Há dias, registei esta notícia preocupante, que mesmo sendo “maçadora” para algumas pessoas, deve ser por todas lida, para que tenhamos a noção da dimensão do embuste que provavelmente estará a ser camuflado: “A dívida do País ao estrangeiro atingiu o nível mais elevado de sempre. Em Setembro último já representava 71,6% da riqueza nacional (PIB). Contas feitas, cada português deve em média à banca estrangeira mais de dez mil euros. Boa parte desta dívida é explicada pelos empréstimos ao consumo, compras de casa própria e crédito às empresas. Tal como uma correia de transmissão, o endividamento dos portugueses também levou a banca nacional a endividar-se, contraindo fundos ao estrangeiro, para satisfazer o forte apetite pelo crédito. Em Setembro do ano passado, e pela primeira vez na história bancária, o seu passivo acumulado (responsabilidades) para com o exterior ultrapassou o total da riqueza gerada pela economia num ano. Ou seja, a dívida bancária, no montante de pouco mais de 158 mil milhões de euros, ultrapassava em 3,8% o PIB previsto para 2006. Este endividamento só não é preocupante porque os activos da banca nacional no estrangeiro levam a que o "saldo externo" da banca represente apenas metade (49,7%) do PIB português. O uso de poupanças externas para enfrentar o crédito tem uma explicação: as poupanças internas (entre as quais os tradicionais depósitos bancários) são insuficientes para enfrentar o "apetite" de crédito. Ou seja, se os portugueses estão endividados, a banca é o espelho. À excepção da Caixa Geral de Depósitos — a única instituição bancária em que os passivos (depósitos) nacionais são superiores aos créditos concedidos —, o resto do sistema financeiro tem de recorrer ao mercado internacional de poupanças. Nos últimos 12 meses, a banca comercial teve de contratar mais de 16 mil milhões de euros — o equivalente a cerca de 10% do PIB — para colmatar a apetência interna por empréstimos. Para o mesmo intervalo de tempo, os activos da banca aumentaram apenas mil milhões de euros. A dívida total das famílias, empresas — públicas e privadas — e do Estado ao estrangeiro somava 109 mil milhões de euros em Setembro. Desde 2003, a dívida ao exterior subiu 17,8 pontos percentuais, e só nos últimos 12 meses aumentou 16 mil milhões de euros, não existindo sinais de abrandamento significativo pela corrida ao crédito. Para remunerar o endividamento, os custos anuais podem superar os 3,5% do PIB. No futuro, a factura com o serviço da dívida poderá ser mais pesada, acompanhando o aumento das taxas de juro. A única saída, dizem os economistas, para superar os custos da dívida global é aumentar a capacidade produtiva e competitiva da economia. Só assim serão gerados rendimentos para enfrentar as dívidas”. Perante estes “animadores” indicadores, dou comigo a pensar: enquanto os portugueses apertam o cinto que se lixam, o governo socialista de Sócrates, que insiste na demagogia permanente de uma propaganda cada vez mais sem limites — eu não contexto a propaganda, até porque não há governo sem propaganda, nem conheço nenhuma governação sem propaganda, questiona apenas os métodos adoptados e as cumplicidades facilmente encontradas na comunicação social nas mãos de poderosos grupos financeiros e empresariais envolvidos em grandes negociatas — continua a contar com a complacência, cúmplice, do Presidente da República, para quem tudo parece estar bem, até parecendo que vive numa espécie de “oásis à beira-mar plantado. O que me parece necessário é que os portugueses comecem a perceber que existe um país real para além da propaganda, um país que deve ser descoberto e denunciado, porque é em função da realidade desse país, particularmente da sua economia e das suas finanças públicas, que passa o futuro de todos nós. Não da propaganda publicada nos jornais, da realidade deturpada, ou da mentira manipulada, até porque não há governo nenhum que tenha a coragem de admitir publicamente que errou, que falhou nas opções, que não conseguiu os objectivos pretendidos, que a realidade é diferente da que havia sido prometida em eleições, etc. Seja-me permitido citar Alexander Puschkine (Diário Secreto): “Apercebo-me dos meus erros, mas não os corrijo. Isso só confirma que podemos ver o nosso destino, mas somos incapazes de o mudar. Apercebermo-nos dos erros é reconhecer o destino, e a nossa incapacidade para os corrigirmos é a força do destino. Apercebermo-nos dos erros é um castigo pesado. Seria muito mais fácil considerarmo-nos bons e culparmos os outros todos, encontrando consolação na ilusão da vitória sobre o destino. Mas mesmo essa felicidade não me é dada”.Luis Filipe MalheiroJornal da Madeira, 19 Fevereiro 2007
Categorias
Entidades
Há dias, registei esta notícia preocupante, que mesmo sendo “maçadora” para algumas pessoas, deve ser por todas lida, para que tenhamos a noção da dimensão do embuste que provavelmente estará a ser camuflado: “A dívida do País ao estrangeiro atingiu o nível mais elevado de sempre. Em Setembro último já representava 71,6% da riqueza nacional (PIB). Contas feitas, cada português deve em média à banca estrangeira mais de dez mil euros. Boa parte desta dívida é explicada pelos empréstimos ao consumo, compras de casa própria e crédito às empresas. Tal como uma correia de transmissão, o endividamento dos portugueses também levou a banca nacional a endividar-se, contraindo fundos ao estrangeiro, para satisfazer o forte apetite pelo crédito. Em Setembro do ano passado, e pela primeira vez na história bancária, o seu passivo acumulado (responsabilidades) para com o exterior ultrapassou o total da riqueza gerada pela economia num ano. Ou seja, a dívida bancária, no montante de pouco mais de 158 mil milhões de euros, ultrapassava em 3,8% o PIB previsto para 2006. Este endividamento só não é preocupante porque os activos da banca nacional no estrangeiro levam a que o "saldo externo" da banca represente apenas metade (49,7%) do PIB português. O uso de poupanças externas para enfrentar o crédito tem uma explicação: as poupanças internas (entre as quais os tradicionais depósitos bancários) são insuficientes para enfrentar o "apetite" de crédito. Ou seja, se os portugueses estão endividados, a banca é o espelho. À excepção da Caixa Geral de Depósitos — a única instituição bancária em que os passivos (depósitos) nacionais são superiores aos créditos concedidos —, o resto do sistema financeiro tem de recorrer ao mercado internacional de poupanças. Nos últimos 12 meses, a banca comercial teve de contratar mais de 16 mil milhões de euros — o equivalente a cerca de 10% do PIB — para colmatar a apetência interna por empréstimos. Para o mesmo intervalo de tempo, os activos da banca aumentaram apenas mil milhões de euros. A dívida total das famílias, empresas — públicas e privadas — e do Estado ao estrangeiro somava 109 mil milhões de euros em Setembro. Desde 2003, a dívida ao exterior subiu 17,8 pontos percentuais, e só nos últimos 12 meses aumentou 16 mil milhões de euros, não existindo sinais de abrandamento significativo pela corrida ao crédito. Para remunerar o endividamento, os custos anuais podem superar os 3,5% do PIB. No futuro, a factura com o serviço da dívida poderá ser mais pesada, acompanhando o aumento das taxas de juro. A única saída, dizem os economistas, para superar os custos da dívida global é aumentar a capacidade produtiva e competitiva da economia. Só assim serão gerados rendimentos para enfrentar as dívidas”. Perante estes “animadores” indicadores, dou comigo a pensar: enquanto os portugueses apertam o cinto que se lixam, o governo socialista de Sócrates, que insiste na demagogia permanente de uma propaganda cada vez mais sem limites — eu não contexto a propaganda, até porque não há governo sem propaganda, nem conheço nenhuma governação sem propaganda, questiona apenas os métodos adoptados e as cumplicidades facilmente encontradas na comunicação social nas mãos de poderosos grupos financeiros e empresariais envolvidos em grandes negociatas — continua a contar com a complacência, cúmplice, do Presidente da República, para quem tudo parece estar bem, até parecendo que vive numa espécie de “oásis à beira-mar plantado. O que me parece necessário é que os portugueses comecem a perceber que existe um país real para além da propaganda, um país que deve ser descoberto e denunciado, porque é em função da realidade desse país, particularmente da sua economia e das suas finanças públicas, que passa o futuro de todos nós. Não da propaganda publicada nos jornais, da realidade deturpada, ou da mentira manipulada, até porque não há governo nenhum que tenha a coragem de admitir publicamente que errou, que falhou nas opções, que não conseguiu os objectivos pretendidos, que a realidade é diferente da que havia sido prometida em eleições, etc. Seja-me permitido citar Alexander Puschkine (Diário Secreto): “Apercebo-me dos meus erros, mas não os corrijo. Isso só confirma que podemos ver o nosso destino, mas somos incapazes de o mudar. Apercebermo-nos dos erros é reconhecer o destino, e a nossa incapacidade para os corrigirmos é a força do destino. Apercebermo-nos dos erros é um castigo pesado. Seria muito mais fácil considerarmo-nos bons e culparmos os outros todos, encontrando consolação na ilusão da vitória sobre o destino. Mas mesmo essa felicidade não me é dada”.Luis Filipe MalheiroJornal da Madeira, 19 Fevereiro 2007