Casario do Ginjal: Orfandades 21

23-01-2012
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As pessoas deixaram de acreditar no colectivo, abandonaram bandeiras, que também funcionavam como âncoras, noutros tempos...Nunca houve tantos jovens sem partido ou clube desportivo. «Para quê?», questionam eles, com a irreverência e a liberdade de escolherem o seu próprio caminho. Claro que não estou a falar das minorias que fazem parte dos "jotas" (a pensarem no futuro como "boys"...) ou nos "hooligans" das claques (a pensar na força cega da bestialidade que se enrosca na multidão).Os meus sobrinhos cresceram, feliz ou infelizmente, sem estas febres. O mais velho, com vinte e dois anos, nunca votou. Eu já lhe tentei explicar a importância do voto, mas ele insiste, «para quê?». Falo-lhe de outros tempos, ele sorri, pouco convencido. Fala-me de anedotas, de gente como o Portas, Santana, Menezes, Durão ou Sócrates. Futebol? Fala-me de apitos, de Loureiros, Pintos, Azevedos, e eu calo-me, sem deixar de sorrir...Eu não consigo deixar de gostar do Benfica, apesar da equipa nunca ter jogado tão mal, como nestes tempos. Já na política, as coisas são diferentes. Nunca fui militante em nenhum partido mas nunca me senti "orfão". Sempre votei, a pensar nas pessoas que me davam mais garantias de defender os meus ideais. Sempre votei à esquerda do PS ou em branco. Quero votar sempre, pelas vezes que os meus pais e os meus avós não votaram... Mas não consigo fazer com que o meu sobrinho acredite que o voto é a arma do povo...Será que ele tem razão, quando me diz: «para quê?»A fotografia, "Homem Sentado ao Sol", é de Roy DeCarava.


As pessoas deixaram de acreditar no colectivo, abandonaram bandeiras, que também funcionavam como âncoras, noutros tempos...Nunca houve tantos jovens sem partido ou clube desportivo. «Para quê?», questionam eles, com a irreverência e a liberdade de escolherem o seu próprio caminho. Claro que não estou a falar das minorias que fazem parte dos "jotas" (a pensarem no futuro como "boys"...) ou nos "hooligans" das claques (a pensar na força cega da bestialidade que se enrosca na multidão).Os meus sobrinhos cresceram, feliz ou infelizmente, sem estas febres. O mais velho, com vinte e dois anos, nunca votou. Eu já lhe tentei explicar a importância do voto, mas ele insiste, «para quê?». Falo-lhe de outros tempos, ele sorri, pouco convencido. Fala-me de anedotas, de gente como o Portas, Santana, Menezes, Durão ou Sócrates. Futebol? Fala-me de apitos, de Loureiros, Pintos, Azevedos, e eu calo-me, sem deixar de sorrir...Eu não consigo deixar de gostar do Benfica, apesar da equipa nunca ter jogado tão mal, como nestes tempos. Já na política, as coisas são diferentes. Nunca fui militante em nenhum partido mas nunca me senti "orfão". Sempre votei, a pensar nas pessoas que me davam mais garantias de defender os meus ideais. Sempre votei à esquerda do PS ou em branco. Quero votar sempre, pelas vezes que os meus pais e os meus avós não votaram... Mas não consigo fazer com que o meu sobrinho acredite que o voto é a arma do povo...Será que ele tem razão, quando me diz: «para quê?»A fotografia, "Homem Sentado ao Sol", é de Roy DeCarava.

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