NimbyPolis: O Chico Plácido

03-07-2011
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Um destes dias passei na escola onde estudei e cresci entre os 12 e os 17 anos. Não sei porquê mas lembrei-me de que quando havia um furo ou feriado a uma aula toda a turma ia jogar os matraquilhos ou à bola. Era usual assistir aos jogos de futebol um indivíduo muito bem posto que, sempre que podia, entabulava conversa com uns quantos. Tratava-se de uma verdadeira figura típica, o inconfundível Chico Plácido.Com cerca de 40 anos, de aparência frágil, com o cabelo e bigodinho à D. Juan, vestia fato e gravata irrepreensíveis e a bicicleta era a sua companhia inseparável. Frequentava os locais dos estudantes com o fito de convencer algum a acompanhá-lo, pois era um homossexual inveterado. Mas era coxo das duas pernas, ou antes, metia muito os joelhos para dentro e tinha, por isso, um andar hilariante, como que caindo, subindo, descendo e rodando ao mesmo tempo, em velocidades e tempos desiguais, qual boneco articulado movido a corda em fim de vida que hesitava em prosseguir, levando a que os adolescentes não o respeitassem minimamente e o provocassem com os mais variados comentários. Penso que era um gay falhado, porque nunca me apercebi que alguém contemporizasse com os seus propósitos.Num desses jogos o diálogo não correu bem (nunca soube os pormenores) e um dos abordados tentou bater no Chico. Os colegas acorreram e impediram que a violência fosse consumada, mas os ânimos ficaram um pouco exaltados e, pouco depois, foi impossível travar nova investida, desta vez sobre a bicicleta. Uma patada certeira em cada roda deixou a máquina do Chico em tal mísero estado que ele resolveu abandonar o jogo de vez.Só que não houve condições para que o futebol continuasse porque o Chico, devido às avarias infligidas, ia com a bicicleta pela mão e, situação incrivelmente grotesca mas hilariante, ambos coxeavam a cair, a subir, a descer e a rodar, só que desfasados no tempo, levando a que em certos momentos parecia ser a bicicleta a puxar o Chico. E naquele dia e nos dois ou três seguintes todas as aulas foram turbulentas, porque se alguém se referisse à cena desatava tudo a rir, ficando os professores atrapalhados até saberem o que se tinha passado.PS: Ao escrever este texto procurei descrever apenas reacções da época, quando tinha os meus 14 ou 15 anos, numa altura em que o entendimento sobre a homossexualidade e até sobre os defeitos físicos dos outros era típico da idade e errado. Quem não se lembra, por exemplo, do “caixa de óculos” e de outros epítetos com que alguns colegas de liceu eram mimoseados?Esclareço que tenho sobre estas duas problemáticas, homossexualidade e defeitos físicos, uma ideia normalíssima, isto é, respeito e compreensão por aqueles que são diferentes dos demais.A ideia do texto, de resto, era que reflectíssemos sobre pensamentos incorrectos que tínhamos enquanto crianças ou adolescentes. Após 2 comentários vi a necessidade deste post-scriptum de modo a clarificar e enquadrar melhor este tema.

Um destes dias passei na escola onde estudei e cresci entre os 12 e os 17 anos. Não sei porquê mas lembrei-me de que quando havia um furo ou feriado a uma aula toda a turma ia jogar os matraquilhos ou à bola. Era usual assistir aos jogos de futebol um indivíduo muito bem posto que, sempre que podia, entabulava conversa com uns quantos. Tratava-se de uma verdadeira figura típica, o inconfundível Chico Plácido.Com cerca de 40 anos, de aparência frágil, com o cabelo e bigodinho à D. Juan, vestia fato e gravata irrepreensíveis e a bicicleta era a sua companhia inseparável. Frequentava os locais dos estudantes com o fito de convencer algum a acompanhá-lo, pois era um homossexual inveterado. Mas era coxo das duas pernas, ou antes, metia muito os joelhos para dentro e tinha, por isso, um andar hilariante, como que caindo, subindo, descendo e rodando ao mesmo tempo, em velocidades e tempos desiguais, qual boneco articulado movido a corda em fim de vida que hesitava em prosseguir, levando a que os adolescentes não o respeitassem minimamente e o provocassem com os mais variados comentários. Penso que era um gay falhado, porque nunca me apercebi que alguém contemporizasse com os seus propósitos.Num desses jogos o diálogo não correu bem (nunca soube os pormenores) e um dos abordados tentou bater no Chico. Os colegas acorreram e impediram que a violência fosse consumada, mas os ânimos ficaram um pouco exaltados e, pouco depois, foi impossível travar nova investida, desta vez sobre a bicicleta. Uma patada certeira em cada roda deixou a máquina do Chico em tal mísero estado que ele resolveu abandonar o jogo de vez.Só que não houve condições para que o futebol continuasse porque o Chico, devido às avarias infligidas, ia com a bicicleta pela mão e, situação incrivelmente grotesca mas hilariante, ambos coxeavam a cair, a subir, a descer e a rodar, só que desfasados no tempo, levando a que em certos momentos parecia ser a bicicleta a puxar o Chico. E naquele dia e nos dois ou três seguintes todas as aulas foram turbulentas, porque se alguém se referisse à cena desatava tudo a rir, ficando os professores atrapalhados até saberem o que se tinha passado.PS: Ao escrever este texto procurei descrever apenas reacções da época, quando tinha os meus 14 ou 15 anos, numa altura em que o entendimento sobre a homossexualidade e até sobre os defeitos físicos dos outros era típico da idade e errado. Quem não se lembra, por exemplo, do “caixa de óculos” e de outros epítetos com que alguns colegas de liceu eram mimoseados?Esclareço que tenho sobre estas duas problemáticas, homossexualidade e defeitos físicos, uma ideia normalíssima, isto é, respeito e compreensão por aqueles que são diferentes dos demais.A ideia do texto, de resto, era que reflectíssemos sobre pensamentos incorrectos que tínhamos enquanto crianças ou adolescentes. Após 2 comentários vi a necessidade deste post-scriptum de modo a clarificar e enquadrar melhor este tema.

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