Em outro mundo, onde a vontade é lei,Livremente escolhi aquela vidaCom que primeiro neste mundo entrei.Livre, a ela fiquei preso e eu a pagueiCom o preço das vidas subseqüentesDe que ela é a causa, o deus; e esses entes,Por ser quem fui, serão o que serei.Por que pesa em meu corpo e minha menteEsta miséria de sofrer ? Não foiMinha a culpa e a razão do que me dói.Não tenho hoje memória, neste sonhoQue sou de mim, de quanto quis ser eu.Nada de nada surge do medonhoAbismo de quem sou em Deus, do meuSer anterior a mim, a me dizerQuem sou, esse que fui quando no céu,Ou o que chamam céu, pude querer.Sou entre mim e mim o intervalo _Eu, o que uso esta forma definidaDe onde para outra ulterior resvalo,Em outro mundo.Fernando Pessoa - 1932
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Em outro mundo, onde a vontade é lei,Livremente escolhi aquela vidaCom que primeiro neste mundo entrei.Livre, a ela fiquei preso e eu a pagueiCom o preço das vidas subseqüentesDe que ela é a causa, o deus; e esses entes,Por ser quem fui, serão o que serei.Por que pesa em meu corpo e minha menteEsta miséria de sofrer ? Não foiMinha a culpa e a razão do que me dói.Não tenho hoje memória, neste sonhoQue sou de mim, de quanto quis ser eu.Nada de nada surge do medonhoAbismo de quem sou em Deus, do meuSer anterior a mim, a me dizerQuem sou, esse que fui quando no céu,Ou o que chamam céu, pude querer.Sou entre mim e mim o intervalo _Eu, o que uso esta forma definidaDe onde para outra ulterior resvalo,Em outro mundo.Fernando Pessoa - 1932