pedro Passos Coelho, que ganhou a eleição por larga margem contra Paulo Rangel e José Pedro Aguiar-Branco. O processo está a ser apreciado pelo Conselho de Jurisdição da JSD e há uma queixa na polícia.

Gonçalo Almeida, estudante de Economia de 21 anos, pediu para ser militante do PSD em Outubro de 2009 a Nuno Firmo, um colega de faculdade, que era presidente da Mesa da Assembleia da Associação de Estudantes do ISEG e presidente da Juventude Social Democrata (JSD) da secção i de Lisboa. Quando consultou o seu processo na sede nacional do PSD, verificou que todos os dados da sua ficha eram falsos. Até o cartão de estudante era de outra faculdade, de um pólo da Universidade Lusófona, que ficava na área de jurisdição da secção i, que abrangia toda a zona da Baixa de Lisboa. João Matias, estudante de Matemática Aplicada à Gestão também era militante do PSD sem saber. É natural da Marinha Grande e toda a sua família é simpatizante do PCP. Todos os dados da sua ficha, à excepção do nome eram falsos. Os estudantes suspeitam que os seus bilhetes de identidade foram copiados na Associação de Estudantes do ISEG depois de se terem inscrito na equipa de futebol do núcleo de desporto.

(Ver depoimento de Gonçalo Almeida em vídeo nas páginas seguintes).

A morada que constava na ficha a que a SÁBADO teve acesso, na Rua do Sol ao Rato, pertencia a outro colega do ISEG, Diogo Perestrelo, natural da Madeira. Este estudante confirmou à SÁBADO que o dirigente da JSD Nuno Firmo lhe pediu para receber correspondência do partido na sua caixa do correio, embora não tivesse percebido quais eram os objectivos do social-democrata. Era lá que Firmo ia recolher o correio enviado em nome das fichas falsas. Nuno Firmo nega as acusações. (Ouvir depoimento de Nuno Firmo em áudio, nas páginas seguintes)

Os cartões eram depois utilizados por estudantes universitários arregimentados para votar por militantes do PSD que não imaginavam que estavam filiados no partido. Jorge Ferreira, também estudante de Economia do ISEG, assume que votou na secção i com cartões de militantes de outras pessoas e nunca chegou a ser filiado no partido. Acusa o líder da JSD da secção i e o seu braço direito, Carlos Martins (que a SÁBADO não conseguiu contactar), de promoverem as votações fraudulentas. (Ver depoimento de Jorge Ferreira em vídeo nas páginas seguintes)

Carlos Ramos, outro estudante do ISEG, diz que também foi convidado a participar nas votações da secção i, mas recusou sempre participar. (Ver depoimento de Carlos Ramos em vídeo nas páginas seguintes)

O líder da JSD Duarte Marques afasta responsabilidades no alegado comportamento dos jovens sociais-democratas da antiga secção da Baixa de Lisboa. “Tive conhecimento do caso e reenviei-o para os órgãos próprios que devem tomar decisões e analisar as situações menos correctas”, explica à SÁBADO. “Deve-se fazer justiça, doa a quem doer”. Ricardo Sousa, presidente do Conselho de Jurisdição Nacional da JSD, confirma à SÁBADO que “o processo está a ser analisado em sede de primeira instância”. Quanto à demora na apreciação do caso, diz que “o tempo que está a demorar tem a ver com o procedimento que é adoptado para todos os processos”.

Sérgio Azevedo, 30 anos, deputado na Assembleia da República desde as últimas eleições e antigo dirigente da JSD foi presidente da secção i até à extinção das secções de Lisboa no fim de 2010. Contactado pela SÁBADO, Sérgio Azevedo diz que nunca teve conhecimento de um caso de falsificação de militantes e que nunca ouviu falar nisso. “Não tenho conhecimento de nenhuma queixa”, acrescenta. “Tenho muita dificuldade em acreditar nisso”.

(Ouvir depoimento de Sérgio Azevedo em áudio nas páginas seguintes)

O actual secretário-geral do PSD, José Matos Rosa, diz à SÁBADO desconhecer as fichas falsificadas. “Não chegou nada ao nosso conhecimento. Não foi feita queixa nenhuma”. Miguel Relvas, hoje ministro adjunto e dos Assuntos Parlamentares, também afirma à SÁBADO: “Nunca ouvi falar disso. Quando fui secretário-geral, fiz a limpeza de todos os militantes que não pagavam quotas há mais de dois anos.” Assume, porém, a dificuldade em identificar os falsos militantes: “É muito difícil detectar. Os processos chegam das secções, com as cópias dos bilhetes de identidade”. Luís Marques Guedes, actual secretário de Estado da Presidência do Conselho de Ministros que era o secretário-geral do PSD na época em que as fichas em causa entraram no partido, também não sabia de nada: “Desconheço totalmente”, afirmou.

Carlos Ramos, estudante do ISEG: “Pediram-me para votar por outras pessoas”

O seu browser não suporta iframes. Faça o upgrade do mesmo.

Carlos Ramos, 21 anos, estudante de Economia no ISEG, diz que foi aliciado pelos dirigentes associativos e da JSD para votar por outras pessoas na secção i, na Baixa de Lisboa: “O Carlos Martins e o Nuno Firmo pediram-me para votar por outras pessoas entre 2009 e 2010. Perguntei por quem ia votar ao Firmo e ele dizia que eram antigos militantes que já não ligavam ao partido. Mas eu arranjava desculpas, dizia que vivia na margem sul e que não podia ir”. No entanto, Carlos Ramos nunca o fez.

Jorge Ferreira votou com cartão falso: “Pediram-me para votar em Passos Coelho”

O seu browser não suporta iframes. Faça o upgrade do mesmo.

Jorge Ferreira, 21 anos, estudante de Economia no ISEG, assume que votou em Pedro Passos Coelho nas eleições internas de 2010, sem ser militante, com cartões falsificados na antiga secção i, onde a jota era liderada por Nuno Firmo – que foi director para a juventude em Lisboa de Passos Coelho na última campanha interna. É também fundador e dirigente da Associação Juvenil para a Juventude (AJPJ).

“Participei em eleições da secção i sem ser militante. Votei por outros. O cartão não era meu”. Recorda-se de o ter feito nas directas de Março de 2010. “Pediram-me para votar em Pedro Passos Coelho”. Porque razão é que o fez, sabendo que era errado? “Conhecemo-nos na faculdade em ambientes académicos. Parecia haver alguma confiança, éramos amigos de copos. Estávamos a fazer um favor, não era nada de mal, mas o que estava por trás é pouco ético e até é crime”.

Gonçalo Almeida denuncia: Já era militante antes de pedir para ser

O seu browser não suporta iframes. Faça o upgrade do mesmo.

Gonçalo Almeida, estudante de Economia do ISEG, pediu para ser militante do PSD em Outubro de 2009, mas a data que consta no seu cartão laranja é de de Abril desse ano. Suspeita que um colega, dirigente associativo e da JSD, tenha usado o bilhete de identidade que entregou à secção de futebol da associação de estudantes do ISEG, para falsificar a sua ficha de militante.

Quando consultou o seu processo de no partido, todos os dados eram falsificados: a sua assinatura é forjada; a do proponente é falsificada; a morada não pertence a nenhum deles; o número de telemóvel é fictício e o email inventado. O cartão de estudante que consta no processo também é falso. Aparece como estudante do curso de Solicitadoria da Universidade Lusófona. O cartão de um pólo da Lusófona que fica na Rua de São Paulo, no Cais do Sodré, na zona abrangida pela secção i, é que os habilitava a votar naquele núcleo. Se estivessem inscritos no partido como alunos do ISEG votariam noutra secção.

O estudante explica ainda como era usados os cartões falsos e diz que apresentou queixa no partido.

Nuno Firmo defende-se: “Isso dos documentos falsificados não sei o que é”

O seu browser não suporta iframes. Faça o upgrade do mesmo.

Nuno Firmo, ex-dirigente da JSD da secção i de Lisboa e ex-dirigente associativo do ISEG, defende-se das suspeitas de falsificação de documentos lançadas por antigos colegas. Sobre a ficha de Gonçalo Almeida, diz à SÁBADO numa declaração gravada em áudio: “Dei muitas fichas a muita gente. Não me recordo de lhe ter dado a ele em particular”.

Também nega ter levado estudantes do ISEG a votar por outras pessoas com documentos falsos na sua secção.

“Acho muito improvável isso acontecer, porque as pessoas têm de ter o cartão de militante e o BI”, argumenta. “Não fiz isso. Esse rapaz [Jorge Ferreira] está a dizer que usou identificação falsa para ir votar e está-me a culpar a mim pelo acto que fez, sendo maior de idade? Isso é crime!”

“Isso dos documentos falsificados não sei o que é”, responde Nuno Firmo.

Em finais de 2011, Gonçalo Almeida apresentou uma queixa ao Conselho de Jurisdição Nacional do JSD. Em Dezembro, faz uma participação à polícia por falsificação de documentos, a que a SÁBADO teve acesso. Na queixa ao partido, avança com informações adicionais: a morada que constava na sua ficha – Rua do Sol ao Rato nº 103 – pertencia a um estudante da Madeira chamado Diogo Perestrelo, a quem Nuno Firmo alegadamente pediu para usar a caixa de correio de forma a receber correspondência da JSD. Na tarde de segunda-feira, dia 19, Firmo deu uma resposta ambígua à SÁBADO: “Nunca tive acesso ao correio de ninguém, além do meu e das pessoas que me deram autorização. Nem sei onde fica a Rua do Sol ao Rato”. Duas horas depois, contactado pela SÁBADO, Diogo Perestrelo confirmou a história contada por Gonçalo Almeida: tinha sido abordado por Nuno Firmo para receber correspondência da JSD na sua caixa de correio, embora não estivesse a par dos fins do jotinha seu colega na faculdade.

Apesar de negar a falsificação de documentos, segundo os depoimentos recolhidos pela SÁBADO, era Nuno Firmo quem tinha acesso às cartas enviadas pelo partido para a morada que constava na ficha de Gonçalo Almeida.

Sérgio Azevedo, ex-líder da secção i: “Não tenho conhecimento de nenhuma queixa”

O seu browser não suporta iframes. Faça o upgrade do mesmo.

As fichas de militantes que davam entradas nas secções de Lisboa tinham de ser validadas pelo presidente da comissão política da secção. Neste caso, o presidente da secção i era Sérgio Azevedo, 30 anos, deputado na Assembleia da República desde as últimas eleições e antigo dirigente da JSD. Sérgio Azevedo diz que nunca teve conhecimento de um caso de falsificação de militantes e que nunca ouviu falar nisso. “Não tenho conhecimento de nenhuma queixa”, acrescenta. “Tenho muita dificuldade em acreditar nisso”.

marcar artigo