PINACULOS: ARTIGO: Vésperas

21-01-2012
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O Papa João Paulo II, e mais uma vez recordo essa figura que sempre me fascinou, na sua homilia da véspera de Natal de 2003, deixou-nos uma mensagem que nunca é demais lembrar: “ (...) Salva-nos dos grandes males que dilaceram a humanidade neste início do terceiro milénio. Salva-nos das guerras e dos conflitos armados que assolam inteiras regiões do globo, da praga do terrorismo e das muitas formas de violência que afligem pessoas débeis e inermes. Salva-nos do desânimo ao enfrentar os caminhos da paz, certamente difíceis, mas possíveis e, por isso, necessários; caminhos urgentes, sempre e em qualquer lugar, sobretudo na Terra onde nasceste, Tu, Príncipe de Paz (…)”. Um Papa que sabia falar às pessoas e que eu recordo com saudade. Nesta quadra natalícia – estes dias recuso-me a falar de política – não nos podemos esquecer de uma realidade que faz com que, este ano, o Natal volte a ser, para milhares de portugueses e no final de mais um ano de sofrimento e de penoso saque governamental, uma quadra pouco festiva. E querem saber porquê? Porque somos um país a recuperar economicamente e a tornar felizes, todos os que nele vivem: (…) “A pobreza, em Portugal, é um problema social grave e o seu não reconhecimento tem-se revelado, ultimamente, um dos maiores entraves à sua erradicação. No nosso país, 1 em cada 5 portugueses vive no limiar da pobreza (21% da população total), 12.4% da população activa ganha o salário mínimo nacional, 7,2 % da população activa está desempregada, mais de 5000 trabalhadores tiveram o seu trabalho reduzido ou suspenso em 2004, 26,3% dos reformados recebe menos de 200€/mês de reforma, 148 mil recebem o Rendimento Social de Inclusão, 79,4% da população activa não terminou o ensino secundário, 45,5% da população, em idade escolar, abandona de forma precoce a escola, a taxa de Analfabetismo ronda os 9% da população, 300 mil famílias (8% da população) viviam, em 2001, em habitações sem condições mínimas. Mas, por outro lado, as 100 maiores fortunas portuguesas representam 17% do Produto Interno Bruto Nacional – 22.4 mil milhões de euros. O país tem a pior distribuição de riqueza no seio da União Europeia com os 20% mais ricos a controlar 46% do rendimento nacional, que 10 800 pessoas têm rendimentos de cerca de 816 mil euros anuais (…)”. É o Natal dos pobres, dos que sofrem, dos pais tristes e infelizes que não podem dar aos seus filhos mais do que o seu amor, que a tristeza contida, que lágrimas habilmente escondidas. É o Natal dos sofredores, dos que nada têm e que o poema seguinte enaltece: “E que esta quadra bonita atravessa Sem o bacalhau para a consoada Nem ninguém a quem o peça E ver os seus filhos a sonhar Como qualquer outra criança E nada lhes poder comprar Nem ter réstia de Esperança É um luto profundo e triste Ser pobre por esta altura É ter coração que não resiste À bondade e à candura Ao Amor que lhe assiste E não ter o fim sua penúria!” Os meus votos, a minha esperança, que o Natal de 2007 seja melhor para todos os que, este ano, não o viveram como desejavam. P.S. — O Instituto de Pesquisa sobre Políticas Alimentares, uma organização com sede em Washington, diz que cerca de 815 milhões de pessoas passam fome no mundo. O índice mostrou que os países da África subsaariana são os mais afectados pela fome, ocupando as 10 piores posições no ranking. O instituto também alerta que 127 milhões de crianças sofrem com insuficiência alimentar: "Na Índia e no Bangladesh há altas taxas de desnutrição infantil. O estatuto inferior das mulheres nos países do sul asiático e sua falta de conhecimento nutricional são determinantes importantes para a alta prevalência de crianças com baixo peso na região". O índice apurado teve em consideração factores como a mortalidade infantil, desnutrição infantil e o número de pessoas com deficiência alimentar, em 119 nações pobres ou emergentes até em finais de 2003. Luis Filipe MalheiroJornal da Madeira, 22 de Dez 2006

O Papa João Paulo II, e mais uma vez recordo essa figura que sempre me fascinou, na sua homilia da véspera de Natal de 2003, deixou-nos uma mensagem que nunca é demais lembrar: “ (...) Salva-nos dos grandes males que dilaceram a humanidade neste início do terceiro milénio. Salva-nos das guerras e dos conflitos armados que assolam inteiras regiões do globo, da praga do terrorismo e das muitas formas de violência que afligem pessoas débeis e inermes. Salva-nos do desânimo ao enfrentar os caminhos da paz, certamente difíceis, mas possíveis e, por isso, necessários; caminhos urgentes, sempre e em qualquer lugar, sobretudo na Terra onde nasceste, Tu, Príncipe de Paz (…)”. Um Papa que sabia falar às pessoas e que eu recordo com saudade. Nesta quadra natalícia – estes dias recuso-me a falar de política – não nos podemos esquecer de uma realidade que faz com que, este ano, o Natal volte a ser, para milhares de portugueses e no final de mais um ano de sofrimento e de penoso saque governamental, uma quadra pouco festiva. E querem saber porquê? Porque somos um país a recuperar economicamente e a tornar felizes, todos os que nele vivem: (…) “A pobreza, em Portugal, é um problema social grave e o seu não reconhecimento tem-se revelado, ultimamente, um dos maiores entraves à sua erradicação. No nosso país, 1 em cada 5 portugueses vive no limiar da pobreza (21% da população total), 12.4% da população activa ganha o salário mínimo nacional, 7,2 % da população activa está desempregada, mais de 5000 trabalhadores tiveram o seu trabalho reduzido ou suspenso em 2004, 26,3% dos reformados recebe menos de 200€/mês de reforma, 148 mil recebem o Rendimento Social de Inclusão, 79,4% da população activa não terminou o ensino secundário, 45,5% da população, em idade escolar, abandona de forma precoce a escola, a taxa de Analfabetismo ronda os 9% da população, 300 mil famílias (8% da população) viviam, em 2001, em habitações sem condições mínimas. Mas, por outro lado, as 100 maiores fortunas portuguesas representam 17% do Produto Interno Bruto Nacional – 22.4 mil milhões de euros. O país tem a pior distribuição de riqueza no seio da União Europeia com os 20% mais ricos a controlar 46% do rendimento nacional, que 10 800 pessoas têm rendimentos de cerca de 816 mil euros anuais (…)”. É o Natal dos pobres, dos que sofrem, dos pais tristes e infelizes que não podem dar aos seus filhos mais do que o seu amor, que a tristeza contida, que lágrimas habilmente escondidas. É o Natal dos sofredores, dos que nada têm e que o poema seguinte enaltece: “E que esta quadra bonita atravessa Sem o bacalhau para a consoada Nem ninguém a quem o peça E ver os seus filhos a sonhar Como qualquer outra criança E nada lhes poder comprar Nem ter réstia de Esperança É um luto profundo e triste Ser pobre por esta altura É ter coração que não resiste À bondade e à candura Ao Amor que lhe assiste E não ter o fim sua penúria!” Os meus votos, a minha esperança, que o Natal de 2007 seja melhor para todos os que, este ano, não o viveram como desejavam. P.S. — O Instituto de Pesquisa sobre Políticas Alimentares, uma organização com sede em Washington, diz que cerca de 815 milhões de pessoas passam fome no mundo. O índice mostrou que os países da África subsaariana são os mais afectados pela fome, ocupando as 10 piores posições no ranking. O instituto também alerta que 127 milhões de crianças sofrem com insuficiência alimentar: "Na Índia e no Bangladesh há altas taxas de desnutrição infantil. O estatuto inferior das mulheres nos países do sul asiático e sua falta de conhecimento nutricional são determinantes importantes para a alta prevalência de crianças com baixo peso na região". O índice apurado teve em consideração factores como a mortalidade infantil, desnutrição infantil e o número de pessoas com deficiência alimentar, em 119 nações pobres ou emergentes até em finais de 2003. Luis Filipe MalheiroJornal da Madeira, 22 de Dez 2006

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