Os suspeitos do costume

08-10-2015
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Como as coisas andam, corre esta croniqueta o risco de se desactualizar até que o leitor ou leitora lhe ponha os olhos neste sábado. Mas, no dia e hora em que escrevo, já se percebe que estamos perante o eterno dilema, que sacode água para cima dos suspeitos do costume. Vejamos: há uma onda preocupante de crimes, ou está tudo na mesma e a comunicação social é uma malvada que amplia e induz em erro?

O ministro Rui Pereira dizia-me, no estúdio do Jornal da Noite, que estas coisas levam tempo. Aceitamos, sem qualquer ironia. Mas precisamente: talvez fosse bom o governo, qualquer um, este, antes deste, terem pensado nisso há mais tempo. Claro que leva tempo a formar polícias, sobretudo de qualidade combativa que já não pode ter nada a ver com o sinaleiro de trânsito. E custará muito mais convencer jovens enérgicos a escolherem uma profissão onde são mal pagos, mal protegidos em caso de terem azar na rua, e ainda terem de se habituar a que não lhes basta apanhar os bandidos para eles saírem da rua. Há sempre um juiz que se socorre dos novos códigos e os manda alegremente para casa, com esse terrível castigo, quase desumano, de terem de se apresentar na esquadra de vez em quando. Dizia também o ministro que a comunicação social se devia concentrar mais nos êxitos da polícia. Cá estamos para isso. Mas temos tido pouca matéria, e, garanto, nenhum jornalista se alegra quando temos de ir fazer reportagem de mais um assalto.

Por ironia do destino, recebi na Redacção a pesada aritmética: crescimento de 10 por cento da criminalidade, comparados os primeiros semestres de 2007 e 2008. Junte-se à frieza dos números a cavalgada de assaltos a bancos, bombas de gasolina, "carjacking", gangues em ajustes de contas. Todos, ou quase, de armas na mão. Que o governo pretenderia outra realidade, entende-se. Nós também, garanto. Mas enquanto não chegar a notícia de que um grupo de jornalistas encapuzados fez reféns num banco, pedia-se o favor de atirarem culpas para outro lado.

Rodrigo Guedes de Carvalho

Como as coisas andam, corre esta croniqueta o risco de se desactualizar até que o leitor ou leitora lhe ponha os olhos neste sábado. Mas, no dia e hora em que escrevo, já se percebe que estamos perante o eterno dilema, que sacode água para cima dos suspeitos do costume. Vejamos: há uma onda preocupante de crimes, ou está tudo na mesma e a comunicação social é uma malvada que amplia e induz em erro?

O ministro Rui Pereira dizia-me, no estúdio do Jornal da Noite, que estas coisas levam tempo. Aceitamos, sem qualquer ironia. Mas precisamente: talvez fosse bom o governo, qualquer um, este, antes deste, terem pensado nisso há mais tempo. Claro que leva tempo a formar polícias, sobretudo de qualidade combativa que já não pode ter nada a ver com o sinaleiro de trânsito. E custará muito mais convencer jovens enérgicos a escolherem uma profissão onde são mal pagos, mal protegidos em caso de terem azar na rua, e ainda terem de se habituar a que não lhes basta apanhar os bandidos para eles saírem da rua. Há sempre um juiz que se socorre dos novos códigos e os manda alegremente para casa, com esse terrível castigo, quase desumano, de terem de se apresentar na esquadra de vez em quando. Dizia também o ministro que a comunicação social se devia concentrar mais nos êxitos da polícia. Cá estamos para isso. Mas temos tido pouca matéria, e, garanto, nenhum jornalista se alegra quando temos de ir fazer reportagem de mais um assalto.

Por ironia do destino, recebi na Redacção a pesada aritmética: crescimento de 10 por cento da criminalidade, comparados os primeiros semestres de 2007 e 2008. Junte-se à frieza dos números a cavalgada de assaltos a bancos, bombas de gasolina, "carjacking", gangues em ajustes de contas. Todos, ou quase, de armas na mão. Que o governo pretenderia outra realidade, entende-se. Nós também, garanto. Mas enquanto não chegar a notícia de que um grupo de jornalistas encapuzados fez reféns num banco, pedia-se o favor de atirarem culpas para outro lado.

Rodrigo Guedes de Carvalho

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