Reportagem sobre o massacre de Wiriamu

11-10-2015
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Riscadas declarações de Rui Patrício e do próprio Caetano em Londres. Condenação de Vítor Ramalho e colóquio na Sedes.

Com o regime de Marcelo Caetano a atravessar o seu pior momento, o Expresso enviou um repórter à região de Wiriamu (Moçambique), onde ocorreu o massacre denunciado pela 'Times'. A reportagem de Augusto de Carvalho tinha a grande habilidade de não falar de... Wiriamu. Ainda assim, foi cortada na íntegra. Começava assim: "Tete é zona de guerra, onde a tropa portuguesa faz esforços enormes a fim de impedir a entrada dos guerrilheiros cujo alvo, segundo parece, é a infiltração em todo o território, em todo o distrito, ponto estratégico e nevrálgico em Moçambique".

Um outro repórter, Almeida Perucho, viu as suas prosas de Londres - onde cobriu a visita de Caetano - fartamente amputadas. O texto sobre as reacções da Imprensa britânica começou por ir para o lixo. O inevitável protesto permitiu a sua recuperação, com 12 nódoas azuis. Vitimados excertos do 'Daily Telegraph', do 'Daily Mail' e, inevitavelmente, do 'Times': "O debate sobre a visita de Caetano fora muito útil pois apresentara à opinião pública inglesa o carácter da guerra que Portugal sustenta em África". O mais contundente, contudo, fora o 'Guardian', que chegara a defender a expulsão de Portugal da NATO.

Numa outra peça, que relatava os passos da visita de Caetano, foi eliminado o texto lido em inglês pelo ministro dos Negócios Estrangeiros, Rui Patrício, aos jornalistas. Nem Caetano foi poupado. O chefe do Governo admitira que "não pode ser absolutamente garantido que não tenha podido ocorrer uns quantos incidentes não aprovados pelas regras gerais que norteiam o estado de guerra".

Na página literária, Pedro Tamen discorria sobre o livro 'Desescrita', de Maria Velho da Costa. Expurgada a frase "ainda no outro dia um grande poeta me dizia que todos os verdadeiros escritores são de esquerda, o que (...) é frase cheia de verdades como punhos, que ele, e eu, e o leitor que suponho aberto e disponível, decerto aceitamos de bom grado".

"Encontro político", assim se chamava um dos editoriais. De início, levou duas cortadelas monstruosas a azul. Depois de um reexame, subsistiram nove cortes cirúrgicos, a vermelho. A carta de um leitor do Porto sobre a aliança luso-britânica ficou na gaveta. Citava um general inglês do século XVIII: "Que há a esperar do um país cuja metade da população está à espera do Céu - referia-se à enorme população fradesca de então - e a outra metade está à espera de D. Sebastião, que morreu há 200 anos? "Se non è vero, è bene trovato". Conteste o velho general quem puder ou souber".

A edição de 21 de Julho de 1973 estava repleta de notícias sobre julgamentos políticos. Na capa, quase nada subsistiu da notícia sobre o pároco de Macieira da Lixa. O despacho de pronúncia "considerou não ter sido cometida qualquer nulidade pelo facto de aos interrogatórios do padre Mário, na cadeia de Caxias, não ter assistido nenhum advogado". Outra notícia incidia sobre o julgamento, no Porto, de 92 estudantes acusados de participar numa concentração na Faculdade de Ciências e que se recusaram a pagar as multas. Já em Lisboa, seis cortes limitaram o acórdão do Tribunal Plenário contra quatro militantes do MRPP. Dois deles viriam a ser nomes bem conhecidos da advocacia e da política: Sebastião Lima Rêgo e Vítor Ramalho.

José Cardoso Pires foi uma das testemunhas de João Abel Manta e Ruella Ramos, no caso de um "cartoon" sobre a bandeira nacional, no 'Diário de Lisboa'. Disse o escritor - mas os leitores não leram - que nas últimas décadas "foi-se perdendo assim o jeito e o gozo de criticar pela caricatura, como foi em Portugal tradição até aos anos trinta".

Um documento da Associação Industrial Portuguesa, com honras de manchete, protestava contra impostos em demasia. A sua congénere de Moçambique manifestava o receio que a actividade do Serviço de Emprego "levasse a uma sindicalização em massa, que originaria despedimentos em massa, ou seja, o caos". Em Angola, uma grande empresa do Japão decidira instalar-se no Lobito. No entanto, "para evitar complicações com a OUA e os seus outros importantes negócios em África, surgirão como uma empresa investidora suíça".

O anúncio da realização do encontro dos liberais levou seis golpes. Mais ainda (oito) levou a reportagem de um debate na Sedes sobre informação, entre Balsemão, Raul Rêgo (República) e João Alferes Gonçalves (Rádio Renascença). Riscadas pequenas frases como "mudar o nome à censura", "com liberdade autêntica" ou "para evitar a estupidificação maciça".

Riscadas declarações de Rui Patrício e do próprio Caetano em Londres. Condenação de Vítor Ramalho e colóquio na Sedes.

Com o regime de Marcelo Caetano a atravessar o seu pior momento, o Expresso enviou um repórter à região de Wiriamu (Moçambique), onde ocorreu o massacre denunciado pela 'Times'. A reportagem de Augusto de Carvalho tinha a grande habilidade de não falar de... Wiriamu. Ainda assim, foi cortada na íntegra. Começava assim: "Tete é zona de guerra, onde a tropa portuguesa faz esforços enormes a fim de impedir a entrada dos guerrilheiros cujo alvo, segundo parece, é a infiltração em todo o território, em todo o distrito, ponto estratégico e nevrálgico em Moçambique".

Um outro repórter, Almeida Perucho, viu as suas prosas de Londres - onde cobriu a visita de Caetano - fartamente amputadas. O texto sobre as reacções da Imprensa britânica começou por ir para o lixo. O inevitável protesto permitiu a sua recuperação, com 12 nódoas azuis. Vitimados excertos do 'Daily Telegraph', do 'Daily Mail' e, inevitavelmente, do 'Times': "O debate sobre a visita de Caetano fora muito útil pois apresentara à opinião pública inglesa o carácter da guerra que Portugal sustenta em África". O mais contundente, contudo, fora o 'Guardian', que chegara a defender a expulsão de Portugal da NATO.

Numa outra peça, que relatava os passos da visita de Caetano, foi eliminado o texto lido em inglês pelo ministro dos Negócios Estrangeiros, Rui Patrício, aos jornalistas. Nem Caetano foi poupado. O chefe do Governo admitira que "não pode ser absolutamente garantido que não tenha podido ocorrer uns quantos incidentes não aprovados pelas regras gerais que norteiam o estado de guerra".

Na página literária, Pedro Tamen discorria sobre o livro 'Desescrita', de Maria Velho da Costa. Expurgada a frase "ainda no outro dia um grande poeta me dizia que todos os verdadeiros escritores são de esquerda, o que (...) é frase cheia de verdades como punhos, que ele, e eu, e o leitor que suponho aberto e disponível, decerto aceitamos de bom grado".

"Encontro político", assim se chamava um dos editoriais. De início, levou duas cortadelas monstruosas a azul. Depois de um reexame, subsistiram nove cortes cirúrgicos, a vermelho. A carta de um leitor do Porto sobre a aliança luso-britânica ficou na gaveta. Citava um general inglês do século XVIII: "Que há a esperar do um país cuja metade da população está à espera do Céu - referia-se à enorme população fradesca de então - e a outra metade está à espera de D. Sebastião, que morreu há 200 anos? "Se non è vero, è bene trovato". Conteste o velho general quem puder ou souber".

A edição de 21 de Julho de 1973 estava repleta de notícias sobre julgamentos políticos. Na capa, quase nada subsistiu da notícia sobre o pároco de Macieira da Lixa. O despacho de pronúncia "considerou não ter sido cometida qualquer nulidade pelo facto de aos interrogatórios do padre Mário, na cadeia de Caxias, não ter assistido nenhum advogado". Outra notícia incidia sobre o julgamento, no Porto, de 92 estudantes acusados de participar numa concentração na Faculdade de Ciências e que se recusaram a pagar as multas. Já em Lisboa, seis cortes limitaram o acórdão do Tribunal Plenário contra quatro militantes do MRPP. Dois deles viriam a ser nomes bem conhecidos da advocacia e da política: Sebastião Lima Rêgo e Vítor Ramalho.

José Cardoso Pires foi uma das testemunhas de João Abel Manta e Ruella Ramos, no caso de um "cartoon" sobre a bandeira nacional, no 'Diário de Lisboa'. Disse o escritor - mas os leitores não leram - que nas últimas décadas "foi-se perdendo assim o jeito e o gozo de criticar pela caricatura, como foi em Portugal tradição até aos anos trinta".

Um documento da Associação Industrial Portuguesa, com honras de manchete, protestava contra impostos em demasia. A sua congénere de Moçambique manifestava o receio que a actividade do Serviço de Emprego "levasse a uma sindicalização em massa, que originaria despedimentos em massa, ou seja, o caos". Em Angola, uma grande empresa do Japão decidira instalar-se no Lobito. No entanto, "para evitar complicações com a OUA e os seus outros importantes negócios em África, surgirão como uma empresa investidora suíça".

O anúncio da realização do encontro dos liberais levou seis golpes. Mais ainda (oito) levou a reportagem de um debate na Sedes sobre informação, entre Balsemão, Raul Rêgo (República) e João Alferes Gonçalves (Rádio Renascença). Riscadas pequenas frases como "mudar o nome à censura", "com liberdade autêntica" ou "para evitar a estupidificação maciça".

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