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03-07-2015
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De pé, num palanque ao lado de Luís Filipe Vieira, fato cinzento e olhar confiante. Foi assim que Rui Carlos Pinho da Vitória encarou a sua apresentação como o novo treinador do Benfica, por três temporadas, no dia 15. Não gosta que se use a expressão "cadeira de sonho", ainda que seja adepto do clube da Luz e tenha sido referido pelo presidente como "um de nós [benfiquistas]". Numa carreira com 13 anos, o Benfica não lhe é estranho.

Começou a jogar à bola aos 9 anos, no Alverca, clube da sua terra. Como sénior representou Fanhões, Vilafranquense, Seixal, Casa Pia e Alchochetense. Em Setembro de 2002, quando estava neste último, viveu o momento mais marcante da sua vida: os pais morreram num acidente de automóvel. Na semana seguinte, aceitou ser treinador do Vilafranquense. Iniciou-se com uma derrota e acabou a época em 8.o lugar.

Primeira vez como "águia"

Esta classificação chamou a atenção do Benfica e passou a dirigir os juniores de 2004 a 2006. Na primeira temporada, perdeu o campeonato no último jogo, frente ao "super" Sporting de Paulo Bento. No ano seguinte, não passou à fase de grupos. "Foi horrível. Andávamos literalmente com a casa às costas para treinar e jogar, pois o Seixal ainda não existia", recorda Paulo Figueiredo, team manager em 2005/2006.

Perante a catástrofe que se fazia adivinhar, Rui Vitória decidiu fazer alguma coisa. Agendou um fim-de-semana de campo com os fuzileiros. Os jogadores acharam que iam para um hotel e quando chegaram tiveram uma surpresa: telemóveis e computadores desligados, tendas para montar. "Os miúdos passaram-se, mas no final adoraram", lembra o ex-secretário técnico. "A verdade é que depois a equipa melhorou um bocadinho."

Sempre afável e bem disposto, era um líder nato, muito organizado e também disciplinador, diz quem trabalhou com ele. "Fomos a França a um torneio e o Sílvio [hoje no Benfica] e o António Coelho atrasaram-se para o almoço. Rui Vitória castigou-os: não foram capitães." Importantes, considera Paulo Figueiredo, eram também os momentos do intervalo. "Espicaçava os jogadores. No final do jogo, voltava à sua postura calma e irrepreensível."

Destes tempos, fica também uma antipatia – que persiste – com João Capela, árbitro que dirigiu o tal jogo do Sporting-Benfica.

O passo seguinte levou-o para o Fátima, então na III Divisão. "O Luís Albuquerque, que tinha a pasta do futebol, contactou-o", conta o padre António Pereira, presidente na altura da contratação do técnico e agora novamente no cargo. "Ele era o motor da equipa e da direcção." A aposta resultou: subiram de escalão e foram campeões da II B, actual Campeonato de Seniores, em 2008/09.Esta conquista, juntamente com a eliminação do Porto da Taça da Liga, fez com que os clubes maiores reparassem nele. "O Paços de Ferreira pediu-nos autorização para avançar. Respondi que levavam um grande homem e treinador", diz o presidente do Fátima, que ainda hoje mantém uma boa relação com o técnico a quem baptizou as três filhas. "A calma e paciência que o caracterizam podem ser fundamentais para ajudar o Benfica nesta altura."

O último passo

Chegou ao Paços em 2010 e abandonou definitivamente a docência – aos 25 anos já era professor de educação física. Aí manteve a aposta nos jovens. Rui Caetano, que na época passada representou o Gil Vicente, foi um dos jogadores lançados pelo técnico: "Sabia bem o que fazia. É uma excelente pessoa e dizer-se que aposta na formação não é um mito."

Em 2011/12, Rui Vitória iniciou a aventura no Vitória de Guimarães. Foram quatro anos a revelar craques como Baldé, Marco Matias (melhor marcador português da última temporada, no Nacional) e Hernâni. O seu momento alto deu-se na final da Taça de 2013: venceu o Benfica de Jesus. Os dois técnicos já se defrontaram 13 vezes. Vitória só ganhou dois jogos. Se um lhe deu um troféu, o outro – em 2011/12 – foi igualmente importante. Os "encarnados" não se terão recomposto e acabaram, duas jornadas depois, por perder a liderança para o FC Porto.

É o 18.o técnico português na Luz, nunca esteve desempregado e faz da calma no banco uma das suas armas. "Se o líder perde a cabeça como é que os seus soldados não se sentirão também eles perdidos", diz no seu livro A Arte da Guerra para Treinadores (2014). Na época passada, a sua equipa alcançou o 5.o lugar e foi a única que não perdeu em casa com os três "grandes".

O novo treinador do Benfica estreou-se nas competições profissionais contra o Sporting. Foi a 4 de Agosto de 2010, quando treinava o Paços de Ferreira, e venceu por 1-0. A 9 de Agosto, quando o clube da Luz defrontar o Sporting na Supertaça, se verá se o desfecho se repete.

Tal como Mário Wilson, chegou ao Benfica depois de quatro anos no Vitória de Guimarães. Resta saber se haverá mais coincidências ou não. É que o treinador moçambicano foi campeão logo no primeiro ano.

De pé, num palanque ao lado de Luís Filipe Vieira, fato cinzento e olhar confiante. Foi assim que Rui Carlos Pinho da Vitória encarou a sua apresentação como o novo treinador do Benfica, por três temporadas, no dia 15. Não gosta que se use a expressão "cadeira de sonho", ainda que seja adepto do clube da Luz e tenha sido referido pelo presidente como "um de nós [benfiquistas]". Numa carreira com 13 anos, o Benfica não lhe é estranho.

Começou a jogar à bola aos 9 anos, no Alverca, clube da sua terra. Como sénior representou Fanhões, Vilafranquense, Seixal, Casa Pia e Alchochetense. Em Setembro de 2002, quando estava neste último, viveu o momento mais marcante da sua vida: os pais morreram num acidente de automóvel. Na semana seguinte, aceitou ser treinador do Vilafranquense. Iniciou-se com uma derrota e acabou a época em 8.o lugar.

Primeira vez como "águia"

Esta classificação chamou a atenção do Benfica e passou a dirigir os juniores de 2004 a 2006. Na primeira temporada, perdeu o campeonato no último jogo, frente ao "super" Sporting de Paulo Bento. No ano seguinte, não passou à fase de grupos. "Foi horrível. Andávamos literalmente com a casa às costas para treinar e jogar, pois o Seixal ainda não existia", recorda Paulo Figueiredo, team manager em 2005/2006.

Perante a catástrofe que se fazia adivinhar, Rui Vitória decidiu fazer alguma coisa. Agendou um fim-de-semana de campo com os fuzileiros. Os jogadores acharam que iam para um hotel e quando chegaram tiveram uma surpresa: telemóveis e computadores desligados, tendas para montar. "Os miúdos passaram-se, mas no final adoraram", lembra o ex-secretário técnico. "A verdade é que depois a equipa melhorou um bocadinho."

Sempre afável e bem disposto, era um líder nato, muito organizado e também disciplinador, diz quem trabalhou com ele. "Fomos a França a um torneio e o Sílvio [hoje no Benfica] e o António Coelho atrasaram-se para o almoço. Rui Vitória castigou-os: não foram capitães." Importantes, considera Paulo Figueiredo, eram também os momentos do intervalo. "Espicaçava os jogadores. No final do jogo, voltava à sua postura calma e irrepreensível."

Destes tempos, fica também uma antipatia – que persiste – com João Capela, árbitro que dirigiu o tal jogo do Sporting-Benfica.

O passo seguinte levou-o para o Fátima, então na III Divisão. "O Luís Albuquerque, que tinha a pasta do futebol, contactou-o", conta o padre António Pereira, presidente na altura da contratação do técnico e agora novamente no cargo. "Ele era o motor da equipa e da direcção." A aposta resultou: subiram de escalão e foram campeões da II B, actual Campeonato de Seniores, em 2008/09.Esta conquista, juntamente com a eliminação do Porto da Taça da Liga, fez com que os clubes maiores reparassem nele. "O Paços de Ferreira pediu-nos autorização para avançar. Respondi que levavam um grande homem e treinador", diz o presidente do Fátima, que ainda hoje mantém uma boa relação com o técnico a quem baptizou as três filhas. "A calma e paciência que o caracterizam podem ser fundamentais para ajudar o Benfica nesta altura."

O último passo

Chegou ao Paços em 2010 e abandonou definitivamente a docência – aos 25 anos já era professor de educação física. Aí manteve a aposta nos jovens. Rui Caetano, que na época passada representou o Gil Vicente, foi um dos jogadores lançados pelo técnico: "Sabia bem o que fazia. É uma excelente pessoa e dizer-se que aposta na formação não é um mito."

Em 2011/12, Rui Vitória iniciou a aventura no Vitória de Guimarães. Foram quatro anos a revelar craques como Baldé, Marco Matias (melhor marcador português da última temporada, no Nacional) e Hernâni. O seu momento alto deu-se na final da Taça de 2013: venceu o Benfica de Jesus. Os dois técnicos já se defrontaram 13 vezes. Vitória só ganhou dois jogos. Se um lhe deu um troféu, o outro – em 2011/12 – foi igualmente importante. Os "encarnados" não se terão recomposto e acabaram, duas jornadas depois, por perder a liderança para o FC Porto.

É o 18.o técnico português na Luz, nunca esteve desempregado e faz da calma no banco uma das suas armas. "Se o líder perde a cabeça como é que os seus soldados não se sentirão também eles perdidos", diz no seu livro A Arte da Guerra para Treinadores (2014). Na época passada, a sua equipa alcançou o 5.o lugar e foi a única que não perdeu em casa com os três "grandes".

O novo treinador do Benfica estreou-se nas competições profissionais contra o Sporting. Foi a 4 de Agosto de 2010, quando treinava o Paços de Ferreira, e venceu por 1-0. A 9 de Agosto, quando o clube da Luz defrontar o Sporting na Supertaça, se verá se o desfecho se repete.

Tal como Mário Wilson, chegou ao Benfica depois de quatro anos no Vitória de Guimarães. Resta saber se haverá mais coincidências ou não. É que o treinador moçambicano foi campeão logo no primeiro ano.

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